Empunhando cartazes, alguns dos quais retratando o massacre ocorrido no quartel do exército a 25 de novembro de 2022, o grupo de cidadãos percorreu diversas ruas da cidade de São Tomé clamando justiça.
“Quem tirou a vida de outra pessoa deve responder por isso. Tanto o autor material quanto o autor intelectual ou moral precisam ser responsabilizados. Para isso, precisamos saber onde está o relatório” – questionou Bernardo Pinto.
Para Sebastião Santos “Não é difícil identificar de onde veio a ordem para a matança das pessoas“.
Entre os manifestantes, estavam os familiares dos quatro civis torturados até à morte, que rejeitam categoricamente a versão oficial de uma tentativa de golpe de estado como justificação para o sucedido.
“Todos foram chamados em casa. Isac foi chamado em casa e me disse: ‘Mamã, eu vou sair e volto já. De manhã, ouvimos que ele morreu no quartel. Como é possível, se ele estava em casa? Chamaram e levaram-no” – desabafou Eulália Glória, mãe de ISAC.
“Estou com Armando há muito tempo, ele pertence ao batalhão de búfalo. Quando eles dão um golpe de estado, eu sei como ele sai de casa. Naquele dia, ele não saiu para um golpe de estado ” – disse, Maísa Silva, esposa de Armando.
“Cada um foi levado a partir do seu ponto de referência. Lucas foi capturado no Bairro do Hospital. Há algo inventado para confundir a população. Nenhum homem é louco o suficiente para, de chinelos e sem arma, assaltar um quartel” – vincou Osvaldo Afonso pai de Isac.
Para Sebastião Santos, antigo deputado do PCD “não houve nenhuma tentativa de golpe de estado, foi uma armação, algo realmente preparado, como disse o brigadeiro e então comandante Olinto Paquete. É preciso que o povo santomense acorde.”
A marcha percorreu as principais ruas da capital santomense, acompanhada por um forte contingente policial.
José Bouças
wilson bonaparte
2 de Dezembro de 2024 at 14:50
O massacre ocorrido no quartel do exército em 25 de novembro de 2022 é uma ferida aberta na história de São Tomé e Príncipe. A ausência de responsabilização e a falta de transparência no tratamento deste episódio representam um grave atentado à justiça e aos princípios de um Estado de Direito.
Se as alegações de que o Chefe de Estado-Maior e o Presidente da República foram os autores intelectuais deste ato forem fundadas, a gravidade da situação é ainda mais profunda. Estas figuras, que deveriam ser guardiãs da segurança, da ordem e da justiça, não podem estar acima da lei nem isentas de escrutínio. Qualquer envolvimento direto ou indireto nesse crime é uma traição ao juramento que fizeram de proteger a vida e os direitos dos cidadãos.
A pergunta que ecoa entre as vozes da manifestação — “Onde está o relatório?” — revela um sistema que, deliberadamente ou não, falha em trazer clareza e justiça. Esta omissão é um insulto às vítimas, às suas famílias e a todos os cidadãos que acreditam na integridade das instituições.
Responsabilizar os autores materiais e intelectuais deste crime é mais do que uma exigência moral; é uma obrigação de qualquer governo comprometido com os direitos humanos. Sem justiça, o massacre não será apenas uma tragédia do passado, mas um precedente perigoso para o futuro.
Chegou o momento de as instituições de São Tomé e Príncipe mostrarem que são dignas de confiança, abrindo caminho para uma investigação independente e responsabilizando, sem exceções, todos os envolvidos. A justiça para as vítimas é essencial para restaurar a confiança da população e impedir que tragédias semelhantes voltem a ocorrer.