Análise

Guiné Bissau, CPLP, a Crise Politica Militar e as Trapalhadas

A mudança ou tentativa de mudança do panorama politico na Guiné Bissau, via “golpe de estado”, trouxe uma vez mais  a questão da fragilidade democrática que se vive em África e a utilidade dos serviços de informações e observatórios de monitorizações internacionais.
Como era de esperar e consumado o golpe, vieram as habituais indignações e condenações de todos os quadrantes, países, CPLP e outros mais.

Inclusive Portugal unilateralmente decidiu enviar as suas forças militares “de reacção imediata”.

Segundo as notícias, estes forças partiram para a ex- “Guiné Portuguesa”, em missão não específica, contrariando a lógica militar uma vez que as missões devem traduzir de forma clara e inequívoca os seus objectivos. O óbvio aconteceu e o efeito dissuasor pretendido não resultou.
De facto, só fazia sentido se houvesse um pedido de uma das partes guineenses.

A acção dos comandos guineenses criou de facto uma situação problemática a nação guineense. Nada deveria obstar que os militares fossem tidos também como parte da solução, De contrario, poderemos assistir a um braço de ferro entre o comando militar e o governo, mas que uma mediação inteligente e com sensibilidade socio-politica pode ajudar a resolver

A história e determinação dos militares guineenses abriu-lhes o caminho a independência,  antes ainda da revolução dos cravos em Portugal.

Questiono se não terá sido a proclamação unilateral da independência da Guiné pela guerrilha do PAIGC, um dos factores influentes na sublevação de Abril que culminou com a queda da ditadura em Portugal.

A sociedade civil, partidos políticos, e os militares guineenses têm sabido gerir dentro do possível, os problemas por eles criados. Não tenho, porém, a mesma impressão de alguns países amigos e da própria união africana.

No actual contexto, em que:
– os partidos políticos se predispuseram a formar um governo transitório;
– os militares não reivindicam o poder para si e pretendem que seja exercido pelos civis;
– não houve derramamento de  sangue e a possibilidade que tal aconteça são praticamente nulas;
– reina acalmia ou paz no país;

O melhor contributo dos amigos da Guiné Bissau, seria encontrar uma solução de consenso avalizada pelas partes guineenses envolvidas.
O conselho de segurança, reconhece quão sensível é a situação quando fala em “ empenho com recursos a todos os meios e recursos adequados”.

O envio de uma força de interposição, não é um meio apropriado, pelas condições da Guiné e a sua idiossincrasia.

Guiné Bissau precisa de paz, Portugal, CPLP e outros amigos da Guiné Bissau podem ajudar, mas com respeito e humildade e em estreita cooperação com todos os Guineenses.

Se o problema na Guiné são os militares e sendo do conhecimento publico as difíceis condições socioeconómicas da maioria dos seus membros para sobreviver, uma vez que as condições de precariedade atingem de uma forma transversal a maioria dos antigos combatentes entregues a sua sorte e também a actual geração, não será de equacionar procurar formas de ajuda condigna aos antigos combatentes e aos militares em geral?

Por tudo isto, ao invés de enviar ou forçar a entrada de uma força de interposição na ex-Guiné Portuguesa, a CPLP deveria procurar uma solução pacífica saída de um compromisso livre entre as partes em conflito;

Uma vez encontrada a solução deste impasse; como gesto de boa vontade e para a reposição da justiça, deve a comunidade de países de língua portuguesa num dos seus fóruns procurar compromissos para garantir subsídios ou reformas a todos ex-comandos africanos que combateram sob bandeira portuguesa e em defesa do império.

Deve também a comunidade dos países de língua portuguesa, encontrar na base de diálogo, formas de compensação aos milhares de cidadãos africanos outrora portugueses, e que descontaram para os regimes de segurança social e de pensões vigentes na altura nas colónias e no ultramar.

Os desafios presentes não são fáceis, mas as vantagens futuras serão maiores que todo o conjunto da CPLP.

