Passaram quase vinte anos desde que, no quadro da minha decisão de candidatura a Presidente da República nas eleições de 2001, elaborei este documento “STP – as razões da minha candidatura”. Nele fazia uma rápida análise da situação do país e apontava as razões da minha decisão de candidatura.
De facto foi em Setembro/Outubro de 2000 que decidi deixar a minha carreira na OMS e voltar ao país onde me impus a missão de contribuir para o fazer avançar para a modernidade, a partir de uma posição estratégica que me permitisse influir de facto as decisões sobre o futuro.
Vinte anos depois, com pequenos retoques eu faria este mesmo discurso. Com uma diferença de fundo, todavia. Eu não sou e não serei nunca mais candidato a nada mais. É, na minha opinião, a hora das novas gerações.
É triste constatar que o país não avançou, marcou passo e, infelizmente, em muitos aspectos recuou mesmo. No geral, a fotografia então tirada é ainda actual. Os “cancros” então denunciados continuam a matar a sociedade santomense e outros até pioraram.
Experimentem ler ou reler (para os que já o tinham lido) o documento, mas sobretudo para os jovens que na altura teria 10-15-20 anos e não se interessavam pela política. Muito boa gente estava então ocupada por outras coisas e muitos, por razões de “partidarite aguda” entendiam que era crime de lesa majestade fazer um tal diagnóstico e, pior ainda, me propor como actor de mudança… Hoje talvez tenham já tempo de ler esse documento…É isso de querer ter razão fora do tempo…
Achei interessante partilha-lo com as novas gerações para que eles possam ter a noção de como as coisas evoluíram nesse período de vinte anos… Será que daqui a vinte anos termos que conviver com este mesmo cenário?
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE STP EM 2001
AS RAZÕES DA MINHA CANDIDATURA
Dr Carlos Tiny
INTRODUÇÃO
- 1. São Tomé e Príncipe (STP) prepara-se para entrar no novo milénio numa situação particularmente difícil e eivada de desafios; todavia oferecem-se oportunidades que, se bem aproveitadas, poderão abrir as portas a uma nova etapa de crescimento económico rápido que constitua uma base sólida para um desenvolvimento sustentável.
- 2. Se é verdade que atravessamos nos últimos tempos um período de grande instabilidade política, social e até mesmo moral, com graves problemas ao nível da gestão da economia do país, não é menos certo que esse foi o período em que nele se logrou assentar os pilares essenciais da construção de uma sociedade democrática, questionando de forma decisiva as concepções, posturas e práticas de um monopartidarismo arrogante e atávico.
- 3. É preciso dizer claramente que apesar de tudo e mesmo após todos os esforços consentidos nos últimos dez anos de prática de democracia multipartidária, a nossa sociedade conserva ainda algumas sementes do monopartidarismo prontas a germinar caso as circunstâncias o favoreçam. Parafraseando o ditado popular diria que o monolitismo é teimoso… “Ê sá mó ngumbá…a pô da campu fôgo, suba ka da çon só ê ká dá uê…”.[1]
- 4. A democracia só é sustentavel se assente numa base de “Desenvolvimento e Justiça Social”. Noutros termos não pode haver Democracia sem Desenvolvimento e sem Justiça Social. O grande paradoxo da sociedade santomense nos últimos dez anos foi que se verificou uma “Democratização sem Desenvolvimento e com sérias Injustiças Sociais”. De facto, em termos de desenvolvimento, houve mesmo uma regressão demonstrável pela evolução dos indicadores sócio-económicos mais significativos. Em 25 anos de independencia, o nosso país acumulou um crescimento negativo de 0,4%, uma dívida externa incomportável que ronda os 700% do seu Produto Interno Bruto (PIB) e um nível de pobreza absolutamente inaceitavel. O país exporta em valor cerca de 4 milhões de dólares ano e importa cerca de 26 milhões de dólares… São Tomé e Principe ocupa o 123º lugar na lista do PNUD de classificação de países em função do Indice de Desenvolvimento Humano!… Verifica-se uma angustiante incapacidade de promover o desenvolvimento, o que favorece a instabilidade e põe em causa todo o edifício democratico em construcão no país.
