O multilateralismo é um conceito utilizado nas Relações Internacionais, servindo como um mecanismo de interação entre países, buscando encontrar resultados equilibrados, resultado de uma dinâmica de cedência e recebimento de concessões e interesses. As instituições multilaterais observam na prática um conjunto de negociações, com o propósito de conseguir uma solução comum aos problemas que afetam à todos.
Mas, hoje em dia, o multilateralismo está em crise, e isto é inegável, muito por culpa das políticas protecionistas movidas por alguns países, e da crescente onda de nacionalismo. Com o avanço dos partidos de extrema direita no mundo da política, principalmente na Europa e na América, tem deixado os principais actores da ordem mundial apreensivos, pois isso tem levado a que muitos questionem o futuro do multilateralismo como único meio de assegurar a solução de grandes problemas internacionais, afirmando que o mundo está se fragmentando, em meio à ascensão do nacionalismo e do populismo. Portanto, na ausência de alcançar o sucesso com o exercício do multilateralismo, está dando lugar a política do protecionismo.
Contudo, existe ainda quem acredite e defenda o multilateralismo, como por exemplo Ali Treki (2009) que defende que “o multilateralismo é o único meio para enfrentar os grandes problemas internacionais e a ONU constitui o fórum com maior legitimidade para garantir que os países tomem medidas importantes a nível mundial”, logo, não restam dúvidas que o multilateralismo seja um elemento importante para a construção de um ambiente internacional mais harmonioso, se convertendo em uma via a seguir na solução dos problemas comuns.
Por outro lado, devemos reconhecer que existe um natural envelhecimento do sistema multilateral. Com o surgimento de economias emergentes, surgiu também vários actores importantes, que hoje não estão devidamente representados nos organismos multilaterais, traduzindo numa necessidade de reformulação e reafirmação dos organismos multilaterais.
Neste sentindo e reconhecendo o multilateralismo como a chave para vencer os desafios dramáticos que o mundo enfrenta, o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres (2018), afirmou que “os actores políticos internacionais precisam de uma abordagem global que reafirme a importância do multilateralismo e a importância de um conjunto de relações internacionais baseadas em regras, no Estado de Direito e de acordo com a Carta da ONU”.
Não devemos nos esquecer que no passado, as nações se sobrepunham umas às outras pela força de seus exércitos. Com o multilateralismo, as relações internacionais evoluíram, e através de um caminho da negociação e cedência, conseguimos alcançar à planície da paz e do desenvolvimento social, científico, político e econômico. E tudo isso faz do multilateralismo um importante elemento para a construção de um ambiente internacional mais harmonioso.
Portanto, algumas falhas ou deficiências deste sistema não podem servir de base para eliminação, antes pelo contrario, devemos usar essas falhas e suas deficiências para aperfeiçoar ainda mais o multilateralismo.
Por conseguinte, os Microestados não devem ficar alheios a essa preocupação, pois muitos dependem do foro multilateral para se fazerem ouvir.
Para os países pequenos o multilateralismo chega a ser o único espaço disponível do qual podem manifestar as suas inquietações e seus problemas, por isso, que somos de opinião que Estados pequenos, como São Tomé e Príncipe, devem fazer do foro multilateral a sua maior arma, apostando numa diplomacia de soft power.
Para os Microestados, o multilateralismo é importante na medida que permite à esses Estados verem resolvidos, ou se não, discutidos e debatidos, os problemas internacionais, mas por suas peculiaridades e pequenez, são os que mais se sentem afectados, a sua importância também é refletida na projeção dos países pequenos na política internacional, promovendo a sua diplomacia, cultural, comercial, e o país em si. Em suma, a crise do multilateralismo não é favorável à política externa dos Microestados, pois a projeção internacional desses países é essencialmente diplomática. Os microestados não participam do jogo internacional com recursos de “hard power”, e nem são potências econômicas.
Concretamente para São Tome e Príncipe, o multilateralismo é importante, pois é nessas instituições que tem a possibilidade de participar das questões globais e, daí, a necessidade de começamos a criar condições, de modo a que possamos ter nacionais trabalhando ou candidatos para postos nessas organizações. Por outro lado, para um país sem muitos recursos financeiros, o multilateralismo ajuda, abrindo o espaço para a criação diplomática, no sentido de obter uma maior ajuda externa.
Nesse sentido, a politica externa são-tomense deve ir de encontro a criar estratégias e mecanismos para que o país participe, ativamente, através de soft power, no universo multilateral. A vocação multilateral deve parte essencial do modo de estar da politica externa são-tomense no mundo. Logo, há toda uma necessidade de definir estratégias que contribuam para que o multilateralismo mantenha prestígio e efetividade, e que São Tomé e Príncipe seja um elemento sempre presente nesses foros.
Nelsom Manuel Nazaré
Dequinho
20 de Maio de 2019 at 20:25
Muito bem falado, concordo plenamente com a tua opinião. Problema é como como transmitir essa opinião que é verdadeira para que seja implementada. Nos Africanos mesmo estudando na Europa e América, parece que tornamos mais ignorante. Digo isso triste porque o povo africano não aceita opniões verdadeiras. Mas sim aceitam falsas desde que seja com envelopes…
MIGBAI
21 de Maio de 2019 at 7:21
Sempre a mesma conversa “ ……….temos que criar estratégias e mecanismos para …….” quando todos sabemos que os políticos e os governos de stp nada criam.
Aliás nem conseguimos criar um verdadeiro país, mas sim uma amostra de país onde os políticos enchem-se com dinheiros oferecidos ou doados pelos verdadeiros países.
TonyexMk
21 de Maio de 2019 at 19:35
Concordo plenamente.
O que falta entender, Stp não tem massa crítica para ser País e a pouca ou diminuta que tem está nas mãos de quem governou desde a Independência. Mas mesmo assim são pobres, se comparados com outros governantes de África, porque não têm massa crítica.
A maior parte destes ditos governantes quando têm casas em Portugal é nos subúrbios, não nos centros das cidades como outros.
Pascoal Carvalho
21 de Maio de 2019 at 0:17
Meus parabéns antes de mais. Creio eu que caso esse pensamento for incutido positivamente na geração mais nova, teremos bons frutos, isto porque atualmente apesar de reconhecer essa mais valia, as nações como pessoas ainda encontram-se muito agarradas nas suas próprias ambições, esquecendo elas que o mal maior é comum e está globalizado.