Cultura

Bom DIA, Dona Alda do Espírito Santo

Confrontando a aparente languidez do tempo que na sua marcha transporta consigo recordações que tendem a se esfumar progressivamente aos nossos olhos, é com infinda saudade que a União Nacional dos Escritores e Artistas Santomenses (UNEAS) recorda e celebra o 30 de Abril, data de nascimento da professora, poetisa e activista política Alda Espírito Santo, aquela que se consagrou à ideia da criação de uma entidade congregadora dos que, no nosso seio, se entregavam à divulgação da cultura nos seus diversificados domínios.

A persistência colocada nesse projecto, aliada à reconhecida capacidade de reunir à sua volta e incitar para a sua conclusão os que com ela colaboravam, levou à criação, em 1985, da União dos Escritores e Artistas Santomenses, de que ela foi dinâmica Presidente.

De recordar o seu denodado empenho em salvaguardar o devir de escritores e artistas santomenses quando, parcos de informações mais detalhadas sobre a futura organização a criar, nesse sentido se empenhou no contacto com as associações congéneres já prevalecentes em determinados países irmãos.

Mas seria mera estultícia falar de Alda Espírito Santo abarcando apenas o seu apaixonante e decisivo papel desempenhado no surgimento da UNEAS, quando se reconhece a amplitude da sua acção nos domínios mais díspares, a merecerem igualmente realce: a militância desde jovem nos círculos político-literários africanos de Lisboa, onde pontificavam, dentre outras, destacadas personalidades afectas, na época, às demais colónias portuguesas em África, que se entregavam, com empenho e o destemor, à luta pela dignificação dos africanos e de emancipação dos seus destinos; o cantante realismo dos seus versos, fomentando a ideia de que, na luta contra o opressor, estávamos todos do mesmo lado da canoa, num fraterno apelo à unidade em tempos tão frustrantes e perversos como os que então vivíamos; conduz, de igual modo, a recordar os trágicos dias de 1953, o seu veemente canto de denúncia e repulsa contra a asfixia cruel de santomenses espoliados do seu direito à vida e contra os ventos de loucura que, varrendo a ilha, levaram na sua irracionalidade centenas e centenas de mulheres e homens inocentes; as múltiplas cartas dirigidas ao exterior, pelas quais expelia a repugnância que sentia pelos hediondos acontecimentos perpetrados pelo colonizador; o seu patrocínio, enquanto Ministra da Educação e Cultura, à produção do conceituado programa radiofónico “Crítica Musical”; a publicação pela editora Ulmeiro, em 1978, de “É Nosso o Solo Sagrado da Pátria”, uma recolha feliz da obra poética da autora; a persistência na organização dos concursos “Passu Fiá Glêsa”; de igual modo, o surgimento no seio da UNEAS do Quinté Glandgi, uma tertúlia de gente interessada em revisitar o passado e, centrada nas nossas raízes, de contribuir para repensar o futuro.

É nesse mar abrangente e largo de recordações que navegamos ao recordar a poetisa de “Lá no Água Grande”. Água Grande onde já não cantam as lavadeiras em coros revestidos de uma alegria ímpar e o rio, ele próprio, já não invade a cidade com a languidez e a volúpia de outrora. Mas onde perdurarão para sempre as reminiscências desses versos de um profundo humanismo, que despertam em nós a consciência de um intenso fervor colectivo.

Tudo isso porque Alda do Espírito Santo conseguiu inculcar a ideia de que os rios, os caminhos, o mar azul, o canto livre de uma mulher, o riso inocente e franco de uma criança povoam e são partes integrantes do nosso sentir enquanto povo uno e indivisível.

Algo de gregário e específico que a sua memória nos obriga a preservar na construção dessa pátria que, tal como ela, todos desejamos mais justa, mais solidária e mais digna.

 S. Tomé, 30 de Abril de 2024

                                                          O Presidente da UNEAS,

                                                          Albertino Bragança

1 Comment

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  1. wilson bonaparte

    9 de Maio de 2024 at 11:07

    In textura memoriae, ubi silentium epicis consuuntur, Alda do Espírito Santo instar phari inspirationis emergit, lucem in oblivionis umbras iaciens. Vox eius, in temporis textura implicata, resonat cum vi aquarum Magni Aquae, quae, quamquam hodie placidiores, adhuc gestant cadentiam et cantum resistentiae. Per eam, Spiritus gentis formatus est, in alchemia verborum quae dolorem in spem, oppressionem in libertatem transmutant.

    Alda, in sua essentia, merum poetriae vel activistae munus superavit; facta est ipsa spiritus populi ad unitatem, iustitiam, dignitatem aspirantis. In eius versibus, clamorem terrae et susurrum foliorum invenimus, ardenti passionem pro terra et populo qui eam vidit nasci et crescere. Quaelibet verba eius, granum arenae in immensitate litorei, quaeque phrasis, unda quae cum maris placidi apathia frangit.

    In hoc die memoriae et honoris, celebramus non solum mulierem quae fuit, sed etiam legatum quod manet, in venis cuiusque Santomensi pulsans. Alda do Espírito Santo, in suo immortali spiritu, docet nos culturam et artem pontes esse ad futurum ubi quilibet vir, quaelibet mulier, et quodlibet puer suam ipsam imaginem in aqua clara iustitiae et veritatis reflectere possint. Memoria eius nos provocat ad prospectum ultra visibilem horizontem, ad mundum somniandum ubi cantus lavatriarum numquam exstinguitur et ubi flumen vitae numquam desinit fluere.

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