PARTE I
Foi em 12 de Julho de 1975 que se proclamou perante o mundo e a África, a Independência de São Tomé e Príncipe, acto que marcou o culminar da luta do povo São-tomense contra a ocupação colonial portuguesa.
12Julho2025, perfaz 50 anos da liberdade sonhada pelos nossos antepassados.
O País foi recebido com todas as infra-estruturas deixadas pela administração colonial. Os jovens dirigentes por falta de experiência governativa, assumiram o poder, como todos os outros jovens dirigentes dos Países da língua oficial portuguesa que haviam logrado a Independência. Adoptaram o sistema político de base socialista/comunista de economia planificada, tendo contados, com o apoio dos Países do Pacto de Varsóvia, liderados por então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas “URSS”.
Países deste bloco, com liderança da URSS assumiram financeiramente muitos projectos para o desenvolvimento de STP, deram bolsas de estudos para formação dos nossos quadros, financiaram, assessoraram, treinaram e armaram as forças militares e paramilitares.
Países de Pacto da Varsóvia desempenharam um papel preponderante na formação e afirmação de novo Estado de nome República Democrática de São Tomé e Príncipe.
São Tomé e Príncipe aproveitando as infra-estruturas herdadas da época colonial, coadjuvadas ao apoio dos Países acima referenciados, tornou-se, num país jovem semi-industrializado, como em baixo poderão verificar. Os primeiros dirigentes tinham visão para o desenvolvimento do País.
Herdou: as estradas; sistemas de comunicação geral; a fábrica de flebê; fábrica de sabão de Roque; fábrica de Ceto (cerveja) que viria a ser chamada de Rosema; fábrica de engarrafamento de vinho Ceto; casas de administração colonial; pequenas barragens hidroeléctricas, Empresa Transcolmar com meios de transportes públicos (autocarros) e marítimo (Navio Elisabete que ligava as duas ilhas e Gabão).
Com esforço próprio e apoio dos parceiros adquiriu: fábrica de tijolo; fábrica de olearia; fábrica de aguardente “ Ciplane”; fábrica de roupa (camisa Agua Grande “AG”); fábrica de óleo de palma; centro leiteiro sustentado por implementação de projecto de criação de gado bovino; centro de produção avícola; hotel Miramar; Palácio congresso; 2 navios de pesca industrial “ Nv 30 de Setembro e Rei Amador”; Navio de cabotagem de nome Pagué para melhorar o transporte de bens e de pessoas entre as duas ilhas e entre estas com o continente africano; Alargou-se o prédio do Banco Central; construiu-se casas sociais (blocos de apartamento) em Riboque, Ponta Mina, ao lado Parque popular, Rua kuami Nkrumah na cidade capital, em Monte Café, na Trindade e em Angolares. De mesmo modo construiu-se casas (vivendas) em S. António, no Quilombo, em Santana e na Ilha de Príncipe. Importou-se autocarros de marca Giron e Scanea para melhorar a frota de transporte público; Mandou formar os seus filhos mediante bolsas dos estudos fornecidas por parceiros do pacto da Varsóvia;
O comércio interno e externo eram controlados pelo Estado, no entanto, o peixe e a comida chegava à toda comunidade ao mesmo preço (não como hoje que o povo de Príncipe paga um preço superior dos produtos em comparação com o preço que se pratica em S.Tomé); tinha um projecto de pesca artesanal doado por Japão para apoiar os nossos pescadores. Todos os materiais (barcos de fibra, cariocos, motores à bordo, cabos, redes, fios, anzóis, etc, etc) eram vendidos a preço simbólico e o dinheiro proveniente destas vendas pudesse sustentar projectos sociais do Governo; havia traineira que controlava os nossos mares; havia radares que controlavam toda plataforma terrestre e marítima do país; os nossos dirigentes viajavam e o dinheiro que sobrasse devolviam-no, ao tesouro.
Estávamos unidos à independência e à liberdade. Éramos patriotas! Éramos felizes e não sabíamos! Íamos voluntariamente ao campo de férias, participávamos voluntariamente na recolha de cacau no mato, com alegria. Dávamos o nosso melhor pela Pátria!
São Tomé e Príncipe era um mero Estado insignificante e desconhecido no mundo até aos acontecimentos de 1982, quando, a Inglaterra entrou num conflito com a Argentina pela disputa das Malvinas. Os radares de São Tomé e Príncipe, instalados pelos russos, registaram movimentações de um porta-aviões inglês, carregado de armamentos, aeronaves e homens com destino à zona em conflito. Devido as rivalidades marcantes entre os dois blocos (Nato/Pacto da Varsóvia), os russos passaram estas informações aos argentinos que aproveitaram-nas para bombardear o referido porta-aviões com tudo quanto lá esteve, impondo uma grande baixa à Inglaterra, mudando assim, o curso de conflito a seu favor.
