Política

Morreu João Seria! 

Ao tomar conhecimento de notícia tão trágica de alguém com quem convivi, ainda há dias, em ambiente de alegria e música animado pela fragância melodiosa da sua voz, fugiu-me o pensamento para a feição aleatória da vida, que de um momento para outro se esfuma e nos faz assumir o papel de caminhantes sem destino, o que realmente somos.  

Do jovem, natural do Príncipe, cantor do conjunto “Cabana”, a quem um dia foi permitido actuar com o Conjunto “Sangazuza”, numa digressão do famoso agrupamento `a ilha irmã e que, na hora da despedida, no cais, estava sentado, de maleta feita, aguardando descontraidamente o conjunto visitante – para nele, de surpresa, se integrar e fazer viagem de regresso a S. Tomé -, passou a ser, pouco tempo depois, a voz que alternava, ainda que não em plano de concorrência, com o já célebre Hyder Índia, a quem, um dia, alguém caracterizou como “O Homem da voz que é Povo”. 

Não obstante a relativa projeção conseguida, João Seria não se conformava com a subalternidade a que estava ainda assim sujeito e, numa decisão não muito bem compreendida pelos seus adeptos, deixou, nos finais da década de setenta, o “Sangazuza”, para se juntar ao “África Negra”, uma associação musical então desconhecida do grande público. 

Como por artes mágicas, mas outrossim fruto de um trabalho intenso e porfiado, o conjunto “África Negra” guindou-se, nos primeiros anos da década seguinte, a um plano deveras relevante, movido pela tonalidade impar da sua voz e por canções cuja poesia tinha como pano de fundo a autenticidade e a conjugação com o povo, a sua cultura e os seus problemas.                      

Foi, por tudo isso, com a mais profunda consternação e mágoa que tomámos conhecimento do desaparecimento físico do grande cantor santomense, o General João Seria, personalidade que fez ecoar pelo mundo, como nenhuma outra, o sentir, as aspirações e os anseios do seu povo, ao qual lhe ligam laços de indesmentível fraternidade e afecto. 

Artista de renome internacional, que aliou o esplendor da sua voz à autenticidade que emprestava às suas interpretações, João Seria estará sempre presente entre nós, já que o seu cantar nos representava a todos, santomenses e africanos pugnando pelo desenvolvimento e progresso para os respectivos povos. 

Daí que, em nome da União Nacional dos Escritores e Artistas Santomenses e no meu próprio, endereça os nossos mais profundos sinceros votos de pesar à família enlutada, aos artistas e, em geral, às mulheres e homens de cultura, em momento que reconhecemos ser de tão grande tristeza e pesar. 

Paz à sua alma! 

5 Comments

5 Comments

  1. José Luís

    5 de Maio de 2023 at 22:06

    A nossa cultura tornou-se mais pobre. O nosso general foi e nos deixou um rico legado, que deve ser preservado e estudado. Que a terra lhe seja leve

  2. WXYZ

    6 de Maio de 2023 at 2:19

    João Seria não foi natural do Principe. Ele ainda na sua adolescencia foi parar no Principe em companhia de um grupo cultural vindo da ilha de S. Tome. O grupo regressou mas ele acabou ficando por ali. O gajo era “Mina sosso”

    • Margarida Lopes

      6 de Maio de 2023 at 11:29

      …Paz e luz perpétua, repouse em paz JS.
      Quanto ao João SERIA, já cheguei a ouvir que ele tem origem do congo. Mas o que é importante é que ele fez muito para STP…e continua fazendo, pela sua ETERNA & belíssima voz e obra que nos deixou.
      Bem haja !

  3. Jacaré

    6 de Maio de 2023 at 17:35

    Ele não foi ao Principe em companhia de um grupo musical. O grupo musical “Cabanas” foi criado no Principe, por ele e outras pessoas que viviam na altura no Principe, incluindo Chico Paraiso que é natural do Principe.

  4. B M

    7 de Maio de 2023 at 15:19

    A vida e a morte se entrelaçam
    Numa dança triste e eterna
    E nos deixam, em seu rastro,
    A saudade que nos governa.

    João Seria, o grande cantor,
    Nos encheu de alegria e luz,
    Com sua voz e seu vigor,
    E sua dança tão seduz.

    Era o tempo das rumbas,
    Dos bailes e das capetulas,
    Das noites quentes e fartas,
    Das ruas cheias de crianças.

    João Seria era pioneiro,
    General da música popular,
    E nos deixou, de herança,
    A felicidade de cantar.

    Mas agora ele se foi,
    Deixando-nos a tristeza,
    E a certeza de que a vida,
    É um sopro, uma surpresa.

    Resta-nos a sua música,
    Simples, bela e vibrante,
    Que nos faz lembrar do tempo,
    Em que éramos felizes e radiantes.

    E assim, seguimos em frente,
    Com a lembrança do passado,
    E a esperança de um futuro,
    Onde a música nos mantenha encantados.

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