Ter ambição é importante, mas se essa ambição não for exequível é o mesmo que não ter qualquer ambição. É nesse equívoco que, neurótica e obsessivamente, insistimos em cair e não encontro qualquer sinal nas nossas lideranças para ultrapassar isso. Tenho dito, há já largos anos, que papaguear e transpor acriticamente para STP conceitos, para não dizer “slogans”, criados para países grandes e grandes economias não ajuda a ultrapassar o nosso crónico défice de desenvolvimento. Pensar num crescimento assente no nosso exíguo mercado interno roça o absurdo.
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#5 – Verdadeira Ambição
Ter ambição é importante, mas se essa ambição não for exequível é o mesmo que não ter qualquer ambição. É nesse equívoco que, neurótica e obsessivamente, insistimos em cair e não encontro qualquer sinal nas nossas lideranças para ultrapassar isso. Tenho dito, há já largos anos, que papaguear e transpor acriticamente para STP conceitos, para não dizer “slogans”, criados para países grandes e grandes economias não ajuda a ultrapassar o nosso crónico défice de desenvolvimento. Pensar num crescimento assente no nosso exíguo mercado interno roça o absurdo. Temos que ser capazes de pensar para lá das nossas limitadíssimas dimensões, sejam de território terrestre, marítimo ou demográfico. Temos que transcender-nos numa escala inimaginável.
Ouço e leio por aí que temos que atrair IDE (Investimento Direto Estrangeiro) para STP. De nada nos servirá o massivo investimento estrangeiro se não formos capazes de ir para além das nossas fronteiras, dos nossos medos, dos nossos receios. Temos que sublimar as nossas idiossincrasias, o nosso proverbial e recalcitrante provincianismo. Não podemos continuar a encarar STP como um país clássico. Não é essa a nossa vocação, não é essa a nossa missão! De pouco também nos servirá invocar a nossa suposta privilegiada localização geográfica como um trunfo que de tão ciosamente guardado numa inquebrável redoma se tem vindo a tornar num pesadíssimo passivo. Nunca fomos capazes de o jogar em nosso proveito e nem mesmo em proveito de terceiros.
Somos os únicos bafejados por essa dita privilegiada geografia? A Guiné-Equatorial, com os meios financeiros de que hoje dispõe e com um território constituído por uma parte continental e por uma ilha maior e mais próxima do continente do que qualquer uma das nossas (Bioko é só o dobro de S.Tomé!), não estará melhor posicionada para aquilo que supostamente queremos fazer? O que nos diferencia positivamente em relação à Guiné-Equatorial que nos pode levar a pensar que seremos melhor sucedidos nesse desiderato? Ah, sim, somos um país democrático! E depois? Esse facto é necessariamente positivo ou decisivo para os investidores? E a nossa crónica e irritante instabilidade política, não contará mais em nosso desfavor do que a já lendária ditadura equato-guineense?
Estamos ávidos em ser um centro de prestação de serviços para uma (sub)região com mais de 300 milhões de habitantes e, diz-se, com interessantes taxas de crescimento económico. O que sabemos sobre a distribuição desses milhões de almas, da forma como se relacionam, das dinâmicas demográficas nesse vastíssimo espaço? Estão mais voltados para o interior do continente ou mais para o litoral? O Golfo da Guiné constitui um ponto de concentração, de polarização, ou, simplesmente está na periferia económica dessa região. Quais são as economias locomotivas, que puxam e servem de âncoras, na região? É a latentemente instável Nigéria, com um pé na Ocidental e outro na Central, ou o estraçalhado e descoordenado Congo Democrático muito orientado para os Grandes Lagos ou ainda a ambivalente Angola que, qual malabarista, vai procurando conciliar a sua vocação marcadamente sulista (SADEC) com a defesa dos seus interesses territoriais mais a Norte? Faz algum sentido ter um super-porto para servir a região? O que impedirá qualquer outro país continental de construir por seu turno um mega-porto e a partir dele, por ferrovias e rodovias fazer a distribuição de bens por toda a região? Não quero ser um camoniano Velho do Restelo, nem um desmancha-prazeres, mas não será que estamos, uma vez mais, no encalço de mais uma quimera, de mais uma caça a gambuzinos?
Para mim é um ponto assente que a integração regional poderá ser o caminho mais curto para o desenvolvimento de STP, mas não é, seguramente, o mais fácil (na verdade não há algum que seja fácil) e é extremamente exigente, a todos os níveis, seja político, seja económico, seja diplomático, seja cultural, seja social… Como qualquer festa para que somos convidados ou em que estamos envolvidos, a integração regional pressupõe darmos algum contributo, levarmos alguma coisa para mordiscar ou molhar a goela. O que temos presentemente para oferecer aos países que nos vão abrir os seus mercados? É o nosso minúsculo mercado, a nossa bendita “posição geo-estratégica” ou, simplesmente, os nossos lindos olhos? Pensar que os outros nos vão escancarar as suas portas para metermos nos seus mercados bens e serviços de outros países é uma abordagem que peca por ser de uma tocante e cândida ingenuidade.