- 5. É absolutamente impossível avançar na construção de uma sociedade moderna em São Tomé e Príncipe sem que o trinómio “Democracia/Desenvolvimento/Justiça Social” seja equacionado de forma consequente. Este é a nosso ver um dos pontos de estrangulamento de toda a “questão santomense”. A classe política e as instituições da República têm, uma vez por todas, de se mostrarem capazes de promover o desenvolvimento socio-economico da nação em democracia e com justiça social, sendo este um critério essencial para avaliar o seu desempenho.
- 6. Para os povos, a Democracia tem apenas sentido se ela se traduzir na criação de uma base económica sólida que permita melhorar o seu nível e qualidade de vida. Isto significa desenvolvimento, o quer dizer, assistência médica decente, mais e melhores escolas para os seus filhos, emprego e remuneração condígnos, acesso à informação e à cultura e confiança no futuro. O jovem tem que saber que há um futuro para si livre da perspectiva do sub-emprego e desemprego crónicos; o pai e a mãe têm de sentir que há um futuro em construção para os seus filhos e netos pelo que hoje podem consentir alguns sacrifícios.
- 7. Hoje, cerca de metade da populacão activa se encontra desempregada e mais de 40% dos santomenses, isto é, quase um em cada dois dos nossos compatriotas, vive abaixo da linha da pobreza. Não é segredo para ninguém que mais do que um terço das crianças santomenses sofre de malnutrição crónica e a imensa maioria das famílias é incapaz de assegurar as três refeições do dia. O acesso à água potável, à electricidade e ao saneamento básico é limitado, os transportes públicos são praticamente inexistentes, a oferta de jornais, revistas, livros e filmes é praticamente nula e a organização dos tempos livres esquecida… Isso tudo é um sinal inequívoco de que o país está enrodilhado num confrangedor ciclo de atrazo e miséria cada vez mais terrificante…Não se pode continuar a falar de democracia com um cenário nacional tão ultrajante.
- 8. Mas é ou não possível acabar com isto? Estaremos nós, enquanto santomenses condenados a isto? De quem depende afinal a solucão? Não será de nós mesmos? O que fazer?
UMA TRANSIÇÃO NECESSÁRIA…
- 9. Na evolução recente da sociedade santomense podemos registar duas etapas essenciais: à primeira, a de Libertação Nacional e da victória sobre o colonialismo, seguiu-se uma segunda que modelou o processo de construcão da Nação promovendo a Democratização da Sociedade; esta foi a etapa da victoria sobre o monolitismo. Estas são as duas transformações decisivas que tiveram lugar em São Tome e Príncipe no último quarto do Século XX.
- 10. Como resultado disso, vivemos hoje num País livre e soberano em que a Democracia, embora ainda jovem e frágil, é uma realidade que já passou, com relativo sucesso, por algumas provas.
- 11. É chegada a altura de promover uma terceira etapa que consolide e aprofunde as conquistas alcançadas até agora, rompa os veios do atrazo e nos permita caminhar rumo ao progresso. Essa será a etapa da Modernização da sociedade e Desenvolvimento do país. Ele deverá, ao materializar o trinómio “Democracia/Desenvolvimento/Justiça Social” traduzir-se na criação de uma base económica sustentável, que permita liquidar a pobreza e criar um país moderno integrado na aldeia global que é a humanidade hoje; um país verdadeiramente democrático onde existam liberdade, justiça, paz, estabilidade e respeito pelos direitos humanos, onde os dirigentes prestem contas da sua gestão ao povo que os elegeu; um país onde a solidariedade tenha o valor de senha que abra não apenas todas as portas mas, mais importante ainda, os corações de todos os seres humanos.