Com o tempo, países ocidentais aperceberam que aquelas informações tinham sido difundidas pelos serviços secretos de São Tomé e Príncipe, razão pela qual passaram a apelidar o país de “ petit rouge”( pequeno comunista do Golfo da Guiné que tinha que ser destruído de qualquer jeito). Com isso, veio também à tona a importância da nossa localização geoestratégica, maior infra-estrutura crítica do país que não se tem sabido aproveitar para o bem da população.
A tranquilidade e paz a que estávamos habituados ao longo da nossa existência, desapareceram. O ano de 1982, fora o ponto de virada do destino de São Tomé e Príncipe, facto que, os historiadores do país ignoram!
Estados Unidos colocaram agentes da CIA na sua Embaixada acreditada em São Tomé e Príncipe, sedeada no Gabão/Libreville. Deu-se início ao recrutamento de agentes são-tomenses entre os militares, nos hotéis, nos Negócios dos Estrangeiros e Cooperação, na nossa Embaixada acreditada no Gabão, etc, etc. Fizeram entrar uma ONG de nome Corpo da Paz, com apenas americanos que tinha como objectivos de conhecer as vulnerabilidades do país, a cultura e modus vivendis da população.
Por outro lado, os Serviços Especiais de Portugal e da França trabalharam para criar e financiar grupo de são-tomenses, sobretudo, os dissidentes políticos. Daí, ter nascido em Portugal a Frente de Libertação de STP de Afonso Santos que tinha forte ligação com os refugiados políticos santomenses em França.
O Sistema de Informação de Segurança e de Inteligência do País, funcionava em pleno, com assessoria russa e cubana. Fora detectada há tempo a rede dos informadores da CIA em STP. Os militares foram despromovidos e presos por traição à Pátria, enquanto, que, os civis foram neutralizados e comprometidos com a causa do país, tendo o Segundo Secretário da Embaixada dos Estados Unidos, o Sr. da CIA, de nome Willian, expulso.
Os países ocidentais não cruzaram os braços. Avançaram com o projecto de recrutamento, formação, treinamento e financiamento dos dissidentes políticos são-tomenses no exterior. Estes arranjaram apoiantes internos (referimos dentro do país). Sabotaram todos os radares. A Frente de Libertação cresceu em Portugal, passando a recrutar mais e mais são-tomenses que viviam em Portugal, houve até uma tentativa de sequestro do embaixador santomense acreditado em Portugal…enfim!
Houve várias tentativas de eliminação física do Presidente Pinto da Costa; cartas armadilhadas com produtos químicos, até a sua viatura foi sabotada, tendo perdido os freios numa altura em que estava acompanhado do Seu homólogo da Guiné-bissau.
A FLSTP (Frente de Libertação de São Tome e Príncipe) apoquentada pela diplomacia e sistemas de serviços de inteligência foi obrigada a abandonar Portugal para Gabão. No Gabão continuava a receber apoio financeiro, inclusive, de um Ministro Gabonês de nome Gustavo Bongo. Ali o terreno era fértil, aproveitaram os são-tomenses ali residentes para fortalecerem as suas fileiras. A diplomacia ali também funcionou. Apoquentados, centenas deles entulharam-se num pequeno e débil navio com destino à África do Sul em busca de apoio para o seu projecto. ‘A deriva, chegaram ao Porto Welvys Bay em Namíbia onde ficaram detidos. Interrogados, confessaram o destino que era a África do Sul, em busca de apoio para libertação de STP, segundo eles.
A notícia espalhou, tendo chegado aos ouvidos dos oficiais santomenses do Batalhão 32 “Batalhão Búfalo”, que se deslocaram à Namíbia a fim de darem boa vinda aos conterrâneos, que passaram a fazer parte posteriormente do referenciado batalhão dos mercenários. A outra parte do pessoal da Frente que restara no Gabão fora obrigada a sair para Camarões, onde viriam a sair, em alvoroço, pois, não tinham outra saída, senão, entrar em ST à qualquer jeito, como quando o boi é levado para matadouro para uma morte certa. Estavam em desespero! O serviço de segurança acompanhava as suas movimentações porque tinha agentes infiltrados entre eles. Vieram, mas, nenhum deles fora morto. Exclusive, dois que conheceram a morte por fome e por serem estrangeiros e porque não conheciam o meio para sobreviverem. Havia razão suficiente para aniquila-los à todos, mas, não se fez porque o humanismo ainda morava nos nossos corações.
Na ilha do Príncipe aumentava o sentimento separatista, contando com o apoio do Senhor Ministro Gabonês Gustavo Bongo para a conquista da independência. O que o povo de Príncipe talvez não sabia era que propalava-se a informação de que há tesouro escondido na ilha desde o Séc. XII e o referido Gustavo Bongo, tinha este conhecimento e estava interessado neste negócio, por isso, apoiava a FLSTP e o movimento separatista da Ilha do Príncipe. Vêem com outros olhos os movimentos crescentes de estranhos na ilha do Príncipe às vezes com conhecimento e cobertura dos dirigentes. QUO VADIS STP?
