Opinião

As patentes versus realidade sócio económica de STP

Eusébio Pinto, licencdiado em economia e radicado em Angola, t0ma palavra em relação a questão da actualidade a promoção de novos oficiais das forças armadas.

As Patentes vs a Realidade Sócio-Económica de São Tomé e Príncipe!

O acto de promoção de elementos das forças armadas não deixa de constituir um incentivo para aqueles homens que, por opção ou por inerência de circunstâncias da vida, dedicaram grande parte de  suas vidas ao serviço da instituição castrense. É óbvio que este acto estimula o ego e revitaliza a alma de qualquer militar.

A posição do governo em realizar cerimónia desta natureza deixa transparecer que este não anda distraído em relação aos membros desta franja social, que tem como principal missão a defesa da pátria e a garantia da integridade nacional. Embora o gesto governamental coincida com o fim do mandato em curso, o que poderá criar interpretações de vária ordem a nível das diferentes sensibilidades da sociedade santomense, se tivermos em conta que novas eleições se avizinham, fica patente a preocupação das estruturas estatais em promoverem um ambiente de estabilidade no seio das forças armadas.

Fui militar durante dois anos e dez meses, onde pertenci o primeiro e talvez o único grupo de estudantes do liceu que foram seleccionados para o curso de sargentos milicianos no ano de 1988 e sei qual a satisfação que invade o estado de espírito de qualquer militar quando é promovido. Conheço e convivi, enquanto militar, com a maioria dos oficiais ora promovidos e pessoalmente reconheço em grande parte deles capacidade e talento como bons comandantes das tropas. Ao agora Major Jordão de Sousa, um dos meus instrutores enquanto formando do curso de sargento miliciano e ao meu ex-colega de trincheira o Capitão Leopoldo Fernandes, desejo-lhes felicidades e sucessos pelas novas categorias militares que ostentam.

Entretanto, enquanto cidadão e com direito de opinião, causa-me alguma preocupação e estranheza o facto de estar na forja, como confidenciou publicamente a Sra. Ministra da Defesa, um decreto governamental que cria mais duas patentes, a saber as de coronel e de brigadeiro. Penso que para a realidade do nosso país e pelo número reduzido de efectivos que nos últimos anos constituem as nossas forças armadas, talvez não seja conveniente a criação de mais patentes de categorias superiores às actuais.

Pois torna-se necessário sim, que o governo crie condições mais dignas para os militares, no quadro das hierarquias existentes, garantindo-lhes melhores salários, bem como regalias em conformidade com as patentes que ostentam e aos cargos que exercem e proporcionar aos que por força da idade são conduzidos à reforma, alguma dignidade na forma de continuarem a viver, em vez de introduzir patentes que, do meu ponto de vista, se afiguram como desnecessárias para o contexto nacional.

Para um país que do ponto de vista macroeconómico depende essencialmente de ajudas externas, onde o nível de vida da população, na generalidade, situa-se abaixo do nível da pobreza (segundo indicadores da ONU, pessoas que vivem com menos de USD 1.00/dia), sem perspectivas para o retorno a senda do crescimento, como reflecte o Relatório Balanço do FMI sobre a situação macroeconómica de São Tomé e Príncipe, seria pertinente que quem governa soubesse definir políticas sociais mais ajustadas à realidade, do que tentarem mergulhar-se em meras ilusões, que em vez de criar boas perspectivas a nível do bem-estar dos cidadãos, poderão contribuir para agudizar ainda mais os graves problemas sociais e económicos que o nosso país enfrenta.

Que sejam, sempre que a situação assim obrigar, promovidos militares, polícias e outras forças paramilitares, assim como quaisquer outros tipos de servidores públicos, mas que também seja dada atenção especial à questões essenciais e básicas para desenvolvimento de qualquer sociedade: a saúde e educação! Não basta querer agradar aos militares, enquanto a maioria da população (incluindo os próprios militares) continuem a clamar por energia e água potável!

Não justifica a introdução de novas patentes para os militares, quando muitos dos quadros que são formados no estrangeiro e regressam ao país com o intuito de darem o seu contributo a nação são confrontados com gritantes situações de falta de empregos e de subempregos, sendo quase que forçados a se refugiarem num partido político qualquer, mesmo sem vocação para fazer política, como alternativa para que um dia possam ver minimizados seus problemas básicos de sobrevivência!

