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O caso de Khadafi: O implacável coronel carrasco dos americanos

Khadafi o jovem coronel que aos 27 anos assumiu a presidência da Líbia, por via de um golpe militar idealizado e realizado pelo “clube dos coronéis líbios”, não demorou muito para se tornar no maior carrasco dos americanos em África.

O mesmo Khadafi que hoje enfrenta a pior insurreição popular já vista na Líbia, ontem, já foi amado, aclamado e venerado pela população de seu país. Definitivamente a política está cheia de factos e caminhos imprevisíveis. Se resistir as manifestações populares, Khadafi, de 68 anos de idade, no poder há mais de 41 anos, continuará sendo o presidente africano e do mundo árabe há mais tempo no poder. Será que Khadafi resistirá às manifestações do seu povo e as pressões externas vindas da comunidade internacional?

Leia  o perfil do ditador líbio  Muammar El  Khadafi escrito pela jornalista Carllile Alegre.

O coronel Khadafi de ontem, definitivamente não é  mais o mesmo. Enfrentando uma grave crise de impopularidade encarnada na “revolução verde” que levou milhares de jovens líbios  as ruas pedindo em uníssono a destituição de Khadafi, transformou o ditador no principal inimigo do povo líbio. Quase inacreditável! Ontem Khadafi era o principal guardião de seu povo, que nele enxergavam o ideólogo e líder incontestável.

Consta oficialmente que Muammar Khadafi nasceu no dia 7 de Junho de 1942. Há quem especula que Khadafi tenha nascido em 1941, dúvida nunca esclarecida pelo próprio. Ele mantém a sua idade em segredo e detesta quem pergunta sobre o assunto.  O coronel tem um gosto peculiar em se instalar em tendas luxuosas, cercado de mulheres. Toda sua guarda presidencial é formada por mulheres. O que pouca gente sabe é que Khadafi nasceu numa tenda no meio do deserto nas adjacências da cidade de Sirt, situada ao norte da Líbia.  Sirt, o berço natal de Khadafi, também aderiu as manifestações populares para impugnar o poder do ditador.

Khadafi veio de uma família com boa condição familiar. Estudou num dos melhores colégios Líbios.  Ao contrário de outros estadistas africanos que se formaram no exterior, ele fez toda sua formação acadêmica em seu país. No ensino secundário foi excelente aluno nas disciplinas de matemática, literatura e geografia. Aos 17 anos entrou para a universidade. Ingressou no curso superior da Academia Militar de Benghazi, vinculada a Universidade da Líbia. Teve uma curta passagem pela Real Academia Militar do país de sua majestade Elizabeth II, Inglaterra.  Admirador fanático de Gamal Abdel Nasser, estadista  Egípcio que também chegara a presidência do Egipto por meio de um golpe militar. Há quem diz que Gamal é o principal mentor de Khadafi. Não por acaso que durante muito tempo Khadafi foi chamado de  “filho espiritual de Gamal” quando este esteve em vida, e, o órfão inconformado quando Gamal morreu, vítima de ataque cardíaco.

As semelhanças entre Gamal Nasser e Khadafi, não são meras coincidências. Ambos estão associados a trajetórias de vida comum.  Gamal também era militar. Formou-se na Academia Real Militar. Gamal para chegar ao poder no Egipto, ostentando a patente de capitão, liderou o movimento dos oficiais que derrubou o Rei Faruk I.  Por sua vez, Khadafi para chegar ao poder, integrou o grupo dos coronéis líbios que marcharam até Tripoli para atropelar o Rei da Líbia Idris I.  Kadafi e Gamal, ambos eram a mesma imagem e semelhança de um ideal           anti-americano.

A longa discórdia com os EUA

Khadafi sempre foi inimigo de estimação dos EUA. Quando o Rei Idris I governava a líbia, os americanos controlavam parte do principal recurso natural da Líbia, o petróleo, também chamado de ouro negro.  Os motores da economia americana foram movidos durante muitos anos com o petróleo líbio explorado e adquirido pelos americanos a preço de banana.  Quando Khadafi chegou ao poder desfez o pacto que o Rei Idris I fizera com americanos. Os americanos criaram várias danceterias e casas de prostituição em toda Líbia.  O coronel mandou fechar todas as danceterias e casas de prostituição. Chamou os americanos de “imorais incuráveis”. Expulsou-os do país, nacionalizou as grandes empresas e companhias petrolíferas  estrangeiras que operavam na Líbia.

