Sociedade

 Migrações africanas: uma oportunidade e não uma crise, afirma a Fundação Mo Ibrahim

A edição de 2019 do Fim de Semana da Governação da Fundação Mo Ibrahim salienta a necessidade urgente de dados robustos e de políticas bem fundamentadas para gerir a mobilidade e impulsionar o desenvolvimento económico

ABIDJAN, 8 de abril de 2019 – Dedicado à debates e discussões sobre migrações, juventude e emprego em África, o Fim de Semana da Governação da Fundação Mo Ibrahim de 2019, realizado em Abidjan de 5 a 7 de abril, chegou à conclusão de que a visão global sobre as migrações africanas precisa ser redefinida, dado que a existência de dados distorcidos resulta em políticas inadequadas. As migrações africanas apresentam uma oportunidade para o continente e para o mundo e, todavia, este tópico não só desencadeia atualmente uma reação emocional como é, de modo geral, incompreendido.

Motivadas pela necessidade de empregos e oportunidades económicas, as migrações africanas começam e terminam, maioritariamente, dentro do próprio continente. A sua chegada aos países de acolhimento é bem recebida, havendo inúmeros africanos que afirmam que gostariam de ter mais migrantes em seu país. O número de migrantes africanos é comparativamente reduzido, totalizando em 2017 apenas 14% da população total de migrantes (significativamente menor do que na Ásia, 41%, e na Europa, 24%).

Akinwumi Adesina, Mark Malloch-Brown, Graça Machel, Kojo Annan, Jane Ibrahim, Mo Ibrahim, Amina J. Mohammed, Ellen Johnson Sirleaf, H.E. Alassane Ouattara, Joaquim Chissano, Pedro Pires, Festus Mogae, Hifikepunye Pohamba, Mary Robinson, Cellou Dalein Diallo, Bono, Hailemariam Desalegn Boshe, Yves Leterme

Mo Ibrahim, Presidente da Fundação Mo Ibrahim, referiu: “A migração em África e no mundo tem a ver, em larga medida, com aspirações e não com desespero. Os africanos que deixam os seus países de origem procuram oportunidades de trabalho e contribuem para os seus países de acolhimento. Os governos africanos devem acolher os migrantes, assegurando que seus cidadãos, a maior riqueza do nosso continente, tenham a educação e as oportunidades económicas que merecem. Chegou o momento de agir antes que seja demasiado tarde para os nossos jovens.”

O Fórum Ibrahim reúne uma poderosa aliança de dirigentes africanos e mundiais para discutir uma questão crucial para o futuro do continente. O Fórum Ibrahim de 2019 centrou-se no mais recente relatório da Fundação, A juventude africana: empregos ou migração? Reconhecendo a importância dos jovens para o desenvolvimento de África, a Fundação acolheu mais uma vez este ano o “Now Generation Forum”, um encontro de jovens líderes de 35 países cujas recomendações contribuíram para o debate.

A primeira sessão do Fórum Ibrahim, Esclarecendo a realidade das migrações africanas,explorou perspetivas africanas sobre a migração, salientando que a mobilidade humana não é um fenómeno recente, mas sim um processo dinâmico que tem contribuído para o progresso ao longo de muitos séculos.

Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria, laureada do prémio Ibrahim de 2017 e presidente do Painel de Alto Nível sobre a Migração Internacional em África, afirmou: “Tem-se verificado recentemente um movimento transfronteiriço considerável de jovens africanos em busca de oportunidades. Esta situação criou apreensão e uma reação extremamente emocional… mas não existe crise migratória. A maioria das pessoas que atravessam as fronteiras fazem-no de forma legal; levam consigo capital, conhecimentos, competências e tecnologia; pagam impostos; e representam uma fatia substancial do PIB nos seus países de acolhimento.

Vera Songwe, secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África, realçou que a falta de oportunidades económicas está a motivar os africanos a deixar os seus países de origem: “A narrativa sobre a migração é essencialmente uma narrativa sobre governação e sobre o que os nossos dirigentes têm de fazer para garantir que os africanos não deixem o continente. 80% dos migrantes africanos dizem que deixam os seus países porque não têm emprego e porque os nossos países não possuem ambientes empresariais ou políticos favoráveis.”

Na segunda sessão, A explosão demográfica da juventude africana confrontada por um crescimento sem empregos, os participantes do painel discutiram os desafios atuais e futuros do mercado de trabalho africano, incluindo o potencial inexplorado da agricultura e as mudanças esperadas da Quarta Revolução Industrial.

