São Tomé e Príncipe, não tem hoje, felizmente, um problema de democracia. Mas confrontamo-nos com uma questão séria: uma questão de degradação da democracia.
É certo que esta questão não é nem uma realidade recente nem, muito menos, um fenómeno exclusivamente são-tomense.
Mas não é menos verdade que a realidade nacional se tem vindo a agravar e assume contornos que suscitam fundadas preocupações.
O crescente alheamento dos cidadãos em relação à vida política; o continuado afastamento dos eleitores relativamente à realidade partidária; a cada vez maior dificuldade de atrair pessoas de qualidade; competência e mérito a vida política; os elevados níveis de abstenção que os sucessivos atos eleitorais vão registando; as progressivas suspeições que se vão gerando em relação aos políticos; a convicção de que não há uma cultura de responsabilização dos eleitos perante os eleitores – todos são, entre vários outros, sintomas de uma degradação politica que mina a qualidade da nossa democracia.
Inquietante mesmo á a tendência que se instalou na nossa sociedade e que leva a que os melhores quadros, os mais honestos, optem por preferir outras atividades e carreiras a qualquer tipo de participação politica.
O sistema eleitoral que temos, por um lado, e o funcionamento dos partidos, por outro lado, concorrem decisivamente para este estado de coisas.
O nosso sistema eleitoral não é competitivo, não fomenta o mérito nem estimula o primado da competência. A consequência mais visível está na continuada diminuição da qualidade politica na Assembleia Nacional.
O nosso sistema eleitoral afasta os eleitos dos eleitores e não incentiva uma cultura de responsabilização. A prova é que os cidadãos mal conhecem os deputados que elegem, e estes, na prática, respondem perante os seus partidos nunca perante os seus eleitores.
Os partidos políticos, esses, deixaram de ser exemplo e referencia. Vivem em círculo fechado, avessos à mudança e a inovação, incapazes de atrair quadros de qualidade e de fazer um sério debate de ideias, crescentemente afastador dos sectores mais dinâmicos da sociedade.
O deputado, por sua vez, sente que tem sobretudo um vínculo político com o partido de que faz parte, independentemente do juízo dos seus eleitores.
Esta situação não é sadia. Ela compromete a relação de confiança que deve existir entre eleitores e eleitos, minando, assim, a autoridade destes para um exercício eficaz e prestigiado das suas funções.
Ora sem confiança, e sem autoridade, as instituições perdem credibilidade e a sociedade ressente-se dessa situação.
É o que está a suceder!
A Assembleia Nacional está desprestigiada, os deputados são politicamente desvalorizados e percebe-se na sociedade esta crise de representação.
Este desvalor político é sério!
Combatê-lo é uma necessidade imperiosa e urgente!
Machado Marques, advogado. Setembro 2014
arelitex
16 de Setembro de 2014 at 18:43
senhor Machado Marques .a sua análise está bastante correcta .a politica no nosso país .está a ir por caminhos que eu nâo consigo entender onde vamos parar . a maioria das pessoas que está ligada á politica de STP .sâo tudo menos responsáveis ,nâo sâo transparentes ,vâo para a politica com a intenção de se aproveitarem ,falta-lhes maturidade e competência ,não têm cultura de trabalho . em relação aos quadros ,eles estão cá dentro do país ( dentro do país há pessoas de valor ,mas nenhuma está na politica ).estão completamente desligados desta politica sem sentido . pior ainda é que os partidos nâo sabem atrair essa gente competente . ficam-se entre eles com os medíocres . achando que sâo eles os quadros que o país necessita . nâo existe transparência em apresentar ao povo os depotados ,os ministros , acabamos por nâo saber quem é essa gente e que intenções têm .
seabra
16 de Setembro de 2014 at 19:24
Interrogo-me, porque é muito estranho, que nao haja LEIS respeitadas em STP, ora que hà tantos advogados, que até dà a impressao, que nao existe mais nenhuma outra formaçao, para além desta. Em todo o caso, sao mais vagabundos e gatunos que têm tal formaçao (salvo , talvez 2 ou 3), dir-se-ia que escolheram esta formaçao mais por vocaçao de se defender das futuras corrupçoes que eles, familias e amigos fizeram, fazem e farao…é so bandidos!
