“ Introdução ao Ensaio sobre a Cegueira Humana” O despertar dos valores imateriais, a cultura.
Os são-tomenses: Quem são ?
De onde vieram ?
Para aonde vão?
Quais os nossos objectivos?
Os filhos da terra acabarão sempre por regressar pois, tal como reza o velho e conhecido ditado, “o bom filho a casa torna”.
Não sendo um especialista no passado, mas sim alguém que tem um gosto especial pelo seu estudo e conhecimento, desde já alerto os leitores e críticos para alguns erros que possa eventualmente cometer ao esforçar-me por dar resposta às questões acima colocadas.
Os são-tomenses quem são de fato?
De onde vieram?
Para aonde vão?
Não pretendendo abordar neste artigo as questões históricas, simplesmente responderia que os são-tomenses são pessoas amáveis, de boa fé, hospitaleiras, solidárias, corajosas, um povo que sorri na hora de sofrimento, enfim somos pessoas portadoras de virtudes e boas intenções. A questão de aonde viemos ainda continua a ser polémica tendo em conta a existência de, salvo erro, três versões. De acordo com a primeira, a ilha já seria habitada aquando da chegada dos portugueses e os primeiros habitantes ter-se-iam afastado para o interior da ilha; a segunda versão dá conta de que os primeiros habitantes da ilha evitaram o naufrágio completo do barco que transportavam os escravos na costa de África e que após o desastre, os que conseguiram sobreviver fixaram-se no sul da ilha e que provavelmente eram na maioria angolanos. Eis a razão do surgimento do nome “Angular», naquela região sul do país, e de” Angolares” os que lá residem. A terceira versão parece já ter entrado em desuso.
Na verdade somos todos de uma só origem, somos oriundos da Costa Africana no Reino do Congo; Reino este que vigorava em África no período das “descobertas colónias”. A denominação Angolar, Forro, Tonga, Gabão, entre outras formas de tratamento discriminatórias apenas eram manipulações psicológicas utilizadas por parte dos colonizadores Portugueses como forma de criar separações dentro da colónia face a uma eventual revolução que se evidenciava naquela altura. Somos frutos de uma mistura inimaginável o que faz com que actualmente cada vez mais torna-se difícil fazer uma escolha acertada dos verdadeiros filhos da ilha; a ilha de São Tome e Príncipe e sim, de todos aqueles que nela habita.
Não obstante, existe uma questão que está cada vez mais a ser deixada para trás, em suma, esquecida, embora não o devesse ser, tendo em conta que ela constitui umas das reflexões de maior relevância para um povo, para uma civilização : Para onde vamos?
Durante as suas conquistas, Alexandre Magno sempre tinha na mente para onde ia e qual o seu objectivo, o mesmo acontecera com Genguis Khan, um tártaro que por pouco não conquistou o mundo, e com Napoleão, são pessoas que embora fossem guerreiros e cometessem muitas das vezes atrocidades, ainda assim podemos dizer que nos deixaram um legado: sabiam o que queriam e para onde iam.
Sabem de facto os são-tomenses para aonde vão? Será que sabemos, antes de mais, valorizar e preservar os nossos bens imateriais, a cultura? Quantos são-tomenses sabem e têm orgulho de falar o nosso crioulo forro? Se nos referimos aos mais velhos, podemos dizer que todos falam. Mas que dizer da nova geração? Conhecem bem a nossa história? Usam com orgulho e frequência a nossa língua materna ou acham-se “novos demais” para o fazer? O que se verifica é que, no nosso país, a nova geração, por uma questão de desleixo e ignorância, não sabe falar a nossa língua materna (por acharem que tal é próprio apenas dos mais velhos ) e muito menos a nossa língua oficial ou a língua do Estado, o português, e o mais irónico é que ainda assim todos querem aprender os diversos idiomas estrangeiros.
Neste âmbito, gostaria de focar-me neste ponto: a língua na vida de um povo.
Segundo o linguista Ferdinand de Saussure “um povo sem a língua é um povo morto”. Se tomarmos isto em conta, o povo são-tomense está “morto”,ou pelo menos “em estado de coma”, se me permitem a expressão.
