Opinião

Aderiva. Safar é Viver.

De 1975 até ao inicio dos  anos 90 o país tinha um rumo, embora nem todos estivessem de acordo com o mesmo. Ascontradições erampatentes: liberdade versus igualdade, liberdade versus ordem e segurança, liberdade versus justiça social. É preciso reconhecer também que, mesmo hoje, em sociedades desenvolvidas o confronto entre liberdade e segurança e liberdade e justiça social continua actual. Em nome da segurança alguns Estados atentam contra a liberdade individual com meios cada vez mais sofisticados.

Em nome do direito à propriedade privada os Estados debatem-se e são confrontados com exigências de mais justiça social. Não é fácil dialogar com valores tão essenciais da condição humana. Hoje o grande debate é saber qual é o grau de autonomia de decisão, de liberdade, do individuo perante tantos meios cada vez mais subtis de condicionamentodo agir individual.

Se é assim hoje, é fácil de imaginar quanto difícil foi na alvorada da liberdade tão longamente negada estabelecer uma hierarquia entre os valores de liberdade, segurança e justiça na equação do poder. Por isso é imperativo ter em sempre em consideração o contexto histórico e as dinâmicas sociais que marcam cada período da vida dos povos.

O que é quase certo é que podemos marcar no tempo,com maior ou menor precisão, o período em que perdemos o rumoe começou a deriva. Depois do rumo escolhido em 1975 ter revelado as suas limitações foi proposto um novo rumo à nação. Livre e entusiasticamente o povo elegeu, com a 2ª República, o regime democrático como melhor sistema para resolver as contradições entre valores que nem sempre se articulavam de maneira fácil.

O rumo a seguir estava nas virtualidades da democracia. Realizaram-se eleições e um novo partido assumiu a missão de dar um novo rumo ao país. O que se seguiu depois é conhecido: interesses pessoais instalaram a discórdia e sucederam-se demissões de governos com maiorias absolutas, coligações forjadas em nome do poder pelo poder, golpes de estado, (com mandantes incógnitos) dissolução da Assembleia depois revogada, mudança da constituição, negociatas entre parceiros desavindos, inversão das regras democráticas que estipulam que quem ganha eleições governa, instituições do Estado continuamente debilitadas e descredibilizadas. Entretanto a política foi monetizada e actores políticos ganharam estatuto de jogadores de futebol, comprados e transferidos segundo a lei da maior oferta.

Os eleitores passaram a ser objecto de leilões e tudo ficou lamacento, pouco propicio a escolhas racionais. A sobrevivência passou a comandar dias precários.

Os períodos seguintes, salvo excepções temporalmente exíguas, forampreenchidos por trapaças e promessas, festas e nozados.

…, …., …, …,

No entanto…

Perante a surpresa de todos, como um clarão na noite escura, a revelação surgiuagora, carregada de verdade, demonstrando uma clarividência nunca dantes vista, sequer imaginada. O País está à deriva, foi anunciado com o ar sério e pesado que acompanha revelações desta natureza profética.Tão poucas palavras cheias de sabedoria! Os crentes prostraram-se de joelhos, reconhecendo mais uma manifestação do seu guia. Todos falavam de solução, ninguém tinha a solução, só um tinha a solução. Afinal a solução era simples. A solução era a descoberta histórica, de um barco, um país à deriva! Essa solução desafiava todas as mentes brilhantes mesmo daquelas que enclausuradas nos gabinetes de Washington e Bruxelas tinham produzido diagnósticos e relatórios, recomendações e imposições sem serem capazes de desvendar a verdade escondida: o país era um barco à deriva.

Como sempre, uns cínicos profissionais, uma minoria roedora e descrente da sua própria existência, começaram a fazer em surdina algumas perguntas pouco convenientes, grávidas de dúvidas inquietantes: em que momento, em que mês, ano ou século tinha começado a deriva, agora finalmente anunciada? Outros menos ousados, protegidos pela escuridão que reinava nos seus quartos por falta de pagamento ou corte da energia foram mais longe perguntando para os seus botões: Qual a causa da deriva? Quem são os comandantes deste navio à deriva? Entre si, estes descrentes, usando perfis falsos, começaram a utilizar o Facebook para trocar respostas. Uma enorme tempestade no alto mar,escreviam uns; colapso do motor, outros; pilotos incompetentes e arrogantes que desprezam marinheiros experimentados ou cadetes arrojados, outros ainda, uma maioria significativa, avançaram, falta de amor à terra, ganância, soberba, corrupção, etc. 

