Há um ano, desembarquei nessas terras insulares.
Era quase noite, tinha chovido. Tudo parecia muito mágico, a começar pela primeira visão da ilha, com o Pico Cão Grande, avistado do alto, enigmático, entre nuvens. Apontava-me.
No aeroporto, os rostos, os sorrisos muito brancos, os cabelos trançados. O contraste de peles, de sotaques. “Che!”.
Sim, eu estava em África. Sim, São Tomé e Príncipe seria meu lar por um bom período.
O percurso do desembarque até a nova morada em Ponta Mina pareceu-me infinito, infindável. Muitas coisas a ver. Sentimentos em turbilhão. Apertava, ansiosa, a mão de meu companheiro, meu marido. Mão sempre ali, presente. A vida nova que se abria.
E foi assim que tudo começou. E São Tomé me invadiu. Entranhou-me.
Já trancei os cabelos, cantei “Gandu”, dancei bulawe, assisti ao Tchiloli. Comi kalulu, tomei vinho de palma. Conheci praias, roças. Já fui a Príncipe, só não vi ainda não vi as tartarugas.
Visitei exposições, assisti a lançamento de livros, a peças de teatro, a shows musicais. Já me concentrei no Parque Popular, andei de moto, visitei o Arquivo Histórico, o museu, o Monte Café.
Já cantei com Guilherme de Carvalho, dancei ao som de Kalu Mendes. Emocionei-me com a poesia de São Lima, Alda do Espírito Santo.
E vivo, o dia a dia pleno. O cheiro do mar. O som das ondas. O grito das palaiês, a vivacidade do mercado, a buzina, a música. O trabalho, os alunos, os colegas – hoje amigos. Essa gente que faz tudo valer a pena.
Hoje, os olhos de descoberta ainda se mantêm. A cada dia um sorriso novo, um gesto a corresponder, uma palavra em Crioulo Forro a perceber.
Já me misturo ao demais, não vejo mais o contraste de peles, de sotaques. Sou mais uma entre a multidão. O “branca ê” já não é entoado durante minha passagem. Sou mulata, pelo sol inclemente. Sou mulata, pela identificação com a terra. Sou mulata, pelo amor a essa gente.
Branca ê, amalgamada pelo preto, entranhada pelo negro, entronizada por São Tomé.
E, venha o que vier, São Tomé já faz parte de mim, é minha essência. E sempre será.
Eliane Vitorino de Moura Oliveira – LIA
Leitora Brasileira – USTP
Doutoranda em Estudos da Linguagem – PPGEL/UEL
Mestre em Estudos da Linguagem – PPGEL/UEL
Especialista em Língua Portuguesa – UEL
Professora de Português para Falantes de Outras Línguas
Professora de Língua Portuguesa
Bem deS.Tomé e Príncipe
7 de Março de 2015 at 9:53
Essa sua visão sobre Sao Tomé Príncipe, está infelizmente, carente em muito santomenses. Porque ainda não conseguem alimentar com naturalidade, essa nossa cultura.
Eliane Oliveira
9 de Março de 2015 at 22:20
Obrigada!
José António
7 de Março de 2015 at 21:03
Quero-lhe desejar Boa estadia nesta ilha maravilhosa e desejar que a sua estadia connosco dure muito mais tempo ou se calhar o resto da sua vida, contribuindo desta forma para a formação dos nossos jovens
Que sinta nesta terra como se estivesse na sua própria casa
Bem vindo para sí e para toda a sua familiia
Bem Haja
J A.
Eliane Oliveira
9 de Março de 2015 at 22:20
Obrigada!
olinda beja
7 de Março de 2015 at 21:51
Fiquei emocionada ao ler a sua visão sobre a minha terra, aliás não só minha mas de todos os que a amam.
Que seja muito feliz no pedaço de paraíso flutuante que Deus legou a quem merecia mas que tem feito muito pouco para o preservar!
Mesmo sem a conhecer um abraço no seu coração!
Eliane Oliveira
9 de Março de 2015 at 22:22
Que honra ler seu comentário, Senhora Escritora! Sua terra é apaixonante, como suas obras.
Um abraço.
Maria silva
8 de Março de 2015 at 23:10
Senti saudades do meu STP ” nosso neste caso “!
Bili
9 de Março de 2015 at 8:39
Estes pormenores, estas descrições, a poesia, as particularidades linguísticas do meu povo discritas no seu texto, ummm, deduzi logo que seria alguém ligada ao mundo das letras.
A semelhança dos outros meus conterrâneos quero te desejar tudo de bom e que essa terra te dê razões para manteres essa visão que tens dela e do seu povo.
Felicidades.
Eliane Oliveira
10 de Março de 2015 at 14:25
Obrigada!
Floga Bodon
9 de Março de 2015 at 14:10
Eliane , sucessos e vá em frente. Aqui na minha Terra sabes que somos acolhedores. Pelos vistos e por este andar, estou convencido esta Terra, um dia, será, tbm, tua, um dia. Parabéns.
Eliane Oliveira
10 de Março de 2015 at 14:24
Obrigada!
Jorge Castelo David
9 de Março de 2015 at 16:06
Obrigado Dra por esta valiosa contribuição que esta a dar para elevar o bom nome de S Tome e Príncipe que, infelizmente muitos santomenses que, por razoes politico-profissionais ou por amor a terra, deviam fazer mas tem vergonha de fazer. Muito obrigado e muitas felicidades para si quer estando nestas maravilhosas ilhas de S Tome e Príncipe, quer estando no Brasil ou num outro local deste rico planeta que os homens teimam em destruir.
Eliane Oliveira
9 de Março de 2015 at 22:23
Obrigada!
Jose Tavares
10 de Março de 2015 at 3:17
Fiquei surpreendido por alguns erros de língua portuguesa. Por exemplo “O percurso do desembarque até a nova morada em Ponta Mina pareceu-me infinito, infindável” , Porquê repetir infinito e infindável sendo estes adjetivos já de si fortes ?
O que quer dizer “Já me misturo ao demais” ?
Eliane Oliveira
11 de Março de 2015 at 12:23
Obrigada por sua observação.
Meu texto tem a intenção de trazer alguma poesia, tipo de texto no qual o uso da linguagem é mais elaborado, e, portanto,as palavras são pensadas para surtirem determinado efeito no leitor. Assim sendo, os adjetivos “infinito e infindável” foram utilizados no sentido de, realmente, enfatizar a distância, trazendo em si as lonjuras da minha terra, da minha gente. Percebe?
O “já me misturo aos demais” está bem explicado em todo o texto. Mas posso explicar novamente. Quando aqui cheguei, nos primeiros dias, ao sair às ruas, as pessoas me chamavam somente de “Branca” (o que acontece com todos os brancos). Não tinha nome, era somente “A branca”. Hoje, já sou daqui e as pessoas, quando eu passo, já sou a Eliane, a Lia, a professora. Entende? Estou integrada à vida, ao dia-a-dia, à encantadora São Tomé.
Não sei quais seriam os outros “erros” citados pelo Senhor, leitor assíduo, mas eu garanto que eles não comprometem a emoção que entronizei nesses meus escritos. Mas já que estamos falando em erros, e percebi que é atento a essas questões, sugiro que revise o uso do pronome interrogativo em sua pergunta, pois o “Porquê” está mal utilizado. O certo aí seria “Por que”.
Obrigada.
Eusébio Pinto
10 de Março de 2015 at 9:50
Aí… Quanta nostalgia invade o meu ser ao ler este rico texto sobre o meu país!
Obrigado Dra. Eliane
Eusébio Pinto
Luanda – Angola