Opinião

A Importância da Literacia Estatística no Quotidiano dos Cidadãos

Adrião Simões Ferreira da Cunha

Estaticista Oficial Aposentado – Antigo Vice-Presidente do Instituto Nacional de Estatística de Portugal

11 de Março de 2016

A IMPORTÂNCIA DA LITERACIA ESTATÍSTICA NO QUOTIDIANO DOS CIDADÃOS

Sendo a Estatística um conjunto de métodos para a realização de inquéritos através da recolha, tratamento, análise e difusão dos resultados obtidos, auxiliando a tomada de decisão, a sua relevância pode ser observada pelo seu uso em organizações governamentais e não-governamentais, onde instituições financeiras, económicas, sociais e ambientais necessitam de conhecimentos estatísticos do nível elementar ao nível avançado, para que os cidadãos comuns e os profissionais em geral possam tomar decisões com fundamentos técnicos e científicos com uma certa margem de segurança.

O papel da Estatística atingiu uma importância cada vez mais significativa no desenvolvimento socioeconómico, tendo sido criadas instituições com fins específicos de responder à procura de dados para fins de planeamento.

Importa realçar o papel dos Institutos Nacionais de Estatística (INE) que têm como missão retratar os seus países com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania por meio da produção, análise e difusão de informações estatísticas, designadamente, demográficas, socioeconómicas e ambientais.

De salientar ainda que os INE, no desempenho das suas funções, oferecem uma visão ampla, completa e atualizada dos respetivos países, entre outras questões na produção e difusão de informações estatísticas oficiais, na coordenação e consolidação destas informações, e na coordenação dos seus Sistemas Estatísticos Nacionais.

A nível internacional, a Associação Internacional para a Educação Estatística nas suas ações pelo mundo procura promover, apoiar e melhorar a Educação Estatística em todos os níveis, além de estimular a cooperação internacional, a discussão e a investigação, disseminando ideias, estratégias, materiais e informações através de publicações e conferências internacionais.

Assim, a Estatística tem uma aplicação muito vasta na utilização de dados e contribui para o desenvolvimento científico. Portanto, na atualidade, a necessidade de conhecimentos estatísticos incrementa-se para as pessoas em geral, a fim de possibilitar uma melhor compreensão dos fenómenos da natureza e sociais bem como as tomadas de decisão.

Destaca-se ainda a necessidade numa sociedade industrial dos adultos estarem capacitados (alfabetizados) estatisticamente para analisar e avaliar criticamente a informação, oriunda da organização de dados que os indivíduos podem encontrar em diversos contextos, e discutir e comunicar as suas concepções em relação a essas informações quando forem relevantes.

Diante da necessidade dos cidadãos e dos profissionais em geral, em domínios de conhecimentos estatísticos para decidir no quotidiano, alguns países introduziram o ensino da Estatística nos currículos escolares em todos os níveis do ensino.

Não basta o cidadão entender percentagens expostas em índices estatísticos, como taxas de crescimento populacional, de inflação ou desemprego, é necessário que saiba analisar e relacionar criticamente os dados apresentados, analisando, interpretando, comparando e tirando conclusões.

Alguns autores consideram que a representação gráfica tem uma eficiência na transmissão das informações, por ser visualmente mais amena na percepção e raciocínio das pessoas, mas advertem sobre as contradições existentes no recebimento das informações de inquéritos com fundamentação observacional, experimental e estatística, cujos resultados, às vezes, não são compreendidos por serem divulgadas apenas conclusões de forma incompleta, descontextualizada, distorcida, e mal compreendidas que induzem as pessoas a tomarem decisão de forma equivocada.

É preciso compreender que a maioria das informações provenientes de inquéritos estatísticos, na busca de estimar tendências e parâmetros, tem por base uma amostra, a partir da qual os parâmetros são estimados. Logo, as inferências obtidas com base em dados amostrais estão sujeitas a erros provenientes da própria amostragem.

Também se deve compreender que, nos casos de sondagens de opinião pública, por detrás de toda a informação veiculada pelos órgãos de comunicação social, existe um patrocinador, alguém que pagou pelo inquérito e que, portanto, pode colocar-se em dúvida a neutralidade e, em certa medida, a fidedignidade dos resultados exibidos em tais investigações.

Desta forma compreende-se a necessidade das pessoas comuns possuírem algum conhecimento estatístico para o exercício da cidadania, pois esta consiste nas possibilidades do indivíduo de participar ativamente da vida do país e da sua população, inserindo-o na vida social, e facilitando a tomada de decisões.

Numa Sociedade onde o cidadão, a todo instante, é bombardeado com uma gama muito grande de informações estatísticas, precisa de ter conhecimentos e habilidades básicas para saber analisar, interpretar e compreender essas informações para tomadas de decisão no seu quotidiano.

Uma habilidade fundamental para o cidadão interpretar e avaliar, de forma crítica, as informações estatísticas é a Literacia Estatística. O indivíduo “letrado” estatisticamente necessita ainda de habilidades de comunicação para expressar as suas opiniões e tomadas de decisões baseadas na adequada compreensão da análise dos dados.

A Literacia Estatística vai além da aplicação da Estatística de maneira mecânica, constituindo-se na habilidade de ler e interpretar dados de uma forma critica. O uso adequado dos conhecimentos estatísticos é de extrema utilidade em argumentos do quotidiano do cidadão comum, dos estudantes dos diversos níveis de ensino e dos profissionais em geral.

Para um adulto, a Literacia Estatística é definida como a competência para: a) Interpretar e avaliar criticamente a informação estatística, os argumentos relacionados com os dados, que se podem apresentar em qualquer contexto e quando relevante; b) Discutir ou comunicar as suas reacções sobre tais informações estatísticas, tais como os seus entendimentos do significado da informação, as suas opiniões sobre as implicações dessa informação ou as suas considerações acerca da aceitação das conclusões fornecidas.

Há pessoas que se colocam em extremos opostos quanto aos inquéritos estatísticos. Há aqueles que não acreditam em inquéritos estatísticos por julgarem que a Estatística é a “arte de mentir”. Enquanto isso, há os que acreditam que as previsões ou tendências estatísticas são extremamente confiáveis, mesmo desconhecendo alguns conceitos elementares essenciais à análise e compreensão dos dados. Em ambos os pensamentos as pessoas necessitam de melhor fundamentação para compreender as informações estatísticas.

Um exemplo conhecido do cidadão são as sondagens de intenção de voto realizadas em épocas de eleições. Para o eleitor avaliar criticamente uma sondagem com este tipo de finalidade é preciso compreenderadiferençaentrepopulaçãoeamostra,tiposdeamostragem adequadas àhomogeneidade ou heterogeneidade da população, margem de erro e intervalo de confiança.

Os indivíduos compreendendo estes conceitos fundamentais de Estatística terão melhores condições de compreender as informações e tirar conclusões com mais segurança bem como tomar decisões com a menor margem de erro possível.

2 Comments

2 Comments

  1. Juvenal Espirito Santo

    13 de Maio de 2016 at 19:00

    Excelente artigo do Dr Ferreira da Cunha que aproveito para cumprimentar. Um grande abraço. Juvenal Espírito Santo

  2. Estudante

    17 de Maio de 2016 at 13:20

    Muito grato pelo artigo,os nossos dirigentes vão continuam a planificar usando estatisticas.

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