Daí em diante, os americanos sempre guardaram ressalvas e rancores por Khadafi. Um ano depois de Khadafi chegar ao poder,  Gamal seu principal padrinho, faleceu vítima de ataque do coração, quando concluía uma reunião de Estado. Khadafi não se conformou. Sempre atribuiu a morte de Gamal aos EUA. Naquele ano Khadafi ainda sofria emocionalmente a derrota da guerra dos seis dias onde o Egipto  de Gamal, foi esmagado  por Israel que contava com o apoio do todo poderoso EUA. Khadafi prometia em privado que iria vingar-se da morte de seu mentor político.

Inconformado, Khadafi começou a fazer alianças com países e grupos que nutriam um sentimento de ódio em relação aos EUA e Israel. Apoiou e patrocinou grupos terroristas extremistas, entre eles os Panteras Negras, Fatah, Setembro Negro e alguns países árabes auto-declarados como inimigos dos EUA.  Tudo para se vingar da morte de Gamal Abdel Nasser, que tanto admirava.

Em 1986, os EUA bombardearam a cidade de Trípoli, capital da Líbia, em resposta a uma explosão orquestrada por Khadafi que mandou para os ares uma discoteca na Alemanha freqüentada por soldados americanos. O foco dos bombardeios dos EUA era a região onde se situava o palácio presidencial, a residência oficial do presidente Líbio. Khadafi saiu ileso dos ataques, mas perdeu a esposa e uma filha (adotiva), que era o xodó dele. O líder Líbio entrou em depressão profunda, chorava amargamente pela perda da indefesa  esposa e da inocente  filha.

A resposta de Khadafi aos EUA não se fez esperar. Em 21  de dezembro de 1988, ele mandou explodir, em pleno ar, o vôo 103 da Pan Air, do tipo Boeing 747-121 que fazia a ponte aérea Londres-Nova York. Momentos depois de decolar, o avião explodiu  na cidade inglesa de Lockerbie. O saldo de 270 mortos chocou o mundo. Dos mortos, 189 eram cidadãos americanos. Os restantes 81 eram nacionais de outros 21 países. Aquele atentado deixou os americanos de rastos. Khadafi estufou o peito de orgulho por desafiar a maior potência do mundo.

Analistas reconhecem que Khadafi sempre teve um serviço de inteligência atuante. Lockerbie não foi o único palco fora da líbia onde o ditador fez derramar sangue de civis inocentes.  Financiou golpes de estados na Libéria e Uganda. Paga milícias para desestabilizarem a região de Darfu no Sudão. Eliminou fisicamente opositores, dentro e fora de seu país. Em Setembro de 1972, Khadafi esteve associado ao massacre de atletas de Israel em Munique, que iriam participar nos jogos olímpicos daquela cidade alemã. O massacre de Munique foi inclusive, eternizado no cinema com o filme “Munique”, dirigido pelo cineasta Steven Spielberg, em 2005.

Khadafi é caracterizado pelos aliados e inimigos como um homem de pulso firme, determinado, teimoso, inteligente e hábil. Resta saber se estes atributos serão suficientes para Khadafi hipnotizar os manifestantes e convencer a comunidade internacional para continuar se mantendo no poder.

Por enquanto, o coronel mais famoso do mundo enfrenta um verdadeiro teste de fogo.  O desfecho não exige estimativas, é pragmático – Em causa está a queda ou a manutenção do poder do clã Khadafi.  Se o ditador conseguir a manutenção do poder sairá ainda mais fortalecido, caso contrário será o fim de uma era iniciada a 41 anos atrás. E não seria surpresa, se no fim do seu consulado, ao invés de um exílio dourado na terra de seus amigos xeiques e aiatolás, Khadafi fosse directo para o banco dos réus do Tribunal Internacional de Haia (corte penal transnacional que julga crimes contra a humanidade) para explicar-se sobre as motivações de seu instinto sanguinário.

