Sociedade

Caixa negra do An-12 já foi encontrada

É um dos temas do Diário Informativo da Rússia, com a colaboração de Filipe Samba.

DIÁRIO INFORMATIVO

  • Caixa negra do An-12 já foi encontrada
  • Saakachvili decidiu comentar a entrevista de Medvedev
  • Bancos russos estão bem preparados para enfrentar crises financeiras, assegura o presidente do banco VTB
  • · Em 18 cidades russas automobilistas protestam contra aumento do preço da gasolina

·        As incógnitas das eleições parlamentares

Caixa negra do An-12 já foi encontrada

Moscovo, 11 de Agosto – RIA Novosti.

A caixa negra do avião de transporte An-12 foi encontrada quinta-feira no local da queda, em Kolyma, comunicou à RIA Novosti um representante do Departamento do Ministério das Situações de Emergência na região de Magadan.

O avião An-12, que seguia de Magadan a Keperveem (Tchukotka), pediu terça-feira de manhã autorização de efectuar uma aterragem de emergência no aeroporto de Magadan por causa de falhas num dos motores mais tarde desapareceu dos ecrãs de radares. A bordo encontravam-se 11 pessoas e 18 toneladas de carga. Quarta-feira, os destroços do avião foram encontrados nos montes, a 82 km da povoação de Omsuktchan. Quinta-feira de manhã, os resgatadores não localizaram nem os corpos de mortos, nem sobreviventes. Todas as pessoas que se encontravam a bordo são dadas como desaparecidas.

“Quarta-feira à noite foi encontrada uma “caixa negra”, aparelho que regista os parâmetros de voo”, disse o interlocutor da agência que, nas suas palavras, será entregue aos representantes do Comité Interestatal de Aviação (CEA) e do Inquérito.

O avião pertencia à União de Produção Aérea de Komsomolsk-no Amur e foi concedido em arrendamento à companhia aérea Avis-Amur. Conforme foi estabelecido, a aeronave foi construída em 1963.

Sobre o facto da catástrofe foi intentado um processo penal no quadro da parte 3 do artigo 263 (violação das regras de exploração dos meios de transporte) que prevê uma pena de até sete anos de privação de liberdade. Na opinião do inquérito, as versões principais da catástrofe são falhas técnicas e erros de pilotagem.

Saakachvili decidiu comentar a entrevista de Medvedev

Moscovo/Tbilissi, 11 de Agosto RIA Novosti.

Passados cinco dias, o presidente da Georgia, Mikhail Saakachvili, decidiu comentar a entrevista concedida pelo presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, a jornalistas russos e georgianos e dedicada ao terceiro aniversário das acções militares na Ossétia do Sul. O líder georgiano decidiu fazê-lo num encontro com jovens bielorrussos no acampamento juvenil de Anaklia (Geórgia Ocidental).

A 4 de Agosto, na sua residência em Sochi, Dmitry Medvedev respondeu durante quase 50 minutos a perguntas de Andrey Venediktov (Eco de Moscovo), Sofiko Tchaureli (RT) e Ekaterina Kotrikadze (canal televisivo georgiano). Medvedev explicou a razão pela qual decidiu proteger os habitantes da Ossétia do Sul e manifestou-se pela convocação de um tribunal internacional para processar Saakachvili.

Conforme comunicou quarta-feira o site do presidente da Geórgia, Saakachvili expressou perplexidade pelo facto de o presidente da Rússia lhe ter dedicado muito tempo. Ao mesmo tempo, Saakachvili disse não ter visto na íntegra a entrevista.

“Às vezes, admiro-me por que razão nos é dispensada tanta atenção. Há dias vi pela televisão como fala sobre nós por parte de um país muito maior do que o nosso e, apesar de ele ser o presidente de um país muito maior, ele realmente não tem poder… Não vi toda a entrevista, tenho muitos outros assuntos, mas, nas palavras dos funcionários do serviço de imprensa, 39 dos 55 minutos da entrevista foram dedicados à minha pessoa… Se durante quase 40 minutos ele falou sobre mim, provavelmente, ele pensou sobre isso durante 40 dias e 40 meses…”, disse Saakachvili.

“Esta é uma situação anormal. Não queremos ser parte de um jogo geopolítico alheio”, declarou Saakachvili, destacando ao mesmo tempo que ele, pessoalmente, gosta do desenvolvimento que o seu país tem vindo a fazer.

O presidente considera que os constantes problemas da Geórgia são originados pela vontade de “ser um país livre”.