Abdourahmane Cissé, ministro do Petróleo, da Energia e das Energias Renováveis da Costa do Marfim, descreveu os esforços do seu país para criar oportunidades económicas para os jovens. “A inovação é, sem dúvida, fundamental, mas, se queremos que as pessoas inovem, temos de assegurar que tenham acesso aos recursos necessários, em particular às tecnologias da informação. Na Costa do Marfim, temo-nos centrado na formação profissional e nas competências técnicas e investido em áreas que ajudam os estudantes a obter emprego, incluindo a criação de incentivos fiscais para que as empresas ofereçam estágios e contratem jovens recém-formados. Precisamos ter muitos mais jovens envolvidos na política para que possam participar nas discussões acerca do seu futuro.”

Hailemariam Desalegn Boshe, ex-primeiro-ministro da Etiópia, referiu: “Os nossos jovens sentem-se profundamente insatisfeitos. Sentem-se marginalizados económica, social e politicamente.  Os dirigentes africanos e a sociedade civil devem abordar estas questões com carácter de urgência. Atendamos à educação e às competências de que os nossos jovens efetivamente precisam, centrando-nos no que a situação económica atual em África requer.”

Akinwumi Adesina, presidente do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento, destacou a importância de envolver mais jovens africanos na agricultura: “Estamos sempre a falar do enorme potencial do nosso continente, mas o potencial não alimenta ninguém. Temos de aproveitar este grande património demográfico que possuímos, os nossos jovens, e transformá-lo num motor económico para nosso benefício e para benefício do resto do mundo. Temos de incentivar os jovens a que trabalhem na agricultura e criem um novo grupo de “agri-empreendedores.”

Natasha Kimani, chefe de programas na Well Told Story e participante do “Now Generation Forum”, defendeu uma nova perspetiva. “Temos de mudar a forma como falamos dos jovens e como falamos com os jovens. Em lugar de assumir que conhecemos as suas necessidades, porque não lhes perguntamos? Enquanto jovens, se queremos prosperar, temos de responsabilizar os nossos governos. Temos de pressionar os nossos governantes e fazer-lhes perguntas difíceis. Não tenham medo de desafiar a autoridade e reclamar o que merecem, porque quanto mais você pede, mais obtém!”

Durante a terceira sessão, O caminho em frente: reforçar a mobilidade, atualizar as competências e partilhar responsabilidades, os participantes do painel exploraram opções para reforçar a capacidade do continente para que tire o máximo partido do seu maior recurso, o seu capital humano, e garantir que ninguém seja excluído.

Arancha González, diretora executiva do Centro do Comércio Internacional, declarou: “Os países nos quais a mobilidade funciona são aqueles que geram a mobilidade, que não a confiam unicamente às forças do mercado… Temos de reconhecer que os migrantes são muitas vezes diferentes, em termos de religião, cultura, cor, preferência sexual, e estas diferenças também devem ser debatidas e geridas. A mobilidade introduz diversidade e a diversidade significa força.”

Festus Mogae, ex-presidente do Botsuana e laureado do Prémio Ibrahim de 2008, sublinhou a importância de uma liderança responsável na gestão da migração. “Os dirigentes e os governos africanos devem fazer esforços suplementares para explicar às suas populações que os migrantes trazem muitas vezes benefícios aos países para onde migram, corrigindo a perceção errada de que os migrantes se apropriam dos empregos locais.”

A encerrar a sessão, Oumar Seydi, diretor para África da Fundação Bill e Melinda Gates, realçou o desafio do crescimento demográfico. “A verdade incómoda da qual todos evitam falar é o planeamento familiar. Se analisarmos os dados, vemos que os países com maior crescimento demográfico são normalmente os mais pobres. Na nossa experiência, o investimento no planeamento familiar é um dos instrumentos mais eficazes de que os países dispõem para quebrar o ciclo de pobreza. Permite que as mulheres planeiem o seu futuro e realizem o seu potencial.”

O Fim de Semana da Governação da Fundação Mo Ibrahim abriu com uma Cerimónia de Liderança, em que foi celebrado o progresso em matéria de liderança e governação africanas. Ao fim do dia, foi prestada homenagem a Kofi Annan, refletindo sobre o legado que deixou e a inspiração que continua a ser. Foram partilhadas ideias e recordações, entre outros por: Mo Ibrahim, presidente da Fundação Mo Ibrahim, Sua Excelência Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Kojo Annan, Mark Malloch-Brown, ex-secretário-geral das Nações Unidas, e Bono.