Não constitui prioridade as patentes anunciadas pela ministra de tutela, quando o governo não consegue promover o desporto para níveis aceitáveis, ao ponto de São Tomé e Príncipe continuar a ser sempre o “bombo da festa” quando toma parte em qualquer competição internacional! Para quê mais patentes, se o governo não tem sido capaz de implementar políticas conducentes a preservação dos principais aspectos folclóricos  que caracterizam a cultura nacional, se a cultura constitui um dos principais factores de união de qualquer povo?

Apesar de, como indica o recente relatório balanço do FMI sobre a situação macroeconómica do nosso país, a inflação ter diminuído gradualmente com uma quebra homóloga de um pico de 37% em Julho de 2009 para 13% em Abril de 2010, o que constitui um bom indicador a nível macroeconómico, é necessário que o governo promova políticas económicas sérias e ajustadas ao contexto nacional e regional, de formas a procurar reduzir a taxa de desemprego, que segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas rondaram os 23,5% em 2006 (dados mais recentes aparentemente indisponíveis).

A implementação de políticas de incentivo ao fomento agrícola, não só para fins de consumo, mas também para exportação, deve ser visto como prioridade para a promoção do auto-emprego, uma vez que o nosso país tem abundância em terras férteis para a agricultura.

O velho propósito do Estado santomense em transformar São Tomé e Príncipe numa zona privilegiada de prestação de serviços no Golfo da Guiné, deve ser considerada sem quaisquer reservas, independentemente da ideologia do partido que esteja a governar. Embora muito se tenha falado sobre a possibilidade de exploração do petróleo em São Tomé e Príncipe, é importante que a classe governante não “durma a sombra da bananeira”, já que a injecção de receitas provenientes da exploração do “ouro negro”  para reflectir no bem-estar do cidadão santomense ainda constitui uma utopia.

Apesar de notícias tristes relacionadas com níveis elevados de corrupção que se vai ouvindo sobre a classe governante do nosso país, não devemos perder de vista que São Tomé e Príncipe tem fortes potencialidades em termos de recursos humanos para que novos caminhos rumo ao desenvolvimento sejam encontrados. Para tal basta que os governantes tenham como inspiração o país do sol nascente, o Japão.

Luanda, aos 26 de Maio de 2010

Eusébio Pinto

Licenciado em Economia

19 Comments

19 Comments

  1. Afonso Bandeira

    28 de Maio de 2010 at 18:15

    Eu aprecio bastante as suas ideias e a apresentação organizada delas. Existem dezenas de santomenses assim como o senhor, bons escritores. Espero que não mude o seu caracter. Pode ser que um dia haja condições de o Eusébio poder voltar a São Tomé e ajudar na organização das coisas. Felicito tambem o Abel Veiga.
    Sou grato pela unica fonte de informação desponibilizada diariamente sobre a nossa terra.
    Diariamente leio tanto Telanon como o The Times e a Google News.

    Afonso Bandeira

    • Mario Calado

      23 de Junho de 2010 at 15:41

      Não confuda ideias com crítica. Soluções ele não tem nenhumas. Sabia que é bastante fácil estar à milhares de kms, no gabinete e dar mal do outro. Isso é puro oportunismo e nada mais.

  2. gato selvagem

    29 de Maio de 2010 at 8:06

    acho bem, uma grande observação deste quadro na diaspora…. São Tome precisa de gente nova e com novas perspectivas fuiii

    • Mario Calado

      23 de Junho de 2010 at 15:42

      Você queria dizer novos tipos de ladrões?

  3. cesario verde segundo

    29 de Maio de 2010 at 11:53

    excelente artigo este. mas é pena que nas suas salas e com grandes televisores modernos e computadores super bons,quando entrarem na internet e se porventura, deram uma olhadela neste artigo, esses senhores apenas desprezarao o seu artigo, dando gargalhadas na sua sala e continuarao a reinar naquele mísero imperio com selvagem regencia.

  4. cesario verde segundo

    29 de Maio de 2010 at 11:53

    derem” uma olhadela- correcao

  5. Zovirax

    29 de Maio de 2010 at 20:32

    Caro Dr Eusébio Pinto,
    Quero agradecer-lhe por este artigo bastante elucidativo, contendo alguns ensinamentos que a classe política de STP devia observar. Quando fala das patentes militares, entende-se perfeitamente que os santomenses gostam de viver de aparência. Querem ter um BMW e viverem numa barraca de chapas. STP é um país insular com muitas e muitas debilidades. O seu artigo elenca algumas destas debilidades e indica algumas sugestões basilares que visam a sua superação. A classe política de STP deveria aproveitar este artigo para reformular o programa do futuro governo. Bom artigo……………………………………..

