Política

Quem cala, consente (I)

Passaram quatro meses desde a queda do Governo liderado por Patrice Trovoada – queda provocada pelo Presidente da República, Carlos Vila Nova. É essencial denunciar as causas que conduziram a essa decisão e quais as consequências presentes e futuras em São Tomé e Príncipe. Não devo continuar em silêncio – porque quem cala, consente! O futuro do nosso país não pode estar refém de jogos de poder, nem ser adiado por interesses pessoais.

Falo com a legitimidade de quem conhece o país, não apenas dos corredores do poder, mas sobretudo do contacto permanente com o povo. Sou agricultor, luto diariamente pela subsistência e pela dignidade. Candidatei-me à Presidência da República com a convicção de que era possível fazer a diferença. Sonhei com as estrelas e alcancei a lua: fui Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, e assumi a responsabilidade de defender o nosso sector produtivo com coragem e visão.

Durante a minha campanha presidencial, em 2021, onde fui o quarto mais votado entre 19 candidatos, ouvi esmagadoramente do nosso povo: “Abel, nós gostamos de ti, mas vamos votar no Vila Nova para termos Patrice Trovoada de volta”. Foi naquele momento que eu percebi que o povo continuava a querer o Patrice Trovoada e que a eleição de Carlos Vila Nova era apenas um meio para atingir esse fim.

E hoje reafirmo, com convicção, que não conheço nenhum líder político que tenha abraçado a causa dos desfavorecidos como Patrice Trovoada. Celebro-o como o Chefe do Governo sob o qual testemunhámos as transformações mais estruturantes que continuam a impactar positivamente a vida do nosso povo – o acesso a água, energia elétrica e estradas nas comunidades rurais, a construção de liceus e a formação dos filhos dos mais desfavorecidos. Destaco também o gesto inédito de levar um agricultor a ser Ministro e uma vendedora de frutas e legumes para a Assembleia Nacional, representando a sua classe, ações que, embora desagradem aos interesses instalados, representam passos históricos na construção de um São Tomé e Príncipe mais inclusivo e justo.

Há quem diga que Patrice Trovoada é um Primeiro-Ministro repetente – e têm razão, pois, sempre que começa a organizar o país, aqueles que dependem do poder para sobreviver fazem de tudo para interromper o seu trabalho, e o povo coloca-o lá de novo. Prova disto aconteceu em 2018, quando, confrontados com resultados que davam vantagem ao ADI de Patrice Trovoada nas eleições, um grupo de indivíduos com interesses obscuros colocou o país a ferro e fogo, gerando o caos (ninguém se esquece que incendiaram carros, cortaram estradas, usaram armas de fogo…) com o intuito de, nesse assalto ao poder, formarem governo a qualquer custo, o que acabou desgovernando o país. E as consequências desse desgoverno são visíveis até hoje.

A morte do último Governo liderado por Patrice Trovoada estava premeditada há muito tempo, ainda antes de ele ser eleito – quando fui candidato presidencial, fui abordado por um grupo de altas figuras do ADI que, conhecendo o meu potencial político, tentaram arrastar-me para criar um movimento que retirasse a maioria absoluta a Patrice Trovoada. Alegaram que ele iria controlar tudo e todos, não os deixando fazer negócios para ganharem dinheiro. Alertei Patrice Trovoada sobre o que estava a ser orquestrado contra ele – mas Patrice Trovoada, por ser alguém que acredita genuinamente em dar oportunidades às pessoas, confiou que não aconteceria e, hoje, os resultados falam tristemente por si.

Como se não bastasse o que sucedeu em 2018, em 2025, com um Governo de maioria absoluta de Patrice Trovoada, legitimado e desejado pelo povo, o Presidente da República, Carlos Vila Nova, através do Decreto Presidencial n.º 1/2025, de 6 de janeiro, demitiu o Governo, alegando “incapacidade do Governo em aportar soluções atendíveis e comportáveis com o grau de problemas existentes no país”, “frequentes e prolongadas ausências de Trovoada do território nacional” e uma “manifesta deslealdade institucional” que prejudicaria a relação entre a Presidência e o Governo.

Patrice Trovoada não se calou. Contestou a decisão, que chamou de “ilegal” e “inconstitucional” – e disse mais: não havia disfuncionalidade institucional que a pudesse justificar. Ouvimos a mágoa nas suas declarações. Denunciou a ausência de “auscultação prévia do Conselho de Estado”, omissão violadora da própria democracia. E foi então que lançou, sem hesitações, a acusação: tratava-se de um “golpe palaciano”, um “golpe com muita traição e muita ingratidão”. Mas, mesmo ferido, escolheu não acender o rastilho. Disse que os motivos por detrás da decisão eram pessoais – e optou, apesar de tudo, pela paz social. Um gesto nobre de quem compreende que há momentos em que a verdadeira coragem se revela não no embate, mas na renúncia serena, e que, por vezes, se serve melhor a pátria com a dignidade da ausência do que com o estrondo do confronto.

