Política

Garimpo e tráfico de areia venceram Autoridade do Estado

A vitória do garimpo ilegal de areia sobre a Autoridade do Estado são-tomense está patente na porta de entrada da capital São Tomé, mais concretamente na Praia Lagarto na marginal 12 de julho perto do aeroporto internacional.

Em janeiro de 2017, o Téla Nón deu várias notícias sobre a confrontação que eclodiu nas comunidades de Praia Nazaré e Praia Lagarto, ambas localizadas na marginal 12 de julho. Confrontação entre militares da guarda costeira e os habitantes das duas comunidades por causa da extracção ilegal de areia, que para além de permitir o avanço do mar sobre a terra, estava a por em causa a existência das próprias comunidades. Residências desmoronaram na região por causa da extracção de areia. Centenas de poços abertos passaram a funcionar como ninho para reprodução de mosquitos.

O Governo ordenou a intervenção militar, para travar a situação que transformou a porta de entrada da capital do país num amplo espaço de garimpo. Militares da guarda costeira iniciaram em Janeiro o patrulhamento diário dos dois bairros e da estrada que dá acesso ao aeroporto internacional, como forma de pôr fim ao garimpo e tráfico de areia nas duas comunidades.

 

O Comandante da Guarda Costeira, o capitão de mar e guerra Idalécio João(na foto), visitou as duas comunidades e prometeu força militar para repor a autoridade do Estado no combate contra a extracção ilegal de areia. «A Capitania dos portos está inserida na guarda costeira e tem jurisdição sobre o território que vem do mar para dentro numa distância de 80 metros. Temos homens com músculos, para repor a autoridade do Estado nesta zona toda», garantiu o capitão de mar e guerra Idalécio João, em Janeiro passado.

Os populares também prometeram em Janeiro passado, que iriam continuar a extrair areia, uma vez ser a única fonte de sustento, que acabaram por ter nos últimos anos. O Comandante da Guarda Costeira repeliu no momento avisando que « eles não podem resistir contra os militares».

Para além da intervenção militar a mando do Governo, o próprio executivo tomou medidas administrativas sem precedentes no país para travar a extracção ilegal de areia. No dia 25 de Janeiro, os Ministros das Finanças e da Economia Azul, das Obras Públicas Recursos Naturais e Ambiente, e da Defesa e Administração Interna, respectivamente, Américo Ramos, Carlos Vila Nova e Arlindo Ramos, assinaram e publicaram um despacho onde dentre outras medidas, anunciaram que «ficam suspensas todas as autorizações de extracção e transporte de areia por tempo indeterminado».

O despacho anunciou também que só em casos de superior interesse público, «poderá ser outorgada autorização para extracção de areia nas zonas do interior ou costeira do país».

O despacho impôs coimas pesadas para pessoas ou viaturas que forem apanhadas a extrair ou a transportar areia.  Qualquer cidadão que violar a ordem de proibição de extracção e comercialização de areia, terá que pagar 5 milhões de dobras, cerca de 200 euros, por cada saco de areia que for retirado do mar ou do interior do país.

O país pensou que era desta vez que a autoridade do Estado seria exercida de facto no país. Mas infelizmente o Estado voltou a seguir a tradição. A lei fica no papel, tudo sol de pouca dura.  Leve – Leve a patrulha militar foi-se retirando da zona de garimpo de areia. Leve-Leve o as letras do despacho dos três ministros, arriscadas da agenda.

Aliás como o Téla Nón advertiu nos artigos publicados em Janeiro passado, em São Tomé e Príncipe as medidas anunciadas pelo governo para garantir a autoridade do Estado, acabam por ser um nado morto.

O garimpo de areia na marginal 12 de julho prosseguiu. Já neste mês de Novembro o garimpo e tráfico de areia, no mesmo local e diante de todos os olhos que circulam entre o centro da capital e o aeroporto internacional, tornou-se oficial.

Retro-escavadoras estão a abrir o espaço para os populares retirarem areia, e depois chegam camiões com barro para ser colocado nos buracos onde saíram areia. Tudo acontece a beira mar. Pouco tempo depois da colocação do barro, a água começa a emergir. E não é água da chuva. Pelo que o Téla Nón apurou, a água que emerge e cobre o barro que está a ser colocado na zona vem do mar.

Um sinal claro de que quanto mais areia se retira do local, mais caminho é aberto para o mar avançar sobre a terra. Se um dia o mar e as ondas revoltas emergirem do fundo da zona de garimpo, pode ser que leve consigo também a única estrada que liga o aeroporto internacional à cidade de São Tomé.

Praia Lagarto é actualmente uma feira nacional de extracção e venda de areia. Camiões, carrinhas, moto carrinhas, entram e saem no transporte da matéria prima resultante do garimpo, agora com apoio de retro-escavadoras.

Tudo parece uma operação com aval do próprio Estado, que por sinal saiu derrotado no braço de ferro que impôs aos populares em Janeiro passado, no sentido de repor a sua autoridade sobre a ampla zona de garimpo em que se transformou a marginal 12 de julho, perto do aeroporto internacional.

Abel Veiga

 

10 Comments

10 Comments

  1. Joao Carlos

    17 de Novembro de 2017 at 16:58

    Preocupante. Valeu-nos a independência ????