Liberalizamos a força toda o setor financeiro (banca e seguros). Já temos uma mão-cheia de bancos e seguradoras que se acotovelam na nossa embrionária “praça financeira”, mas ainda não temos bancos nacionais (incluo, naturalmente, o BISTP) a operar nos países da região. Ao invés de dotarmos a CST de equipamentos de ponta e de músculo financeiro para poder competir na região, entretemo-nos a amaldiçoar o monopólio e os alegados preços exorbitantes praticados por essa empresa, acreditando piamente que a sempre miraculosa liberalização irá resolver também as distorções nesse setor. A CST está em vias de vir a fazer parte de um operador relevante no mercado mundial de telecomunicações que resultará da anunciada fusão entre a PT (Portugal Telecom) e a OI! (operadora brasileira). Nesse processo o já pouco expressivo peso da CST no grupo PT passará a irrelevante e descartável. Ao invés de estarmos permanentemente a zurzir no monopólio da CST, não seria mais inteligente promovermos a sua internacionalização, ambicionando fazer dela uma operadora com actividade relevante noutros países da sub-região?
Por que fui buscar estes dois exemplos? Porque sempre que pergunto quais as empresas nacionais dignas desse nome dizem-me que, bem ou mal, são estas e porque tiveram IDE há mais de 20 anos e ainda não moveram uma palha para explorar a sub-região. Serão, portanto, as minimamente posicionadas para dar o pontapé de saída no nosso processo de inteligente e sustentável integração regional. Porque nesse processo o mais importante é a nossa capacidade para sairmos das nossas estreitas fronteiras e dar às nossas empresas aquilo que o nosso mercado jamais poderá dar. É isso que atrairá o tão propalado IDE.
SubVersivamente
Alcídio Montóia Pereira
Fhia ploco som
30 de Dezembro de 2013 at 13:16
Os seus ensinamentos nao tem nenhum cabimento. Falo saber que um tal entendedor das coisas ecomonicas e finenanceiras, bastante falante, ao ponto de convencer o outro das sua ideias. Ao ser chamado para por na pratica o seu conhecimentos, primeiramente disse que nao seria facil, pois os mercados alem fronteira sao demaseado competitivo,e o servico a ser vendido teria que ser tantas vezes superior ao que esta sendo proposto. O caso de IDE,temos o exemplo do actual produtor de chocolate ( anos atras, o cacau estava a ser despresado, com a aparicao deste Salvador, ja ha concorrencia do mesmo produto).
Almeida
31 de Dezembro de 2013 at 10:28
Rapaz,
Qual é tua área de formação?
Entendestes alguma coisa?
João Paulo
30 de Dezembro de 2013 at 14:57
Palavras sábias.. é pena que muitos que andam por ai a propalarem que é preciso IDE não percebam nada disso. Fazer o quê.
José de Correia
30 de Dezembro de 2013 at 15:08
Não me aprisionem os sonhos pois uma ave sem asas não é ave … Caro amigo e colega da Ex Associação de Estudantes de STP em Lisboa , concordo plenamente com o teu raciocínio subversivo ,pois como diz o Julio Neto no seu artigo publicado neste jornal,também começo a ter a sensação que durante esses 38 anos, falta 2 anos para terminar uma geração.Geração a quem foi roubada os sonhos de um país minimamente organizado onde a autoridade do Estado fosse visível , economicamente e socialmente viável. Neste momento temos um esboço de um país que não sabemos se é viável ,onde ainda se questiona se a independência terá sido a melhor escapatória. Andamos eternamente de mãos estendidas fazendo alianças mais bizarras possíveis. Socialmente o nosso sonho é um autentico pesadelo…Espero que mesmo para gerações vindouras , esses sonhos não se transformem em delírios e que não sejamos Haiti numero 2, sobre o planeta … Boas festas e sonhemos por um Novo Ano melhor … O sonho faz viver … Governantes, ex governantes, candidatos a governantes, atores econômicos, malabaristas ,por favor deixem me sonhar que ao menos posso ser ai sepultado sem que a minha paz seja perturbada.
De LIMA /Peru ,
José M.Quaresma
huntue@live.fr
Pléto Lúlúlú
30 de Dezembro de 2013 at 15:08
Parabéns srº. Alcídio M. Pereira por este excelente, realista e lúcido artigo. Nele aborda e toca em aspectos fundamentais, do que poderá e deverá ser o futuro, para que seja possível o desenvolvimento de S. Tomé e Príncipe. Não basta falar da privilegiada ou ‘abençoada’localização geográfica e de atrair o tão necessário Investimento Estrangeiro (IDE). É preciso desenvolver os ‘mecanismos’ necessários e saber como criar estas ‘condições’. O exemplo da Guiné Equatorial é sem dúvida um bom ‘ponto de comparação’. O resto é ‘blá,blá,blá e conversa para ‘Boi dormir’….
