Economia

Mataram as flores de STP que estavam a conquistar o mundo

A primeira experiência de São Tomé e Príncipe, na produção e exportação de flores foi lançada oficialmente no ano 2003. Baptiza de Flora Speciosa, desde o ano 2000 que a empresa começou a plantar flores nos 33 hectares de terra da roça São José, dependência da antiga empresa agrícola Santa Margarida, na região da vila da Madalena, centro da ilha de São Tomé.

Agostinho Dória engenheiro agrónomo, antigo director de Santa Margarida decidiu substituir o cacausal da Roça São José, por flores.

25 variedades de flores importadas dos Camarões, da Costa do Marfim e também da Tailândia transformaram a roça num jardim. São Tomé e Príncipe dava assim início a exportação de flores para o mercado europeu.

Flores na roça São José(Imagens colhidas no ano 2003)

Segundo o agrónomo Agostinho Dória a exportação de flores cresceu ao longo dos anos, até atingir 10 toneladas no ano 2014. Dois anos depois, ou seja, 2016 foi o último ano da exportação das flores de São Tomé e Príncipe para a Europa.

«Tínhamos o mercado garantido. Em 2016 foi interditada a exportação de flores. Tudo porque segundo a administração do aeroporto, por São Tomé não ter um terminal de cargas. Inexistência de um terminal de cargas na infra-estrutura do aeroporto que persiste até hoje. Até hoje São Tomé não tem um terminal de cargas», explicou Agostinho Dória.

O próprio Estado que apela a iniciativa privada como forma de diversificar a produção e a exportação, e como única forma de combater o desemprego, acaba por estrangular as iniciativas e os investimentos privados.

Flores na Roça São José (2003)

Tudo porque o Estado não cumpre com as suas obrigações, no caso concreto, a criação das condições básicas no aeroporto internacional para promover a exportação da produção nacional. O Téla Nón recorda que também o produtor de chocolate nacional Claudio Corallo teve que suspender a exportação do chocolate porque o aeroporto internacional de São Tomé, não reúne as condições técnicas para o efeito.

Flores na Roça São José (2003)

«Em 2000 não se falava de empreendedorismo aqui em São Tomé. Mas nós preferimos avançar para esta acção, que é de carácter empreendedor. Achamos que num país que exporta pouco, deveríamos arranjar mais alguma coisa para exportar», afirmou Agostinho Dória.

A iniciativa empreendedora, que criou um jardim no meio do verde que cobre o centro da ilha de São Tomé, acabou por ser estrangulada. As flores de qualidade que estavam a conquistar o mercado europeu deixaram de ser fonte de renda. A empresa Flora Speciosa caiu na desgraça. Pediu socorro ao Estado, e nada.

Flores na Roça São José (2003)

«Batemos as portas, enviamos cartas e ninguém responde…as vezes as pessoas nem têm tempo para nos receber», precisou o engenheiro agrónomo que apostou nas flores.

Falta de amor, tirou sensibilidade de São Tomé e Príncipe para o encanto das flores. Os terrenos da roça São José, acabaram por ser invadidos. As flores foram cortadas.

As árvores de grande porte derrubadas. Com machims(catana) e machados os habitantes de Otótó localidade vizinha de São José, invadiram uma grande parte dos terrenos.

Agostinho Dória – Médio empresário agrícola / Roça São José

Agostinho Dória foi ver com os seus olhos, a destruição que avançou sobre as suas flores. Os jovens dizem que ocuparam os terrenos para dar resposta ao desafio do Governo «Bamu Ximiá Pá Non Tê Kua Kumé» – Vamos plantar para termos o que comer. Um desafio lançado pelo ministério da agricultura.

Jovens de Ototó invadem terreno de São José

Dentre os jovens invasores e que prometiam atacar o médio empresário agrícola Agostinho Dória, o Téla Nón destacou Eguilson da Trindade. No meio do mato ouvia-se o grito de Eguilson da Trindade : Dória Kidalêôô…Dória Kidalêêêê….Dória Kidalêôôô…

Empunhando uma catana, o Téla Nón procurou saber porquê que o cidadão gritava tanto Kidalê com o nome de Dória.

Eguilson da Trindade na foto

«Eu grito kidalêê com o nome de Dória, porque aqui não é roça de Dória. Aqui é nossa Roça. Aqui é terreno de São José, dependência de Santa Margarida. Invadimos o mato para plantarmos coisas para comer. Dória já levou-nos para Polícia, para o Ministério Público, etc, mas não vamos sair daqui. Nós reunimo-nos, e distribuímos o terreno pedaço a pedaço para cada um. Dória é para sair daqui…..», avisou Eguilson da Trindade.

Barrado pelo Estado, que não permite a exportação das flores, o investidor nacional depara-se com mais uma grande barreira. O terreno da roça foi alvo de várias invasões. O Estado manifesta-se impotente para impor a sua autoridade.

Agostinho Dória observa o desmatamento

«Todos têm razão, quem não tem razão sou eu. Isso cria insegurança. Não há nenhum estrangeiro que vem meter dinheiro nesta terra, porque ele vê que há insegurança. Essa insegurança é real. Mete-se dinheiro e trabalho e pode-se de repente ficar sem nada…», pontuou Agostinho Dória.

O desmatamento anárquico que decorre em São José, ameaça o equilíbrio ecológico da região. Alguns jovens avisaram que o espaço que estão a abrir vai servir também para a construção de casas.

 «Quantas vezes eu saía da minha casa as 5 da manhã para trabalhar e só regressava no outro dia à tarde. É a minha vida que está aqui. E diante dessas questões todas, uma pessoa farta-se…», concluiu, Agostinho Dória.

Para a empresa Flora Speciosa, a insegurança jurídica e a ausência da autoridade do Estado estão a matar as iniciativas de investimento privado no país.

Abel Veiga

2 Comments

2 Comments

  1. Ziaurmarx Fernandes

    9 de Março de 2022 at 14:39

    Triste realidade.

  2. Clemilson brasileiro

    15 de Março de 2022 at 0:20

    Como vai pra frente este pais , não tem lei

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