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Intersindical da educação e o governo de costas viradas

O Primeiro Ministro e a Ministra da Educação declararam que há professores mal preparados no Sistema Nacional de Ensino.

O que não consigo entender, por que razão o Governo esperou a realização de uma greve dos professores que reivindicam o aumento de salário, para tornar publico essa constatação preocupante, sem, contudo, explicar as medidas que tem sido tomada ou o que vai ser feito para resolver esse problema.

O que se depreende das palavras desses governantes é que se paga mal aos professores porque são medíocres. Sendo assim, é um ato premeditado, que tem como consequência a má formação dos nossos filhos e netos.

Por outro lado, há informações segundo a qual alguns professores, provavelmente os melhores, têm nesses últimos tempos abandonado o País devido o baixo salário praticado na classe.

Se a conclusão for esta, mais uma razão para se fazer um esforço no sentido de melhorar as remunerações e as condições de trabalho da classe do professorado, para torna-la mais atrativa e permitir o recrutamento de professores tecnicamente mais bem formados. Penso que esta é a solução para o problema.

A classe do professorado, a todos níveis, devia merecer todo o respeito, atenção e consideração de todos nós. Alias, antigamente era assim.

Desde o início das nossas vidas escolares até a conclusão dos nossos estudos académicos, independentemente do nível de formação que temos hoje, tivemos professores, sejam eles bons ou maus, bem preparados ou não, mesmo aqueles que antigamente se chamava ´´professor de mato´´. Todos eles mereciam o respeito da sociedade.

Ao longo desta greve, tenho a impressão que o Governo tem conduzido as negociações muito mal, não dando aos professores o respeito e a dignidade que a classe merece, sobretudo devido a justeza da sua reivindicação e que ninguém deve ignorar. Quando se tenta dividir a classe, não sei com que propósito, quando se condena a realização de uma greve com estas características reivindicativas, conclui-se que os negociadores da parte do Governo não estão de boa fé. Neste caso, não ajuda a um entendimento entre as partes.

Por outro lado, não consigo entender a condenação feita publicamente pelo Governo de uma greve como esta, no decorrer da negociação, tratando-se de um direito dos trabalhadores previsto na nossa Constituição.

É preciso não fazer confusão no direito dos Sindicatos para reivindicarem no que acham justo para a classe, pois, têm as suas razões devidamente fundamentadas, outra coisa é o Governo achar que não tem condições orçamentais neste momento, para satisfazer as reivindicações da Intersindical mandatado pelos professores e para isso deve igualmente as fundamentar. Não basta dizer que o Estado não tem dinheiro como habitualmente ouço. Deve haver uma fundamentação técnica esclarecedora e convincente, baseada na Lei e também no leque salarial praticado no universo dos servidores públicos.

Estes dois pontos devem estar na base das negociações e as duas partes devem ter a capacidade de negociar, bom senso e fazer o esforço e cedências necessários para aproximação dos pontos de vista e chegarem a um entendimento justo para ambas as partes.

Uma negociação séria deve conter esses pressupostos e evitar motivos perturbadores que criam mau ambiente negocial e consequentemente, perda de tempo, pois, a greve já vai no seu nono dia, certamente com prejuízos para o leccionamento dos alunos, embora a mesma tem acolhido o apoio e solidariedade dos pais e encarregados de educação em relação aos professores. Por isso, aconselha-se o seguinte: nada de imposições, ameaças e condenações no decorrer das negociações, como se tem constatado.

Tenho repetidamente referido nos meus artigos a questão do binómio, salário/competência na Função Publica, pois, esta questão não é apenas um mal que se regista no Sector da Educação. Apresentei por diversas vezes a minha proposta de solução para esse grave problema. Estranha-me ser o Governo a referir-se agora na questão de alguns professores mal preparados, quando é o próprio Governo que promove essa incompetência na generalidade da Função Pública, como aconteceu mais uma vez no início do seu mandato, momento que devia aproveitar para corrigir esse erro que tem vindo a ser cometido por todos os governos anteriores e que tem prejudicado a qualidade da nossa Administração Pública.

São Tomé, 9 de março de 2024

Fernando Simão

1 Comment

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  1. Souza

    10 de Março de 2024 at 14:39

    O ministério só quer as percentagens positivas. Muitos professores têm medo de dar os alunos as notas reais, pois, são chamados ao ministério para serem humilhados, insultados, mantratados, e devem assinar um documento com promessa de melhorar as percentagens no próximo semestre, com ameaças de perda do emprego. Consequência, na sua alunos mal formados.
    As turmas sem condições e super lotadas.
    Muitos professores terminam a formação e ministério não abre concurso interno para que os mesmo mudem da categoria, mas os que foram alunos destes professores terminam a formação e entra no sistema ganhando o dobro ou triplo do professor que a mas de 5 ou 10 anos não consegui mudar de categoria.
    Se um dia tiver um inquérito independente em STP sobre a educação em que não há identificação da escola, da disciplina e classe que lecionam, nada que possa identificar um professor aí sim é que vão saber como está a educação da 1 classe a 12 classe.

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