Na verdade, não se deve perder tempo com quem não manda…
EUGÉNIO TINY
Era eu, Director da SOCOP, (Sociedade de Construção Civil e Obras Publicas em S. Tomé):
– Num belo dia, movido pela necessidade de adquirir para Empresa, certo tipo de materiais, que na altura escasseavam no mercado, para a composição do seu stock, enviara o meu Chefe dos Armazéns, com uma lista constante dos mesmos a fim de ser entregue nos Escritórios de uma Empresa Chinesa, que anunciara os possuir para venda.
Parecera-me na altura, pela sua qualidade e configuração, de que os mesmos eram sobrantes da empreitada que haviam realizado para a construção do Palácio dos Congressos, cujo término do período de garantia expirara: porque eram em grandes quantidades e diversificados achara que se tratava, como posteriormente viesse ao comprovar, de que a venda era legal e oportuna, e na verdade, contribui e muito para a resolução de problemas causados pela sua falta no mercado interno. Não havia muita coisa; a escassez era enorme; o lote por ela anunciado era composto, de parafusos diversos, vidros diversos, materiais eléctricos etc., e também algumas ferramentas.
– Moral da estória:
– Dois dias depois da recepção da referida lista, sou chamado a me deslocar aos Escritórios da Empresa para me certificar da sua aceitação, quer, do ponto de vista do conteúdo, quanto, ao da sua quantidade e disponibilidade no momento.
– Ao chegar ao local dos escritórios, (ia acompanhado do responsável dos armazéns), dirigiu – se – nos um indivíduo, de cara redonda, chinês, que se expressara muito bem em língua portuguesa, e que nos perguntara: – são os senhores que vieram tratar do assunto relacionado com os materiais para SOCOP? Ao que, de imediato, respondera que sim; então, continuou – vou avisar ao Chefe de que os senhores já cá estão: minutos depois, voltara, perguntando: – Mas o senhor é, mesmo Chefe? (Dirigindo-se, a mim, talvez, porque lhe parecera que aparentava esta figura, uma vez que não me identificara como tal, e éramos dois), insistindo que, se para além de mim, houvesse uma outra pessoa que mandasse na empresa; retorqui que não, eu era, o único responsável, e, sobre mim, não havia outro; e então, disse-lhe: – você, já esteve na minha empresa acompanhado de um colega em busca de um material, e eu, despachei o seu pedido: – sim, – respondera, mas já foi, há algum tempo; e era verdade. Tinha estado, saí, e, posteriormente regressei. Ele voltou ao Chefe, e, regressando, convidou, acompanhando-nos à entrar.
– Sentem-se, – dissera: algum tempo depois, e de súbito, aparecera o Chefe, acompanhado de mais dois colaboradores seus; entreolhamo-nos, cumprimentamo-nos, e, de seguida um dos colaboradores me apresentara a lista com os devidos preços a fim de que eu pagasse. Conferi-a como era dever que fizesse, e pedi ao meu acompanhante que levara consigo o dinheiro para que procedesse ao pagamento dos mesmos, e os transportasse para os Armazéns da socop.
Porém, na altura, não havia notas de cinquenta e de cem mil dobras, como existem hoje, por este facto, qualquer pagamento que envolvesse um certo, avultado montante, o dinheiro era transportado em saco; ao despejar sobre a mesa o saco com dinheiro, vejo o Chefe franzindo a testa, em lugar de alguma satisfação, balbuciando, ameaçando ir-se embora, todo ele bem aborrecido: – não estava por dentro do esquema –, não sabia do que se passava. Então, perguntei ao meu Chefe dos Armazéns que, andava por essas lides, sobre o porquê daquele comportamento: – Chefe não sabe, o que se passa? Eu, não; Chefe não ouviu que ele está a dizer ao outro, que quer dinheiro?! Que dinheiro, perguntara? Ó senhor director, esses chineses da construção, não consideram dobra, dinheiro; é esse, o problema. Se não pagarmos estas mercadorias em dólares nada feito; não aceitam; não podia acreditar mais no que ouvira:
– Ora, precisava destes materiais, o que fazer? Aí tive de assumir, tomando uma atitude que o homem, finalmente queria ouvir. Pedi que me dispensassem o telefone, e, (na altura só podia ser da rede fixa), liguei para a Empresa e falei com a responsável da caixa à saber se havia na conta o montante correspondente ao valor de que necessitava para o fecho da operação: enquanto aguardava pela resposta, ficamos sozinhos, sem já a lista com os respectivos preços. Foi negado, ao meu pedido, para que no-la deixassem.
Depois de algum tempo de espera, me foi confirmado de que havia o valor solicitado, e, pedi que mo trouxesse; estavam à espreita num buraco qualquer, pois havia poucas janelas no edifício onde nos encontrávamos.