Danilo Salvaterra

Abril 2012

Danilo Salvaterra

16 Comments

16 Comments

  1. luisó

    29 de Abril de 2012 at 21:26

    caro Danilo;
    uma força de reacção rápida é isso mesmo e todos os Países com algum ou muito poder militar as têm;
    ao contrário do que afirmou a verdade é que esta força foi enviada para em caso de alteração violenta na GB fosse possível a retirada de cidadãos portugueses e de outros que assim o desejassem e que vissem as suas vidas em perigo, o que já aconteceu em 1999 salvo o erro, em que esta força rápida retirou 3000 pessoas metade delas guineenses e foi isto que o governo português anunciou e não que iria invadir a GB, como é óbvio;
    em relação à CPLP a sua reacção ao golpe foi certa, rápida e concertada mas da outra parte não houve resposta e o PR e o PM eleitos continuaram presos pelo António Indjay e seus comparsas até há dois dias;
    Estes senhores da guerra sistematicamente fazem destas na GB porque não sabem viver para o seu País e cidadãos, porque não querem perder as suas mordomias e os ganhos do narcotráfico e com isto os governantes democraticamente eleitos ficam reféns desta gente, em prejuízo do povo que quer paz e liberdade e futuro, mesmo agora que parecia que tudo iria encarrilhar;
    O que a GB precisa é de uma força forte e de interposição para os militares da GB nada poderem fazer e extinguir definitivamente as forças armadas da GB e formar novos militares com motivação patriótica e democratas que se sujeitem ao poder eleito e democrático e isso enquanto não acontecer a GB não tem futuro;
    agora querem fazer uma coligação e prepara eleições para daqui a um ano e até lá, se acontecer, vão-se governando;
    a comunidade internacional tem que sancionar a GB tanto politico como economicamente de modo a sufocar o espaço destes militares e o povo tem que sair e dar a volta.

  2. Veterano

    29 de Abril de 2012 at 21:33

    Caro Danilo

    Infelizmente o que parece, nem sempre é, nem sai sequer nas notícias.

    Acha normal um 1º Ministro de um país (neste caso da Guiné) fazer um acordo com o presidente de outro país (neste caso de Angola), para dividirem entre si uma grande jazida de minério da Guiné Bissau ?

    Acha normal entrar nesse país (neste caso na Guiné) uma grande quantidade de tropas e armamento de guerra pesado (neste caso Angolano), para o caso de algo correr mal a este e outros negócios e os militares Guineenses ficarem assim com receio de reagir ?

    Acha normal um país com várias etnias Africanas (neste caso a Guiné) ver entrar pelo seu território dentro tropa estrangeira (neste caso Angolana) de outras etnias Africanas e não se passar nada, sabendo nós como se dão as várias etnias Africanas umas com as outras ?

    Angola ficou mal neste filme e vai sair com o rabinho entre as pernas,a CPLP faz de conta que não sabe disto, e a Guiné infelizmente vai continuar a ser aquilo que é desde a independência, ou seja, um estado falhado.

    • luisó

      30 de Abril de 2012 at 14:14

      caro veterano, eu não sou o Danilo mas gostaria de dizer o seguinte:
      primeiro sabe-se agora que esse documento assinado pelo PM foi assinado em branco e já depois de ter sido preso e em relação à jazida de bauxite de que fala já há muito que a sua exploração foi cedida aos angolanos e possivelmente ao general higino;
      devo informá-lo que as forças armadas da GB são cerca de 10.000 homens e tem uma brigada mecanizada além de um regimento de Comandos e a Missang (tropas de angola) são ou eram 200 que estavam lá para formação (a pedido do governo e estreita cooperação com os militares da GB)e não está ainda provado que tenha entrado material pesado como diz na GB, aliás essa noticia só foi dada pelos golpistas e foi dada, a meu ver, como desculpa;
      quanto ao resto o futuro da GB só dependerá do facto das chefias militares perceberem que existem para defender a GB de agressões estrangeiras e não para imporem os seus negócios e para fazerem golpes quando não lhes agrada, porque o medo delas são as reformas militares que lhes retirarão o palco e deixarão de ser os principais actores na GB.