- 12. São Tomé e Príncipe tem condições de se transformar num país sem fome e sem miséria; uma país onde a mulher tenha os mesmos direitos que os homens e veja esses seus direitos respeitados na prática do dia a dia no seio de famílias sólidas; um país onde os jovens sintam que têm um futuro, pois têm acesso ao ensino e à formação profissional que lhes prepare para a vida; os reformados tenham assegurada uma pensão decente; os necessitados beneficiem da solidariedade nacional; um país, enfim, onde se promova a igualdade de oportunidades, a excelência, a competência e o mérito e onde se combata a mediocridade, a incompetência e o conformismo.
- 13. É necessário que os santomenses tenham acesso aos serviços sociais básicos como educação e formação profissional, saúde, água potável, electricidade, habitação e saneamento do meio ambiente; que tenham acesso à informação e ao lazer, ao desporto e à cultura, de modo que possam viver com decência e dignidade. É necessário que o “Palufome”[2], como lhe chamou com rara clarividência um respeitavel popular durante o “Forum de Unidade e Reconciliação Nacional”, deixe de minar a saúde do nosso povo e dizimar as nossas crianças.
- 14. Essa democracia e esse desenvolvimento têm que, como o sol, chegar para todos os santomenses que no seu dia a dia têm que se alimentar, vestir, fazer progredir os seus negócios, ir à escola, cuidar da sua saúde e salvaguardar o seu futuro, tudo isso na dignidade.
- 15. Assim e só assim se pode falar de democracia e esta ser entendida pelo povo sofredor…É este o desafio para a nova geração de políticos santomenses – conduzir o país para entrar com sucesso no próximo século.
- 16. Isto tudo é possível e está ao nosso alcance; depende antes de mais, de nós mesmos…
QUAIS AS TAREFAS ESSENCIAIS DA PRÓXIMA ETAPA?
- 17. Constitui tarefa fundamental da próxima etapa congregar a Família Santomense em torno de grandes objectivos de desenvolvimento colectivamente identificados, os quais respondam aos reais problemas e preocupações da grande maioria dos jovens e crianças, dos homens, das mulheres e dos “mais velhos” deste país, objectivos esses que tenham força mobilizadora suficiente para galvanizar as pessoas, fazer calar diferenças circunstanciais, sarar feridas, consolidar fracturas e focalizar as energias da sociedade na construção de um futuro melhor para todos os santomenses.
- 18. Nesse processo, há que preservar e consolidar a democracia e as liberdades que, na presente etapa, constituem a conquista essencial do nosso povo, pois que hoje a independência nacional está consolidada e não corre qualquer risco. Há que revitalizar mecanismos que facilitem uma real participação dos cidadãos na gestão do seu país nomeadamente reforçar, consolidar e modernizar o poder local bem como promover a existência de uma comunicação social isenta e independente.
Os santomenses têm de, cada vez mais, ser chamados a se pronunciarem de diversas formas, incluindo o referendo, sobre as questões essenciais que determinam o seu futuro bem como o da Nação.
- 19. É vital impedir a todo o custo o retorno a um passado de monolitismo castrante, de líderes incontestáveis, o qual ponha em causa uma democracia real e bloqueie o desenvolvimento ao impedir a libertação da energia criadora da sociedade a todos os níveis. Há que promover a paz e estabilidade; há que embandeirar o diálogo e a concertação como forma de estar e ser na sociedade santomense; há que aprender e ensinar a viver em democracia e no respeito pela diversidade reconhecida e apreciada como valor e factor de progresso. É premente incentivar e promover os valores culturais santomenses enquanto veículo de ligacão das populacões, em particular dos jovens, com as suas raízes mais profundas.
- 20. É preciso, em definitivo, moralizar a sociedade e combater de forma sistemática e com firmeza a corrupção, que constitui sem dúvidas, um dos cancros maiores da sociedade santomense. A corrupção é o verdadeiro “utú mançado”[3] da sociedade santomense; associada à incompetência e à má governação, desvirtua todo o processo de consolidação da democracia e bloqueia o desenvolvimento. O combate sem tréguas à corrupção e a promoção do respeito pela coisa pública têm que ocupar lugar destacado em qualquer estratégia séria que pretenda tirar o país do fosso em que se encontra.