Martelo da Justiça
17 de Setembro de 2014 at 9:11
O número de Partidos Políticos a concorrer para estas eleições já reflecte tudo. Consta-se mais a preocupação de abocanhar alguns tostões do que apresentar projectos para solucionar os problemas do Pais. De facto, gente seria não se metr nisso. A teia esta tão bem montada que vai ser difícil anula-lo. Todos os Parltidos são-tomenses estão nessa lógica .
josias
17 de Setembro de 2014 at 10:29
O maior problema é saber se os Barões da política santomense estão interessados a combater esses males que nos enfermam!
Estou plenamente de acordo com o Seu artigo, porque em muitos casos nota-se um retrocesso, que considero “premeditado”.
ATENÇÂO
17 de Setembro de 2014 at 10:49
Não parece correto o título dessa notícia!! Reparem que há dois determinantes na frase!
nadaver
17 de Setembro de 2014 at 12:16
…ficou por abordar o principal, senão o mais importante estorvo da democracia representativa…a que vigora entre nós- a partidarização do estado- conceito absurdo, bárbaro do género, nítidas de construções midiáticas, está invadindo até o mundo académico, que deveria, pela sua própria natureza de formulador do pensamento, ter uma crítica clara sobre esse discurso. As consequências da incapacidade de analisar esse “conceito” com clareza são funestas, na medida em que se estabelece uma grande confusão. E se esta confusão atinge os académicos, o que podemos dizer do grande público? Um abraço de Cabo Verde…
Francisco Graça
17 de Setembro de 2014 at 12:53
Obrigado Sr. Advogado(Machado Marques) Porém na Democracia deve viver o Desenvolvimento em pleno séc: XXI ainda continuamos na vida política, dentro da Instituição, Direções, ministério do Estado pautando com maior vingança, ódio, rancor, perseguição e até comprometendo o lema da nossa Democracia que diz ” UNIDADE – DISCIPLINA – TRABALHO ” tudo à estaca ZERO maior desunião, instabilidade, em que foi mais uma falácia durante o DIALOGO NACIONAL onde o fruto é cacau queimado pela falta de Sulfato antes que a chuva devia tocar no fruto. Meu povo,camada baixa! A vinda de Jesus parece ser mais rápido que o Desenvolvimento de S.T.P. Mas quem faz bem vê bem! E quem faz mal vê mal. É mais fácil um camelo entra no fundo das agulhas do que alguns Dirigente de S.T.P entra no reino dos Ceus.
Não existe a solidariedade Orgânica nem tão pouco Mecânica para com o povo, onde o povo perdeu esperança total de escolha (votar) e acima tudo de viver na sua própria Terra. A justiça deveria ser o pilar e cumprimento dos representantes do povo mas o que vemos é balança de DOIS PESO E DUAS MEDIDA.
mandalé
17 de Setembro de 2014 at 13:01
Obs ;”alguns” é um pronome indefinido ,morfologicamente não necessita de artigo definido. Na formação de frase seria “alguns”que na divisão sintática tem função de sujeito.Portanto o título seria alguns e nunca “os alguns “pelo menos para aqueles que querem formar opinião muito cuidado com a ortografia.
Barão de Água Izé
17 de Setembro de 2014 at 21:45
Caro Marques Machado: Existe democracia politica sem democracia económica?
Quem é o maior proprietário latifundiário com as suas terras e propriedades ao abandono, degradadas e o povo que nelas vivem está abandonado à sua sorte?
Democracia é só uma: aquela que não permite que a maioria da população viva na pobreza.