14 Comments

14 Comments

  1. FM

    3 de Março de 2011 at 7:11

    Há que saber a hora de sair, quem sabe, sai com estilo, quem é guloso sai á bala.
    Tenho pena de todo o sofrimento que esta “guerra” causa as populações.

  2. Osama bin Laden

    3 de Março de 2011 at 10:23

    Estou do lado do Khadafi até ultimo homem. Chega dos Americanos (EUA) e Europeus fazer de África o seu chá de cortar febre..

  3. Edson Costa

    3 de Março de 2011 at 12:32

    Sò queria relembrar que este Khadafi ja matou mais de 6 mil pessoas durante as manifestações! O que me escandaliza mais é a passividade com que a comunidade politica internacional vive esta situação! Não sei se uma intervenção militar da ONU ou OTAM, seria légitima sei porém que neste momento hà um verdadeiro massacre humano (banho de sangue) na Libia e que alguma coisa deve ser feita urgentemente! Um bem haja a todos!

    • Politico da Elite Corrupta de STP

      3 de Março de 2011 at 14:45

      Também no Iraque houve banho de sangue! Será que não terá havido ai crime contra humanidade? Hipocrisia tomou conta do mundo!!!

    • Bambú

      4 de Março de 2011 at 9:16

      Vê-se mesmo que és pouco sabido dessas diplomacias falsas do Ocidente!

      Tens dados credíveis da morte das 6 mil pessoas?! Se eventualmente for uma “revolta” de ambos os lados há morte. Já vi que levaste uma verdadeira aculturação Ocidental. Khadafi matou muitos à anos atrás mas, os Europeus e Americanos por interesses já conhecidos (petróleo) continuaram sempre amigos da Líbia. Isto é uma pura hipocrisia, querem usar a África para sair da crise que se mergulharam por viverem acima da média. Com Africanos como tu, seremos eternamente escravizados.

      Atenção que não estou a apoiar morte dos Líbios nem a revolta mas, estou contra as notícias fabricadas e empoladas para encontrarem argumentos para o almejado regresso de exploração e escravatura em África. Abre olho, muitos deles temem o Khadafi e não regressam em força para África porque, existe Khadafi e Mandela ainda está vivo. Infelizmente lideres como estes já não há em África.

      Se o Khadafi matou muita gente, eles (os Europeus) mataram muito mais em África…fui…!

    • Albertino Silva Braganca de Sousa

      4 de Março de 2011 at 12:28

      Meu amigo, nem a onu, nem a otan, cumprem o seu papel.

      as grandes instituicoes do mundo politico e social, sao um plagio de cobertura aos mais fortes e poderosos.acredite nisso.

  4. Alberto Nascimento

    3 de Março de 2011 at 12:50

    Bom trabalho informativo!

  5. J. Maria Cardoso

    3 de Março de 2011 at 19:43

    Tunísia, Egipto, Líbia, em suma, o mundo árabe em chamas, cada um na sua proporção e todos eles com regimes amigos dos americanos e dos ocidentais em geral.
    Desde o início deste século e após o 11 de Setembro k o Ocidente reconciliou-se até com o Coronel Kadhafi em nome de luta contra o terrorismo islâmico. Para não ser humilhado com o perdão, Kadhafi foi mais longe e indemnizou os familiares das vítimas ocidentais.
    E agora?
    O Coronel está ferido no seu orgulho e nem lhe vale os vários discursos do ataque da al qaeda ao seu país.
    Um país a beira da guerra civil, é o k vai restando da queda de um ditador.
    É pena o povo k vai pagando com a vida!
    A intervenção da Nato em muitos dos conflitos e em especial num mundo árabe é sempre suspeito.

  6. José Bastos diz:

    3 de Março de 2011 at 19:44

    O EUA com os seus aliados usan o mesmo pretesto de sempre… Intervençoes Humanitarias = Robo do Oro Negro…
    Usou ONU para invadir Iraque e agora usará OTAN para invadir Líbia e otros paises…
    Se debe criar una comissao pacífica e humanitaria no conselho da seguridade da ONU, sem usar armas para intervenir como tem feito os imperialistas.
    Agora pergunto:
    1 – Porque nao se fizeram intervençao humanitaria quando no Iraque estavam morrendo Miles de pessoas inocentes?
    2 – Porque nao se realiza intervensaos humanitaria quando o Israel mata e segui matando miles de palestinos inocentes.
    Entao, o que queremos, a onde estamos e para a onde queremos ir…
    Deve-se repudiar esta práctica de Intervençaos que se usam os imperialistas para saquear e roubar os otros.

