No jogo político, por vezes, fica a nítida sensação de até, os mais altos protagonistas para atingirem fins, ainda que bem delineados, não medem a linha vermelha dos discursos e atos.
Migração, insegurança e poder de compra, coordenados numa única frente ocidental contra os estrangeiros, principalmente africanos, sustentaram as dores de cabeça, suficientes, de retirar máscara à bandeira de solidariedade social, oferecendo vitórias retumbantes nas recentes eleições europeias do dia 9, aos partidos da extrema direita na Itália, Alemanha e França, os três motores da economia.
Nalguns dos restantes países dos 27 estados da União, os três primeiros lugares também foram disputados pelo radicalismo de reivindicação nacionalista, com quase um terço das 720 cadeiras, a confirmar ao canto das prateleiras da história, os partidos da esquerda.
Numa retrospetiva portuguesa, os nacionalistas do Chega, embora terem quebrado as asas, – em três meses, após as legislativas de março, em que saltaram de 12 cadeiras para os inesperados 48 assentos no parlamento nacional, mas caíram, em quase metade de votos, nas europeias ganhas, um poucochinho, pelo Partido Socialista de Pedro Nuno Santos, saído antes um poucochinho derrotado pelo PSD de Luís Montenegro, de há três meses – entraram pela estreia com dois deputados dos 21 portugueses no Parlamento Europeu.
Colocando os holofotes no xadrez político francês – razão da orquestra – onde o presidente Emmanuel Macron, líder da Renaissance, em rendição à La République em Marche, confrontado com o dobro de votos dos mais de 30%, a favor da direita radical, não precisou auscultar o estado maior e orientado pela consciência e constituição (exagerado uso do artigo 49-3 para o governo fintar os votos dos deputados e aprovar projetos), que há muito, vem traindo as aspirações dos franceses; golpe ao Mouvement des “gilets jaunes” que reivindicava o alto custo de vida, os combustíveis caríssimos e o pouco dinheiro nos bolsos, seguido, anos mais tarde, de outro, à agitação laboral contra a idade da reforma – fui mais um dos manifestantes com o cartaz de trabalhador, bem alto – de 62 para 64 anos de idade, são evidências, mas numa clara traição, o chefe do Estado, na noite eleitoral, devolveu a palavra ao povo francês para decidir, em curtas três semanas, o que fazer do país e da democracia francesa, incomodando até aos países vizinhos.
Numa comunicação de minutos, dissolveu o parlamento, caindo o seu quarto governo, desde 2017, nos sete anos que chefia o Estado, até 2027 – vai no segundo mandato – tendo marcado as legislativas antecipadas para os dias 30 de junho (fim de semana de engarrafamento de viaturas nas partidas do início de férias) e a segunda volta, 7 de julho, com o país a meio gás, devido os dois meses do fecho da Europa para o descanso anual de verão. Mais de 2 milhões de eleitores, dos quase cinquenta milhões passaram a procuração para os seus substitutos colocarem “cruz por eles” na legislativa de amanhã.
A grande questão. Para que fins, o chefe do Estado antecipa as eleições legislativas, de eventual alteração do quadro político, de não coabitação, num intervalo de apenas vinte dias, a seguir ao terramoto eleitoral, demitindo o governo de sustento presidencial? Jogos olímpicos de Paris!? Assim como a deriva pessoal e impensável na democracia africana, muitos franceses, incluindo os líderes de diferentes partidos, estes sem logísticas, programas e candidatos previsíveis, automaticamente, entraram em cólera de consequências imprevisíveis, mas aguarda-se pelo aumento do número de votantes, saltando de 47% das últimas legislativas, em 2022, para os 66%.
Das 38 candidaturas que disputaram as 81 cadeiras francesas para a atual configuração do Parlamento Europeu, apanhadas de surpresa com a decisão presidencial, apenas oito vão ao novo escrutínio, onde destacam-se os principais partidos da esquerda à direita francesa, anestesiados, mas sem opção, nem contrariedade, partiram de imediato ao namoro com traições, mais a direita, realizando casamentos com o diabo.