  3. caboverdiano

    30 de Abril de 2012 at 9:27

    GUINE BISSAU sei que ta sempre com problemas sabem porque a maioria tem uniao
    enquanto uma pequena maioria constituem a instabilidade ora vejamos o carlos junior foi ganancioso era primeiro ministro antes de terminar o mandato quer ser presi. da GB
    sabem porque quer fugir das promessas que que prometeu e entregar a chefia do governo pra outro do mesmo partido
    traira enquanto que em STP sao coruptos comessa em desde o topo acaba ate o povo

  4. Carlos Ceita

    30 de Abril de 2012 at 10:58

    Meu caro Danilo encontrar uma pacifica é bom mas como se materializa esta solução pacifica?
    Como encontrar solução pacifica com gentes ligados ao narcotráfico. Dialogar com terroristas?
    Como encontrar solução pacifica com um (exercito? que mais parece delinquentes armadas) que lançam roquetes (RPG7) a casa de um Primeiro Ministro matando até o cachorro. Pessoas que perseguem que pilham etc etc. Como dialogar com alguém que uns anos antes deste golpe ameaçou matar o Primeiro Ministro se as populações não parecem de manifestar para a sua libertação. Problema exercito de delinquentes não são supostos condições de vida miseráveis que possuem e mesmo que seja e uma situação que é também transversal a sociedade guineense. Os problema é que eles sao bandidos armados e analfabetos e portanto só com um exercito novo republicano que respeite as instituições civis democráticas poderá haver paz neste pais irmão.
    E claro que o envio unilateral das tropas portuguesas para resgatar os cidadãos portugueses esta na logica de pouca importância que potencias ocidentais dão aos conflitos africanos sobretudo quando não há ai petróleo e outros interesses imediatos. Ou se há petróleo ainda não esta ainda a jorrar. Temos a memória do que aconteceu no Ruanda. E caso para perguntar por acaso não haverá portugueses na Síria para serem resgatados?
    Os civis guineses mereciam uma proteção dos aviões da Nato como os da Libia. Contudo mais depressa veremos eles a intervirem na Siria do que na Guine. A Guine está tao longe e em Africa. É sempre assim e depois vem gentes a dizer o contrario aqui no fórum como se fossemos estúpidos. O ministro da defesa português afirmou que numa eventual força para Guine não teria soldado português. Ora bem para o Afeganistão para a bósnia Kosovo sempre haverá soldados portugueses. A CPLP totalmente ultrapassada pelo CEDEAO é uma organização da sociedade civil sem componente militar apenas vocacionado para eventos recreativos e pouco mais.
    Mas o que me preocupa é ver um presidente interino e primeiro-ministro forçados a exilar como se tivessem cometido crime. E se o golpe se consumar ao que parece estar consumado com possibilidade de PAIGC fazer parte de um governo alargado será uma vitoria aos golpistas de Africa. Vitoria que permitira vir a ser ensaiando golpes semelhantes com consequências imprevisíveis. Será que até o PAIGC caiu na lata desses delinquentes? Porque o normal seria prosseguir com a segunda volta das eleições com primeiro ministro e presidente interino legitimo em funções.

  5. Emilio Pontes

    30 de Abril de 2012 at 12:05

    Danilo, com todo respeito.
    Deves estar a brincar, só pode.
    Que consensos, que mediação, que ajuda, quando sabemos que o problema, são os militares ignorantes, que QUEREM O PODER( O golpe foi para mante-los no poder), que não querem que se faça a reforma anunciada e querem perpetuar o Estado Fraco, fragilizado que é a Guiné agora, talvez mesmo na intenção de continuar com o Tráfico de Drogas. Nunca vi, em Pais nenhum, onde efectivamente, quem manda não é o Presidente nem o Governo, mais sim uns aanalfabetos, reunidos no Estado Maior, com um Chefe a frente. Nunca vi isso. Só na Guiné.

    Aqueles gajos, sao uma vergonha e eles sabem disso. Nos PALOP, não há um caso igual. Nem em S.Tomé, onde os governos mudam como calesdoscópio, mas NÂO HÀ GOLPES DE ESTADO e os militares não tem tanto poder, em aspirarem ao Poder

    O texto hora publicado assim como esta, podes ser mesmo motivo de chacota. Acredite. E isso de comandos portugueses enviados para a GB, só pode ser mesmo, tua “horta”.

