Opinião

MLSTP/PSD no «légué bi, légué bi» de Carlos Cardoso

Caso morasse no mundo dos pecadores, lá estaria o «camarada» Cardoso com a artimanha das cantigas pelos arredores de Almeirim lavado por Água Grande, este vindo de Mé-Zóchi de tradições, rumos, massacre e faz de contas, a ir até onde a militância ouvisse sua sinfonia, juntar os votos num candidato meritório ao cargo de presidente do seu partido.

Já não está entre os vivos. Partiu no ano passado, há dois meses legislativo, mas é como que estivesse na bancada da cor de sua eterna camisola com a convicção e a fé de qualquer cego distinguir-lhe de um pretendente ao trono. Glória eterna a sua alma!

O logótipo de viver para sempre deixou-lhe as cantigas assim como há dias o Fevereiro do massacre levou José Aragão que vincou com as suas emblemáticas canções d’Os Untues – banda não pisava Trindade até 1975 – e muito antes com o seu Leoninos na marcha leve-leve do nacionalismo santola.

Os moços identificados com aqueles ritmos clássicos tinham de descer da Trindade à cidade na festa de Fim do Ano para tirar um pé do coração no Sporting, razão suficiente para um a parte como que na escuta do hino «hola bandela subli» prestar a família enlutada do malogrado José Aragão e, em particular ao filho Fernando Aragão, as mais sentidas condolências.

Mundo dos vivos. O que é isso de directas num partido quebrado, desestruturado e em tombo acelerado que nem «mama di kumadê»?

A noção que qualquer pensante tem de pedreiro, mesmo o chamado «pêdlêlo wê viló» é do artista que ergue a construção a partir de um chão seguro, ao contrário do inimaginável, iniciar a obra de cima para baixo, não obstante as novas tecnologias disponibilizarem constantes e possíveis inovações.

Há três meses do congresso, um partido devastado pelo temporal de Outubro e sem células de apoio que possam depositar confiança e entrega numa nova liderança, qual a pretensão das directas? Fazer ao são-tomense ver e crer em quê  e quem?

Benefício de dúvidas não é resposta a deixar tudo na mesma sem palpites no meio de estranhas núpcias que a democracia à são-tomense não inibe matéria de abordagem aos estudiosos em questões de minúsculos e insulares Estados em caso concreto, o de um único emblema do grupo dos Cinco a permanecer já lá vai uma década longe de vitória eleitoral.

Com o défice democrático do presidente que não deixou o partido abrir-se a tendências nas últimas eleições, deduzindo da dissertação de Rafael Branco que manifestou a sua pré-disponibilidade em qualquer coligação que oferecesse um governo de retalhos pós-eleitoral, lá estaria na mesma o «camarada» Cardoso no seu gaguejo que não faltava lições de vida e palmas do plenário a cantar nas orelhas de Jorge Amado “legue bi , légué bi, quinté sé ça quinté dê”.

Não lhe faltaria outra cadeira a um outro militante, António Quintas Aguiar. Seria capaz de pôr os seus pés na estrada para de volta ter no partido todos os desertores e descontentes com Jorge Amado e o seu socopé sem que o líder estivesse por aí de verdade.

Não faltaria vocábulo a essa ousadia – união – para pura reflexão crítica, de contraditórios em tempo útil e em torno de alcance político, o partido pudesse arquitectar um outro São Tomé e Príncipe que devolva um sonho e orgulho aos filhos.

Um líder para a dimensão do partido – koêsa diferente di sê dôtor – teria na noite da derrocada eleitoral felicitado ao adversário-vencedor e ao seu presidente. Agradecido ao povo são-tomense pela forma exemplar como aos olhos do mundo, uma vez mais, exibiu (às cegas ou não) o seu direito democrático. Não bastaria.

Teria pedido desculpas aos militantes pelo esmagamento eleitoral ocasionado ao partido. E as consequências políticas? Mais uma culpa a morrer solteira como se tornou norma a gestão do Estado?

Não. Teria posto o lugar a disposição deste, na espectativa de que os conselheiros encontrassem uma saída transitória até ao congresso da eleição do seu sucessor. Não fez coisa simples e vai latindo ao lado sem aperceber-se que é sua a sombra. Nunca soube se o partido andou no poder troicano ou na oposição, partindo dos publicados discursos críticos ao próprio executivo e, por aí em diante.

Num acto de subestimação pessoal foi mais para lá dos confins da plateia, deixando aperceber de momentos em que não se vê aos meios para atingir os fins. Auto excluiu-se da corrida legislativa de 12 de Outubro ao cargo de chefe do executivo, optando por pescar um extraterrestre para a concorrência, Osvaldo Vaz, como que os são-tomenses já vivessem num outro planeta distantes do seu cantinho do Equador africano.

