Sociedade

Java pode recuperar a luz da independência pelas mãos da Fundação Micondó

Java, é o nome de uma Roça localizada no centro da ilha de São Tomé. Dista mais de 15 quilómetros da cidade da Trindade, capital do distrito de Mé-Zochi. A independência de São Tomé e Príncipe, proclamada no dia 12 de Julho de 1975, deu a Java um jardim-de-infância e uma escola primária.

Duas unidades de ensino básico, que nos últimos 20 anos, ajudam na educação das crianças de Java, e de outras 8 comunidades isoladas da região centro do distrito de Mé-zochi, nomeadamente Abade, São Januário, Roça Nova, Santa Adelaide, Platô, Água das Belas, Bombaim e Santa Elvira.

Se no sector da educação, a independência nacional deu a Java, o estatuto de centro de ensino para centenas de crianças, que habitam as comunidades mais isoladas da região de Mé-Zochi, os gestores do Estado independente destruíram os valores históricos, culturais, económicos e arquitectónicos de Java.

Apesar do abandono os edifícios construídos na era colonial resistem em desaparecer, e provam que Java era uma aldeia linda no meio da floresta.

Com 116 hectares de terra cultivada, Java era um dos grandes produtores de cacau da região. Para além do cacau, árvores de enorme valor comercial, proporcionavam sombreamento ao cacausal, e ornamentavam a estrada que dá acesso à Roça.

A maioria das árvores de valor comercial foi abatida, para produção de materiais de construção civil. Nenhuma árvore foi plantada nos últimos 40 anos. Os 116 hectares de terra deixaram de produzir cacau.

«Pelo menos 100 hectares das terras foram entregues a empresa SATOCAO, que se instalou aqui no ano 2013. Mas, há 5 anos que a SATACAO abandonou os 100 hectares….Outros 16 hectares foram entregues a um médio empresário que se ausentou do país, e fixou residência em Malanje – Angola. Os 16 hectares também estão abandonados…», explicação de José Varela, líder da comissão dos moradores de Java.

José Varela garante que apesar do abandono, Java tem futuro. «Java tem potencialidade para desenvolver turismo rural de excelência…», afirmou.

O líder comunitário diz que não percebe o comportamento do Estado santomense. Tudo porque mesmo havendo propostas alternativas para reerguer a Roça, o Estado santomense insiste em protelar, mantendo Java no abandono, e os 30 habitantes sem futuro. A escola primária garante a quarta classe. A partir da quinta classe as crianças da região percorrem diariamente a distância de 35 quilómetros para ter acesso a educação, na escola da cidade da Trindade.

A Fundação Micondó, criada por Jean Piérre Bensaid, cônsul de São Tomé e Príncipe em Marselha – França, é a entidade que escolheu a Roça Java, para desenvolver projectos que promovam o desenvolvimento sustentado. Projectos que segundo José Varela terão impactos no progresso de outras comunidades da região.

Eugénio Neves, membro da Fundação Micondó, explicou no terreiro da roça, as reais motivações da Fundação e dos seus parceiros.

«O senhor Jean Piérre Bensaid, identificou esta roça Java, e submeteu um pedido de concessão da roça ao Governo. Enquanto aguarda o desfecho do pedido, e porque tem em mãos vários projectos e com financiamentos, decidiu começar a implementar algumas iniciativas…», precisou Eugénio Neves.

A escola primária foi reabilitada e o sistema de adopção de água potável à população local, foi tratado e recuperado. Água potável regressou aos chafarizes de Java. São segundo Eugénio Neves, algumas acções já desenvolvidas.

O grupo Calema é patrocinador e colaborador da Fundação Micondó, no projecto de recuperação de Java. Fradique Ferreira(na foto em baixo), um dos membros do grupo musical santomense, que lidera o mercado discográfico na Europa, marcou presença em Java.

«Vamos participar nas actividades que envolvem a música. Queremos trabalhar na motivação das crianças. Na nossa entrada no mundo da música, não tínhamos alguém que tivesse já feito uma grande sala a nível internacional….» pontuou.

O músico(na foto), acrescentou que as crianças de Java e das outras comunidades do interior do distrito de Mé-Zochi, podem ter uma fonte de inspiração musical, para se afirmarem na vida e no mundo.

«Nós, os Calema, tivemos que arranjar referências noutros países, caso do Brasil e não só. Agora podemos com trabalho e dedicação passar experiências e conhecimentos às crianças daqui para elas se afirmarem mais tarde no mundo da música e não só…», declarou Fradique Ferreira.

Pintura e desenho também já começaram a animar as crianças. O artista plástico santomense Eduardo Malé, também juntou-se à Fundação Micondó. Na última semana trabalhou directamente com as crianças de Java, de Abade, Roça Nova e outras comunidades, na troca e partilha de conhecimentos e experiências.

«Está plasmado na Agenda das Nações Unidas para o período 2020-2030, a questão da arte como factor de desenvolvimento. E o que podemos esperar com esta actividade é que daqui a alguns anos, alguém possa ascender na nossa praça, na nossa cultura, como artista, como cantor…», afirmou Eduardo Malé.

O atelier de Artes Plásticas, pretende cultivar e descobrir talentos no seio das crianças das comunidades isoladas. «O que a Fundação Micondó pretende é que as crianças possam descobrir o seu talento e colocar-se na posição de amanhã viver da sua profissão», sublinhou, o artista plástico.

O projecto da Fundação Micondó, para a roça Java, tem três componentes, nomeadamente a recuperação do património cultural, promoção da educação e da saúde, e a recuperação da produção do cacau. «Pretendemos reabilitar o hospital da roça, hoje em ruínas, criar uma escola de música, e também um centro de exposição de artes, e mais…», concluiu Eugénio Neves.

O projecto para Java recuperar a luz da independência, já está nas mãos do Governo. A Fundação Micondó e os seus parceiros aguardam pelo sinal verde do Estado santomense. Um sinal que na celebração dos 46 anos da independência nacional, possa permitir à Fundação Micondó, ajudar a devolver esperança aos habitantes de Java e de todas as comunidades vizinhas.

Abel Veiga

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