FACTORES ESSENCIAIS DO PROGRESSO…
- 21. De facto, como convencer os santomenses a apertarem mais o cinto e a consentirem mais e mais sacrifícios quando diariamente tomam conhecimento de actos de corrupção a vários níveis da sociedade, em total impunidade, não raras vezes com a evidente cumplicidade de sectores bem colocados dos quais seria legítimo esperar posições de pública rejeição e medidas de correção firmes e adequadas nos termos da lei? Como convencer os trabalhadores que não se lhes pode pagar um salário mínimo que lhes permita uma vida com um mínimo de dignidade quando eles sabem e vêm todos os dias que a corrupção gangrena o Aparelho de Estado de forma generalizada, que se usa e abusa dos bens públicos e se planeia à luz do dia a sua apropriação indevida? Que franjas da elite dirigente se constituem em verdadeiras sanguessugas que sugam o Aparelho de Estado à exaustão, que campeiam o roubo, os desvios e o abuso do poder? Quando vêm gente que não trabalha, não faz nada, e que no entanto vive “à grande e a francesa”?…
- 22. Apenas a honestidade, a transparencia na gestão do bem público e o espírito de bem servir podem fazer com que a população tenha confianaça nos seus dirigentes e aceite consentir os sacrifícios necessários ao relançamento do país, os quais são ainda enormes.
- 23. Toda essa transformação da nossa sociedade exige, antes do mais, uma liderança moderna e competente; uma liderança comprometida com o bem estar do seu povo, honesta, eficiente e possuidora de uma Visão para o país; uma liderança que valorize o trabalho de equipa; que seja capaz de encontrar os pontos em que os interesses individuais e de grupos se encontram com os da sociedade em geral para, em diálogo, os promover; uma liderança com capacidade de inovação…Exige transparência e também muita capacidade técnica e gestionária.
- 24. Essa liderança tem de ser capaz de mobilizar a sociedade no seu todo, isto é, a sociedade política com os seus partidos “grandes” e “pequenos”; a sociedade civil, que tem definitivamente de assumir um protagonismo visível em todo o processo de desenvolvimento; o sector privado, as instituições religiosas, mas e sobretudo os jovens, os idosos, as mulheres, e os homens nas cidades, vilas e luchans por este país fora, em torno de grandes desígnios nacionais colectivamente identificados e adoptados. Essa tem de ser uma liderança que coloque um ponto final à impunidade e ao parasitismo e faça da Justiça um verdadeiro Poder em São Tomé e Príncipe.
- 25. Nesse processo, os quadros nacionais desempenham um papel de primeira linha. Constituem uma das mais importantes riquezas da nação, pelo que uma atenção particular tem de ser dedicada à criação de condições de trabalho e de existência condígnas para os quadros santomenses, de modo a que os mesmos possam dar ao país tudo o que sabem e podem em prol do desenvolvimento. Por outro lado, a diáspora santomense, isto é os santomenses no exterir, constitui um factor extremamente importante em que o país tem definitivamente de passar a apostar. O país possui um bom número de quadros competentes e experientes exercendo funções diferenciadas em vários países e Organizações. Esses quadros são tão patriotas quanto nós e muitos dentre eles estão dispostos, quando não desejosos, de regressar e dar a sua contribuição ao desenvolvimento nacional; a título de exemplo, refira-se que existem mais médicos santomenses a trabalhar no estrangeiro do que no interior do país… É dever de uma liderança esclarecida criar condições que favoreçam a mobilização desses quadros na diáspora para que, como é seu desejo, possam dar o seu contributo para a construção de um São Tomé e Principe melhor.
