30 de Setembro é feriado nacional em São Tomé e Príncipe. No dia 30 de Setembro do ano 1975, exactamente dois meses, após a proclamação da independência nacional, os nacionalistas que assumiam a governação da jovem República, anunciaram num comício a nacionalização das roças de São Tomé e Príncipe.
Registos radiofónico da euforia de 30 de Setembro de 1975, reflectem as declarações do Primeiro Presidente do país, Manuel Pinto da Costa e do Primeiro, Primeiro Ministro do novo país Miguel Trovoada. Ambos anunciaram a nacionalização de cada uma das roças de São Tomé e do Príncipe, nos comícios rasgados de aplausos do povo trabalhador são-tomense, na altura cheio de inspiração e confiante de que com, os seus braços as roças continuariam a ser a única fonte de receitas para o jovem país.
Uma decisão política que se ajustava ao momento histórico de São Tomé e Príncipe. 44 anos depois, e apesar da degradação a nível das infra-estruturas e também da produção nas roças, a nacionalização das roças continua a ter valor político e histórico para a República Democrática.
Dados recolhidos pelo Téla Nón junto ao sector das estatísticas, demonstram o declínio da produção do cacau. Em 1979 as 15 grandes empresas agrícolas de São Tomé e Príncipe, e as suas respectivas dependências, produziram 7489 toneladas de cacau.
Água Izé e as suas dependências destacaram-se com 1006 toneladas de cacau, e Santa Margarida ficou no segundo lugar com 990 toneladas, seguindo-se Agostinho Neto com 902 toneladas.
Com excepção das duas antigas grandes roças da ilha do Príncipe, nomeadamente Sundy e Porto Real que produziram cerca de 200 toneladas de cacau, todas as outras grandes empresas de São Tomé, garantiram em 1979 produção acima de 500 toneladas do principal produto de exportação, o cacau.
Actualmente a produção do cacau a nível nacional fica perto das 2 mil toneladas por ano. Baixa da produção e da produtividade com impacto negativo na economia nacional. O retalhamento das parcelas de terra das grandes roças, para exploração familiar, uma medida imposta pelo FMI na década de 90, não contribuiu para inverter a baixa da produção. Pelo contrário ajudou a destruir por completo a estrutura colonial, e pós independência do que eram as roças.
Parte importante das terras, passou a ser matagal. Cacaueiros, que são arbustos em alguns casos, se transformaram em árvores, porque os donos de muitos lotes de terra, não têm vontade de trabalhar, ou porque não sabem fazer o devido tratamento de limpeza na planta que produz o cacau.
Muitas das terras que eram trabalhadas sob ordens de feitores e capatazes, que definiam as tarefas e as técnicas de tratamento dos cacaueiros, passaram a ser propriedade de muita gente, que não sabe nada da agricultura, e principalmente do tratamento que deve ser dado ao cacaueiro ou ao cafezeiro.
A reforma agrária implementada com maior intensidade nos finais da década de 90, pôs fim a autoridade local nas grandes roças e nas suas dependências. Estruturas que na era colonial e também nos primeiros anos da independência, funcionavam como um Estado dentro do outro. Tinham hospitais, creches, morgue, cantinas, oficinas de carpintaria, mecânica, marcenaria, serralharia, água canalizada, energia eléctrica etc…etc.
Estrutura económica e social, que era mantida por responsáveis locais. Havia pessoal que se encarregava diariamente da limpeza do quintal da roça, do tratamento dos jardins que ficavam cheios de borboletas. Aliás os quintais das grandes roças eram ornamentados por jardins de flores únicas, beijadas por borboletas de várias tonalidades. Cenário de muitas brincadeiras de infância de são-tomenses que nasceram na roça.
Havia curral de bois, pocilga de porcos, muitos cavalos no estábulo, e muita alegria no quintal da roça.
Tempos em que a televisão não era realidade em São Tomé e Príncipe. Mas o espírito de grupo, de entre ajuda, de solidariedade, era fortalecido no seio das crianças. À noite, cantavam e dançavam em roda no terreiro da Roça. Outras vezes ouviam histórias contadas sabiamente pelos mais velhos. Todos sentavam a volta do mais velho no meio do terreiro, para ouvir histórias e contos de gigantes, de feiticeiras, da esperteza do coelho ou do macaco, ou da sabedoria e paciência da tartaruga.
