Adrião Simões Ferreira da Cunha
Estaticista Oficial aposentado, Antigo Vice-Presidente do Instituto Nacional de Estatística de Portugal
12 de Novembro de 2024
REGRAS DOS MAUS DIRIGENTES DE SERVIÇOS PÚBLICOS QUE É PRECISO COMBATER
A nova gestão pública que se está a tentar implementar em alguns Países, ao contrário do modelo clássico caracterizado pela rigidez na tomada de decisões, pelos procedimentos assentes em regulamentos e pela centralização, pretende concretizar no setor público princípios da gestão privada através da profissionalização da gestão, da prossecução de objetivos, da ênfase nos resultados, da fragmentação das grandes unidades administrativas e da adoção de estilos de gestão empresarial.
Num contexto de reforma da Administração Pública cabe aos dirigentes políticos um papel primordial na materialização da visão de mudança, os quais terão necessariamente de providenciar condições propícias para alteração de mentalidades, culturas, comportamentos e processos que permitam operacionalizar as reformas de modernização administrativa.
Em muitos países a cultura predominante nos Serviços Públicos encontra-se ainda focada nos procedimentos e rígidas regras administrativas, ainda distante da visão preconizada pela doutrina da Qualidade Total, especialmente no que concerne à atenção ao cidadão utente, e para que a mudança do paradigma possa acontecer é necessário abandonar a tradicional cultura hierárquica de autoridade e adotar uma cultura de verdadeira liderança.
Para poderem levar a cabo as suas atribuições e serem eficazes na tomada de decisão, os dirigentes dos Serviços Públicos devem desenvolver um conjunto de competências, designadamente, gestão por objetivos, eficácia organizacional, trabalho em equipa, trabalho em parceria, relações interpessoais, comunicação, gestão de conflitos, negociação, bem como um sólido sentido de deontologia do serviço público e dos valores que o norteiam.
Face ao que precede eis algumas Regras adotadas pelos Maus Dirigentes dos Serviços Públicos:
– Planeiam as suas atividades tomando como única referência os ganhos pessoais a curto prazo em poder e rendimento.
– Exigem um elevado nível de desempenho aos subordinados sem o exigir de si próprios.
– Avaliam os subordinados mais pela lealdade e amizade do que pelo seu desempenho profissional.
– Querem ter funcionários sempre prontos para concordar com as suas decisões.
– Controlam somente as pequenas coisas e os processos internos ficando à espera que apareçam os grandes resultados.
– Consideram que administrar é criar a ordem e a uniformidade internas evitando a tolerância a certas ambiguidades, reprimindo pura e simplesmente os conflitos, ou fingindo que não existem.
– Dedicam igual atenção a todos os objetivos e projetos não fixando prioridades nem concentrando recursos nas atividades chave para a obtenção de bons resultados.
– Definem as responsabilidades de forma ambígua originando que todos mandem em tudo e ninguém cuide de nada.
– Considerando-se “o Chefe” julgam-se insubstituíveis envolvendo-se nas pequenas coisas e centralizando as decisões para poderem dizer com orgulho quando não estou tudo pára.
– Não definem objetivos nem estabelecem programas de ação uma vez que consideram que aumentam o risco de centraliza-los, partindo do princípio de que quando não se sabe para onde se vai qualquer caminho nos leva lá.
– Permanecem todo o tempo no Serviço considerando que tudo o que eles e o Serviço precisam está lá dentro.
– Executam as tarefas sem se preocuparem com os objetivos considerando que se bem-feitas têm valor em si mesmas.
– Mantém-se sempre muito ocupados orientando-se exclusivamente para o seu próprio esforço e não para a obtenção de resultados com o concurso dos subordinados.
– Estabelecem os planos e os programas de ação como uma simples variação do passado enfatizando o conhecido e o já experimentado, temendo os desafios do presente e do futuro.
– Não se preocupam com a otimização nem do tempo nem dos custos deixando-os ao sabor das circunstâncias.
– Com receio de perderem o seu estatuto de ″Chefe″ retiram qualquer controlo sobre os meios aos responsáveis pelos fins.
– Estabelecem muitos planos de curto prazo sem definir uma estratégia e o respetivo planeamento global a prazo.
– São muito impacientes exigindo grandes resultados da noite para o dia, não admitindo sequer os pequenos erros dos subordinados mesmo dos mais dedicados e competentes.
Apresento alguns aspetos que os Dirigentes de Serviços Públicos deveriam ter sempre presente:
– Corrigir vale muito, mas estimular vale muito mais, na verdade o estímulo depois da censura é como a água depois da sede.
– Os elogios são como os perfumes, são para aspirar não são para beber.
– Tomar uma decisão é como fazer a cama, é muito mais fácil tendo uma pessoa do outro lado.
– Não sei qual é a chave do sucesso mas a do fracasso é querer agradar a toda a gente.
– A habilidade em gestão é decidir bem e rapidamente e depois arranjar alguém que faça o trabalho e bem feito.
– Os gestores são líderes mais pelo exemplo que pelo poder e autoridade.
– Às vezes os gestores têm de recuar como á beira de um precipício que só têm uma maneira de andar: para trás.
– Um exército de veados comandado por um leão é mais temível que um exército de leões comandado por um veado.