Les Républicans do antigo presidente francês, Sarkozy, vai às eleições, rasgados em retalhos pela traição do atual presidente, Éric Ciotti – aposta para ministro do Interior (segurança e ordem) – solitário, celebrar o matrimónio circunstancial com Rassemblement Nacional da família Le Pen, de forma a retirar o melhor proveito do erro presidencial, em correr o alto risco pelo despedimento do governo, confiado ao jovem Gabriel Attal. O mais novo, a assumir o alto cargo, na altura, com 34 anos, só contava com cinco meses na chefia das políticas económicas e sociais francesas, não obstante desde 2020, que anda bastante ativo nos corredores da governação, chegando a cargos de porta-voz e ministro.
Das oito candidaturas que se apresentaram à maratona antecipada, despoletaram três blocos, de costas viradas e armas apontadas, ou seja, os radicais da direita, Rassemblement Nacional e da esquerda com a aliança na Nova Frente Popular (La France Insoumise, Parti Socialiste, Les Écologisttes et Parti Communiste) que disputam contra o bloco central da antiga maioria presidencial, Renaissance, com a intenção de votos, de amanhã, distribuída por 36%, os quase 30% e os outros quase 20%, respetivos, aos três maiores concorrentes.
O presidente Macron, liberal, que chegou pela primeira vez, a presidente da República, sem que os franceses se interessassem pelo seu programa e sem completar os 40 anos de idade, depois de abandonar cargo governativo, simpatiza-se com a juventude e a realidade indicia que ofereceu a chave governamental, antecipada, ao radicalismo da direita do jovem Jordan Bardella, de 28 anos, este confiante na maioria absoluta, dizia, o chefe do Estado, assim como os concorrentes mais diretos das últimas presidenciais, a Marine Le Pen da RN e o Jean-Luc Mélenchon da LFI, – este a dificultar indicação do primeiro-ministro da esquerda – gritaram tanto, mas não acrescentaram valor à democracia na tentativa de incendiarem a maratona legislativa ou apagarem as fogueiras.
Nos dois debates televisivos, entre os rostos dos três blocos, incluindo o primeiro-ministro, incompreensivelmente, despejado de amor presidencial, nem os vários comentadores, alguma vez, colocaram a cereja por cima do bolo extremista. Caso o sentimento radical crescente da direita, vença o escrutínio antecipado, Marine Le Pen que enamorou a sobrinha, Marion Marechal Le Pen – esta com a cadeira no Parlamento Europeu, enquanto candidata e vice-presidente executiva de Reconquiste, aplicou traição ao líder do novo partido e rival da tia, o Éric Zemmour – será, ao certo, a futura ministra dos Negócios Estrangeiros. Para a sobrinha que, já estava fora da política, devido às zangas do clã, Le Pen, não faltará cargo de relevância para dar o chuto final à Reconquiste que lhe pescou de volta ao xadrez político francês.
Num contexto político alimentado pelos discursos de medo, tristeza, cansaço e cólera social que antecipam a vitória eleitoral de amanhã, domingo, a favor da direita radical francesa, levei as mãos à cabeça, não atingido pelo prazo curto entre as idas eleitorais – os portugueses, recentemente, esperaram os longos três meses, após o presidente Marcelo dissolver o parlamento para irem ao escrutínio, antecipado, com a boleia invisível ao antigo primeiro-ministro socialista, António Costa, à ascensão ao luxuoso cargo de presidente do Parlamento Europeu – mas pelo facto de França arriscar-se a entrar em guerra civil, devido as consequências da extrema direita regressar ao poder, algo de memória esquecida, desde os anos quarenta do século XX. Um presidente de Câmara, como prevenção, alertou aos comerciantes, na construção de barreiras de proteção aos comércios da cidade.
Podia ser conversa para boi dormir, mas não. Isto mesmo, a possível guerra civil em França, garantia na última semana de campanha eleitoral do próprio Emmanuel Macron, e não só, caso os franceses feridos e a sangrar dos estilhaços da bomba de Palais de L’Élysée, não decidirem os votos pela vitória do bloco central, ou seja, a devolução do poder governativo ao controlo do presidente que viu 24 ministros abandonarem o gabinete do governo para darem tudo nos respetivos círculos eleitorais.
O primeiro-ministro despedido, similar à presidente do parlamento, cessante, Yael Braun-Pivet, a primeira mulher, esposa e mãe, no exercício do prestigiado cargo parlamentar, em França, também arregaçaram as mangas para a disputa dos assentos no parlamento e, caso de vitória do bloco central, aguardarem pela renovada confiança, ou não, do presidente da República e dos novos deputados para regressarem às respetivas chefias, no xadrez político francês.
