Opinião

As Três Camisas de Força

 

AS TRÊS CAMISAS DE FORÇA

2º parte

 

  1. A leitura de um artigo publicado no Téla Nón “ intitulado PNUD Financia as Eleições Presidenciais” em São Tomé e Príncipe, levou-me a tornar público um outro artigo de opinião intitulado “As Três Camisas de Força” imposta aos países outrora colonizados pelas potências dominantes.

Pretendia com isso, provocar unicamente outras reflexões sobre um assunto que me parece importante para a vida futura de um país como STP. Não imaginam por isso o meu espanto, a minha tristeza ao ler os comentários feitos sobre a publicada reflexão. Os comentadores estavam mais preocupados em aproveitar a oportunidade para estourar o fel, do que pelo menos, para se esforçar por entender o propósito da mensagem. Alguns até se apressaram a classificar a reflexão como “uma tentativa para justificar o fracasso pós-independência”, quando na verdade, o principal objectivo, com a publicação da reflexão, era, e é, convidar os eleitores a acompanharem com precaução a evolução do mundo moderno, para melhor nos apercebermos das múltiplas armadilhas secretas nelas disseminadas pelas potências dominantes. Porque seria imperdoável esquecer que durante vários séculos fomos dançando, descalços, ao som dos ritmos impostos pelas potências dominantes.

Temos, por conseguinte, que estar alertas, lúcidos, preparados para enfrentar as dificuldades a surgir durante o ainda longo caminho a percorrer, até estarmos devidamente integrados, como parceiros respeitáveis, no mundo globalizado, na construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a Humanidade.

  1. A terceira camisa imposta aos países outrora colonizados, não resultou de uma qualquer evolução interna nas sociedades dos chamados países do terceiro mundo.

A mesma vem sendo utilizada como um instrumento de estratégia das potências dominantes que aprenderam, com as experiências, que os sucessivos golpes de estado incentivados e apoiados por elas, já não eram suficientes, já não serviam como instrumento seguro capaz de garantir o controlo das fontes de matérias-primas vitais para a sua sobrevivência, assim como dos mercados para os produtos manufacturados das suas fábricas.

  1. Conquistada a independência os países africanos “apostavam” por um regime de partido único.

Todavia a implantação do regime monopartidário foi feita com o acordo tácito das potências coloniais. Com efeito, forçadas a ceder á pressão dos movimentos de libertação as potências coloniais, para melhor protegerem os seus interesses, entenderam que seria estrategicamente mais acertado negociar com os movimentos de libertação mais representativos, aqueles com maior apoio popular, que tinham mais povo. “Conheciam no entanto a prenda envenenada que iam deixar para aos novos conquistadores. Com efeito durante a colonização conflitos étnicos foram artificial e propositadamente alimentados com o objectivo de dividir para reinar.

O sentimento de pertença tribal era na maioria dos países colonizados, muito mais forte do que da pertença à uma nação. Os países outrora colonizados, sobretudo os países africanos, têm ainda pela frente múltiplas heranças negativas a superar, legadas pela centenária opressão politica, económica, cultural e social.

  1. Estamos por isso perante uma evidência. A maioria dos países outrora colonizados ainda não está estruturalmente preparada para envergar a terceira camisa de força” pronto á vestir”. Então? Estamos perante que perspetivas?
  2. Com o desmoronamento do campo socialista as potências dominantes do primeiro mundo, preocupados, acharam que as condições eram favoráveis à imposição da terceira camisa de força “pronto á vestir” aos países do “terceiro mundo”. As relações de forças de então permitia-lhes levar a cabo esta operação!
  3. Mas será que esta terceira camisa de força pode ser vestida com alguma utilidade pelos países outrora colonizados? Tudo isso depende de vários condicionalismos.
  4. O mundo unipolar reiniciado desde 1991 com a queda da União Soviética, o desmoronamento do bloco dos países socialistas e a consolidação dos Estados Unidos da América (USA,) como potência hegemónica, está em agonia, evoluindo apressadamente para o seu fim. Paralelamente estamos assistindo à consolidação de uma nova ordem mundial, ao surgimento de um mundo multipolar. A nova relação de forças dai resultante cria um ambiente que poderá ser favorável à uma utilização apropriada da terceira camisa de força pelos países do “terceiro mundo”.
  5. Com efeito, devidamente configurada e adaptada às realidades objectivas prevalecentes em cada um desses países, a terceira camisa de força” pronta a vestir” pode vir a transformar-se num importante instrumento a ser utilizado para mobilizar toda a sociedade, garantindo, desse modo e no respeito pelas eventuais diferenças, a indispensável participação organizada de todos os cidadãos no tão desejado processo de desenvolvimento integral dos pais.
  6. Repetindo; Sem uma adequada configuração prévia feita em conformidade com as realidades objectivas e subjectivas em cada um dos países, a implantação da camisa “pronto a vestir” poderá vir a provocar perturbações imprevisíveis, nefastas para os objectivos de desenvolvimento sustentável.
  7. De recordar que nos países europeus do Ocidente a democracia não caiu de paraquedas nem foi imposta pela força.