Contos e histórias, que contribuíam para moldar personalidades dignas, tendo em conta o conteúdo sempre rico desses contos, na promoção de valores éticos e morais.
Tudo isso acabou, tudo desmoronou. O cenário actual das roças de São Tomé e Príncipe é equiparado a de um lugar que tivesse sido alvo de uma tremenda guerra, com bombardeamentos incessáveis. Infra-estruturas de enorme valor histórico e arquitectónico transformadas em ruínas.
Sem autoridade local, o capim invadiu os quintais das Roças, as luxuosas residências dos antigos patrões, foram tomadas por novos donos, que infelizmente, nada fizeram deixando a arquitectura singular e histórica dos imponentes edifícios, ruir aos bocados até se transformar em escombros.
As roças foram o pulmão da produção agrícola para exportação, sobretudo do cacau e do café café de boa qualidade.
As Roças e as suas infra-estruturas, fontes de história, expoentes máximos da arquitectura das ilhas, poderiam em 2019, ou muito antes ainda, ser a principal alavanca do Turismo em São Tomé e Príncipe.
As roças nacionalizadas em 1975, tinham tudo, para dar a São Tomé e Príncipe a par do cacau e do café, um tipo de turismo único no mundo. Garantia dada ao Téla Nón no ano 2017, pela ex-Directora Geral do Turismo, Myrian Daio.
As casas dos ex- patrões, ficaram intactas, desde os talheres, passando pelas loiças, mobílias coloniais, tudo completo. Recheios que foram delapidados de forma cíclica a partir de 30 de Setembro de 1975.
Mesmo com tudo em ruínas no cenário das Roças, o país São Tomé e Príncipe, continua a celebrar com orgulho, o dia em que as roças, enquanto única fonte de riqueza do país, foram retiradas das mãos da minoria colonialista que conservava toda a riqueza do país, a troco do trabalho forçado e da exploração desumana dos serviçais.
Abel Veiga
Zagaia
30 de Setembro de 2019 at 7:00
Não hâ oalavras…..para mostrar o descontentamento,que quem na época viveu nessa terra. Quem não conheçeu outra realidade, não dá valor ao que tem. Um bem haja.
Português
9 de Outubro de 2019 at 15:56
Vocês precisam é de um homem como o Coronel Carlos Gorgulho para vos governar.
WXYZ
30 de Setembro de 2019 at 7:00
Data do início das nossas desgraças.
Olhar atento
30 de Setembro de 2019 at 10:00
Bom, muito bom esse trabalho! Esse artigo Leva-nos a reflectir, a repensar a nossa História, as celebrações mecanizada sem a devida análise. Esse artigo merece um momento de reflecção Nacional através de um debate rádio-televusivo. As comunicações Sociais devem ir a procura disso de forma a ajudar os Sãotomenses a se reencontrarem. Penso que a decisão de nacinaliar as roças não devem ser banalizadas por mim, a final não testemuei o contexto da época porque pareceu – me se ajustar momento mas, todos devemos fazer balanço sem medo e Com franqueza não só sobre esse assunto como também muitos outros que constituem raízes tantos males que assolam o nosso arquipélago sagrado. M. J
MIGBAI
30 de Setembro de 2019 at 10:27
Mas vão comemorar o quê afinal?
Até dá vontade de chorar ao ver no que STP se tornou.
Devolvam as roças aos seus verdadeiros donos para que estes invistam nelas no seu todo e assim sejam de novo fontes de riqueza e não de abandono e desleixo.
Só os donos das roças podem lutar para criar riqueza.
Devolvam tudo o que foi roubado e de novo os verdadeiros donos ou seus herdeiros vão colocar a economia destas ilhas a funcionar.
Vanplega
1 de Outubro de 2019 at 8:43
Voce e burro MIGBAI
Quem precisa desta distruicao? Talvez o dono queira pedir indimizacao ao estado.
Tu es fraco e lambs botas. Vais cantar para outra freguesia.