Enquanto isso, ao longo da semana, os votantes franceses, só no estrangeiro, ultrapassaram os 400 mil votantes “on line”. O voto eletrónico, é algo que há muito, reclamo aos legisladores do meu país para pouparem os milhares de euros gastos, desnecessariamente, com as eleições de participação da sua diáspora.
Tão distante e fora dos debates das grandes questões internacionais, alguém em São Tomé e Príncipe, sem norte, a viver medo; desespero; autocracia; aperto do estômago e traição ao leve-leve, quer lá saber da desgraça dos franceses, não obstante o país, a seguir a Portugal e o Reino Unido, aos olhos nus, é a terceira ilha migratória europeia dos são-tomenses que tentam a sorte europeia, especialmente, após beneficiarem de nacionalidade portuguesa para as pertinentes ajudas financeiras, alimentares e medicamentosas à retaguarda familiar nas ilhas? Então!?
O bloco da Nova Frente Popular, mais generoso, prometeu o aumento do salário mínimo francês, dos atuais 1400€00 para 1600,00 euros, enquanto o rival da direita, União Nacional, refugiou-se na mentira diferente, prometendo baixar a idade da reforma para os 60 anos, contrários aos atuais 64 anos, estabelecidos pelo presidente Macron que já antecipou guerra institucional, inevitável, com o eventual primeiro-ministro, Jordan Bardella, porque não vai deixar o controlo da política internacional e da defesa às mãos do Radicalismo Nacionalista.
Embora as ameaças de morte e a expulsão de estrangeiros pelos setores mais extremistas da Rassemblement Nacional, em mobilização de votos contra a pele negra e os magrebinos, a possível vitória da seleção africana francesa – alguns jogadores irritaram os nacionalistas, reclamando votos contra os extremos – nos oitavos finais do euro futebol contra a vizinha Bélgica, na próxima segunda-feira, possa adiar o dedo no gatilho das ruas francesas.
Perante tantas traições no panorama político, pessoalmente, ainda mantenho o poucochinho de esperança noutra traição, a dos eleitores franceses ao extremismo nacionalista, já que em França, os intelectuais e grandes pensadores, serem fiéis à esquerda.
Num piscar de olhos ao outro lado do Atlântico, alguém, sem cegueira, não vê traição à saúde do presidente Joe Biden, o democrata, insistindo e acreditando nos votos dos americanos nas próximas presidenciais, deste ano, na corrida contra o candidato Donald Trump, o republicano e rival no anterior escrutínio que lhe custou a derrota e o consequente indecente ataque e assalto ao capitólio dos Estados Unidos, em 2021?
Enfim…!
José Maria Cardoso
29.06.2024
Dudu
2 de Julho de 2024 at 11:12
Comentarista bastante tendencioso que só olha os factos por um lado! O lado da extrema esquerda!!!! Que saqueia, manipula e corrompe a opinião pública e governos africanos! Como sempre a culpa dos problemas dos africanos é sempre os outros!!! Arregaçar as mangas e trabalhar duro para desenvolver o continente ninguém quer!!!!!
ANCA
2 de Julho de 2024 at 13:01
Para que possamos perceber e dar valor ao que é nosso nossa cultura, nosso, desporto, nossos produtos, productos da terra, nossa gente, nossas crianças, nossos jovens, nossas mulheres, nossos homens, a nossa terra, ao nosso mar,…
Tela ngue sa son de lenda
Ama o teu país, a tua gente, a tua gastronomia
Tem orgulho em ti, tu és daqui, logo tu és de São Tome e Príncipe
Pratiquemos o bem
Pois o bem
Fica nos bem
Deus abençoe São Tomé e Príncipe
Dudu
2 de Julho de 2024 at 14:10
Balela! Pura!!!!
Dudu
2 de Julho de 2024 at 14:14
Esquerda e Extrema esquerda sais lá meme crise! Fabricam factóides e mentiras e quando não conseguem mandam assassinar reputações ou até mesmo vias de facto! Assim foi no Brasil, com esfaqueamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por um militante de extrema esquerda!!!
Dudu
2 de Julho de 2024 at 14:23
Esquerda e Extrema esquerda sais la meme chose! Fabricam factóides e mentiras e quando não conseguem mandam assassinar reputações ou até mesmo vias de facto! Assim foi no Brasil, com esfaqueamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por um militante de extrema esquerda!!!