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QUE POLITICA E POLITICOS PARA STP?

Carlos carlos-gomes.JPGGomes, na qualidade de professor de filosofia na ilha do Príncipe coloca a questão do momento, uma vez que aumenta cada vez mais a descrença da sociedade civil nos políticos são-tomenses.

Durante os meus dois anos como politico aprendiz fui reflectindo, com alguma profundidade, sobre o que sou (politico) e o que exerço (politica). Destas reflexões, sempre em confrontação com a minha longa experiencia religiosa, resultaram pensamentos e conclusões que gostaria de partilhar com os políticos santomenses, meus colegas, apesar de grandes diferenças experiencial entre os principiantes e os mestres nesse campo da política.
Uns afirmam que a política é algo sujo. Outros que ela é extremamente complexa. Outros ainda que os políticos são mentirosos.
Vaclav Havel, Presidente da ex Checoslováquia, hoje Republica Checa, considera a política como um dos campos da actividade humana que impõe exigências ao sentimento moral, a capacidade de auto reflexão crítica, a autentica responsabilidade, ao sentido de moderação, a humildade. É uma tarefa apta para homens especialmente modestos. Para homens que não se deixam enganar, homens trabalhadores, puros. Caso contrario, podemos sujar – nos moralmente com especial facilidade.
Aristóteles, filósofo grego do séc. IV a. C., considerou a política como algo que existe para se viver bem. O que significa que a actividade politica implica necessariamente uma reflexão ética.
No passado, a política era quase tabu, reservada a alguns privilegiados. Hoje, tudo é política, todos são políticos. Criou-se uma nova consciência política. A política é um dos argumentos mais comuns da conversa de quiosques, bares (…) rivalizando com o futebol e as telenovelas.
O povo toma consciência ou pelo menos intui que através da política se constrói ou destrói o futuro da sociedade, o futuro de um povo, que todos os problemas, desde a família à escola, dos meios de comunicação social à economia, passam pela política. Esta preocupação pelo futuro leva o cidadão comum a interessar-se mais pelos acontecimentos políticos e a participar activamente, ao menos através do voto.
A palavra “ política” vem do grego “polis” que significa “ cidade”, feita não propriamente de estruturas mas de cidadãos ou “ políticos”. Todo o cidadão é político. Política é o governo dos cidadãos feita pelos seus representantes. Entende-se um governo democrático. Democracia significa “ poder do povo”; é o governo do povo, para o povo e pelo (com) povo. O totalitarismo, autoritarismo ou ditadura atentam contra a democracia e contra a verdadeira política. Podíamos ainda definir política como necessidade das pessoas se unirem em vista do bem comum.
Fazer política é colaborar para o progresso da pessoa humana livre e responsável, mas não auto-suficiente, necessitando de viver em família (célula-base da sociedade) e em grupos, constituindo um “ povo”, uma “ democracia”. O cidadão tem deveres para com a sua pátria.
João Paulo II dizia: “no exercício do poder político é fundamental o espirito de serviço, único capaz de, ao lado da necessária competência e eficiência, tornar transparente ou limpa a actividade dos políticos (…) isto pressupõe a luta aberta e a decidida superação de certas tentações, tais como o recurso à deslealdade e a mentira, o esbanjamento dos bens público em vantagem de uns poucos e com intuitos de clientelas ou uso de meios equívocos ou ilícitos para a todo o custo conquistar, conservar e aumentar o poder” (Christifideles Laici, n.º 42).
Para instaurar uma política verdadeiramente humana, nada existe mais importante que desenvolver o sentimento íntimo da justiça, da bondade, e da dedicação ao bem comum. O exercício da autoridade deve estar em função do bem comum.
Portanto, todos devem colaborar na coisa pública cumprindo os seus deveres e exercendo livremente os seus direitos, entre os quais sobressai o de votar. Urge uma educação cívica e política entre os cidadãos a fim de que possam participar activamente no bem de todo o povo.
O Concílio Vaticano II., Gaudium et Spes nº 75 afirmou a uma dada altura que “aqueles que são ou podem vir a ser capazes de exercer a arte tão difícil mas tão nobre da política devem preparar-se para ela; que eles se entreguem a ela com zelo… lutem com integridade e prudência contra a injustiça e a opressão, contra o domínio arbitrário e a intolerância quer seja obra dum homem ou dum partido político, e consagrem-se ao bem de todos com sinceridade e rectidão, e mais ainda com o amor e a coragem requeridas pela vida política”.
A democracia actualmente vigente em STP está a caminhar no rumo certo? A política que efectivamente nos governa continua a ser, em larga medida, a negação da política anti – politica? Os políticos em STP, vivem para ou de politica?
O nosso futuro e o futuro de STP estão nas nossas mãos!
STP será aquilo que fizermos dele.

Carlos Gomes/2 de Novembro/2008.
(Professor de Filosofia na Ilha do Príncipe)

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