  7. MM Deus Afonso

    3 de Março de 2011 at 23:34

    ‘O homem que tem medo de tudo e de tudo foge, não enfrentando nada, torna-se
    um covarde; e de outro lado, o homem que não teme absolutamente nada e
    enfrenta todos os perigos, torna-se temerário.’ ass: MM DEUS AFONSO

    Estados Unidos está atraz do petróleo, Guiné Bissau assim como outros países da África, com conflitos políticos e militares grave que merecia uma intervenção da famosa comunidade internacional(USA), como nesses países nao tem petrole eles nem falam!

  8. Daniel

    4 de Março de 2011 at 13:18

    Deus Afonso
    Concordo exactamente com as suas palavras, à Líbia a coisa da 48 anos atrás era um desastre, um dos mais pobre do mundo, com mais de metade da população analfabeta e, que vivia uma situação idêntica da Guiné-bissau (o tribalismo). O Khadafi após assumir o poder, tudo isso tornou-se numa utopia, ou seja, eliminou esses fantasmas da pobreza estrema e do tribalismo, hoje à Líbia é um dos que paises espelho de África, quase todos sabem ler e escrever, é um dos únicos países Árabes que as mulheres têm oportunidades de trabalhar, estudar e as populações líbia têm um nível de vida estável. E agora eu pergunto, o Zimbabwe e Sudão vivem situações de penúria, de escravidão feitas pelos regimes do senhor Robert Mugabe e do Omar Al-bashir , os E.U.A, N.A.T.O, E.U, alguns deles interessaram de lá ir tirar do poder esses ditadores ? Não, Porquê? Porque certamente não há recursos naturais que os interessam. Cuidado com os amaricamos e europeus, são espertos, não dão nenhum ponto sem nó.

  9. wall-t

    4 de Março de 2011 at 16:17

    homens, por dinheiro e por poder ficam completamente cegos, perdem o controle devido a ganância, causam distroços irreparáveis. Mas eu só tenho uma coisa para diser, chegará um dia em que tudo mudará, o mundo já está farto de tanto sofrimento, eu acredito que Deus tomará uma providência sobre os maus oficios de alguns humanos.

  10. Ze Maria

    4 de Março de 2011 at 18:24

    Fiquei pasmo com alguns comentários aqui postados. Eu só lamento a morte dos que lutam legitimamente pelo direito à liberdade (liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de ir e vir), reconhecimento à dignidade, à melhores condições de vida. Dos que naquele país, assim, como o nosso, trabalham tanto para ganhar miséria, enquanto seus dirigentes guardam milhões e milhões de dólares nos bancos europeus e americanos.

    Só lamento, a péssima diplomacia de Fradique Menezes, Rafael Branco e Patrice Trovoada promoveram para São Tomé e Príncipe. Receberam dinheiro daquele ditador e ficaram calados diante de tantas mortes, diante de tanta repressão. Enquanto a Europa e os Estados Unidos estudam uma forma de puni-lo, Fradique e Patrice fecham os olhos e fingem que não o conhecem. É isso que dá receber dinheiro de quem não merece.

    Não sei como não foram a imprensa defendê-lo como fez o imbecil que governa Guiné-Bissau (Malan Bacai Sanhá), ou determinaram a imprensa que censura-se essa batalha que ocorre naquele país, como fez o seu amigo e vizinho Theodor Obiang de Guiné Equatorial.

    Que situação incómoda, não é Sr.Fradique e Patríce Trovoada?
    Até quando vão convocar a TVS e Radio Nacional para repudiar o massacre promovido pelo amigo Khadafi?

  11. amércano

    4 de Março de 2011 at 20:04

    os americanos e os europeus sao parvos em vos ajudar deviam deixarvos a driva assim falavam nenos mal agradecidos

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