    Um abraço

    • Fijaltao

      1 de Maio de 2012 at 0:19

      Emílio Pontes, não sou eu que o digo! A CPLP e PALOP’s não admite este tipo de linguagem que o meu amigo usou em relação aos antigos combatentes, porque foi por eles darem ao corpo o manifesto o senhor e todos os povos da CPLP e dos PALOP’s hoje respiram a liberdade! A luta dos antigos combatentes em África resume -se a revolta que têm, em ver os que não lutaram pela pátria e pela liberdade a usufruirem de boa vida, enquanto estes sofrem e ainda são chamados de ignorantes! O mesmo teatro se passa em Portugal quando alguém diz que Vasco Lourenço não sabe falar! È bom que todos moderemos a linguagem e façamos conforme a opinião do Danilo Salvaterra!

  6. keblancana

    30 de Abril de 2012 at 12:06

    Melhor o k se passa na GB do k a hipocresia k temos em STP. Pelo menos os Guinienses têm a coragem de tomar atitude. Em STP, sucessivos escandalos acontecem e ninguém é responsavel por coisa nenhuma. Até fingem desconhecer os meandros da corrupcção no País. Todos sabem de tudo mas cinicamente ninguém sabe de nada. Viva Bissau. As coisa de momento estão mal, mas só assim se poe termo a determinadas situações. Pois na nossa Republica Democratica, tal e qual como as coisas estão, os dirigentes serão sempre os mesmos eleitos pelo povo e tudo manterá na maior democracia. É a dita Democracia actual k temos. Mais não digo….

  7. Carlos Ceita

    30 de Abril de 2012 at 18:02

    O texto que enviei contem alguns erros de ortografia que só pode ser explicado pelo pressão quotidiana de trabalho mas o essencial percebe-se. Em todo caso o que eu quis dizer é :
    Meu caro Danilo encontrar uma solução pacifica é bom mas como se materializa esta solução pacifica? …..
    …..Como dialogar com alguém que uns anos antes deste golpe ameaçou matar o Primeiro Ministro se as populações não parassem de manifestar para a sua libertação…..

  8. Francisca Cara Linda

    30 de Abril de 2012 at 19:27

    Bo bila bi? “O envio de uma força de interposição, não é um meio apropriado, pelas condições da Guiné e a sua idiossincrasia………”. Bora la português idi que qua? Não estou a ver porque é que esse meu conterrâneo esta a se pronunciar deste forma sobre este assunto!!! …
    E a casa de S.Tome la em Portugal, como esta? Noticias.

  9. Ôssôbô

    30 de Abril de 2012 at 19:33

    Militares ignorantes e burros, políticos burros, ignorantes e corruptos; países amigos e vizinhos querendo tirar a sua parte, um povo que não reage, verdades que não são ditas, meus senhores e minhas senhoras, muita água ainda vai correr, muita gente ainda vai morrer, outras histórias ainda tristes teremos para contar aos nossos netos no que diz respeito a guiné bissau!!

  10. Francisco Castanheira

    30 de Abril de 2012 at 21:44

    Danilo tu nao tens razao.
    Calma e calma. Os guinenses podem ainda procurar-te btambem. Ok?
    Nao te metas nisto.

  11. Fijaltao

    1 de Maio de 2012 at 0:09

    Todos leram e minimamente entemderam a ideia ou um conjunto de ideias e desertações do Danilo face a situação actual na Guiné Bissau! Por isso deixem de fingimentos e truques de pouco entendidos e louvam esta crónica do meu amigo Danilo. Estou plenamente de acordo com as ideias do Danilo.

  12. José Samsung

    1 de Maio de 2012 at 13:17

    Esse Sr Danilo quer apenas dar nas vistas. Sabe bem estar nas capas dos jornais e ser conhecido, mas o ideal é estar a dizer coisas que valem mais do que o silencio.

  13. Iola

    1 de Maio de 2012 at 13:18

    Adorei o artigo. beijos

    • P.P.P

      2 de Maio de 2012 at 8:57

      Mas qual artigo, minha gente? Um conjunto de disparates sem qualquer sentido ou nexo? Se for para dizer estas coisas sem sentido é melhor estar calado.
      Fui

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