Patrice Trovoada tem razão em sentir-se traído. O percurso político de Carlos Vila Nova está longamente ligado a Patrice Trovoada. Ora vejamos: Carlos Vila Nova foi eleito Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe em 2021, graças a Patrice Trovoada; entre 2010 e 2012, foi Ministro das Obras Públicas e Recursos Naturais; e entre 2014 e 2018, assumiu a pasta das Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente – sempre em governos liderados por Patrice Trovoada.

A decisão de Carlos Vila Nova de demitir o Governo é uma decisão que cheira a voluntarismo pessoal, rompendo com os princípios de coesão, responsabilidade, estabilidade e lealdade. Não houve aqui partidarismo. Houve algo pior. O gesto do Presidente, ao demitir o Governo liderado por Patrice Trovoada – presidente do partido que o levou à vitória nas eleições presidenciais –, não se reveste da coragem dos estadistas, mas do isolamento de quem prefere rasgar pontes do que construir soluções.

O povo assistiu, mais uma vez, à decomposição dos laços políticos em público, como se o Estado fosse palco de disputas privadas. A divergência entre Carlos Vila Nova e Patrice Trovoada, que cabia ao Presidente conter e resolver com reserva e respeito pelas instituições, foi por ele projetada sobre o país inteiro, com um custo que está a ser pago pelos mais vulneráveis: instabilidade, paralisia governativa, e o desgaste de um sistema que luta pela sobrevivência democrática.

Carlos Vila Nova não agiu como Presidente da República. Agiu como um homem em guerra com o seu aparelho político, disposto a sacrificar a governação do país para afirmar a sua posição pessoal. E essa escolha, que poderia ser apenas uma disputa interna no seio do ADI, transformou-se num ato de destruição institucional.

Não se derruba um Governo por capricho ou por desentendimento interno. Derruba-se um Governo quando falha o país, não quando falha o ego. A história há de lembrar que, em vez de um gesto de coragem, esta demissão foi um passo em falso – dado não pelo interesse do povo, mas pelo egoísmo de quem confundiu o cargo com o palco.

A Constituição da República Democrática de São Tomé e Príncipe prevê, no seu artigo 117.º, as circunstâncias que determinam a demissão do Governo. Nos termos do seu n.º 1, constituem causas objetivas de demissão o pedido apresentado pelo Primeiro-Ministro, a morte ou incapacidade deste, a rejeição do Programa do Governo, a não aprovação de uma moção de confiança ou a aprovação de uma moção de censura. O n.º 2 estabelece que a demissão pode ainda ocorrer quando se revele necessária para garantir o regular funcionamento das instituições democráticas, exigindo, para tal, a audição prévia do Conselho de Estado. E, no caso, nenhuma destas condições se verificou.

O argumento de que as “frequentes e prolongadas ausências de Trovoada do território nacional” prejudicariam o país, revela uma visão tacanha e carece de fundamento, ignorando que, num mundo globalizado, a diplomacia ativa, a celebração de acordos e a captação de investimento internacional só se concretizam com presença e articulação fora do território nacional.

Ficar em São Tomé e Príncipe à espera que o investimento bata à porta é negar a própria dinâmica das relações internacionais e comprometer o desenvolvimento do país. Estar fora é, muitas vezes, a forma mais eficaz de estar dentro – dentro das soluções, dentro do futuro, dentro do que verdadeiramente importa para São Tomé e Príncipe. E afirmo mais: Patrice Trovoada, como líder nato, pela confiança que depositava no seu elenco governativo, sentia que não era necessário estar permanentemente no país.

Carlos Vila Nova não escreveu uma página de liderança – deixou um vestígio sombrio do que sucede quando o poder se afasta do seu centro ético. Transformou a Presidência em palco de ressentimentos e ambições veladas, transfigurou a democracia em espelho partido da vontade de um só, ou de um grupo na sombra. E nesse espelho, onde se perdeu a imagem do bem comum, aquele que devia proteger o povo traiu o seu mandato com gestos mascarados de autoridade. Mas o povo, ainda que silencioso, tem memória – e não esquecerá a traição feita à esperança coletiva.

Foi a audácia de Patrice Trovoada e outros santomenses que sonham com um país melhor para todos que trouxe os projetos estruturantes que hoje beneficiam o nosso povo. E o povo estará sempre aqui para apoiá-los!

06/05/2025

Abel Bom Jesus, Agricultor, Ativista, ex-Ministro.

11 Comments

11 Comments

  1. Paulo Francisco

    6 de Maio de 2025 at 16:29

    Por muito que escrevas, também conseguimos fazer análises porque vivemos no País…. O Patrice Trovoada nunca se preocupou nem se preocupará com o País e com o tal povo pequeno de que ele sempre faz referência….
    Abel, não nos traga esta ladainha…. o Patrice já deu provas que não é capaz….

  2. santomé cu plixinpe

    6 de Maio de 2025 at 16:31

    KKKKKKKKKKK, vc nem sabe falar quanto mais escrever,,, sô PAU MANDADO..

