Sociedade

Património das Roças continua a ser vandalizado

O caos está instalado um pouco por todo o país, e as roças não fogem a regra. Após a denúncia feita no Téla Nón pela Associação dos Moradores da Roça Monte Café, sobre a vandalização do secador colonial de café, diversas autoridades do país e entidades internacionais reagiram e em contacto com a Associação dos Moradores de Monte Café, manifestaram solidariedade e prometeram agir, para estancar o CAOS.

O Ministério Público foi uma das instituições que entrou em campo para ajudar a travar a vandalização do património cultural e histórico da Roça Monte Café. Uma roça que está na lista de selecção da UNESCO para património mundial.

No entanto, após a recolha e venda das tábuas de boa qualidade do secador colonial de Monte Café, os vândalos decidiram na última semana arrancar as louças de pavimentação da lavandaria da roça.

São louças coloniais, que são roubadas à luz do dia, para serem vendidas a pessoas que estão a construir casas e principalmente padarias. As louças coloniais de pavimentação são também utilizadas nos grandes fornos de carvão.

 Francisco Dua, 33 anos de idade habitante de Monte Café, relatou o caos reinante na roça.

«Os jovens estão a vandalizar todas as coisas da comunidade. Agora estão a tirar todas as louças da lavandaria, para vender a quem tem casas a construir», afirmou.

Na entrevista ao Téla Nón no terreiro de Monte Café, o habitante alertou que o medo está instalado na roça. Tudo porque os jovens que estão a vandalizar todo o património de Monte Café, consomem muito álcool e fumam liamba.

 «Muitos fumam cannabis. Precisamos de ajuda do Estado e muito rápido.  São jovens que vivem aqui, vendem as coisas não por necessidade, mas sim para beber e fumar. Dizem que é por falta de trabalho, é mentira. Aqui tem trabalho. Eu trabalho no meu campo, e os convido, mas não vão», denunciou.

Francisco Dua, prevê que após a delapidação completa do património cultural e histórico de Monte Café, os jovens que agem sob efeito da Liamba e do álcool vão ameaçar a vida e os bens dos moradores.

«Aos poucos eles vão começar a assaltar as casas e as lojas das pessoas. Agora dá medo viver nesta comunidade», frisou.

Denúncias já foram feitas à polícia, mas nada aconteceu. «Nunca houve patrulha da polícia aqui em Monte Café», concluiu.

O cenário de Monte Café é igual ao das outras roças de São Tomé e Príncipe. Em muitas roças os jovens que vandalizam o bem público recebem simpatia dos actores políticos. Na maioria das roças as telhas e vigas que davam cobertura às casas coloniais foram roubadas e vendidas às entidades públicas que estavam a construir casas de luxo ou quintas de lazer.

No ano 2014 o Téla Nón registou um caso insólito. Jovens vândalos da Roça Santa Margarida roubaram todo o tecto da enorme oficina mecânica da roça. Uma infraestrutura que poderia ser utilizada como centro de formação profissional para os jovens de toda a região da Madalena.

Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas daquele ano, os mais velhos da roça mostraram a um líder político em campanha, a destruição feita pelos jovens. Pediram medidas punitivas. O líder político que estava na caça aos votos respondeu que «entendo a posição dos jovens. Porque era por falta de emprego etc …que fizeram aquilo».

O líder político garantiu que o futuro seria melhor quando ele subisse para o trono do Palácio do Governo, e conseguiu. Tantos anos passaram, e o presente das roças é cada vez mais, o caos, o abismo.

Abel Veiga 

1 Comment

1 Comment

  1. jose Manuel

    20 de Novembro de 2023 at 20:47

    O vandalismo é geral. Roubo nas parcelas dos agricultores, vandalização em plena luz do dia dos materiais históricos em Monte Café, vandalização da central de Agostinho Neto, onde jovens bem identificados partiram a maretada o motor e a turbina para venderem peças para nigerianos e tudo isto a vista do Governo. O Governo não toma medida nenhuma. Enquanto isso o Primeiro Ministro anda na passarela em Guiné Bissau a fazer passagem de modelo.
    Nenhuma medida séria é tomada. Só viagens muitas das quais inúteis.
    Eu que tinha muita esperança com os valores que o Estado ia arrecadar com o IVA que é muito e muito dinheiro que poderia ajudar muito para solucionar vários problemas do país. No entanto, parece que o valor do IVA vai diluir-se em viagens do primeiro Ministro. Não estou contra viagens do primeiro Ministro. Mas sim para coisas sérias. Mas para passear, ir a Guiné Bissau passear, ir para a tomada de posse do rei de inglaterra, ir visitar Congo Democrático, ir visitar Chade???
    Só com Cristo

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