Havia dentro desta minoria um pequeno grupo de líricos que escreviam obras nunca publicadas que começaram a fazer comparações com o barco à deriva tais como: orquestra sem maestro, tribunal sem juízes, exército sem cadeia de comando, jogo de futebol sem árbitro, sala de aula sem professor, família sem orientação e sem regras.

Finalmente uns académicos desempregados ou com contratos precários explicaram tudo com ar doutoral: uma democracia com défice de democratas, instituições despidas de credibilidade, agentes públicos em servidão prolongada,orçamentos sem financiamento, planos sem políticas e sem programas, promessas sem sustentabilidade, cidadãos em estado de sujeição voluntária, aspirações e expectativa sem fundamento, etc, e tal.

Todos os elementos destes grupos minoritários convergiam num ponto: como não foi possível que, com o tempo, os pilotos, aspirantes a piloto, marinheiros e aprendizes, chefes de orquestra, juízes, enfim as lideranças, não reconhecessemque a agitação e a turbulência do mundo reclamam em primeiro lugar que todos se esforçassem para dar uma rota ao barco, harmonia a orquestra, escolher um juiz que faça julgamentos, criar um exército com mando, e eleger um rumo para o país?

Eu, cronista itinerante que vagueio de café em café eentre banca de bisca de 61 e banca de vinho da palma, relato conversas de gente de poucas palavras e alguma falta de sabedoria, e o que eles dizem é que nestas ilhas encantadas a maldição se abateu sobre quase todos e ninguém parece disponível para pedir uma trégua, um tempo de concertação, um reconhecimento humilde que todos falharam apesar das intenções declaradas, repetidamente renovadas. Ninguém, tem nome: o nome de ninguém, presumo eu, são pessoas em posições de poder nas diversas instituições do país: Estado, organizações politicas, sociedade e diga-se, famílias.

Ninguém assume responsabilidades pela deriva do país, quando, fazem-me recordar, muitos, e apontam-me o dedo com prazer mal disfarçado, estiveram e continuam a estar em posições de liderança. A atitude mais fácil é responsabilizar o precedente, o Presidente anterior, o Governo anterior, o líder anterior, o chefe anterior. Talvez a raiz do mal esteja no facto de, de facto, não termos líderes. Temos chefes de tribos, sargentos de facções, uns mais decididos e enérgicos, outros mais vacilantes e débeis. Temos capitães do mato, gerentes de armazém, aprendizes de feiticeiros, todos promovidos ao limite de suas incapacidades, alvorando a bandeira de vencedores, diploma legítimo para justificar sua promoção actual tão ardente e obstinadamente desejada, às vezes tão repetidamente adiada.

A missão do chefe de tribo ou sargento de facção não é fácil, coitadito,reconhece essa minoria plural. Muitas energias são consumidas no exercício de dar a cada um o pouco do espólioremanescente. A cada um, consoante a sua dedicação, devoção e obediência cega.Tarefa extenuante. Resta pouca energia para combater a deriva do barco. No limite sacrifica-se o que tiver de ser sacrificado. Andar a deriva, sem afundar completamente, pode ser um sucesso. Sempre podecair da santa comunidade internacional uma ajuda, ou um negócio do tamanho de um buraco negro, para safar alguns e distribuir migalhas, enquanto durar a tempestade, ou em caso extremo para alugar um bote para chegar a costa africana mais próxima.Revelando um saber que me surpreende eles dizem que aderiva permite novas regras.Ignoram-se todas as outras. Há um chefe, que manda. Todos devem obedecer. Descontentamentos devem ser mastigados silenciosamente, e engolidos, custe o que custar. Se o estômago ou a consciência se revoltarem, há purgante no mercado de rua.Contestações às ordens não são toleradas, são reprimidas, abafadas, suprimidas, seja qual for o custo. Mesmo de vidas. Em nome do bem maior, encarnado, assumido e depositado na vontade do chefe, transmitido ao sargento de facção, ao capitão do mato e ao aprendiz de feiticeiro, todos, conscientes do seu papel nos degraus da escada do poder, reproduzem para baixo as ordens, orientações, desejos velados, mesmo não expressos,mas adivinhados.