  6. Sabemos sempre o que os outros não sabem

    30 de Maio de 2010 at 10:40

    Meu caro colega Eusébio, não posso deixar de felicitá-lo pelo brilhante artigo de opinião que escreveste.

    Baste recordar o que dizia aquele que foi o nosso professor de Física Sr. Rogério, “vocês nasceram na decada de 70 serão os condenados nesta terra, mas não percam de vista que no futuro muito próximo a condução deste país estará nas vossas mãos”.Eram palavras sábias do Rogerio isto tudo porque quando terminamos não haviam mais as bolsas gratuitas para filhos dos pobres e demais.

    No entanto todos da nossa turma à excessão de 4 ou 6, não puderam de todo fazer uma formação superior, e fizémo-las quase todos as nossas custas sem subsídios do estado, excluindo na altura os nossos colegas filhos de Directores, Embaixador e Ministro que eram cerca de 7.

    No entanto esta ressalva é apenas para reconfirmar o que dizia Rogério e que veio a se constatar como verdade, a nossa geração já governa grandes sectores neste país, no entanto sentem-se comprometidos com aqueles que nunca se julgam ultrapassados e têm dificuldades de aceita inovações, por isso o pais ainva vai estando neste patamar indesejável.

    Dos nossos colegas estão cerca de 17 deles em cargos cimeiros na Administração de sectores publicos e privados. Outros como tu estão na diáspora, mas todos com sucessos na realização profissional. Isto demonstra que a nossa instrução foi muito boa com sucessos de realização e integração a volta de 83%.

    Se te lembrares nós sempre tivemos convicções muito bem defenidas acerca do ponto de vista de governação do país e a nossa actuação até hoje é resultado disto.

    Resumindo tu és um dos frutos da turma FÉ, e existem espalhados por aí mais cerca de 41 como tu, fomos todos instruídos com muita lizura, honestidade, coerência e acima de tudo sentido de humanidade e convivência com o proximo.

    Caro colega, continue contribuindo mesmo a distancia com o saber sempre que possivel, pois não tenhamos duvidas que poucos hão de absorver, mas vamos mudando a mentalidade e chamando a razão aos nossos conterraneos.

    A percepção mais clara que podes ter disto é veres o numero e o tipo de comentários que são feitos no Tela Non as noticias de politica e corrupção, mas raramente são feitas contribuições válidas de saber para chamar a razão aos politicos e a sociedade em si, com contribuições com as que fizeste.

    Bem haja STP, e nós os da geração 70 um dias ainda mudaremos este país.

    Felicitações a todos colegas da turma FE do Liceu Nacional dos anos 1987-1989.

  7. Hélcio Viegas

    30 de Maio de 2010 at 10:53

    Inefávelmente confesso que este Autor, Sr. Eusébio, é um conhecedor nato das realidades e causas nacionais. Fico impressionado, com a forma lógica e sequencial como relata os factos, indica as trilhas e sugere soluções sócio-económicas, Os nossos governantes não se podem queixar de falta de assessorias.O Sr. Eusébio, não se limitou a criticar e isto faz deste artigo um dos mais ricos que o tela nom publicou. Obrigado -Hélcio

    • Mario Calado

      23 de Junho de 2010 at 15:39

      Vês-se que você está iludido. Um conhecedor apresenta soluções. Ele só critica. É o novo brinquedo dele.

  8. CL. Gafanhoto

    31 de Maio de 2010 at 10:04

    Sr dt Eusebi felicito em 1º lugar o seu comentario, o sr n somntecitic como da licoes a estes corroptos que são chamados d governntesma elsn ouvem irmãoesã obccados .

  9. pinto

    31 de Maio de 2010 at 13:00

    um artigo com cabeca tronco e menbros. oxala eusebio consigam fazer uma meditacao seria , felicidades e parabens

  10. Nadiezda

    31 de Maio de 2010 at 16:42

    Sr.Eusébio,muito obrigado por realçar esses pontos que muitas vezes são abafados pelos nossos próprios irmãos de STP.O nosso Governo precisa de pessoas como senhor,pessoa de bom senço e que pensa no bem estar dos outros.Tenho 24 anos de idade mas de que conheço por gente STP está ficando cada vez pior embora com algumas melhorias que ainda são abafadas pelas más acções dos nossos governantes.