Na noite para 8 de Agosto, tropas georgianas atacaram a Ossétia do Sul e destruíram parcialmente a sua capital Tskhinval. A Rússia, defendendo os habitantes da Ossétia do Sul, muitos dos quais adquiriram a nacionalidade russa, introduziu tropas na república e, após cinco dias de combates, desalojou os militares georgianos da região. No fim de Agosto de 2008, a Rússia reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, outra antiga autonomia georgiana. Em resposta, Tbilissi rompeu as relações diplomáticas com Moscovo r declarou as duas repúblicas caucasianas como territórios ocupados.

Bancos russos estão bem preparados para enfrentar crises financeiras, assegura o presidente do banco VTB

Sochi, 9 de Agosto, RIA Novosti.

O presidente do banco russo Vneshtorgbank (VTB), Andrei Kostin,

declarou que os bancos russos estão hoje melhor preparados que há dois anos para enfrentar crises financeiras.

“Os bancos russos estão hoje melhor preparados que há dois anos para enfrentar as crises da economia mundial. Não vejo quaisquer problemas para o VTB nem para a banca russa em geral, mesmo que a situação seja menos favorável”, disse Kostin durante uma reunião com o primeiro-ministro, Vladimir Putin.

O colapso registado na segunda-feira nas principais bolsas mundiais teve como pano de fundo a diminuição do rating da dívida soberana dos EUA por parte da agência internacional Standard & Poors (S&P).

Na mesma segunda-feira, os indicadores das bolsas russas começaram a cair. Felizmente, já parecem estabilizar-se um pouco.

Os preços do petróleo também caíram por temor em relação à economia norte-americana. A 10 de Agosto, o câmbio oficial do dólar e do euro subiu quase um rublo.

“Mas saberemos superar todos esses problemas económicos”, disse o presidente do VTB.

EM FOCO NA IMPRENSA RUSSA
Kommersant

Em 18 cidades russas automobilistas protestam contra aumento do preço da gasolina

No passado 4 de Agosto, o sindicato inter-regional de automobilistas convocou uma manifestação nacional de protesto contra a subida dos preços da gasolina, escreve o jornal Kommersant.

Milhares de automobilistas participaram em comícios e outros actos, realizados em 18 cidades do país. Os manifestantes exigiram que o preço do combustível baixe para 20 rublos (0,5 euros) por litro.

Durante o comício em Moscovo, o líder sindicalista Andrei Naguibin disse: “O aumento dos preços não diz respeito só aos automobilistas mas também a toda a gente: desde os donos das máquinas de cortar relva até aos motociclistas”.

O líder do partido Rússia Justa, Serguei Mironov, propôs introduzir no Código Penal um artigo que prevê sanções por “conspiração com

o fim de aumentar os preços dos combustíveis”.

Nos comícios houve também protestos de carácter político. Os activistas ameaçaram fazer fracassar as eleições presidenciais se as suas exigências não forem atendidas: “Se o Governo não tomar medidas, faremos tudo para que milhões de automobilistas não votem”.

O primeiro-ministro russo Vladimir Putin admoestou os ministros em várias ocasiões pela subida do preço da gasolina mas a situação não mudou até agora.

Rossyiskaya Gazeta

As incógnitas das eleições parlamentares


Gueórgui Bovt, historiador

Apesar das várias incertezas que cercam a política russa, os partidos têm esperança de que as próximas eleições regionais serão menos autoritárias do que as anteriores – e pretendem ganhar mais poder parlamentar.

Na Rússia, o estilo de governo acaba por ser muito mais importante do que o texto das leis. O presidente Dmitri Medvedev, assim, tem ditado modas bastantes liberais, não dando sinais às elites regionais de que o Kremlin verá com bons olhos o uso excessivo de recursos públicos e de jogo sujo na política.

Soma-se a isso o facto de que as eleições regionais de 2010-2011, embora não tenham passado sem infracções por parte dos “partidos governantes”, estiveram longe do modelo autoritário da Bielorrússia, por exemplo.

Esses acontecimentos despertaram nos partidos participantes do processo eleitoral a esperança de que as eleições parlamentares de Dezembro de 2011 ocorram de maneira mais democrática.

Na cena política, como antes, existem dois importantes coadjuvantes que há muitos anos obtêm os mesmos números. Liderado por Guennádi Ziuganov, o PCFR (Partido Comunista da Federação Russa) deve receber aproximadamente 15% dos votos.