Dirigindo-se a mais de 1200 convidados, Sua Excelência o presidente Alassane Ouattara referiu: “Kofi Annan foi mais do que um amigo da Costa do Marfim, foi um filho do nosso país e um irmão que partilhou o nosso sofrimento. O nome de Kofi Annan está inextricavelmente ligado ao restabelecimento da paz e da segurança no nosso país. Estava determinado em não deixar o nosso país afundar e não hesitou em utilizar plenamente a autoridade das Nações Unidas e os seus dotes excecionais de negociação. Esta nação tem uma dívida incalculável para com ele.”

O fim de semana terminou com um concerto musical repleto de estrelas no Palácio da Cultura, em que atuaram alguns dos maiores artistas costa-marfinenses e africanos, incluindo: Fally Ipupa, Youssou N’Dour, Serge Beynaud e Safarel Obiang. Dirigindo-se à multidão de jovens costa-marfinenses, Mo Ibrahim declarou: “Vocês são o futuro.”

O Fórum Ibrahim de 2019 discutiu as conclusões mais recentes do relatório do Fórum Ibrahim, incluindo:

  • Em 2017, os migrantes representaram apenas 3,4% da população global, um aumento marginal em relação aos 2,9% de 1990
  • Em 2017, os migrantes africanos corresponderam a 2,9% da população do continente
  • As migrações africanas representaram cerca de 14% da população migrante total, percentagem muito inferior às da Ásia e da Europa (41% e 24%) em 2017
  • Em 2017, os dez primeiros corredores bilaterais em África representaram menos do que o corredor bilateral único entre o México e os EUA
  • África acolhe um número crescente da população migrante global (+67% desde 2000)
  • O Ruanda é o terceiro país mais recetivo aos migrantes a nível mundial. O Egito é o menos acolhedor do continente
  • Mais de 70% dos migrantes da África Subsariana deslocam-se no interior do continente
  • A África do Sul recebe a maior percentagem de migrantes africanos, seguida pela Costa do Marfim e pelo Uganda
  • Quase 80% dos migrantes africanos são motivados pela esperança de melhores perspetivas económicas ou sociais
  • Os migrantes gastam aproximadamente 85% do seu rendimento no seu país de destino
  • A contribuição estimada dos migrantes para os PIB locais é de 19% na Costa do Marfim, 13% no Ruanda e 9% na África do Sul
  • A insegurança não é o principal fator nas migrações africanas: em 2017, refugiados representavam apenas cerca de 20% dos migrantes africanos
  • Quase 90% dos migrantes africanos permanecem no continente
  • A Itália, a Alemanha e a França, no seu conjunto, acolhem menos de 4% dos refugiados africanos
  • Cerca de 60% da população de África tem atualmente menos de 25 anos de idade e mais de um terço tem idades entre os 15 e os 34 anos
  • Entre 2019 e 2100, prevê-se que a população juvenil africana aumente 181,4%, enquanto a da Europa diminuirá 21,4% e a da Ásia 27,7%
  • Apenas metade dos jovens elegíveis para o ensino secundário inferior na África Subsariana está matriculada
  • A correspondência média entre a oferta do ensino e as competências necessárias às empresas é pior em África do que no resto do mundo
  • O desemprego é de longe considerado o problema mais grave pela juventude africana
  • No Egito, no Gana, em Marrocos, na Nigéria e na África do Sul, pelo menos 75% dos jovens pensam que os seus governos não se preocupam com as suas necessidades

Para mais informações, contacte Zainab Umar, umar.z@moibrahimfoundation.org,+44 (0) 207 535 5087 ou a equipa de assessoria de imprensa, mifmedia@portland-communications.com.

Notas aos editores:

Fim de Semana da Governação

O Fim de Semana da Governação é o evento emblemático da Fundação Mo Ibrahim, realizado anualmente numa cidade africana diferente.

O evento de três dias reúne prestigiados líderes políticos e empresariais africanos, representantes da sociedade civil, instituições multilaterais e regionais e importantes parceiros internacionais de África para debater questões de importância crucial para África.

O fim de semana começa com uma Cerimónia de Liderança, na qual celebramos este ano a vida de Kofi Annan. É então dedicado um dia inteiro ao Fórum Ibrahim, um fórum de debate de alto nível que aborda os desafios que África enfrenta e define prioridades de ação. O fim de semana encerra com um concerto público no qual participam alguns dos melhores artistas do continente.

Fonte – Fundação Mo Ibraim

1 Comment

1 Comment

  1. Fodé

    30 de Novembro de 2019 at 12:14

    Eu nasci na Guiné Bissau e vim pa Portugal com intuito de estudar mas, infelizmente não consegui por falta de meios financeiros fui obrigado a disarascar-me na obra pa ganhar primeiro o meu sustento e depois o meu estudo.
    Meu nome é Fodé Nanque peço-vos por favor que nos ajudem a realizar os nossos sonho de um dia ser formado

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