  11. Cabeça

    31 de Maio de 2010 at 16:49

    Caro Eusebio,
    Tudo o que dizes aí não passa de treta. Vem ao a S.Tomé dar a tua contribuição e depois podes fazr o tal comentário. O que é k já fizeste para S.Tomé? Vem aguentar a morna e depois aí sim teras o direito de falar.

  12. Chicodesperto

    31 de Maio de 2010 at 22:39

    Já que o economista Eusébio está num país em que a filha do presidente compra tudo e todos até os ex-colonizador. Seria interessante e aguardo com serenidade que o meu compatriota Eusébio faça um comentário sobre situação socioeconómica e politica de Angola
    Para finalizar preocupa-me muito a frase do colega do liceu do Eusébio Pinto que da pelo nome de “Sabemos sempre o que os outros não sabem” quando diz e cito ” Bem haja STP, e nós os da geração 70 um dias ainda mudaremos este país.” Ora pensei que esse sectarismo fosse coisa do passado e já estivesse enterrado.
    Ao contrário deste senhor considero que o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe ou mudança para melhor não depende apenas da uma geração seja ele 60 70 ou 80. Depende do concurso de todos os Saotomenses sem exclusão independentemente da sua dimensão social económica política religiosa etc.

  13. Voz do povo

    2 de Junho de 2010 at 6:29

    Caro Eusebio,

    Quanto a criacao de novos patentes a que a Sr. ministra propoe eh tudo fruto politica de populismo k se vem adoptando em STP a varios anos. Ela por n ser da area militar, simplesmente nao entende disso. O facto de ele tem conhecimentos em direito nao implica k ela deva ocupar o tal cargo. Podia-se muito bem, caso ela tivesse alguma experiencia na vida militar. De certeza ao denfender essa posicao, muitos poderao vir traz exemplos de outros paizes caso da espanha onde temos uma senhor de menos de 35 anos como ministra da defesa. Em espanha, os dirigentes estao sempre a ler, sempre actulizados com novas realidades, estao sempre a reciclar o conhecimento o que contrario dos nossos dirigents em STP com caso concreto a senhor ministra que esta so para criar rabuda e chovalhar isso nas quatros paredes. Isso sim ela sabe. Voz do Povo! Fui……………

    • pinto

      10 de Junho de 2010 at 20:26

      a CARME CHACON TEM 39 ANOS MEU CARO

  14. Elba Martins

    3 de Junho de 2010 at 15:51

    Meu caro colega e companheiro de luta.
    Acuso a recepção do seu artigo, via Tela Non.
    Da análise feita do seu artigo pude concluir que não sustentabilidade económica para a atribuição das patentes, outrossim, nem sãoa prioridade de qualquer país nas condições que vivemos. No estado do indice do desenvolvimeto(IDH)de São Tomé e Principe, é pouco provavel que isso venha a acontecer. Mas como somos quase como a Guiné Bissau, que tem força aerea, sem aviões, nem avionetas, haver vamos.
    É muito dificil satisfazer os varios interesses:
    O politico
    O Economico e o da sociedade. Se calhar não fazem contas, veja só um exemplo.
    Um militar fardado com a sua patente tem:
    Boina, patente, farda, cinto, colde, arma, botas, meias e mais. Quanto custa?
    Não sou contra as promoções, acho que deviam ser todos promovidos. Em primeiro lugar temos que experimentar o crescimento económico, para atingirmos em seguida o desenvolvimento económico.
    São opções, ou seja o problema de escolhas em económia, quem governa deve optar mais militares ou mais escolas e melhor ensino, mais leite e pão ou munições e carros blindados.
    Atenciosamente.

  15. Mario Calado

    23 de Junho de 2010 at 15:30

    O oportunismo e a falsidade orientam os teus comentários. Como diz o outro comentarista, o que você diz sobre o governo santomense não tem coragem de dizer sobre o governo angolano. Se disser você perde todos os clientes que tem e a tua empresa vai à falência. A vontade que demonstras em criticar tudo e todos dá a ideia que está a espera que lhe dêem um banho. Quer banho? Se você quer se mostrar como economista apresenta soluções para o desenvolvimento do país. Vai investir no país. Conquista o direito à critica.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top