Com essa agenda, no mínimo, autenticou a falta de queda para liderar um governo da república e consequentemente assinou a sua auto despromoção com todos os reparos ou jogos de cintura em contramão aos ideais de um partido com olhos permanentes no poder.

Não foi o único da praça política a recorrer, recentemente, aos expedientes de automutilação, mas o outro concorrente legislativo espelhou-se num ministro de inaugurações. Menos deselegante a fotografia.

Todavia, a democracia, mesmo na vida interna dos partidos, sujeita aos votantes opções variadas de escolha e, Jorge Amado confiante na sucessão, não é carta fora de baralhos na recolha dos votos das directas dos militantes, simpatizantes e «travestis» dos funka-funkas até cidade.

Decerto que haverá por aí mais de uma mão de candidatos disponíveis – só se não fosse no histórico MLSTP – na captura de simpatias que possam dar em votos ao novo presidente mesmo se dentre os iluminados escaparem atributos da militância para subida ao pódio partidário.

Porque não o timing de regresso de Aurélio Martins?Em 2011, animado pelo socopé di Coimbra com “membras di banga” na sala trocou pé na marcha e teve queda prevista pelos mais atentos que viam nele um promissor, ao seu tempo, a concorrência de chefe do governo e não tão cedo a testa da Nação.

Com desaires pela caminhada de busca da posição ideal para flashes democráticos, de 12 de Outubro também vêm as contra contas dos desertores a mandar os militantes rumarem para diferentes quadradinhos do PEPS e da Plataforma, num desvio dos votos ao MLSTP/PSD para entregarem-nos de revolta a um outro concorrente eleitoral.

Marginalizados e até esmagados, os jovens quadros, ousados, queixam-se dos «donos» do partido recusarem peremptoriamente que se introduza reforma, renovação e rejuvenescimento na prática partidária.

Só que os factos mudaram literalmente a história do partido. No parlamento os  «camaradas  sociais-democratas» já não têm lugar na bancada legislativa. Urge questionar.

Que candidato de fato, mesmo sem gravata – veja-se de passagem os «barões» do actual governo grego – menos amarrotado do possível, a levar o partido de responsabilidade histórica e apetência governativa ao suspiro reclamado pelos militantes para os próximos embates eleitorais?

Num reavivar das memórias, em 1990, pela ventania democrática, o partido foi, exemplarmente, confiado aos mais novos que dele, tal e qual os das Forças de Mudança se vêm servindo do país – menos alma qui non merece – e resistem a passar o testemunho a geração de jovens disponíveis e a busca de oportunidades para tatuarem a sabedoria e a rebeldia natural de erguer São Tomé e Príncipe.

O actual espectro da casa parlamentar obriga a existência de uma oposição responsável, séria, dinâmica e sobretudo politica e juridicamente capaz de enfrentar e apresentar alternativas a maioria quantitativa e não qualificativa levada pelo “poder a subir cabeça” dos deputados do governo.

É repetitiva uma reforma do parlamento que passe pela diminuição do número dos deputados na espectativa de cortar nos custos e por outra, a possibilidade de uma aposta séria na qualidade de mulheres e homens a representar o povo com a liberdade de fiscalizar «com um pouco de isenção» a acção governativa sem serem subordinados profissionais e acumuladores de funções em detrimento de quadros desempregados.

O tango voltou a sala com o veto presidencial a emenda do estatuto dos parlamentares ou seja, a lei de incompatibilidades dos deputados – acto apelante do Presidente da República na democracia – e, as anárquicas passadas prometem trocar voltas as próximas deslocações de Pinto da Costa ao estrangeiro, diga-se de um chefe de Estado que viaja pouco e com ausência constante nos fóruns internacionais ao mais alto nível. Do MLSTP/PSD vem um gemido trémulo sem sinais de proveito político da desatinação de ADI que de tiro em tiro acerta a própria perna por cada passo de governação num ajuste de santos e bruxas do Estado.

Lunático um partido que, gozando da maioria absoluta e na sua interpretação de pôr a república na linha estrita das leis, castigou os são-tomenses com mais de um mês sem governo, o agravante vem de trás – meio ano de salário e mordomias do Estado aos seus deputados em «greve» – vir a praça, em tempo record, justificar a imoralidade com choro “ontem papa deu rebuçado a mano” e depois para injustificar que as limitações das finanças públicas não permitirem que se reparta, imediatamente, o bolo e o mal por toda a gente.

É compreensível. Fevereiro é mês de Carnaval e não faltou «samba» sem máscaras nas ruas das ilhas ao ponto dos novos figurantes da república continuarem sem noção do estado do Estado.