Mal chegou a senhora com o dinheiro, reapareceram todos, e ouça bem o que ouvira do Chefe da equipa, através do seu intérprete, para que nunca mais se esqueça também:
– Quando pedi ao meu secretário que fosse saber se o senhor era de facto Chefe e mandava, é, porque o chinês não perde tempo com quem não manda. Ora bem, (o CHINÊS NÃO PERDE TEMPO COM QUEM NÃO MANDA). Trabalhamos muito, o senhor não vê, me indicando com dedo o edifício do Palácio dos Congressos, que estávamos, próximo:
– Compatriota, quem manda tem poder; mandar e poder são inseparáveis; por isso, atenção! … Quando você entrega o poder, “seja qual for”, a alguém, deu-lhe, em simultâneo, a faculdade de mandar: – deste modo, “BILI UÊ” –, se abre a boca, de qualquer maneira, ele fecha-a; não, porque quer, mas porque, se tem, de defender: é assim em toda parte.
Na verdade, não se deve perder tempo com quem não manda…
Edy
8 de Agosto de 2013 at 6:57
A comprensao do que diz o chinês nao é literal sinao metafórica. Ele quer dizer si você é chefe tem que conhecer bem o funcionamento das coisas e, assim, realisar bem o seu trabalho. Desta forma mandarás.
Democrata
8 de Agosto de 2013 at 8:12
Olha até que gostei da cronica e para um bom entendedor pouca palavra lhe basta.
Faço uso da sua palavra; Para resolver certos assuntos,falo com peixe grande directamente.
Cassumá
8 de Agosto de 2013 at 8:14
Quem deu poder ao outro e agora reclama, que se dane. O poder se conquista não se acha nem se reparte.
Herminia dos Santos
8 de Agosto de 2013 at 9:28
Com devido respeito, não concordo com esta forma de ver as coisas. Isso só vigora num estado de regime autoritário, absoluto e de ditadura, qual penso o senhor, também lutou e luta contra este tipo de coisa. Num estado de direito democrático há que se tomar em conta o envolvimento da sociedade na administração da coisa publica. Ninguém é dono de saber, por isso, opinião dos outros merecem consideração e ser ouvida. Se nós de facto queremos que haja paz, harmonia, estabilidade, desenvolvimento, ninguém deve ser marginalizado. Isso contradiz a doutrina propagada por Sexa, o PR. Isso apenas conduz-nos á uma exclusão social dos cidadãos, isso é uma discriminação social. Uma sociedade nunca é apenas construída por poder, porque o suporte de poder é a subordinação. Sem a subordinação não há poder, ambos devem andar de braços dados, sempre no respeito ao limite de cada um. Por favor reveja a sua posição, caro amigo Tiny
Horácio Will
8 de Agosto de 2013 at 10:56
Gosto de perder, ou melhor, usar mais o meu tempo com quem sabe do que com quem apenas manda.
Depois de ler o artigo, pensei: se mandássemos de facto, o que exige sabedoria suficiente para impor sem autoritariedade, o chinês teria de aceitar a moeda do país em que ele se encontra e dirigir-se ao banco para trocar depois naquilo que ele quisesse.
Acredito que com a passagem de cargos a pessoas devidas, um dia mandaremos no nosso país. Isto é, conseguimos nos fazer respeitar.
Horácio Will
8 de Agosto de 2013 at 11:01
Correcção: conseguiremos em vez de “conseguimos”
Antes que seja tarde
8 de Agosto de 2013 at 13:38
Sr Tiny
Quero respeitosamente adiantar que ao referir que o chinês teria de aceitar a moeda do país, não quis dizer que o senhor Tiny não é competente para colocar as coisas nos seus lugares. Quis referir-me à necessidade de uma conjuntura social com pessoas certas nos lugares certos de modo a que as boas atitudes encontrem suporte nas outras instâncias do país.
Ex: O senhor podia dizer que eles não têm legitimidade para negar o nosso dinheiro e sentir-se sem a quem recorrer se eles o negassem. Que instituições estariam vocacionadas ou que líderes estariam preocupados em ajudá-lo a salvar o respeito pelo país?
Desfeita a ambiguidade que julgo que a interpretação do meu comentário podia trazer, acrescento que aprecio muito o comentário da Hermínia dos Santos.
Horácio Will
jovem na diaspora
8 de Agosto de 2013 at 12:42
antes de ler eu já sabia que o chines iria impor sua lei. ai pergunto quem é esse senhor para ir ao país do outro impor o tipo de moeda que ele recebe? só quem conhece de perto esses senhores exploradores sabe o que eles são capazes, antes minha mãe me dizia que eram boas pessoas mas após estar num país onde estão como formigas pude perceber o tão exploradores eles são. só quem trabalha com eles aqui poderia vos explicar melhor o que fazem aos seus trabalhadores. só posso dizer parabéns a quem rompeu as relação do país com esses senhores já não iria suportar ver o santomense sendo tratado como escravo dentro do seu próprio país (tenho relatos que justificam tudo que eu disse)em tempos ate que poderiam ajudar mas hoje só querem explorar mesmo
madalena
9 de Agosto de 2013 at 14:43
O Homem manda com tempo, deus para sempre. Por isso mandar, mesmo ninguém manda.
catia
15 de Agosto de 2013 at 15:48
Estoria???????
A palavra foi mal escrita ou p dar mais piada a coisa??