  2. EX

    17 de Novembro de 2017 at 18:40

    Esta tudo acabado para essa Terra, com essa forma de pensar da População, nunca mais saímos do buraco. Com o argumento e justificativas de não haver emprego que de facto é uma realidade, estamos a destruir tudo de bom, daqui a alguns anos quem vão culpar, por aumento do Paludismo, e da possível desgraça que esta iminente.
    Governo esta falhando sim, mas os culpados são os populares desse região é deveriam pensar nas suas próprias famílias que ali vivem, não acredito que a falta de emprego justifique essa destruição.
    Um trabalho de água com cesto, tira-se areia e vende-se para o sustento, e depois, gastam o dinheiro para cuidarem da saúde e do Paludismo que esta sendo causado por retirada de areia.
    Irónico.

  3. cuida da nosa casa comum

    17 de Novembro de 2017 at 18:55

    Todos sabemos da situação actual da humanidade que estamos a cada dia a enfrentar, que é a degradação ambiental.O governo criou leis, mais não criou postos de trabalhos para esses homens, assim sendo, como é que eles deixam de garimpar arreia se não têm outro lugar onde ir buscar o sustento. O grande objectivo é criar linhas de diálogos que nos ajudem a sair desta situação que nos encontramos, ou seja, desta auto-destruição onde estamos a afundar. Governo cria um projecto comum que preserve o ambiente e o homem.

    • A terra

      18 de Novembro de 2017 at 8:29

      O senhor devia ter vergonha.

  4. Maria Silva

    18 de Novembro de 2017 at 11:31

    Impressionante a incompetência de homens são -tomenses, pessoas que não conseguem dirigir/gerir 180 mil almas dentro de um espaço de 1001 kms quadrado e com um pouco mais da ilha do Príncipe…
    Meus senhores envergonhem-se, sintam-se medíocres !
    OBS: estou a me referir todos que já lá passaram.

  5. Ralph

    20 de Novembro de 2017 at 1:48

    Isto é o que acontece quando não há atividade económica suficiente para sustentar a população. A polícia e os militares podem tentar repor ordem por força mas este exemplo apenas mostra que quando não há poucas outras maneiras para gente ganhar dinheiro e alimentar as suas famílias, será cada vez mais difícil manter ordem. Mesmo se os criminosos forem postos na cadeia, vão continuar a ser sem qualquer trabalho pago que vale o nome depois da sua libertação eventual. Parece-me que, sem a criação de indústrias alternativas, as autoridades vão ter dificuldades em fazer cumprir as leis, a não ser que estejam inclinados a usar força. Mesmo então, não vai resolver muito no contexto do problema maior de uma falta de oportunidades económicas.

  6. mezedo

    20 de Novembro de 2017 at 8:09

    Isto só pode estar a acontecer porque acredito que tem gente grande beneficiando desta pratica desastrosa, caso já se punha fim a isto.

    Como devem lembrar quando começaram a atacar a população denuncio existência de militares e chefes militares envolvidos na venda ou consumo dessa arreia ilegais.

    Então onde fica as ordem?

  7. Amor e Fé

    20 de Novembro de 2017 at 11:34

    Caras e caros.
    Esta situação de garimpo de areia, e outros mais, deve ser tomada como um dos rostos da gritante situação em que o país se encontra, da gritante situação salarial que é praticada a escala nacional, não importa se privado ou publico, mas sobretudo no sector publico. O homem, enquanto ser racional, enquanto ser “desenrascador” jamais ficará de braços cruzados se seus filhos, sua familia não tiver que comer e sobretudo se ele proprio não tiver o que comer. Neste momento já há casos de fome gravissima em STP. Já há familias que ficam mais de 24 horas sem comer nada. Já há gente a morrer de fome, basta ver o caso da senhora que se matou recentemente porque não tinha que dar de comer aos seus filhos. Enquanto isso, continua sem existir uma politica agricola nacional capaz de alimentar 180 mil habitantes. O ministro da agricultura, o tal mulato pálido, um incompetente de primeira categoria que nem sabe falar sequer, passa a vida só a lançar pedras de projectos financiados por estrangeiros, mas da criação do próprio ministério da agricultura não há nada. Associado a tudo isto, coloca-se o facto da taxa de desemprego estar a subir de forma galopante, a taxa de natalidade esta a crescer, a população esta a crescer, não há comida, não há emprego, não há habitação, dai que como alternativa as pessoas mergulham nessa forma de sobrevivência que na verdade é muito grave para a natureza, para o ecossistema, muito grave para o futuro dessas ilhas. Mas há que se encontrar alternativas e as alternativas devem ser encontradas pelo chefe da equipa que no caso em presença deveria ser o Governo, só que infelizmente estamos perante um governo que só sabe vender sonhos, que parece estar a gerir um país da lua, Enfim vai assim o nosso Dubai.

  8. Toni

    30 de Janeiro de 2018 at 18:57

    Realmente incrível, desde a independência que isto acontece, não existe ou existiu um dirigente que acaba se com este crime.

    Já passaram mais de 40 anos, e pergunto porquê ficamos independentes??? Para ficar na miséria?? Para destruir tudo que tínhamos??

    Vergonha

  9. Valdemar

    2 de Fevereiro de 2018 at 9:13

    Pais de merda,aonde o EStad incapaz de impor xa sua autoridade

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