Análise

As Estrelas da Nossa Praça!

Por Eusébio Pinto, emigrante em Angola.

As Estrelas da Nossa Praça!

O 11 de Junho de 2010 ficará marcado na história da humanidade como o dia do “pontapé de saída” do primeiro campeonato do mundo de futebol realizado no continente berço da humanidade. E para cimentar ainda mais a marca de África neste torneio, o primeiro golo acabou por ser marcado justamente por um africano, o jogador de camisola 8 da selecção anfitriã. Tshabalala, fruto de um contra-ataque rápido da equipa sul-africana e á ponta de lança, não desperdiçou a oportunidade que teve aos 54 minutos e 52 segundos da partida, colocando a bola no fundo das redes da baliza mexicana, para a explosão de alegria dos milhões de africanos, entre os presentes no palco do jogo e os de olhos postos em vários ecrãs de TV espalhados pelo mundo.

Em ocasiões como essa os lobbies ligados ao futebol á nível do mundo redobram-se em esforços para tomarem nota do desempenho dos protagonistas em campo, entre jogadores e treinadores que se destacam ao serviço das suas equipas, sendo que os passos seguintes consistem em “namoros” com vista a contratação das mais destacadas estrelas para os grandes campeonatos de futebol, onde os principais clubes das ligas europeias acabam por encabeçar a lista de contratantes. Na verdade, movimentações dessa natureza acontecem com normalidade no mundo do desporto sempre que hajam quaisquer tipos de competições em curso, não sendo específicas dos campeonatos do mundo.

Olhando para o nosso São Tomé e Príncipe, notamos que infelizmente o cenário se difere do que acima faço menção, porque movimentações para contratação de estrelas, acabam não sendo das ligadas ao desporto, mas sim para as da política.

A coisa torna-se mais notória em alturas de pré-campanhas para qualquer corrida eleitoral, onde as estrelas recém-contratadas aparecem como protagonistas das suas novas  jóias da política, deixando claramente antever que trocaram de camisola, não a troco de milhões de unidades monetárias como acontece no desporto, mas  por falta de convicção pessoal nas suas opções políticas.

Foi assim em 1990 com a abertura do país ao sistema político pluralista, em que rapidamente se viu algumas estrelas da política de então confirmarem as suas posições nos novos partidos políticos emergentes, deixando para trás o tradicional MLSTP, que nos 15 anos anteriores teve o monopólio das jogadas políticas do país. Naquela altura, as contratações mais sonantes eram feitas pelo PCD-GR, que rapidamente justificou os reforços adquiridos, conquistando a vitória nas primeiras eleições multipartidárias que a história registou em São Tomé e Príncipe.

O novo ritmo continuava a se impor, o que mais tarde se veio facilmente a constatar com o surgimento do partido ADI, onde mais uma vez estrelas da política não perderam tempo em abandonar as suas anteriores fileiras, para darem a cara como novas aquisições do novo partido.

O surgimento do MDFM como partido político também não fugiu a regra em termos de movimentações das estrelas da política. E para bem das tais estrelas, a coisa foi ganhando corpo até aos dias de hoje, já que muito recentemente o Tela Nón  publicou uma notícia que claramente deixou transparecer para os seus leitores (pelo menos no meu entendimento) o surgimento de mais uma novidade em termos de estrela que trocou de camisola e aparece como reforço de peso da primeira linha de uma outra família partidária.

Vendo bem a coisa, essas trocas de camisolas partidárias, até parecem não constituir algum caso inédito na história da política, porque situações semelhantes acontecem em várias partes do mundo, talvez com a única diferença de não serem tão frequentes como têm sido em São Tomé e Príncipe.

A questão que se coloca para o caso, do meu ponto de vista, é:

– Que mais valia essas trocas de militâncias partidárias de alguns políticos acabam por trazer para a sociedade santomense?

Independentemente das respostas que qualquer leitor pretender dar a esta questão, considerando o respeito pela diferença de opinião, a minha, pelo andar da carruagem da situação socioeconómica do nosso país ao longo dos últimos 20 anos, é muito simples e prática:

– Nenhuma.