Até recentemente, achava-se que o eleitorado tradicional do PCFR fosse formado por pensionistas – cuja parcela de entusiastas saudosistas da URSS diminui constantemente. Isso é parcialmente verdadeiro, mas a fatia de votos do partido se mantém estável devido ao apoio de pessoas de meia-idade e mesmo jovens, que vêem no PCFR uma forma de protesto. O número de eleitores desse tipo, porém, não deve aumentar. Em primeiro lugar, porque Ziuganov tornou-se obsoleto, excessivamente moderado (para esses eleitores) e há muito já não propõe novas ideias.

Algo semelhante ocorre com o PLDR (Partido Liberal Democrata), cujo líder Vladímir Jirinóvski parece também bastante ultrapassado. Seu antigo ardor nacionalista diminuiu e ele já não é mais visto como um extremista, mas sim como um político completamente são e até mesmo de ideias construtivas, que uma vez por outra ainda brilham no horizonte bastante opaco e cinzento da política russa.

Sendo o PLDR um partido de um homem só, de um só líder, a dúvida que resta é se apenas a força política de Jirinóvski poderá conduzi-lo ao Congresso. Ainda é cedo para responder essa questão, mas as chances são boas.

Ainda mais dúvidas suscitam as perspectivas do partido RJ (Rússia Justa), cujo líder Serguei Mironov até recentemente ocupava o cargo de porta-voz do Conselho da Federação, a câmara superior do Parlamento.

De acordo com as sondagens, as intenções de voto do RJ giram em torno de 4% a 5%. Para alcançar o Congresso são necessários 7%, mas aqueles que obtiverem de 5% a 7% poderão contar com uma ou duas vagas, de acordo com a emenda à legislação aprovada pelo presidente há dois anos.

Porém, após Mironov ter discutido com a governadora da região de São Petersburgo, Valentina Matvienko, o partido governante “Rússia Unida” decidiu destituí-lo do terceiro cargo mais importante do governo, no Conselho da Federação. Pode parecer um paradoxo, mas isso pode ser de grande valia para o RJ. Mironov assumirá o papel de “perseguido pelo poder” e o partido encontrará uma forma mais clara de oposição, dando-lhe um posicionamento político mais definido.

Mas, pelo menos até a conclusão deste artigo, Mironov ainda não havia tirado da manga o maior trunfo do Rússia Justa, Dmitri Rogózin.
Representante permanente da Rússia na NATO, em Bruxelas, Rogózin criou o partido nacionalista Pátria pouco antes das últimas eleições parlamentares e obteve, com bastante facilidade, 15% dos votos. O partido, porém, foi logo em seguida engolido pela Rússia Justa, mas acredita-se que no último trimestre do ano Rogózin seja reintegrado na RJ.

O principal partido, o RU (Rússia Unida), encabeçado por Vladimir Putin (que por sinal não é membro formal do partido, mas mesmo assim é o líder da bancada), pretende ir às próximas eleições renovado.
A direcção do RU percebeu que o eleitor está cansado das velhas caras e irritado porque o país não se livra da crise e dos diversos problemas sociais e económicos com a rapidez esperada. Por isso, Putin anunciou a criação de uma frente nacional pré-eleitoral, uma coligação com diversos candidatos formalmente independentes.

A ala da direita também tem suas incógnitas. O partido Causa Justa, cujas perspectivas nas eleições pareciam há pouco tempo bastante fracas, terá a partir do fim de Junho um novo líder, o bilionário Mikhail Prokhorov, uma figura controversa mas de grande visibilidade.
Além da evidente desvantagem de ter fama de playboy, afirma-se que Prokhorov pretende aumentar a jornada semanal de trabalho das actuais 40 horas para 60. Na realidade, sua proposta visa a autorizar uma carga horária superior a 40 horas àqueles que assim desejarem, o que é actualmente proibido pelas leis laborais.

Mas Prokhorov tem as suas vantagens: é uma cara nova na política russa, desligado da burocracia governante, é carismático e comporta-se bem nos programas de televisão. Além disso, há na Rússia um anseio por um partido liberal de direita, um partido que expresse os interesses não dos parasitas, dos que esperam o tempo todo por um “presente” do governo, mas sim dos que não querem depender do governo e que dele esperam apenas a libertação de suas possibilidades de realização para os negócios e para os lucros.

O mais interessante nesse quadro das eleições parlamentares de Dezembro é que ele praticamente não depende da resolução de uma outra importante questão da actual vida política do país: quem será afinal o candidato do principal partido nas eleições presidenciais de Março de 2012? Medvedev ou Putin?


Gueôrgi Bovt é co-presidente do partido Causa Justa.

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