O colono deve ter dado MUGBAI, agua com ajudar e sensou-ti. Adores ser colonizado
Toni
1 de Outubro de 2019 at 16:35
Tal como foi feito em Portugal com a devolução das empresas nacionalizadas no 25 de abril, o estado entregou aos donos com grandes benefícios fiscais e financeiros porque os gestores revolucionários deixaram as empresas falidas.
Hoje tenho dúvidas se os antigos donos das roças as querem de volta, dado os custos da recuperação.
Enfim deixas uma coisa direita a funcionar, e depois entregas destruida…. logicamente têm que pagar de alguma forma, e seria a salvação de São Tomé, vê o que se passa no Príncipe com a Hbd, estão a recuperar tudo e o povo tem trabalho e rendimento.
Não há outra forma, errou pagou é lei da vida!
Barão de Água Izé
30 de Setembro de 2019 at 11:15
O dia devia servir para pensar o que fazer às nacionalizações face ao dramático resultado. Só pode ser a privatização/reprivatizacão da terras.
Plano complexo para que a agro-pecuária renasça. Atrair capital estrangeiro.O Estado tem que sair da gestão da terra e da agricultura. Sem o fim das nacionalizações e outra política econômica STP continuará na pobreza.
Madiba
30 de Setembro de 2019 at 11:15
Muito obrigado senhor jornalista Abel Veiga, pelo trabalho verdadeiramente jornalístico, claro, informativo e acima de tudo imparcial, como há muito não se tem verificado nesta casa .
De facto tive a oportunidade de visitar a feira agrícola, esta manhã (30 de Setembro).A conclusão que deu para tirar depois de sair de lá (9h00) é a seguinte:
Se se atingiu o objectivo preconizado à altura das nacionalizações, de hoje estarmos numa feira agrícola, com uns quilos de banana, tomate, umas vinte cabeças de frangos e patos acompanhados de muita mas muita música, então os nossos políticos estão todos de parabéns. E pessoalmente não preciso das nacionalizações das roças para absolutamente nada.
Toni
30 de Setembro de 2019 at 18:50
Bom comentário, em tempos recebi um pedido de uma empresa espanhola para ver a possibilidade de comprar 20 tons/mês de farinha de mandioca.
Visitei algumas cooperativas e nem às 2 tons chegavam, nem com a promessa de compra certa. Se calhar temos que repensar a gestão de produção agrícola e na forma actual é de subsistência, assim nada desenvolve.
Esta empresa espanhola actualmente compra na Costa do marfim, Congo e Gana.
Enfim em Stp é só espertos para a miséria do País
Humbah Aguiar
30 de Setembro de 2019 at 11:49
Pátria Ou Morte Venceremos. Uma coisa é o que as pessoas, nomeadamente os nossos dirigentes, fizeram com a nacionalização das roças, outra coisa bem diferente é a importância que tem a nacionalização das roças, para o São-tomense. A nacionalização das roças é um marco histórico em que tirou-se a terra da mão dos colonos para dar aos legítimos donos da terra. Este ato tem grande significado em todo lugar onde existe colonização, a independência é devolver a terra dos nacionais ocupada por estrangeiros aos nacionais. África do Sul não será a exceção… Acho importante lembrar aos nossos filhos que, a terra pertence aos São-tomense e não aos Chineses, que qualquer estrangeiro com terra no estrangeiro apenas arrendou e não comprou. Importante lembrar aos nacionais que o que é nosso deve ficar nas nossas mãos e temos que saber lhe dar com o que é nosso, N são os Chineses Nem a FMI que vão ficar com a nossa terra por causa das dividas, a terra é nossa, custe o que nos custar: STeP é dos São-tomenses. Pátria Ou Morte Venceremos.
Joni de ca
30 de Setembro de 2019 at 18:42
Stp não foi colonizado, foi povoado, assim todos são estrangeiros, cabo-verdiano, Tonga, moçambicano, angolano e de outros países da África.
As terras devem ser atribuídas a quem produz e trabalha para o bem do País e do seu povo.
Agora destruíram a maior fonte de riqueza do País, e temos que celebrar, e ainda por cima é feriado, num País que nada produz..