Com apoios dos ocidentais, dissidentes políticos no exterior, ávidos de poder, organizaram-se, interagindo política e financeiramente com o pessoal no interior do país, o Presidente Pinto da Costa, começou a conhecer maior pressão jamais vista em toda a sua vida, como presidente da República. Esta pressão coadjuvada a queda do muro de Berlin, com a crise económica, recrudesceram a vida do jovem e frágil país (factos que, o Presidente não previu). Perdendo apoio dos países do pacto de Varsóvia, com a crise internacional, mudança no sistema político global, sem alternativas, o país não tinha como sobreviver, senão, submeter-se a pressões tanto interna crescente quanto externa.
O Presidente Manuel Pinto da Costa, cedeu! Deu-se início à abertura para mudança do sistema político. De mono partidarismo à multipartidarismo…numa democracia imposta, segundo a vontade dos ocidentais, facto, jamais visto, porque em toda história humana, nenhum país ocidental, saiu do sistema feudal para a democracia. Hipocrisia, prepotência, interesse e abuso dos países de ocidente, estiveram na base desta mudança! São Tomé e Príncipe não estava preparado para esta mudança política tão repentina. STP deu passos maiores do que as suas pernas.
Os nossos irmãos políticos da mudança, os chamados “ democratas”, cônscios da situação ou por inocência ou por maldade ou ainda por terem oportunidade de ouro para resolverem os seus problemas pessoais, não pensaram no povo.
O país abriu-se para o multipartidarismo. A democracia apesar de tudo, também tem as suas consequências como já previa o Grande Pensador Senhor Aristóteles. Segundo ele, a democracia anda com; indisciplina, desordem, greves, direitos para tudo, corrupção, oportunismo, nepotismo, coisas que lesam o país, devido interesses de grupo. Aqui, tudo isto tem acontecido, inclusive; o desrespeito pelas normas, a destruição propositada de instituições que sustentam boa governabilidade tornando dirigentes impunes pelas transgressões feitas na gestão de coisa pública.
O Estado desapareceu, perdendo todas instituições que lhe dessem sustentabilidade, dando lugar à um grupo de aventureiros, gatos pintados, oportunistas armados em políticos que olham apenas para os seus umbigos numa máfia e cumplicidade inimaginável, com efeito bastante lesivo ao desenvolvimento do país e a melhoria da vida socioeconómico da população.
Por estes comportamentos, a democracia criou espaço para se ter saudade do partido único. Não estamos contra a democracia, nem estamos a morrer de saudade pelo mono partidarismo, queremos dizer aqui, que o país esteve melhor, em todos os aspectos. Havia um Estado apoiado em instituições fortes, com cidadãos patriotas que pensavam no desenvolvimento do país e da vida socioeconómico da população.
A democracia não deveria ser sinónimo da destruição e da desgraça do povo!
A leitura continua!
Por : Veloso Modesto
Trégua Alívio de Descanso
5 de Junho de 2025 at 12:01
Disse Verdade.
Trégua Alívio de Descanso
5 de Junho de 2025 at 12:03
Quando é que sai Parte 2?
Rei Amador
5 de Junho de 2025 at 12:32
Pedimos urgentemente apresentaçǎo do nome ou os nomes de mecânicos que fizeram manutenção ou reparação do sistema de travagem do veículo em que Pinto da Costa e Nino Vieira se encontravam?
Quem era o chefe da guarda presidencial naquela época?
“Houve várias tentativas de eliminação física do Presidente Pinto da Costa; cartas armadilhadas com produtos químicos, até a sua viatura foi sabotada, tendo perdido os freios numa altura em que estava acompanhado do Seu homólogo da Guiné-bissau” Veloso.
Atento
6 de Junho de 2025 at 13:44
A culpa é do colono branco
Juntem-se à nós
6 de Junho de 2025 at 22:49
O Atento não tem razão em prejudicar o diálogo e por justamente em causa o que não queremos. Povo já abriu os olhos. Atento que procure fazer uma reflexão muito séria sobre o seu comportamento e o seu amor pelo colono Branco. Juízo!
Jorge Costa
6 de Junho de 2025 at 15:21
Chego a conclusão que santomense é mesmo um povo “cruiel”, está cada vez pior!!!
António Martins
6 de Junho de 2025 at 21:51
Artigo esclarecedor e narra muitas verdades.
Nenhuma menção sobre a mão-de-obra, na sua maioria cabo-verdiana, que sobrevive sem qualquer dignidade humana e longe do país que os viu nascer-mao de obra física e confinada às roças. Lembre-se, também, que STP é um estado minúsculo e por conseguinte não foi capaz de criar riquezas ao longo da sua independência. Não se compreende ser independente e simultaneamente depender da generosidade dos outros(ajuda externa).
Atento Júnior
7 de Junho de 2025 at 0:09
Atento é um homem que perdeu a cabeça.