A uma elevada estatura física, Francisco da Silva aliava uma elevação de carácter, de postura e de comportamento que o singularizava na cena política são-tomense.
Tendo começado de baixo, como caixeiro na loja do avô e mais tarde, como servente no Tribunal (factos que refere no seu livro ‘Estórias ao Acaso…da Vida e da Terra), soube empreender uma paulatina ascensão ao topo da hierarquia da administração pública, alicerçada na tenacidade, no brio profissional e num recto sentido de dever.
Porque ciente dos seus defeitos e limites, Francisco da Silva foi um batalhador cuja campanha inscreveu a permanente busca do auto-aperfeiçoamento como homem, como cidadão, como político.
Ao parlamento, onde ocupou, incontestado e durante 12 anos, o cargo de Secretário-Geral, levou a disciplina, o método, a organização e o dedicado zelo do servidor e guardião do Estado.
A ascensão à Presidência da Assembleia Nacional, magnificaria os atributos políticos algo encobertos pela carreira administrativa. E através dos debates parlamentares transmitidos em directo pela Rádio, a nação percebeu que estava perante uma raridade.
Francisco da Silva era um líder que se fazia respeitar sem levantar a voz e cuja brandura em nada era sinónimo de moleza; sua era a suavidade de um guerreiro. Nele, a raiz da autoridade emanava do poder de persuasão e da fé no diálogo como instrumento e caminho, forja e ponte.
A sua palavra era lúcida e ponderada, clara, madura e firme. Na sua boca, ‘sim’ queria dizer ‘sim’ e ‘não’ queria dizer ‘não’. Não tergiversava, não ludibriava, não era um mercador de ilusões e de trapaças.
Francisco da Silva não fingia que escutava – sabia escutar. E essa característica, essa capacidade, envolvia amigos, vizinhos, adversários e estranhos.
Francisco da Silva era um negociador nato, um construtor de consensos, um mediador que valorizava sobremaneira o esforço colectivo, o trabalho em equipa. Desses atributos, deu bastas provas num parlamento dilacerado por questiúnculas, mesquinhices, idiotices e bizantinices.
Francisco da Silva respeitava e fazia respeitar as leis da República.
Cultivava um agudo, requintado sentido de Estado.
Por natureza, possuía o sentido da compaixão e da solidariedade: era um Homem bom.
Conhecia a realidade nacional, com ela não se conformava e estava empenhado em contribuir para a sua transformação.
Trabalhador incansável, acreditava em São Tomé e Príncipe, seu ‘país crioulo, insular e africano’.
Francisco da Silva sabia fazer das fraquezas força. Já debilitado pela doença, concluiu a licenciatura em Administração Pública e escreveu o livro que nos deixa, misto de autobiografia e de testamento político.
Segundo mais alto dirigente político do país, várias vezes Chefe do Estado interino, manteve sempre a mesma simplicidade, a mesma humildade. E um grande sentido de humor, apenas conhecido dos seus mais próximos.
Mas acima de tudo, Francisco da Silva nutria por São Tomé e Príncipe um fundo, abnegado e inegociável amor.
Por tudo isso, embora anunciada, a sua morte tocou tantos são-tomenses.
Por isso o povo de Santana que o viu nascer, crescer e ascender, saiu à rua como um rio, chorando amargamente o seu filho bem – amado.
Chorando o líder que perdemos, o Presidente da República que não teremos.
POR SÃO DE DEUS LIMA
mariana salvaterra
19 de Maio de 2010 at 16:26
“para o nosso rouxinol”
Christ arose, a victor over death´s domain, He arose,forever with His saints to reign; He arose! He arose! Hallelujah,Christ arose!