Nas bancas de bisca 61 ouvi coisas que não gostei de ouvir. Andamos à deriva, porque queremos, dizem em voz alta e bom som. Porque não queremos aprender com os erros do passado, preferimos recicla-los na linguagem da demagogia e do populismo; queremos a deriva, porque ela elimina as possibilidades da discussão séria e diminui o espaço de concertação, queremos a deriva porque ela limita as opções, obriga a decisões sem ponderação, não encoraja a partilha do poder e dos recursos escassos. Vão trabalhar, malandros, repetem vezes sem conta. Isso foi dito enquanto um baralhava as cartasde modo a tirar um trunfo que garantisse um “solfão”. Chego à conclusão que essas bancas de bisca são frequentadas também por funcionários aposentados ou em efectivo serviço que levaram um dossiê para casa, para registar mais algumas horas extraordinárias. Enfim.

Inacreditável mesmo foi o que ouvi numa banca de vinho de palma. Só relato por dever profissional. Disseram-me. Qual deriva qual quê? O barco está encalhado no porto de partida. Como é que um barco encalhado, bem ancorado no porto pode andar à deriva?

O barco não arranca, não vai a lado nenhum porque tem rombos, e entra água e muita lama que enferruja algumas peças e causa curto-circuitos constantes.Esta situação cria um ambiente favorável a bichos parasitas de toda a espécie.Todos sabem o que deve ser efeito. Retirar a água, tapar os rombos, eliminar a lama, mudar algumas peças. Temos mão-de-obra,no interior e exterior do país, porque não é aproveitada? Querem viajar em aviões de luxo, à boleia ou clandestinos, visitar os “ Dubais” do mundo e vêem falar de barco à deriva? Vão trabalhar malandros. Outra vez a mesma frase? Esta gente faz parte de um grupo no Whatsup, concluo.

 As pessoas que me dizem essas coisas são crentes, têm fé que alimenta as suas esperanças e acalma suas angústias. Só por essa razão faço aqui esse relato. Perdoem-me, deveres de ofício. Eu, depois de ouvir tudo isso,pergunto:não será que somos nós, pessoas nascidas e vivendo nesta terra encantada e espalhados pelo mundo, é que estamos à deriva? No barco ou fora do barco, com anúncio ou sem anúncio?Se este for o caso, é caso para dizer,Safar é Viver!

Rafael Branco

13 Comments

13 Comments

  1. Guilherme Posser da

    10 de Maio de 2023 at 13:59

    Excelente artigo!!
    Temos que concordar , com o que dizem os nossos humildes cidadãos na tenda do vinho de palma: o barco está encalhado no ponto de partida. Realmente nós, que até sabemos como desencalhá-lo, nós os comandantes e sub-comandantes convém-nos que ele continue encalhado nas aguas turvas prenhe de ódio, invela, intolerancia, ganancia, narcisismos , intolerancia …., de morte, porque à deriva poderá chegar à um bom porto o que não interessa à muitos. Mas acredito que tempo virá em que o mar empurrará o barco à um bom porto e que os maus comandantes e subcomandantes,serão condenados a abandonar o navio e este rumará para horizontes onde reina a paz, a harmonia e o progresso para todos.

    • Margarida lopes

      16 de Maio de 2023 at 7:36

      Ô Senhor Rafael Branco, por esmola, pouoe-nos, porque jà temos sofrimento que sobra, e uma parte deste sofrimento você é também responsàvel. Você é muito descarado, é um cinico CARA DE PAU que nao tem moral nenhuma e quer vir aqui dar aos outros da mesma raça que o senhor, oportunista, abusado e no PODER como você outrora. Mas aldrabao e sacana que você existe? você que nao so aproveitou dos seus diversos cargos para enriquecer (encher o seu papo )como por cima foi des-honesto e ruim destabelizando muitas familias, tomando mulheres casadas etc. Vagabundo, homem sem moral feche a sua boca e pàre de escrever disparate.

    • Margarida lopes

      16 de Maio de 2023 at 7:45

      …GUILHERMINHO Posser é outro aldrabao que vem dar apoio ao seu socio RB.
      Senhor Posser, você mesmo é o advogado de defesa das sociedades do maior criminoso de STP, que é a pessoa do Patrice Trovoada, e a sua propria filha Célia faz parte do governo e das pessoas mais proximas do PT. Gente sem moral é que vem se manifestar para criticar aquele que tem a mesma conduta que eles…todos corruptos, STP estaria melhor se vocês nao existissem.