- 26. A nível externo, essa liderança tem de ser capaz de passar uma imagem de seriedade e credibilidade; de competência e modernidade que possa induzir confiança e respeito nos nossos parceiros de desenvolvimento, tanto os tradicionais como novos parceiros a serem mobilizados, tanto no sector público como no privado. Só assim o país poderá continuar a contar com a ajuda e a cooperação da comunidade internacional, indispensáveis enquanto complemento dos esforços nacionais para o relançamento da economia e beneficiar de novos fluxos de capitais necessários ao relançamento do desenvolvimento. Essa liderança tem de, decisivamente, reforçar os laços de cooperação com os demais países africanos e promover, de forma consequente, a integração do país na nossa sub-região.
- 27. Na Bíblia (Exodus) há três factores que viabilizaram a travessia do deserto e a chegada à Terra Prometida: havia um objectivo claro que era a chegada à Terra Prometida; uma liderança esclarecida centrada em Moisés e noutros dirigentes do grupo, seus colaboradores mais próximos; e, entre essa liderança e o povo, havia muito diálogo e concertação traduzidos no grande número de vezes que Moisés reunia o seu povo para conversar…
- 28. Na situação em que nos encontramos actualmente em São Tomé e Príncipe quer-me parecer que, em definitivo, necessitamos também desses três elementos para “atravessarmos o nosso deserto” e chegarmos ao São Tomé e Príncipe que prometemos ao nosso Povo aquando da luta pela Independência nacional:
OBJECTIVOS CLAROS
- 29. Em termos simples é necessário sabermos e pormos-nos de acordo, de uma vez por todas, sobre a questão seguinte: “para onde é que, como povo e como nação, queremos ir”?… Nesse sentido importa referir que o Forum de Unidade e Reconciliação Nacional permitiu identificar áreas que fazem consenso entre as diversas forças políticas e sociais do país e urge aproveitar essa dinâmica. Por outro lado os trabalhos de excelente qualidade elaborados por quadros nacionais com o apoio de parceiros de desenvolvimento multilaterais no ambito do projecto “Estudos Nacionais de Perspectiva de Longo Prazo” (NLTPS), bem como os documentos produzidos em 98-99 no domínio da Planificação Estratégica do Desenvolvimento repesentam uma boa base de partida que urge promover e valorizar.
LIDERANÇA COMPETENTE
- 30. Isto é, precisamos de ter uma liderança realmente moderna e competente; aberta ao mundo mas capaz de defender os interesses nacionais de forma patriotica e honesta; uma liderança que seja capaz de mobilizar e aglutinar os santomenses todos, tanto os do interiror como aqueles que se encontram no exterior do país, em torno de objectivos colectivamente definidos e, ao fazê-lo, conduzir o processo em democracia; em suma, uma liderança capaz de gerir o país na base dos princípios de uma Boa Governação;
DIÁLOGO
- 31. Sermos capazes de promover o diálogo e o entendimento no seio da família santomense, pacificando a sociedade e criando assim um clima de estabilidade que permita que a democracia floresca, ganhe sentido e se possa traduzir em melhoria concreta do nível de vida das crianças, das mulheres, dos velhos, dos jovens e homens santomenses, tanto no campo como nas cidades.
O PORQUÊ DA MINHA CANDIDATURA
- 32. O segundo mandato do Presidente Trovoada encerra o ciclo das duas etapas decisivas que marcaram a história de São Tomé e Príncipe no final do Seculo XX. Após a libertação nacional fica assim concluida com sucesso a etapa de democratização da sociedade santomense.
- 33. É chegada a altura de uma natural e necessária transição de gerações na liderança dos destinos da nação. A geração de politicos “mais velhos” que liderou com eficacia indiscutível o processo de libertação nacional tem de, definitivamente e sem subterfúgios, reconhecer que cumpriu o seu dever e que, doravante, e-lhes reservado um papel diferente na história de São Tomé e Príncipe, sem o que o País corre o risco de ficar a marcar passos… É chegado o momento em que a nova geração rende homenagem à geracão dos históricos pelo contributo que, cada um em particular e todos em geral, deram para vencermos as etapas de luta contra o colonialismo e para que chegassemos até onde estamos. Porém o momento em que a nova geração é chamada a assumir as suas responsabilidades na condução do processo de desenvolvimento nacional. A maior e melhor homenagem que esta geração mais nova pode prestar àquela, é o esforçar-se abnegadamente por aprofundar a democracia e sobre os seus pilares erguer o edifício de uma Nacão próspera, solidária e desenvolvida.