Ao menos que para o ano, nem que tenha de ser pelas mãos do antigo chefe de Estado, Fradique Menezes, o Primeiro-Ministro convença ao Presidente Obiang a passar ao governo os milhões de dólares tidos a parar ao Beija-Flor, vencedor recente da maratona no sambódromo do Rio. Há mil e uma necessidades fora do contexto carnavalesco para as ilhas investirem o «dinero» sem que a imprensa venha especular a contínua ficção dos são-tomenses.

Seria um absurdo pedir contas a um governo de três meses, mas também é contra senso manter um povo na sucessiva ignorância que passados vinte e cinco anos da promessa de bem-estar e do arroz pelo pai ao povo aquando do regresso do exílio, os são-tomenses nunca conheceram os amigos nem os barcos à espreita que jamais descarregaram nas ilhas um saco do produto. Aliás, os são-tomenses são um povo precavido ou não lhe faltam provérbios para tal: “palmeira de azeite conhece-se de viveiro”.

Menos mal a boa-nova. O governo vai reaver a nacionalidade aos cidadãos da CPLP e, em especial os dos PALOP, heróis anónimos da causa são-tomense num acto de repor os factos nos lugares devidos da história. Afinal, o mentor do manifesto da retirada de seus direitos eleitorais e outros aquando da desconfiança dos votos das roças desviarem-se ao adversário político, tem a assinatura do pai de Patrice Trovoada, enquanto chefe de Estado.

Nessa lengalenga e num faz de contas orçamental, o candidato governamental as presidenciais de 2016 desfilou-se luxuosamente pelos luchans e pelas cidades, no meio dos destroços e da desgraça do povo que ainda assim o aclama, “sun n’guê ça glavi ku bôka dochi”, para a tradução, bonito e de lábias, sem que direccione o país num momento aflitivo dos parceiros produtores do petróleo vendido a metade do preço estimado para este ano.

Do tapete vermelho de Belas-Angola, o Primeiro-Ministro deu o salto oficial a Malabo na Guiné Equatorial num outro faz de contas na CPLP, as viagens correram até a Europa com encontro em Lisboa ao grupito macho e, ainda não chegaram ao Dubai ou alguma capital de Estado dos petrodólares da conversão ao Islão de Patrice Trovoada.

Aterrado na terra eleitoral e já no fecho desta rúbrica, do fim-de-semana vem a declaração guerrilheira do líder de ADI a organizar as suas baterias distritais, regionais e nacionais com disparos a oposição “zagulida”, «quem estragou que ajudem a concertar ou afastem definitivamente» como que não fosse pela terceira vez que Patrice Trovoada é Primeiro-Ministro das ilhas com exercício ministerial nos demais governos e na concelhia do Presidente da República ao longo da democracia são-tomense.

A bipolarização, por si só, não é uma doutrina que possa estrangular a democracia, mas passado um quarto de século, nada de mais que falhanço o tempo consagrou na vontade e exercício dos homens apegados na capacidade do desmérito de uma geração açambarcadora e impulsionadora do facilitismo, aos quais não faltaram votos dos são-tomenses na alternância de poder das ilhas.

Em pleno deserto, o ainda espectável para o MLSTP/PSD com as directas de Maio antecedidas em Março de uma mãozinha de congresso do adversário, até pode estar na mais-valia do legado de «camarada» Cardoso, que na adversidade e estratégia de «legué bi, legué bi» uma nova montra de políticos abnegados com as causas de um povo, empunhando um novo e ambicioso projecto socioeconómico e geoestratégico para São Tomé e Príncipe possa tomar de «assalto» o partido.

Para isso, nem que tenham de socorrer-se da bênção de Pinto da Costa.

José Maria Cardoso

03.03.2015

6 Comments

6 Comments

  1. santomense

    3 de Março de 2015 at 8:30

    O MLSTP tem que se organizar, devem unir-se em prol de STP. A maioria absoluta do ADI em 12 de Outubro de 2014, foi da falta de organização e querelas dentro do Partido. Para quê PEPS? Para quê Plataforma? Esses partidos deviam-se-se unir ao MLSTP novamente, e num ambiente de harmonia levar o MLSTP ao bom porto. A nossa Assembleia precisa de uma oposição forte e credivel para fazer face a maioria absoluta arrogante do ADI.
    Patrice Trovoada sempre fez parte do poder em STP, agora tenta culpar os outros todos que tb passaram pelo poder como ele, pelo estado em que o país está.
    Patrice Trovoada fez balanço dos 100 dias de governação, considerando-o como positivo, isto´é cinismo no seu mais alto nível. Positivo, deve ser as inumeras viagens que este homem já fez desde que entrou no poder e a sua campanha presidencial, em forma de orçamento do cidadão, a custa do dinheiro de Estado.