    • Paulo Canela

      16 de Maio de 2023 at 9:16

      Quando um líder nao tem caracter, integridade e com falta de escrúpulos, tens aí o Sr Dr Guilherme Posser… Só soube deste homen em 2019…

    • paulo canela

      23 de Maio de 2023 at 5:00

      tu devias estar preso com o Branco!

  2. WXYZ

    10 de Maio de 2023 at 18:04

    Autodistruição duma pequena povoação dum pequeno arquipelago, (pelo visto), devido excesso de consanguinidade.

  3. Vanplega

    10 de Maio de 2023 at 18:46

    Voçê esteve là, vàrios anos.

    Ocupou vàrios cargo de Ministro e chegou à 1 Ministro.

    O que fizeste? Nada, nada, que rumo Sao Tome e Principe, tomou? Estamos perdido sem rumo de casa.

    Eu ainda mi lembro da tua entrevista Dada ao Jornal do Norte de Portugal, em 2001, quando era Ministro de infrastrutura e do Petroleo.

    Mentiroso, aldrabāo, ladrāo

  4. Bartolomeu

    10 de Maio de 2023 at 20:02

    O man Rafa anda a chorar muito. Oh pá, tu não tens dignidade nenhuma para criticar quem quer que seja. Se o barco não anda ou está a deriva, tu também foste o piloto deste barco diversas vezes…Quando criaste o tal PEPSI, compraste muitas consciências para dividir o MLSTP e o país por causa dos teus interesses inconfessáveis, foste Primeiro-ministro,ministro de educação, negócio estrangeiro, de entre outros altos cargos, o teu legado foi roubo e mais roubo, quem não te conhece é que te compra. Também ouvi isto sobre ti, nas mesas de bisca e tenda de vinho da palma…

  5. Qualquer Coisa Lá.

    11 de Maio de 2023 at 8:33

    Eu acho que este senhor anda perdido. Se não vejamos; Hoje, escreve artigos e em todos eles faz se de santo. Em nenhum dos artigos que já escrevera não se vê plasmado que se hoje S.Tomé e Príncipe está do jeito que está, ele também contribui. Pois já ocupou vários cargos, chegou até a ser 1º Ministro. Roubou, delapidou, como disse o outro, “mudou a vida dos camaradas” do seu partido. Roubou tanto que hoje na nossa capital 40% dos edifícios são seus. Este individuo anda a atirar areia nos olhos das pessoas fazendo-se de santo. Que tenda de Vinho da palma qual quê?! A última vez que lhe vi na tenda de vinho da palma foi na roça Benfica quando o seu pepsinho estava a correr atras de votos. Se eu fosse o senhor pensaria noutra coisa, do que estar cá a escrever porcarias. Tenho dito.

  6. Celestino Cardoso

    11 de Maio de 2023 at 10:00

    Excelente artigo, e realço muito esta frase.”…Andar a deriva, sem afundar completamente, pode ser um sucesso…” Como cidadão Saotomense, tenho sentido já algum tempo este espírito ou mesmo tendência, em muitos que conduzem e já conduziram os destinos da nossa nação! O que é muito triste e lamentável.

  7. Margarida lopes

    16 de Maio de 2023 at 7:36

    Ô Senhor Rafael Branco, por esmola, pouoe-nos, porque jà temos sofrimento que sobra, e uma parte deste sofrimento você é também responsàvel. Você é muito descarado, é um cinico CARA DE PAU que nao tem moral nenhuma e quer vir aqui dar aos outros da mesma raça que o senhor, oportunista, abusado e no PODER como você outrora. Mas aldrabao e sacana que você existe? você que nao so aproveitou dos seus diversos cargos para enriquecer (encher o seu papo )como por cima foi des-honesto e ruim destabelizando muitas familias, tomando mulheres casadas etc. Vagabundo, homem sem moral feche a sua boca e pàre de escrever disparate.

  8. Paulo Canela

    16 de Maio de 2023 at 9:13

    Os negros sao inúteis como raca… amaldicoados… olha o que se ve em todos os países dos pretos…. Até destruiram a África do Sul desde que tomaram posse… autenticos selvagens!

  9. Paulo Canela

    16 de Maio de 2023 at 10:10

    Ouve lá, ó Ratinho Branco, cala a boca , pega em algúm fundo que desviaste enquanto no poder e investe em algo para a populacao, faz algo de algum sacrifio pessoal… algo que mais do que tens feito… nao tens vergonha! Visitei Sao Tomé em 2016 e fiquei a conhecer a realidade triste dessa republica de banana…

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