O que acontece sim, e porque a história recente já demonstrou, é  a realização pessoal das tais estrelas, que acabam por garantir os seus “tachos”, tornando-se directores, ministros, embaixadores, deputados, presidente da república, entre outros cargos do aparelho do Estado.

Para o povo que elege os políticos, resta a consolação de poder  tomar o “banho” nos períodos das campanhas eleitorais e logo a seguir, remeter-se a habitual travessia do deserto da pobreza e da miséria, aliviando a situação com o “leve-leve”, que serve de resposta para a justificação do modus vivendi.

Por coincidência de calendários, o campeonato do mundo de futebol que África tem o privilégio de acolher pela primeira vez, decorre numa altura em que as movimentações dos partidos políticos santomenses se fazem sentir no terreno com objectivo de procurarem conquistar posições cimeiras nas eleições que se avizinham. Estou certo de que novas estrelas de futebol irão despontar com a “South Africa 2010” para o bem do futebol mundial. Não me causará espanto o surgimento de novas estrelas da política em São Tomé e Príncipe durante os períodos de campanhas eleitorais e depois das eleições de 2010 para a vergonha da nossa classe política!

Haja coração…!

Luanda, aos 11 de Junho de 2010

Eusébio Pinto

Licenciado em Economia

12 Comments

12 Comments

  1. Stevan Roger

    14 de Junho de 2010 at 11:58

    Mais triste é este facto: a unica forma de se se tornar uma estrela em STP é pela politica.

  2. cesario verde segundo

    14 de Junho de 2010 at 12:50

    excelente crónica. e quem dera que muitos pudessem escrever tao bem como tu caro amigo. pena é que apesar desses salubres esforcos, nada muda.

  3. lôçôô, lôçôô

    14 de Junho de 2010 at 13:39

    Linda escrita,mais quando associares a eles tal como Levy a linguagem vai mudar.
    Vai ser: 1º eu
    2º eu
    3º eu
    4º eu…
    e povo vai chupar no dedo. O Levy andava cá em Portugal enquanto tirava o seu lindo curso de Direito a chamar corrupto aos politicos de STP e agora… Já fala lingua deles.. safar, safar, safar…. viva STP

  4. Zozé Lové

    14 de Junho de 2010 at 17:39

    Olha meus caros leitores, sabiam que os personagem da politica São-Tomense, são todas comparadas a do Pais dos Brinquedos. Se tivermos a ver o desenho animado, “Nodi” mesmo com fantasias ele resolve todos os problemas do pais dos brinquedos, esse é parecido com o Primeiro Ministro. Veja se o nosso presidente não parece Sr. Sempre em Pé, a nossa ministra de Plano e Finanças não por exemplo, muito parecida com a boneca Dina. Acho que estamos mesmo no País dos Brinquedos.

  5. António Veiga Costa

    14 de Junho de 2010 at 20:05

    Eusebio Pinto,

    Uma mente lúcida e inteligente como a sua, aliada a um espírito com senso de coletividade como o seu, certamente, poderia ser um grande lider nesse meu país. Poderia vir a ser uma diretriz a esse povo tão carente de bons valores a se espelharem. Parabéns jovem.

  6. Pinto

    15 de Junho de 2010 at 9:07

    Caro Eusebio
    Tens uma boa visao da realidade santomense
    e creio que nao e em vao que escreves os teus artigos e de ante-mao sao muito elucidativos e que pessoalmente gostaria que muitos que estao a frente das instituicoes em sao tome vissem como algo para que possam tirar ilacoes, refletir e de certa maneira meditar e quica seguir um pouco os teus “ensinamentos”. mas creio carissimo primo que estas a lutar contra a mare, mas nao desistas , como bom patriota faz a tua parte . um abraco e um bem haja.

  7. PATRICIO E FODIDO

    15 de Junho de 2010 at 15:36

    CONTINUA SO PRIMO, BOM PRINCIPIO.