  2. POVOS DAS ILHAS

    3 de Março de 2015 at 16:26

    Congratulo-me perfeitamente com a opinião do Senhor Santomense e digo mas, não só o MLSTP, como o PCD, devem se organizar cada um do seu lado de forma a travar o Senhor Patrício e o ADI desse atrevimento que vêm fazendo, criando ódio e separação na família Santomense.
    Estou em crer que tanto o MLSTP e o PCP, cada um desses Partidos, têm cabeças pensantes, porque se noutras alturas conseguiram, porquê que não conseguem agora.
    Não é deixar Governo cair, mas fazer uma oposição construtiva e responsável, mostrar o Senhor Patrício e o ADI que STP é de todos nós e STP está assim é porque todos temos culpa.
    Esse Senhor Patrício, está a preparar para saltar do bote do Governo e passar para a caroagem para Presidente da República. Quer chamar atenção daqueles Militantes e Simpatizantes do ADI honestos e boa fé, que amam STP, para refletirem muito bem, antes de darem cheque branco ao vosso líder Espiritual. Dentro do ADI existem muito boa gente e que sabem refletir, peço-vos que não caiam no erro de aceitar Patrício como Candidato do ADI às Presidências de 2016, se fizerem, estaremos condenados para todo sempre AMEM. Lembrem-se que o povo votou ADI para que Patrício fosse 1º. Ministro, mas como ele tem outros propósitos com STP, quer a todo custo ser Presidente da República. Ao invés do Senhor Patrício estar a preocupar com financiamento para OGE/2015, reúne os cegos do ADI a sua volta para falar das Presidências.
    POVO DE S.TOMÉ E PRINCIPE, muito atenção com Patrício Trovoada, ele quer ser Presidente da República, para ter todo S.TOMÉ E PRINCIPE sobre o seu controlo, ou seja, ter Assembleia como já tem, ter Governo como já tem e ter Presidente da República que pensa lá chegar, para vingar. Olhem só se o Presidente Pinto da Costa fosse da cor do ADI, a Lei do Estatuto dos Deputados já era, mas como Deus escreve sempre recto nas linhas tortas, deu o que deu.
    POVO ALERTA, ALERTA, ALERTA com o Senhor Patrício Trovoada.

    • Realista

      4 de Março de 2015 at 10:17

      Senhor Povo das Ilhas! Tive o privilégio de ler atentamente a sua opinião.
      Mas, li uma parte da tua intervenção, que foste infeliz, quando alegas que o Partido MLSTP e o PCD não devem deixar o atual Governo cair.
      O atual governo goza de maioria absoluta na Assembleia Nacional, o que impossibilita qualquer partido de recorrer os mecanismos legais para deixá-lo cair, a não ser que seja através de uma subversão popular.
      Viva Democracia e Viva o Povo de STP!

  3. Ver e crer

    3 de Março de 2015 at 22:35

    O Patrice Trovoada está perdido. Não sabe o que fazer com o poder porque não está habituado a trabalhar. Um lider forte e capaz não pode ter medo de chamar todas as cores de jornalistas para a sua conferencia de imprensa. Como viram, ele só chamou os seus três mosquiteiros e preparou-os bem para fazer a pergunta que lhe agrada. Ainda faltava a quarta mosquiteira para completar o quadruplo. Uma vergonha. Ainda não houvi ou seja senti a pressao da oposição na governação do Patrice e ele já esta a queixar-se da oposição. Isto é argumento para enganar o povo dizendo que ele não fez nada devido a oposição. Mas o povo já não é parvo como já disse inumeras vezes o Levi Nazaré. Até o Pinto da Costa nem fala. Já chegou ao Pais vindo de Portugal e de Guiné Equatorial e não falou a Comunicação social porque só a voz do Patrice é que conta na Comunicação social. Esses dias vamos ter que sujeitar ouvir centenas de vezes os 100 dias de balanço. ainda bem que tenho outros canais.
    Onde está o arroz de 13 contos? Já acabou? E agora !… Patrice Trovoada tenha juizo não põe a falar atoa.

  4. Maria silva

    4 de Março de 2015 at 11:45

    Que o diabo seja surdo e paralitico no inferno, com a hipótese deste fugitivo da justiça possa vir se a candidatar Presidente da Republica .

  5. Fiote

    5 de Março de 2015 at 14:34

    Caríssimos. Não se esqueçam que este gajo, para além de ser fugitivo da justiça, devia estar a correr uma investigação séria sobre a orquestração e o financiamento do Golpe de Estado de 2003. Lembram-se do artigo publicado pelo jornalista Nigeriano?

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