O que se passa no futebol do Sporting é um triste, mas excelente, “caso de estudo” para várias ciências (Direito, Sociologia, etc) e também para meditação e ação dos muitos agentes ligados ao futebol, desde adeptos, praticantes, treinadores, dirigentes, jornalistas, governantes, sistema judicial, etc. O que aconteceu na academia do clube, em Alcochete, é o corolário, lógico, daquilo que, há muito, se passa no futebol português, mas não só porque exemplos semelhantes ou até mais graves têm ocorrido noutros países, porque todos os responsáveis têm “assobiado para o lado”, como se o futebol fosse um “paraíso”. Se este é um “fenómeno de massas”, sem paralelo noutras áreas das sociedades, então as autoridades têm a obrigação de estarem atentas, para que não surjam casos como este ou outros bem piores, porque nalgumas situações têm ocorridas mortes. Por outro lado, muitos casos de corrupção e de economia paralela podem estar a ser praticados no “mundo do futebol”, levando assim alguns agentes a atos influenciados por esses interesses extradesportivos e, assim, o Estado é lesado económica e socialmente e a verdade desportiva ser questionada.
Qualquer cidadão, pode concluir que no futebol tudo é permitido, desde há muitos anos. Porquê? Por falta de coragem dos governantes ou porque também os políticos e os partidos se “servem do futebol” como forma de projeção pessoal e partidária? Então e na minha opinião de cidadão atento, na cúpula da pirâmide da responsabilidade pelo estado atual do futebol português, estão muitos daqueles que têm passado pelo poder, isto é, os governantes. Qual o governante ou governantes que ousam “afrontar” os milhões de fanáticos adeptos dos clubes? Como alguém disse, arriscar-se-ia a que as “pedras lançadas” lhe viessem a servir na sepultura. Por isso, afrontar o “mundo do futebol”, nem pensar.
O futebol há muito que tem sido fértil na intriga e na guerrilha, essencialmente, por quem tem o dever de não o fazer, porque deveriam saber que, ao desencadearem e alimentarem a guerrilha, estão a “lançar achas para a fogueira” provocando “incêndios” que depois têm dificuldade em controlar. Infelizmente, existe uma triste simbólica analogia com os incêndios nas nossas matas de tristes e dramáticas consequências, porque também ali a prevenção (incluindo a legislação e a punição) foram negligenciadas por todos os responsáveis diretos e indiretos.
Mas voltando ao “caso Sporting”, que poderia ter ocorrido noutros clube dos “chamados grandes” (Benfica, Porto, Braga, etc), são muitos aqueles, no Sporting, que criaram as condições para que algo pudesse vir a acontecer, embora nada, mas mesmo nada, justifique aquele acontecimento que entristeceu todos os adeptos sportinguistas e projetou, vergonhosamente, o nosso país por esse mundo fora e não apenas no “mundo do futebol”, porque aquele ato é muito mais do que um “ato futebolês”. Afinal, “num país de brandos costumes”, acontecem atos de “terrorismo”.
De facto, nestas últimas semanas, “bolas incendiárias” foram sendo trocadas entre jogadores, treinadores e o presidente do clube, tendo tudo começado aquando do jogo contra o Atlético de Madrid, com resultado desfavorável. O presidente veio a público, e através das redes sociais, criticar o empenho dos jogadores que, não gostando, responderam com algo semelhante. O treinador ficou entre dois fogos e não terá sabido agir como mandariam as regras dum “líder”. Ora, na minha opinião, todos têm culpa, porque: i) o presidente não deveria fazer aquilo, porque as críticas fazem-se “entre paredes” onde tudo se pode e deve dizer, com assertividade, porque estão em causa muitos interesses desportivos, económicos, pessoais, etc; ii) os jogadores, mal aconselhados ou não e também por força da sua imaturidade, não nos esqueçamos que a maioria são jovens adultos, não tinham legitimidade legal e laboral ou ético-desportiva para terem respondido às provocações do presidente; iii) o treinador ficou na corda bamba e também não agiu ética e desportivamente de forma correta. O “fogo” estava a arder e a queimar e após a derrota na Madeira contra o Marítimo, que impediu que a equipa atingisse o segundo lugar e a eventualidade de poder vir a encaixar vinte milhões de euros da UEFA, aumentou as labaredas. O “dia seguinte” (segunda feira e após o regresso do Funchal) aumentou a divisão entre as três partes (presidente, treinador e jogadores – melhor dizendo, duas partes contra uma), pelo que na vergonhosa terça feira, dia 15 de Maio, aquele grupo de ….(sinceramente não sei como apelidá-los – “terroristas do futebol?”; “marginais do futebol”, etc) , considerando-se impunes, porque os acontecimentos passados levavam as autoridades – desportivas, policiais, judiciais e governamentais – a “assobiarem para o lado” e a fecharem os olhos, julgaram-se no direito de serem atores dum filme que entriste os sportinguistas, em especial, e os portugueses em geral. Como é possível, perguntarão muitos? Mas, para quem esteve atento, tal ato não é surpresa. Poderiam ter tido consequências humanas bem piores, se os jogadores sequestrados e indefesos tivessem oferecido mais resistência aos invasores. Aliás, segundo relatos, os que sofreram mais consequências físicas, foram aqueles que reagiram aos “terroristas”. Infelizmente, mais uma vez se pode aplicar aqui aquele ditado popular de que “quem semeia ventos pode vir a colher tempestades”. Ou ainda: “depois de casa arrombada, trancas à porta”. Agora são muitos a verterem “lágrimas de crocodilo” e, tendo feito como Pilatos, são os primeiros a lamentarem-se, seja por vergonha, por tristeza ou mesmo por perdas significativas, desportiva e economicamente, porque a “novela” ainda não acabou e muitas bolas de fogo e incendiárias serão ainda lançadas para a fogueira. Louve-se a ação da GNR que consegui prender, para já, 23 “atores daquele filme de terror e de vergonha nacional” e que poderá ser o guião para que, no nosso país, se faça, finalmente, o filme de: “A limpeza das ervas daninhas do futebol português”, com rodagem das filmagens em vários cenários onde decorrem jogos e ações ligadas ao futebol e com muitos atores e figurantes. Haja coragem, porque o dinheiro envolvido no futebol é assustador e todos sabemos que o dinheiro é a fonte de muitos males do “homem”. Alguém, há muito tempo, disse que: – “o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes” -, mas, infelizmente e pelos maus motivos, tem exercido uma forte influência na sociedade portuguesa, consumindo muitos recursos do erário público. Que mais no irá acontecer? Como sportinguista, estou profundamente triste, pelo meu Sporting e pelo meu país, e, embora “divorciado” deste atual futebol, gostaria de voltar a usufruir o prazer desse espetáculo, que já nem, habitualmente, na televisão vejo, porque o amor ao nosso clube não admite o “divórcio.
Serafim da Costa Marques
Economista/Reformado
Bacharel em Contabilidade e Administração – ISCAL -Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa)
Morador na:
Rua Cidade de Cacheu, 31-5º. C
1500-155 Lisboa.
telefone 217604114 ou 914916382.