Ela surge como consequência de um longo processo histórico pleno de contradições com guerras e revoluções.

  1. A esse respeito Robert Garfield, historiador especialista em história de Africa já nos alertava no seu livro “ A chave para Guiné” uma história da ilha de são tome´, quando escreveu:

“ Temos uma vez por todas de saber ajustar a forma de Governação às características próprias de uma micro-sociedade insular, crioula, atlântica e africana num mundo globalizado e de grandes blocos geográficos políticos e económicos. Temos que prestar uma atenção aturada a nossa história. Quem somos, donde viemos? Somos o produto de uma síntese que necessita ser devidamente conhecida, valorizada para ser aproveitada. “Fim da citação”

  1. Sabendo da forma como STP vem sendo governada desde 1975 até o dia de hoje somos tentados a perguntar se as chamadas elites políticas santomenses, na primeira e agora na segunda república, se tem preocupado em saber quem somos nós, donde viemos? O que é que nos diferencia das restantes populações do continente africano?

As respostas a essas interrogações devem fazer parte da bagagem obrigatória de conhecimento das elites políticas dirigentes da sociedade e sobretudo do Estado da República Democrática de São Tomé e Príncipe.

As elites políticas santomenses têm que saber ajustar a forma de governação às características próprias de uma micro-sociedade insular crioula, atlântica e africana.

  1. Para melhor servir a sociedade as elites políticas de STP têm que aprender a conhecer e amar o seu país e gostar das suas gentes.

Têm que se esforçar para se libertar das sequelas herdadas do passado colonial, dos seus complexos recalcados.

Não envergar o “pronto á vestir” sem primeiro conhecer as medidas exactas do seu corpo, é esta a palavra de ordem!

 

OBRIGADO PELA LEITURA

Rufino d’Assunção Rosamonte

5 Comments

5 Comments

  1. Sem+assunto

    28 de Julho de 2021 at 13:59

    Sem tabus, nem meios termos.
    A nossa elite política é demasiada recalcada e assimilada, para entender assuntos tão complexos como estes, daí que continuaremos a marcar passo no que tange ao desenvolvimento.
    É elementar perceber mos quem somos e de onde viemos, e quiçá o que nos faz feliz/ o que nos move.
    Sem isto todo o plano, dito de desenvolvimento, não passará de verborreia inútil.

  2. Zé de Neves

    29 de Julho de 2021 at 8:30

    O meu caro permita-me

    a sua tentativa de se vitimizar à sombra de um hipotético complot global contra os african brothers é risível para não dizer outra coisa. Assumir que o sistema Democrático não serve STP e sugerir outro sistema qualquer que o Sr. também não sabe o que é dá-lhe credibilidade pouco mais acima de zero. Toda a gente sabe qual é a alternativa à Democracia, muito obrigado não compro.

    O meu caro siga o meu conselho: deixe de martelar ad nauseum conceitos até estes encaixarem numa narrativa pseudo-culta, pseudo-conhecedora para tentar vender ciência de sem qualquer adesão à realidade e captar a adesão do néscio.

  3. SEMPRE+AMIGO

    29 de Julho de 2021 at 18:20

    Candidato ZÉ NEVES!Ao ler o seu comentário consegui entender melhor o comentário do senhor SEM-ASSUNTO.

  4. SEMPRE+AMIGO

    2 de Agosto de 2021 at 10:05

    esta

  5. SEMPRE AMIGO

    8 de Agosto de 2021 at 16:57

    Dr,Zé de NEVES!Depois de estar mais concentrado, mais tranquilo,agradecia que voltasse a ler o artigo.Sua douta opinião refletida alimentaria o debate.

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