- 34. Tendo em consideração tudo o que ficou acima descrito e após a auscultacão de muitas pessoas no seio da sociedade santomense, pessoas como eu preocupadas com o futuro do país, decidi aceitar o desafio de participar activamente nesse processo, candidatando-me ao exercício das funções de Presidente da República. A minha trajectória de vida que me conduziu, após a minha formação, a trabalhar dez anos no país aos mais diversos níveis; em seguida a representar o país no exterior como diplomata; e finalmente a trabalhar mais de dez anos como funcionario internacional, permitiu-me ganhar formação, experiência, maturidade e competências que podem ser úteis ao meu país neste momento pelo que achei por bem dar assim a minha contribuição.
- 35. Na vida tive o previlégio de poder estar presente e dar o meu modesto contributo em etapas decisivas para meu país. Assim, estive presente e participei na luta clandestina de libertação nacional; como parte do grupo de jovens que abandonaram os seus estudos integraram a Associação Cívica Pró-MLSTP, estive presente em 1974/75 quando era preciso enfrentar a ira do colonialismo moribundo e mobilizar e incentivar o povo para manter-se firme na última etapa de luta que nos conduziria à independência; estive presente nos primeiros anos da reconstrução do país; estive presente em 1983/87, altura em que se tornou necessário forçar mudanças no interior do MLSTP que conduziram à Conferência de Quadros do MLSTP que marcou uma viragem definitiva no regime de partido único e culminaram na abertura democrática em 1990/91; estive presente na representacão do país no exterior; estive presente e contribui no Forum de Unidade e Reconciliação Nacional, (ideia de que, de resto, fui um dos iniciadores em 1995) na busca de pontos de convergência entre os santomenses, com vista a viabilizar um clima de entendimento que permitisse fazer avançar o país.
- 36. Desejo continuar a estar presente agora e contribuir para que, todos juntos e de mãos dadas, possamos dar o grande salto em frente e entrar no novo milénio “com o pé direito”. É fundamentalmente na juventude santomense, que tem seguramente as potencialidades necessárias para ser o motor das transformacões necessárias para relançar o país e construir a nação em que querem viver, que penso; é com ela na mente que sinto ser meu dever de patriota por à disposicão do país a experiência que acumulei em meio século de vida no país e no estrangeiro, ajudando a construir uma Pátria renovada aonde seja bom viver. É nessa juventude, é nos rapazes e raparigas santomenses de hoje que radica a esperança de um São Tomé e Príncipe melhor. É nas mães santomenses, no seu abnegado esforço quotidiano enquanto mãe solteira ou casada, chefe de enormes agregados familiares sem qualquer ajuda; trabalhadora nas roças, “palaiês”, lavadeiras, empregadas domésticas, vendedoras nos mercados e feiras, quantas vezes sem perspectivas de futuro, mas sempre combatentes pela vida e por um futuro para os seus filhos que busco inspiração e força para avançar.
- 37. Apresento-me como um candidato independente, sem filiação partidária, mas que comunga com vários Movimentos e Instituições da Sociedade Civil, com Partidos Politicos e diversos Actores da vida social e política santomenses princípios e valores pelos quais estou disposto a me bater. Sei poder contar com o apoio de vastas franjas da nossa sociedade que vão de sectores e actores políticos a agentes da sociedade civil, passando por um bom número de gente humilde que, das cidades e vilas, das roças e luchans do país vieram comigo conversar e manifestar o seu apoio, ao tomarem conhecimento da decisão de me apresentar como candidato às eleições presidenciais.
- 38. A minha candidatura é o reflexo da vontade firme da sociedade civil em jogar um papel mais interveniente no desenvolvimento socio-económico da nação; ela resulta da convicção de que se a democracia não pode existir sem partidos políticos, ela não pode, todavia, ser reduzida a eles, sob pena de a sociedade santomense ver-se reduzida à condição de refém das elites políticas. Resulta ainda do estar convencido de que é na articulação dinâmica e patriótica dessas diversas componentes que está, sem dúvida, o caminho para a vitória sobre o sub-desenvolvimento e o atraso actuais.
