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Os herdeiros de Mé Xinhô Medicina tradicional e saúde pública em STP

(Homenagem a Sum Ernesto, 1931-2014) Xavier Muñoz-Torrent, geógrafo

“Ernesto voou…”. Assim nos recebeu o filho de Manuel dos Santos Martins, mais conhecido por Ernesto ou Sum Ernesto, um dos melhores e mais respeitados médicos tradicionais de São Tomé e Príncipe. Inicialmente eu não percebi o que me queria dizer, mas as lágrimas da sua nora fizeram-me ver. O meu grande amigo tinha deixado este mundo para passar à imortalidade. O médico tradicional Manuel dos Santos Martins, Sum Ernesto, em Ribeira Peixe (2001).

Tive um arrepio e um pouco mais me cai das mãos a garrafa de tinto que lhe trazia habitualmente quando lhe visitava. O meu colega Abajú apertou-me o braço, talvez esperando que o golpe emocional não resultasse mais trágico. Mas fechei os olhos e respirei; voltei-los a abrir e olhei ao céu para procurar a copa do ocá mais comprido, esperando que a sua alma ainda ficasse perto de lá, à minha espera.

Aquela recordação transportou-me à suas palavras serenas, aos seus rires brincalhões e olhares compreensivos, e a sua esperteza de (quase) santo, a àquela modéstia de quem tinha consagrado a sua vida à sociedade, seguindo um estranho conjuro com a ética dos antepassados, com um juramento hipocrático secreto, nunca dito às vozes, nunca vangloriado, mas expressado sempre em fatos que para ele consistiam em sanar aos seus próximos, sem esperar muito mais a câmbio que aquilo que o paciente modestamente podia oferecer, e a satisfação pessoal de ter cumprido com o seu dever de médico.

Sum Ernesto é um dos últimos da escola de médicos tradicionais que bandeirou, também desde uma extrema modéstia e seriedade, o mestre Sebastião dos Anjos do Rosário, mais conhecido como Mé Xinhô (1899-1980), de Santo Amaro (mais tarde residente em Oqué d’El Rei), um homem que, desde a sua bondade e dedicação, curava à gente a través do seu extraordinário conhecimento dos ossos e nervos, sobre os quais era capaz de aplicar as mais efetivas massagens, e também da utilização terapêutica das propriedades das plantas medicinais e doutros produtos da terra.

Ernesto foi um dos seus aprendizes mais aplicados [na mesma altura Mé Xinhô tinha mais 4 ou 5 alunos], que o seguiu de corpo e alma, com a sua moral de serviço quase desinteressado, onde parecia que o melhor pagamento dos seus pacientes era a sua cura.

Nas nossas tardes de encontro, perto dos coqueiros a tocar da praia, ou das pérgulas cheias de maracujás, lá no quintal do magnífico hospital da roça, ou ultimamente na sua cubata trás a estrada de Boa Morte, Ernesto falava-me longamente da sua aprendizagem com Mé Xinhô, o grande mestre, da sua filosofia, que seguiu não por obrigação senão por vocação, por um estranho encanto de quem transmite serviço, dever pelos outros, responsabilidade por fazer o bem…

Ernesto confessou-me que ficou fascinado dessas lições e conselhos do mestre porque era um saber que não só consistia em aplicar soluções de medicina tradicional aos pacientes, senão em sossegar-lhes, em dar-lhes confiança e falar-lhes claro sobre a sua doença e os efeitos dos seus remédios (ate onde esses atingissem), e atuar de imediato.

Na realidade era transmitir-lhes otimismo, respeito e mesmo apoio, reconhecimento do corpo e dos males, de projetar energia, força, que permitia tomar a melhor solução desde um trato humano, ainda que direito e possibilista.

Leia o texto na íntegra – TEXTO PDF (1)

2 Comments

2 Comments

  1. Eduardo da Costa Carvalho

    26 de Janeiro de 2015 at 18:33

    Foi um excelente médico de medicina tradicional santo mensagem. Em1963 cai a jogar a bola de trapo na escola primária de Bombom e fiz fratura da clavícula esquerda e luxação do ombro esquerdo.A minha mãe levou-me para Sume-Xinho duas vezes eu tinha 6 anos.Fiquei curado até hoje,graças ao este santo da senhor da terra.

  2. josé manuel

    4 de Fevereiro de 2015 at 13:07

    Devo muito a este senhor lembro-me que parti uma perna quando andava a cavalo na roça Monte café onde eu residia e graças a este senhor em um mes fiquei a andar normal que Deus lhe guarde la no Céu e que os seu susseçor tenha bons exitos como ele teve um abraço desde o Açores para todos irmão sãotomenses

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