Análise

Artigo do Ministro das Relações Exteriores do Brasil a propósito da cimeira Rio + 20

Rio+20: proteger o meio ambiente não é o bastante: um enfoque tridimensional para o desenvolvimento faz-se agora necessário, combinando preocupações sociais, econômicas e ambientais.

Antonio Patriota (Ministro das Relações Exteriores do Brasil)(na foto)

A Rio+20 é um marco para o futuro. Com a presença de mais de 190 países no Rio, testemunhamos um momento histórico. A recente crise global mostrou que velhos conceitos sobre o desenvolvimento estão equivocados. É chegada a hora de repensar os fundamentos do que consideramos o desenvolvimento, o bem-estar e a riqueza.

Nas últimas quatro décadas, o mundo vem cada vez mais percebendo que nossos recursos naturais estão seriamente ameaçados. A crescente conscientização da necessidade de assegurar a sustentabilidade fez com que uma geração inteira passasse a considerar os requisitos do desenvolvimento sustentável em suas decisões de consumo e produção. Essa é uma grande conquista. A Rio 92 foi um grande passo adiante. Importantes textos legais sobre temas fundamentais foram adotados. Essas convenções asseguraram um avanço significativo que devemos manter e ampliar.

Agora nos deparamos com um desafio complexo. Proteger o meio ambiente não é o bastante. Precisamos encorajar os tomadores de decisão, públicos e privados, a incorporar preocupações ambientais e sociais em seus planejamentos econômicos e em suas estratégias de crescimento. Isso exigirá uma nova forma de pensar de governantes, especialistas, empresários, gerentes de projetos e muitos outros agentes públicos e privados, a fim de planejar e implementar iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável.

De agora em diante, é crucial que se adote um enfoque tridimensional de desenvolvimento, que combine preocupações sociais, econômicas e ambientais. A Rio+20 envida esforços para tornar-se o marco de lançamento desse novo modelo. Esta é a razão por que um dos principais temas da Rio+20 é a construção de consenso em torno da necessidade de se alcançar “metas de desenvolvimento sustentável”. Elas oferecerão um mapa para a cooperação internacional na área de desenvolvimento sustentável para os próximos anos. Futuras estratégias de governos, de empresários ou da sociedade civil devem oferecer um enfoque equilibrado e que abranja os três pilares do desenvolvimento sustentável

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Para atingir esse resultado, o Brasil decidiu adotar novos métodos. Introduziu ferramentas inovadoras para encontros multilaterais, aproximando governos nacionais e sociedade civil. Os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa brasileira adotada com entusiasmo pela ONU, abriram meios de comunicação direta entre os grupos interessados e a sociedade civil a respeito de aspectos importantes do processo de tomada de decisão. Por meio de uma plataforma eletrônica, mais de um milhão de votos foram registrados, expressando opiniões sobre 10 aspectos relacionados à Conferência. Os temas abrangeram desde energia e água até cidades sustentáveis e segurança alimentar. Durante quatro dias no Rio, reunidos no local da Conferência, especialistas, empresários, ativistas e jornalistas engajaram-se em debates e refinaram as propostas que serão entregues aos Chefes de Estado e de Governo. Os “Diálogos do Rio” tiveram êxito tão marcante que a ONU está considerando tornar essa iniciativa uma prática padrão para reuniões futuras.

Outro objetivo da Rio+20 é o fortalecimento do arcabouço da ONU para o desenvolvimento sustentável, de forma a aumentar sua eficiência e coerência nos diversos temas.A Rio+20 lançou um debate importante sobre a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, com base no entendimento de que não há uma solução única para todos os problemas. A economia verde somente fará sentido para os países em desenvolvimento se vier acompanhada de uma melhoria significativa das condições de vida da população, com atenção especial aos mais vulneráveis.

A Rio+20 implica uma avaliação dos últimos 20 anos e um olhar para as próximas décadas. Estamos confiantes de que essa mensagem ecoará pelos próximos anos, fomentando novas iniciativas que possam conduzir a um futuro mais sustentável para todos.

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