Para si isto é bom, com pessoas como você Stp irá continuar a descer até ao fundo do desenvolvimento.
Em relação aos Chineses, de que é que está á espera, já são donos de muitas terras, é que os que após Independência ficaram com as terras estão a vender aos chineses. E porquê são políticos pobres de espírito e de guito, em comparação com Angola que foi sim colonizada, os políticos são milionários, os de Stp em Portugal têm casa nos primos da Jamaica ou no Cacém.
Tenha juízo!!!!
WXYZ
30 de Setembro de 2019 at 19:48
Que ideia retrógrada. Ideia marxista leninista. Actualize te jovem.
Boinal
1 de Outubro de 2019 at 6:46
Diz o homem que está fora de São Tomé… LOL
Lucas
1 de Outubro de 2019 at 17:31
Sr humbah aguiar vá com essa conversa
prós novos senhores disto tudo,os amarelos
Urubu
30 de Setembro de 2019 at 17:14
Muito bem apresentado Telamon, realmente Stp é um País único no mundo, celebra datas da desgraça do povo!
WXYZ
30 de Setembro de 2019 at 19:57
Humbah Aguiar tem ideologias retrógradas, desactualizadas. Ele deve ser parente de Robert Mugabe. Jovem a viver na Inglaterra com esse tipo de pensamento. Disgusting.
Clemilson brasileiro
1 de Outubro de 2019 at 1:31
É a pura verdade comemorar o dia da desgraça do povo são tome se!
silvio antonio
1 de Outubro de 2019 at 10:09
Para mim este feriado deveria ser suprimido. Não faz sentido…Apenas o primeiro ministro acredita nesta palhaçada de feriado. É uma vergonha..que nacionalização qual o quê? As roças não produzem nada. Estão abondonadas. Ainda por cima o São-Tomense acha que sabe alguma coisa da Agricultura.Contra factos não há argumentos.Devolvam as roças aos seus antigos proprietários…
João Gomes
1 de Outubro de 2019 at 14:51
(…) Ótimo artigo, ilustre Abel! Da próxima vez, não se esqueça de colocar as legendas, por forma a se poder identificar essa roças. Consegui identificar a roça Rio d´Ouro/Agostinho Neto, principalmente aquele que foi um “grande hospital”- já lá estive hospitalizado…Aquele abraço de Cabo Verde!
Lucas
1 de Outubro de 2019 at 17:25
Disse bem aquele que foi um “grande hospital ”
Agora? Lixo!!
E fazem festa
João Gomes
2 de Outubro de 2019 at 15:20
(…)em Cabo Verde o Governo central, através do tesouro público, transfere recursos às autarquias locais-que na nomenclatura financeira, chama-se receitas consignadas com vista a requalificação das infraestruturas degradadas-STP pode fazer o mesmo!!! Acordem pessoal…
olivio cardoso
11 de Outubro de 2019 at 11:16
lamentável, o nosso pais só pode mudar ou dar passo se todos nos mudássemos de atitude comportamento e
e interesses pessoas, ao decorrer da historia, concretamente dia 30 de setembro, todos nos somos culpado, acredito que iremos prestar conta ao senhor Deus
Octávio Dias Sequeira
24 de Abril de 2021 at 6:38
Tendo eu como experiência, o confisco dos bens em Angola, a nacionalização das roças em S.Tomé foi uma moda esquerdista que só provocou abandono, destruição da economia e miséria do povo. Pouco ou nada melhorou. A não ser os esquemas da cúpula dos políticos e de todos os que “mamam” à sua volta.
O Estado deveria preocupar-se com o bem estar das populações e não tentar ser gestor dos bens privados, que são quem contribui com os seus impostos e garantia dos empregos, para o Estado arrecadar as receitas necessárias para investir em infraestruturas.
Se os anteriores donos das roças ou herdeiros as quisessem receber de volta, deviam ser entregues urgentemente !! Com a garantia de continuarem a laborar ativamente na função para a qual foram criadas. Desde que houvesse vontade política…haveria forma de junto da comunidade internacional serem dotados subsídios para esse efeito. Esqueçam o trauma colonialista, que em S.Tomé até foi brando e investidor ! E esses tempos já não voltam mais.