Sociedade

Paludismo:  Ribeira Afonso é o símbolo de alerta e mobilização

Ribeira Afonso, no distrito de Cantagalo, foi o palco escolhido para o ato central das comemorações do Dia Mundial de Luta contra o Paludismo, celebrado nesta quinta-feira, 25 de abril, sob o lema da Organização Mundial da Saúde: “Tempo para chegar a zero casos de paludismo: investir, inovar e implementar.”

A escolha do local não foi aleatória. Ribeira Afonso é uma das zonas mais afetadas pelo recente aumento de casos da doença em São Tomé e Príncipe, tornando-se um símbolo tanto de alerta como de esperança.

O evento foi coordenado pelo Programa Nacional de Eliminação do Paludismo (PNEP) e reuniu uma frente ampla de atores: governo, técnicos de saúde, representantes da OMS, da ONU, da República Popular da China, de ONGs e parceiros multilaterais. A população local também marcou forte presença, demonstrando envolvimento e vontade de mudança.

O representante da OMS, Abdulaye Diarra, destacou a relevância do momento:

É hora de alcançar os zero casos de paludismo. Para isso, é urgente investir, inovar e implementar. Cada dólar investido salva-vidas, constrói resiliência e impulsiona o desenvolvimento.”

Diarra recordou que, nas últimas duas décadas, os esforços globais evitaram mais de 12 mil milhões de casos de paludismo e salvaram mais de 12 milhões de vidas. Ainda assim, a doença continua a matar cerca de mil pessoas por dia, sobretudo crianças na África.

Em São Tomé e Príncipe, o progresso é notável: nos últimos cinco anos, foram registadas apenas duas mortes por paludismo, graças a intervenções como pulverização intradomiciliar, distribuição de mosquiteiros, diagnósticos rápidos e ações comunitárias. No entanto, o desafio continua vivo.

A coordenadora do PNEP, médica Didiena Vilhete, foi incisiva:

Ou a comunidade muda o comportamento ou o paludismo continua a vencer. Estamos aqui hoje para virar esse jogo.”

E sublinhou que a resistência da população a medidas como a pulverização e o uso de mosquiteiros compromete seriamente a eficácia das campanhas.

Essa preocupação foi reforçada pelo Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Joucerll Tiny dos Ramos, que, em representação do governo, alertou para a gravidade da situação:

Há uma rejeição perigosa às intervenções técnicas. Isso põe em causa estratégias nacionais e o apoio internacional. O paludismo é um obstáculo ao desenvolvimento e um motor de injustiça social.”

O ministro recordou ainda que o dia 25 de abril foi estabelecido como data oficial da luta contra o paludismo em África durante a histórica Declaração de Abuja, no ano 2000. Em São Tomé e Príncipe, o compromisso foi assumido formalmente em 2003, com o lançamento de ações nacionais com apoio de parceiros como a OMS, UNICEF, PNUD e Banco Mundial.

O país está agora guiado pelo Plano Estratégico 2023-2027, que tem como metas principais:

Eliminar todos os casos autóctones nos distritos de Caué e da Região Autónoma do Príncipe até 2025;

Reduzir para menos de 1 caso por mil habitantes nos demais distritos até 2027.

Para alcançar estes objetivos, a receita da OMS é clara:

Investir: aumentar o financiamento interno em saúde pública;

Inovar: desenvolver ferramentas mais eficazes de controlo de vetores e usar dados e modelos climáticos para prever surtos;

Implementar: ações consistentes, campanhas contínuas e envolvimento comunitário.

A escolha de Ribeira Afonso como local do evento teve um peso simbólico: é uma comunidade marcada pelo impacto da doença, mas também um exemplo de mobilização cidadã. A forte presença da população demonstrou que, apesar dos desafios, há vontade de mudar.

As autoridades deixaram um recado: a luta contra o paludismo é mais do que uma questão médica — é um combate político, social e comunitário. E precisa de todos.

Waley Quaresma

1 Comment

1 Comment

  1. Lagartixa

    26 de Abril de 2025 at 10:17

    Se se efectivamente se quiser acabar com paludismo no país, a questão é de dois três meses.

    Assim como o lixo, que transborda na capital, e arredores, no luchans e vilas.

    É uma questão de objectivo atitudes, acção para acabar com a himundice, porquice,…

    Reeducar a população tomar médicas, cumprir planos

    Só que em São Tomé e Príncipe, a pobreza mental é tanta que até, nestes aspectos a sempre alguém há querer manter os projectos para continuar a mamar dinheiro

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