Terão as autoridades competentes consciência desta perda iminente? Ou estarão elas “ocidentalizadas” demais para isso? Estarão elas interessadas em nos fazer “cidadãos do mundo”, um povo cosmopolita e sem cultura própria? Sim, até já fazem parcerias para a implementação do mandarim nas escolas, esquecendo-se de que a nossa língua está cada vez mais a ser deixada para trás.
Cabe a cada um de nós traçarmos os nossos próprios caminhos. Queremos o desenvolvimento mas, antes disto, é necessário que nos voltemos para a cultura, que tem que ser primeiramente valorizada, reconhecida e difundida e só depois disto é que o país se pode abrir ao mundo e pensar no progresso e prosperidade, estes dois conceitos só tornaram visíveis com o despertar dos valores imateriais (a cultura).
Torna-se necessário a implementação da nossa língua materna nas escolas a partir do quinto ano escolar. É preciso que haja rigor e competitividade na aprendizagem, o que passaria por premiar os melhores da classe. Estou ciente de que temos recursos humanos para isto.
É urgente que o país se una e desperte para esta causa porque seria uma tristeza e tragédia que dentro de cinquenta anos ninguém mais falasse a “língua do povo humilde”.
Leonardo Mendes.
Silandio Afonso
2 de Novembro de 2012 at 10:36
concordo com seu artigo e gostei imenso, no entanto cabe cada um tomar a consciencia que o nosso criolo é que se vai distinguir das restante linguas existente no mundo. Não acrescentando mais o meu comentário aí vai o meu abraço…
João Viegas
2 de Novembro de 2012 at 11:03
Concordo plenamente consigo! Espero que o Sr. Ministro de Educação faça alguma coisa.
Hector Costa
2 de Novembro de 2012 at 15:50
Foi um exercício reflexivo…parabéns!
Leo Angels
2 de Novembro de 2012 at 19:30
como santomense que sou te felicito meu caro….sucesso na tua carreira proficional meu colega.
Russo(moscovo)
2 de Novembro de 2012 at 20:01
meu caro amigo estas de parabéns, espero que as autoridades santomenses possam tomar isso em conta, foi um bom exercicio de reflecção, continue assim que iras longe
Jusimé Santos
3 de Novembro de 2012 at 0:55
Pois antes de começar expor os meus prestimos diria felicitação por essa sua tamanha exposição que realça ao certo quem somos nos e de onde nos pronvimo-nos dele pois está ca um assunto de grande realce para que os nossos governantes tomam a verdadeira consciência dos diversos caos que nos vem assolando a mais de 35 Anos nisso que não consigamo-nos ver ao certo o passo dessas nossas duas ilhas verdes na linha do equador de clima quente e humido espero eu que as gerações vindouras possam colher diria desfrutar das marravilhas que com a nossa geração de jovens tencionamo-nos lançar varias sementes a terra e cultivar para que daqui a mais uns bons anos as mesmas gerações possam de la colher rilhantes
Non molé
3 de Novembro de 2012 at 2:23
O teu artigo é muito bom e reflecte questoes muito sabias.Porque muitos de nos, so sabemos o quanto a nossa lingua materna é importante quando estamos no estrangeiro. Continua abordando questoes identicas.. porque gostei imenso.
Filipe Samba
5 de Novembro de 2012 at 11:43
Caro Amigo,
Muito obrigado, pela Vossa inspiração
Retenhamos que a história é feita por aqueles que a querem olvidar e por outros que não a podem olvidar.
È tarefa dos pensadores das Ilhotas analisar as razões de uns e de outros.
A história escreve-se com a vontade.
Um dos problemas deste país é que continuamos a construir sobre mentiras e isso é muito fácil.
Arl P.F
14 de Novembro de 2012 at 20:01
Leonardo, aproveito esta pública e boa oportunidade para dar-te os meus parabéns pelo o que deixas-te escrito. O teu exemplo de um “velho” e otimista colega, que hoje embora muito longe estamos um do outro posso dizer que és um AMIGO presente! por isso é com enorme prazer que aguardo o teu próximo artigo. Abraços