  8. hugo Lima

    15 de Junho de 2010 at 17:00

    Meu irmão, se te posso chamar assim. Tudo isso constitui a verdade e é muito lindo a forma como expressaste o desenrolaste á história de santomense desde 1990 até ai. O que te posso dizer é toda essas estrelas que trocam de camisola é simplesmente por promessa de melhores cargos e consequentemente melhores salários e viagens, e melhores condições de vida. O mais triste disso tudo é que quando estamos ainda de fora temos um ideia de trabalhar para mostrar o que aprendemos na Faculdade a mostrar a competência a nível profissional, Quando estamos dentro da realidade Santomense esquecemos dos nossos princípios, e temos essa expressão «não sou eu que vou consertar isso» porque realmente com andar do tempo vês que aquilo não tem conserto, mesmo que queiras fazer não te deixam, em tua casa tua mãe diz, « é coisa do teu pai» mesmo com bons princípios perdes tudo.e começa a nascer a ganancia, ambição tudo eu tudo eu, se refilares és destituído do cargo, então ficas sem opção.É assim que funciona a realidade do nosso país.Os bons prof e honestos são postos de lado.Por acaso não faço parte ainda dessa comitiva, estou fora do país a dois anos mas sempre pude observar a situação de santomé e Príncipe. Tudo isso é muito triste é laméntavel. O pior ainda quando são destituído do cargo como de « Director ou Ministro» não querem mais trabalhar andam lá pra cima e pra baixo até surgir o projecto que andou a planear quando da saída do cargo.Espero ter respondido a tua pergunta, peço desculpa se falei algo que não devia. obrigado. Viva a Democracia

  9. Mario Calado

    17 de Junho de 2010 at 14:28

    Eusébio,

    Tu és lunático e mentiroso. Estás tão simplesmente a tentar criar uma imagem de menino bem educado e com bons princípios e valores morais. Isso é falsidade. Tu és empresário em Angola e sabes que tudo isso que tentas vender é falso. Angola é conhecido como o 2.º país mais corrupto do mundo. Como é que tu ganhas dinheiro nesse país? Como é que a tua empresa funciona? Sabemos bem como: Tu te associaste a um manda-chuva que corrompendo o sistema te atribui os clientes. Isso é corrupção pura. Pára de te bancares de ingénuo porque isso não cola. Tu és tão corrupto como todos os outros. Para de simplesmente criticar e até ofender. Isso é jornalismo da chicana e do maldizer. Pareces alguém que agora está bem de vida e decidiu fazer vida negra a todos quanto pensas que foram os responsáveis pela tua miséria durante a tua infância e adolescência. Tás com problemas de complexo de inferioridade. Vai te tratar. A mim não enganas porque eu sei como é que ganhas tua vida em Angola.Ok?

    • Eusébio Pinto

      25 de Junho de 2010 at 13:12

      Não é característico da minha parte responder aos comentários dos leitores, tanto para os que fazem elogios aos meus escritos, como para os que entendem criticar. Nem tão pouco parece ético responder a um desconhecido, ainda por cima quando este aparece sob pseudónimo em vez de nome próprio. Contudo, depois de alguma reflexão, decidi responder ao tal de Mário Calado, para dizer o seguinte:

      1. Sou cidadão santomense, nascido em São Tomé e por isso mesmo, ninguém me pode proibir de dar a minha opinião sobre a vida da nação, independentemente de eu estar ou não em São Tomé. O nosso país vive desde os finais da década de 90 um sistema de democracia em que qualquer cidadão tem a liberdade de opinião e eu, por uma questão de princípio, nunca aproveito dos artigos de opinião que tenho feito para o Tela Nón, para fazer ataques pessoais a ninguém. É só voltar a rever todos os artigos meus publicados até agora para constatar o que digo. Uso sempre o direito de opinião que me cabe como cidadão para reflectir sobre aquilo que, do meu ponto de vista, parece não estar em conformidade com os objectivos da nação. Garanto-lhe que continuarei a escrever para o Tela Nón, sempre que eu encontrar matéria que justifique.