    • Filhos de Tonga de Monte Café

      7 de Maio de 2025 at 7:21

      Abel calado é mais útil para o país. Escrever besteira já estamos cansados. Onde Patrice Trovoada preocupou alguma vez com o povo. Tudo isso é porque pensamos como barriga é por isso esse “malandro” ainda entra no nosso país. Homem que tem a sua vida fora do país, pensa no povo. Onde??? Abel tem que ter juízo. O provo precisa viver livre do Patrice Trovoada. O que falta -nos é o entendimento que não temos. Mas o Patrice Trovoada já provou que só precisa do nosso país para satisfazer os seus interesses. Por isso Abel fica calado.

  3. Joao Coimbra

    6 de Maio de 2025 at 20:17

    A unica coisa que posso dizer depois de ler o artigo é que não foi escrito por Abel Bom Jesus, Agricultor, Ativista, ex-Mnistro. O Patrice foi demitido porque não respeitou o PR e mais nada. O PR até rogou-vos para voltarem a trás nas taxas aeroportuárias (essa foi a gota de agua). O VL foi muito humilhado. Tratado a baixo de cão. e PT nunca pensou que o cão fosse capaz de morder lhe. Olha …. saiu-lhe o tiro pela culatra.

  4. Célio Afonso

    7 de Maio de 2025 at 7:18

    Também sou de opinião que este texto não foi escrito pelo Abel Bom Jesus.
    Ele limita-se a fazer frete ao Patrice e com justa razão.

  5. Costa Trovoada

    7 de Maio de 2025 at 7:30

    Quem pensa no povo tem que está ao lado do povo, tanto no poder como fora do poder. Não podemos pensar no povo somente quando temos poder, podemos ajudar o povo de várias maneiras. Mas não se vê isso. Abel deveria pensar antes de escrever essas maluquices. Um aluno que reprova quatro vezes, devemos parar e pensar, será a culpa dos quatro professores, ou do aluno. Temos que analisar isso de uma forma desapaixonada. Fico muito triste quando vejo jovens com este pensamento, até digo que jovem que defende o Patrice não deveria ser chamado de santomense.Abel não é culpado. Mas Deus não dorme.

  6. Lucas

    7 de Maio de 2025 at 7:34

    Ver o Abel a falar da Constituição da República é ridículo.

  7. Sambu

    7 de Maio de 2025 at 8:38

    O conteúdo deste texto, é uma falácia! É mais uma merdinha publicada pelos lacaios do corrupto ,mafioso- assassino,ditador do governo totalitário dirigido pelo foragido desgraçado do Patrice Trovoada,só que desta vez foi publicado em nome do dislexo brutumas ignorante ( até dizer basta), o burro do serviço ADI-PT ABEL BOM a NADA( é uma blasfémia que a pessoa dele tenha este nome sagrado JESUS, ora que ele é um capeta).
    O Abel BOM a NADA, faz parte da ALA de fdp-ADI, cujo o mais chifrudo de todo o país é o AFONSO DA GRAÇA VARELA, é o chefe da “pègre” dos criadores da falsa identidade nas redes sociais Sam Pereira, António Verde, EU ABRO FUNDAÉE.
    VARELA, reconheceu filhos que não são dele, talvez a Millie seja a única…ele é bolilo, em França era panoleiro cobardinho…

  8. Antonio Jose Cunha Matos

    7 de Maio de 2025 at 8:45

    Abel meu caro, deixa disso homem. Olha que tu no papel de ativista político enganaste muita gente mas a mim não. Um ladrão é sempre e será sempre um ladrão. Não há volta a dar. Deixaste de ser ativista para seres político e agora és político, ladrão e burro. Todo mundo sabe que não és capaz de fazer uma frase completa sem cometer erros e isso para não dizer que só escreves baboseiras. Até sabemos quem foi o autor deste “quem cala consente”. Portanto meu amigo, vai dar graxa ao teu patrão PT mas noutra freguesia. Ganha juízo.

  9. Mateus

    7 de Maio de 2025 at 9:39

    Oh Abel Bom Jesús
    Melhor vc que Patrice Trovoada vc ainda merece consideração, apesar dos pesares, deste Povo grande por causa da maldição do PT que vc engrenou tb, audaciosamente chama de POVO pequeno.
    Usaram este POVO para abusar deste País, enquanto nação Santomense. Na tua mistura de opiniões não pronuncie este nome maldito Foi PT que mais desgraçou, sujou o País com massacre de 25 de Novembro de 2022, dividiu os Santomenses para reinar, e mais não digo aqui, ele não tem sangue como seres humanos, ele alimenta-se de hemolinfa como os caranguejos. No entanto porque respeito as opiniões dos outros, e porque foi ele que fez vc se ascender a ministro, tens que sacrificar em dizer o que dizes sobre este h.

  10. Jorge Costa

    10 de Maio de 2025 at 23:20

    Abel agora vai ser difícil…pois já não és ativista!!

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