- 39. Apresento-me como um candidato com ideias firmes e concretas sobre os caminhos para o progresso do país, mas aberto à sociedade santomense na pluralidade das suas componentes, disponível para partilhar ideias e estabelecer os compromissos necessários a forjar os consensos possíveis, para aglutinar vontades numa vontade colectiva de vencer a estagnação e a miséria com que infelizmente convivemos hoje. Assumo-me como o porta-estandarte de um amplo movimento e de um projecto que pretende aglomerar todos os santomenses desejosos de “avancar e olhar em frente” sem rancores e do passado tirar lições e ensinamentos de modo a não repetir os erros cometidos; daqueles que estão decididos a não serem escravos do passado e estão convencidos de que temos que ser nós os construtores do nosso futuro…Para esses, o futuro começou e tem um nome: “nós os santomenses”… Para esses São Tomé e Principe é o nosso futuro…
POR UMA ÉTICA NA POLÍTICA …
- 40. Como ficou dito, o país necessita desesperadamente de paz e estabilidade, de coesão e consensos, de aglutinar em vez de dispersar e desmembrar as suas forças. Tudo isso só é possível no respeito mútuo, com muito diálogo, tolerancia e participação.
A minha campanha e futura acção enquanto Presidente da República será decisivamente marcada por esse espírito de inclusão em vez de exclusão de pessoas, pelo diálogo e pela tolerância; respeitarei os meus adversários e o seu direito à diferença; esforçar-me-ei por, em qualquer dos casos apreciar na sua justeza e associar o seu contributo para o desenvolvimento do país; sobretudo respeitarei o povo e os eleitores na sua dignidade de cidadãos…Não comprarei votos…
- 41. Estes são, em linhas gerais, os princípios na base do meu pensamento político e do meu posicionamento em relação aos problemas e questões fundamentais que se colocam hoje ao desenvolvimento de São Tomé e Pincipe, os quais nortearão a minha conduta como Chefe de Estado. Oportunamente apresentarei o meu “Projecto de Sociedade” que, ao ser um documento de caracter programático, constituirá o meu compromisso com Nação santomense e em torno do qual se articularão as posições da minha candidatura e da minha campanha. Nele desenvolverei este pensamento e apresentarei propostas de trabalho mais detalhadas.
Construamos juntos um país onde é bom viver!
São Tomé Outubro de 2000.
Carlos Tiny
[1] É como a erva daninha, por mais que se a tente erradicar sobram sempre raízes.
[2] Referencia a uma combinação do paludismo e fome (malnutrição).
[3] Uma variedade de cogumelo selvagem que quando ataca as palmeiras conduz inexoravelmente ao sue definhamento e morte.
Inconformado
10 de Setembro de 2020 at 13:40
Infelizmente o dr Tiny geriu mal a sua carreira política por causa da sua ambição. Acho que ele nunca devia ter abondonado o partido dele no momento difícil de 1991. Eles deviam todos assumir o erro.Como disse Pinto da Costa, só não erra quem não faz nada. Um homem inteligentissimo que pena
Zeca Neto
10 de Setembro de 2020 at 16:36
Em democracia é assim – liberdade de expressão.
Senhor Tiny,
Renuncie os bens que adquiriu do erário público e depois falamos. O Senhor é e sempre foi um homem do sistema, basta para tanto vermos quem são os seus amigos, basta para tanto vermos a pobreza em que vive.
Ser sério não é para todos, não basta dizer umas coisas. É povo conhece bem os seus filhos e concidadãos.
É preciso ser mesmo sério, coisa que o senhor não é.
