Sociedade

Comunicar e promover hábitos de alimentação saudável em São Tomé

Augusta Mota Só Borges

Mestre em Gestão, especialização em Marketing, pela Universidade de Évora

SOBRE…….COMUNICAR E PROMOVER HÁBITOS DE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL EM SÃO TOMÉ….

Foi desenvolvida uma investigação sob orientação das Prof.ª(s) Doutoras Marta Silvério e Leonor Vacas de Carvalho, da Universidade de Évora.

Falar de alimentação saudável é pertinente, principalmente numa época de pandemia global onde urge a necessidade de os consumidores serem mais conscientes e de adotarem comportamentos de consumo responsável.

O continente africano enfrenta vários desafios, um dos quais ao nível alimentar e agravado pela pandemia por Covid-19, onde alguns países apresentam índices de pobreza ainda muito elevados, o que obriga a população a sobreviver com menos de dois euros por dia. Ou seja, em condições praticamente impossíveis para conseguir usufruir de uma refeição equilibrada e para alcançar níveis adequados de bem-estar.

A investigação realizada procurou perceber quais as ações que seriam necessárias desenvolver para promover hábitos de alimentação saudável na população santomense.  O objetivo foi o de fazer o diagnóstico da situação e dos padrões alimentares das famílias e delinear uma estratégia de comunicação de marketing para ajudar a transformar e a impulsionar mudanças positivas comportamentais. Mudanças que apoiem a população a consumir alimentos menos nocivos à saúde, a reduzir o consumo excessivo de alimentos e bebidas com alto teor de álcool, açúcar, gorduras, sal e alimentos processados, entre outros.

Enquanto os hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercício físico contribuem na prevenção de muitas doenças, os referidos alimentos nocivos para a saúde, concorrem para o surgimento de doenças não transmissíveis, como vários tipos de cânceres, anemia, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e osteoporose, para mencionar apenas as principais causadoras da maioria de mortes antecipadas a nível mundial.

Em São Tomé e Príncipe, com o aumento da população, as diferenças sociais cada vez mais acentuadas e as influências do exterior, entre outros fatores, houve uma alteração paulatina no padrão alimentar, sendo essencial investir e estimular a população para a importância de fazerem escolhas alimentares saudáveis e melhorarem a sua qualidade de vida o que passa, entre outras ações a desenvolver, pela garantia de uma alimentação saudável a todas os estratos etários e sociais. Se na infância, as escolhas alimentares são determinadas pelos pais e encarregados de educação, noutros grupos sociais são determinadas e influenciadas por fatores sociais, práticas culturais e éticas de cada grupo, religião, intolerâncias a certos alimentos, recursos disponíveis (rendimento, tempo e conhecimento).

A escolha dos alimentos mais caros ou mais baratos, independentemente da qualidade dos produtos, resulta do poder de compra de cada um, do estilo de vida, do significado atribuído aos alimentos e do contexto, que pode influenciar, positiva ou negativamente a saúde. Por exemplo, em ambientes de convívio com os familiares e amigos, torna-se difícil para os “doentes crónicos” o controle das doses consumidas e a exposição de certos alimentos proibidos na sua “dieta” o que determina, o aumento da procura de cuidados médicos e dos internamentos hospitalares depois das quadras festivas. Importa também ressaltar o fator estético, uma vez que o “padrão de beleza africana”valoriza um corpo mais “cheio”o que acaba por induzir as pessoas a consumirem maior quantidade de alimentos para se enquadrarem nestes padrões, porque, em caso contrário, são consideradas “menos saudáveis/bonitos(as)”.

Ter atitude é cuidar da alimentação! É mudar os hábitos e adotar uma alimentação saudável. Porque não? Somos o que comemos…. esta frase leva a que automaticamente cada um se sinta mais saudável estando dentro do peso ideal, ou seja,  resistindo à tentação de ingerir produtos inadequados por uma compensação maior e mais gratificante a longo prazo.

A campanha de sensibilização desenvolvida no âmbito da investigação realizada pode ser englobada no âmbito de um programa do Ministério de Educação de São Tomé e Príncipe, como o PNASE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que já trabalha as questões da alimentação saudável nas escolas e tem como objetivo geral complementar as necessidades nutricionais dos alunos e formar hábitos alimentares saudáveis durante a sua permanência na escola, contribuindo para o desenvolvimento físico e intelectual da criança.

Foram contudo constatadas algumas ameaças à sua implementação e pontos fracos. Nas ameaças destaca-se o baixo poder aquisitivo da população, a elevada dependência do exterior, a baixa escolaridade, a falta de sensibilização geral para a redução do consumo de produtos inadequados à saúde da população, o aparecimento de produtos importados com baixas propriedades nutricionais, o pouco incentivo do Ministério de Saúde na promoção de hábitos de alimentação saudável.

Os pontos fracos identificados relacionam-se com a alteração dos padrões alimentares, com os elevados níveis de hipertensão da população, com o aumento do sedentarismo, a falta de estudos junto da comunidade para conhecer os seus hábitos alimentares, o pouco incentivo à prática de exercícios físicos com regularidade, o fraco recurso dos Ministérios de Educação e Saúde no incentivo aos pais e encarregados de educação e a ausência do PNASE nas escolas privadas, mesmo que somente para vistoria das cantinas e refeitórios.

O maior desafio é transformar estas ameaças e fraquezas em oportunidades para que essa mudança de mentalidade seja uma realidade santomense, por exemplo usufruir do maior acesso à informação, dos novos canais de comunicação, reforçar a cooperação brasileira e de outros países, sala de aula como um bom local de aprendizagem, população Jovem mais propensa a mudança de hábitos e, abundância de produtos locais e frescos de baixo custo. Os pontos fortes, são o apoio do PNASE no fornecimento dos alimentos e refeições nas escolas, na formação e informação das cantineiras, nos valores nutricionais definidos no preparo das ementas das escolas, na horta Pedagógica e, na campanha de comunicação e de sensibilização desenvolvida.

A sugestão vai no sentido do PNASE conseguir uma comunicação mais direcionada especificamente para a alimentação saudável, fomentando a integração entre os Ministérios da Saúde e da Educação, algumas ONG’S e o sector privado, para trabalharem juntos de forma a estimularem a participação de toda a população em geral e em particular as crianças e jovens. Com estas parcerias, as empresas privadas poderiam criar laços mais fortes com os seus consumidores, melhorar o bem-estar social e motivar os clientes e os seus colaboradores a criar uma marca mais forte associada a esta causa da alimentação saudável para todos.

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