santola01
30 de Dezembro de 2013 at 16:15
Caro Alcidio,
Parabenizo a sua “crítica” quanto a não-ambição instalada em STP no que concerne ao desenvolvimento sócio-ecónomico. Pois para mim STP está sem ideias e objectivos para combater a “dependência total externa”
toresdias
31 de Dezembro de 2013 at 7:36
Mais uma vez critica-se estratégias adoptadas e já consumadas pelos nossos governantes. è só criticar, e vêm dos nossos compatriotas que que estrangeiros tratam das suas vidas, e que concerteza se se pedir que estes individuos regressam a terra para trabalharem em prol do nosso desenvolvimento, respondem radicalmente, em STP não tem condição para trabalhar. è muito triste isso, nós no Pais lutamos com as nossas forças, e outros nacionais no estrangeiros lançam desmacha prazeres em vez de apoiarem, apresentarem projectos susceptíveis, desencorajam. Que pena.
fg-RESUMO
31 de Dezembro de 2013 at 9:26
Leste com os olhos fechados, por isso tens esse argumento de coitado e enfezado. armado em mais nacionalista do que os outros.
estou em stp como tu, mas li o artigo e gostei porque é coerente e lógico. mais do que isso até, despertou em mim e muitas outras pessoas que leram com os olhos abertos, raciocinios que jamais haviamos feito.
porque as idéias e projetos anunciados pelos nossos governantes aqui há mais de 30 anos, sao falácias que nao dao em nada, só copiando o ocidental que nao se aplica, e só projetando irrealidades, como tem sido o caso da exploracao petrolífera que já leva, quase 20 anos.
Almeida
31 de Dezembro de 2013 at 10:26
fg-Resumo
Concordo plenamente. Aqui na terra tudo é feito e falado na rua em bares etc.
Trabalho nada, projecto nada. Politiquice só.
Boquita só.
Esquema só
Cambarda de infelizes com mania que são técnicos, mestrado na moda.
Palhaços junto dos outros do mesmo nível quando estão em frente dos estrangeiros. Pedintes eternos.
Cassuma
31 de Dezembro de 2013 at 14:20
Na verdade é que tudo que guia este País é impunidade contra sociedade civil buscando má fé á todo custo. Mas um dia ou ja se ouve musica de Calú Mendes que diz assim “Gandu ê bô alé do mali ni boca zola sca glita pa tudo pixe valé bô ..valé bô pa bô na molé ããããããn ozé sá ja tlábé ô manda cu zoló flá bô manchã.
Lupuye
31 de Dezembro de 2013 at 17:00
Amigo, cuidado que esta musica nao e do Kalu Mendes. Ele so reproduziu uma musica que ja existe ha muitos anos. Mas e de louvar pois que o “toque” actual e mais quente e aquelas musicas velhas se nao forem reproduzidas podem entrar no esquecimento.
Pléto Lúlúlú
2 de Janeiro de 2014 at 22:47
Sr. Cassuma:– “GANDÚ Ê” …. Esta música é bem mais antiga, já se ouvia e cantava nos anos 60 e até foi ‘proibida’ de passar na Rádio, mas sem resultado … Penso que era do Conjunto Leonino, e vou ‘tentar’ escrever parte da letra no Dialecto de S. Tomé …. “Dêçú fé ómáli pági dá pixi ããnn, Gandú cú tê fama, só fé uê Dêçú tómá quá dê… Gandú ê, bô alê d’ómáli, ni bôca zóló scá glitá ….etc,etc,etc. Desculpem o meu ‘Dialecto’ …
Cidadão de Segunda
31 de Dezembro de 2013 at 8:39
Excelente trabalho. De facto, é preciso que se ilucide os nossos “ignorantes” dirigentes sobre a viabilidade e consequências das decisões a serem tomadas.
Parabéns pela reflexão!
Joe
31 de Dezembro de 2013 at 12:32
Muito bom!
Barão de Água Izé
31 de Dezembro de 2013 at 12:52
Caro Alcídio Monteiro; muito do que escreveu está correcto.
STP necessita rever a propriedade das terras nacionalizadas; rever a constituição; reavaliar a prestação da Estado e a sua ligação à Justiça; dar inicio a um mercado financeiro com um sistema fiscal muito favorável a capitais estrangeiros e MUITO IMPORTANTE, ser um País democrático. Nesta caso, parece que a G.Equatorial e outros países não são exemplo.
trelele
31 de Dezembro de 2013 at 17:06
Caro Senhor
Antes de porto, São Tomé precisa de um aeroporto verdadeiramente internacional.
Não uma amostra de aeroporto onde só aterra avião pequeno, ou onde pilotos de avião estejam constantemente com coração nas mãos por causa de pássaros.
A propósito de pássaros e da aventura deste último voo que teve que regressar, seria bom que responsáveis da ENASA vejam com se faz lá fora, como em Portugal ou no Brasil em que usam outros pássaros como falcões para afugentar bandos de pássaros dos aeroportos. São ideias simples e muito baratas
leonel carvalho
5 de Janeiro de 2014 at 18:19
subescrevo na integra esta boa lufa dada por este conterraneo nosso.Vivo na Alemanha e nao encontro sequer um anuncio relacionado com S.Tomé, um País que quer fazer do Turismo a sua vanguarda económica.Será a falta de vontade ou o geito das governacoes.