Arlindo Vera Cruz D'Alva Gomes
10 de Setembro de 2020 at 17:34
Boa Tarde DR.Carlos Tiny
Não estou em condições de opinar qual o cidadão pela faixa etária, estaria em melhor posição de contribuir para a melhoria da qualidade de vida do povo de São Tomé e príncipe.
O que me preocupa sobremaneira, como cidadão Santomense, é a instabilidade política atual no meu país e consequências nefastas de uma eventual queda do governo.
Tem de haver pouca loucura na cabeça dos governantes do meu país, caso contrário, São tomé pode entrar num pântano de ajustes de conta, um retrocesso do país em todos os níveis e um salve-se quem puder.
Que Deus abençoe e ilumina a cabeça de todos os Santomenses e os amigos de São tomé, para que o nosso querido país, embora pobre, possa ser uns dos santuários preferidos na terra.
Arlindo Vera Cruz D’Alva Gomes
ARZEMIRO dos PRAZERES
11 de Setembro de 2020 at 9:00
Para não ser repetitivo,assino ipsis verbis, o comentário do Arlindo.
Carlos Neto
10 de Setembro de 2020 at 22:30
O Dr Tony representa a Elite que sempre viveu como quis neste país.
O país está farto de homens de papel que nunca tiveram coragem de largar o materialismo. O egoísmo e o apego ao dinheiro, afasta qualquer homem de grandes feitos. Qual de nós será como o Salazar? Qual de nós renunciou o dinheiro para ajudar o país? São todos farinha do mesmo saco
Outro aspeto
11 de Setembro de 2020 at 14:19
Tiny Data Venia. O senhor e o Rafael Branco têm estado a gritar aos quatro cantos de que nada mais querem deste país, que bonito, deve ser remorço, certo? Pois tu e o tal individuo estão podres de rico a custa do país que esta de rastro e a população também. Na verdade o que vois quereis é ser aclamado pelo povo e convidados para subir ao trono, isto é serem recurso do povo para as Presidências, jamais, nem que a vaca turça, o senhor Evaristo de Carvalho é o último joker colocado ali, estamos atentos, quem quer ser Presidente da República que mostre obra e boa índole.
Coisas que certamente teras que nascer de novo para os ter!
Púmbú
13 de Setembro de 2020 at 8:22
Esse gajo devia ir trabalhar no museu histórico. E depois ficava lá como parte da exposição.
Para mais o tipo deu sobejas provas de que não presta!
Convetavirus
14 de Setembro de 2020 at 11:11
Desde que o senhor regressou a STP teve milhares de oportunidades para fazer algo que ajudasse STP, sobretudo na redução da pobreza, e desta forma estar em condições de almejar ocupar um cargo como o de PR.
Por isso se este artigo tem como objetivo de avaliar a sua popularidade, do meu lado entre 0 e 10, a minha avaliação é 2.
SEMP"RE AMITGO
14 de Setembro de 2020 at 12:01
Dr. Carlos Tiny! reli as suas “RAZÕES DA MINHA CANDIDATURA”e gostei.O parágrafo 38 do texto reteve a minha atenção, quando opina, citando,”que se a democracia não pode existir sem partidos políticos, ela não pode todavia, ser reduzida a eles, sob pena de a sociedade santamente ver-se reduzida á condição de refém das elites políticas”.A seguir o doutor opina, citando,:”Resulta ainda de estar convencido de que é na articulação dinâmica e patriótica dessas componentes que está, sem duvidado caminho para a vitória sobre o subdesenvolvimento e o atraso actuais”,fim da citação.Concordo inteiramente com esta reflexão.Com efeito, enquanto a sociedade civil, não se organizar, continuando a dormir “á sombra das bananeiras,”a espera do GODOT o país arrisca-se a acordar nos braços de um poder autoritário.
Barão de Água Izé
18 de Setembro de 2020 at 15:00
O candidato Tiny, repete o que tantos políticos já disseram. Para seriedade da candidatura, devia defender o sistema presidencialista e fim das nacionalizações que mantêm a agricultura em estado de coma. É necessário alterar a Constituição para uma nova hipótese para STP sair da pobreza, com novo modelo político e económico.