      2. Sobre a questão de eu não escrever sobre Angola, deixa-me dizer-lhe que os problemas de Angola cabem aos Angolanos e os de São Tomé e Príncipe aos santomenses.

      3. Relativamente ao que diz sobre o facto de eu ser empresário, devo com satisfação dizer-lhe que sim. Sou empresário a custa do meu esforço pessoal e sem nunca ter beneficiado do erário público para esse fim. Não devo favores a ninguém para o que sou ou não deixo de ser. Sobre a minha empresa, deixa-me dizer-lhe que não preciso de corromper a ninguém como diz para que ela tenha clientes. Aconselho-lhe a investigar mais sobre o ramo de actividade da minha empresa, porque deve de certeza estar mal informado. E se reparar, nunca chamei de corrupto a ninguém em nenhum dos artigos que fiz para o Tela Nón.

      4. Sobre a minha infância e adolescência, em que diz que passei miséria, deixa-me dizer-lhe que não tenho vergonha de ser oriundo de uma família pobre. Apesar disso, nunca passei miséria como diz, porque nunca alguém me viu, em circunstância alguma, a pedir esmola na rua. Tive uma infância tranquila em Malange, Angola, com os meus pais. Passei a adolescência em São Tomé, não com a vida de lorde, mas nunca passei fome ou andei sujo e nem tão pouco com roupa rasgada. Pelo que diz, revela desconhecimento total sobre a minha pessoa.

      5. Quanto ao que diz que eu devia investir primeiro em São Tomé antes de criticar, deixa-me dizer-lhe que tenho sim investimento em São Tomé. Se quiser saber mais, aconselho-lhe a investigar, porque de certeza que falta-lhe muito mais dados para falar sobre mim.

      6. Relativamente ao que diz sobre eu querer aproveitar do Tela Nón para aparecer como economista, aconselho-lhe a ficar tranquilo, pois como economista, tenho outros canais muito mais relevantes para aparecer. Deixa-me informar-lhe ainda que muito recentemente participei como economista de um fórum internacional, onde tive a oportunidade de trocar impressões e ser fotografado com o Prof. Dr. Paul Krugman, Prémio Nobel de Economia 2008. Se quiser ver a foto, saia do anonimato e deixe o seu email a disposição, que eu o enviarei com muito gosto!

      Cumprimentos,
      Eusébio Pinto

  10. Catarina Matos

    18 de Junho de 2010 at 18:23

    É verdade. Esses gajos ficam ali na europa e em Angola só a dar mal de tudo e de todos. Nada está bem para o santomense. Se está tudo mal vem trabalhar em s. tomé para vermos o que você é capaz de fazer.

  11. Klincata sa ca tete

    30 de Junho de 2010 at 15:38

    Senhor Calado.
    Eu fui o colega deste senhor Eusébio Pinto, que hoje é Dr Eusebio.
    Digo-lhe com franqueza o individuo é sério e muito bom aluno. Andamos no Liceu juntos, ele morava o caminho que vai ao Pantufo, para sua informação o rapaz não vivia mal, acredita no que estou dizer. Embora ficasse no anonimato, ainda bem, deves ficar com a cara de vergonha. Hoje cada um tem a sua vida, eu não vivo em Sao Tome nem em Angola, mas o carate do homem não mudou. É melhor perguntar e investigar melhor. Se a Vida lhe tem corrido mal, Senhor Calado, eu peço à Deus que lhe abençõe, Deus é Grande, Deus é superior. Toda a gente em Angola não está metida em corrupção.
    O senhor nutre um ódio ao meu colega só visto. No Mundo gente como Calado há bué, mas ficam calados a ferver dentro delas. Meu caro Eusebio, perdoa o Calado, ele não é do nosso tempo, não brincou com pombos e nem conheceu o professor Esbrubal de história. recordar é viver.
    Força Eusébio

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