Opinião

Pensando Bem…5

Por : Joaquim Rafael Branco

Confinamento, cegueira e preconceito: Porque vemos a árvore e não a floresta.

Filinto Costa Alegre numa contribuição de reconhecido mérito abordou a questão da árvore que esconde a floresta de uma maneira muito convincente. Num outro registo Luisélio Camblé também abordou outro aspecto interessante da problemática provocada pelo COVID 19…

O confinamento imposto em resultado da pandemia de COVID- 19 levou muitos a ficar isolados em suas respectivas casas. Longe do contacto com outros. Sem se verem. Mas acredito que na realidade estamos confinados há várias décadas. Confinados dentro de nós mesmos sem vontade de ver o Outro. A única coisa que vemos é a nossa árvore, o nosso interesse, e talvez alguns rebentos da árvore mãe, como quem diz, nós, nossa família e pouco mais. O problema é que cada um, cada grupo, só vê uma árvore, a floresta fica ignorada. Estamos cegos.

José Saramago, numa obra memorável “Ensaio sobre a Cegueira” lida com os desenvolvimentos de uma epidemia de cegueira que se abate sobre uma comunidade para mostrar o que de pior existe numa sociedade comandada por instintos de sobrevivência individual, como medo, raiva, ódio, rancor ,etc.

Leitura que devia ser obrigatória para quem pretende compreender as sociedades modernas e os desafios morais e éticos que decorrem de relações humanas marcadas pelo egoísmo, o medo, e a insensibilidade.

Escreve Saramago: “ Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que não vêem, cegos que vendo, não vêem”.

Esta incapacidade de ver o Outro, compromete a nossa identidade individual e colectiva, pois só somos quem somos em relação ao Outro. Recusamos olhar e ver o outro e a partir daqui os preconceitos se instalam. O Outro é o oposto de nós, muitas vezes o inimigo, porque pertence a religião A, ao Partido X, ao clube Z. Numa rápida e imponderada generalização o Outro, são todos os outros, todos maus, merecedores de qualquer consideração, sem valor e portanto devem ser, estigmatizados, perseguidos, excluídos. Se não pertence ao nosso grupo, se não pensa como nós, se não é como nós, não deve existir.

O Bem, o Mal, o Justo, o Injusto, o Correcto, o Incorrecto, a Verdade, a Mentira é visto e catalogado na perspectiva daquilo que pensamos, vemos e sentimos. Julgamos o Outro a partir de nossos critérios irrevogáveis, de maneira definitiva, sem olhar para contextos, ou circunstancias particulares, factos que, mesmo em direito penal, são levados  em consideração. O que Outro pensa, vê e sente só pode ser inaceitável, intolerável, condenável. Se não pensa como nós, não pode ser boa pessoa. É fácil, é confortável. Meter todos no mesmo saco não nos obriga a ver cada um na sua individualidade própria. O que é ridículo, é que, quando alguém, por qualquer razão abandona um grupo de referência e passa para outro, perde todas virtudes ou defeitos do seu grupo, e passa a ter as virtudes não os defeitos do nosso.

Como compartilhar ideias tão necessárias a coesão social, a unidade de propósitos, como desenhar um futuro comum se nos confinamos dentro de nós, do nosso grupo, nossa religião, nosso partido? Como tratar da floresta se só vemos e nos concentramos na nossa árvore?

Não tenho uma resposta definitiva. Mas talvez o conhecimento nos ajude a encontrar uma resposta. Se investirmos no conhecimento, se nos actualizarmos em permanência, se procurarmos ir mais fundo nas nossas indagações talvez encontremos respostas. Respostas que abram portas, alarguem os nossos horizontes limitados indo para além de nós para chegar ao Outro. Se nos abrirmos ao Outro na sua múltipla dimensão podemos descobrir que afinal em muitos aspectos o Outro, somos nós naquilo que é a essência da nossa condição humana, comungando sonhos, aspirações e necessidades.

“É necessário sair da Ilha para ver a Ilha. Nós não vemos se não sairmos de nós”. José Saramago.

Homem algum é uma Ilha, disse alguém. Seremos mais um arquipélago no planeta Humanidade, digo eu.

A leitura pode ser uma ajuda fundamental para superarmos as nossas limitações de visão, as nossas cegueiras. Quem não lê, pensa deficientemente, erra muitas vezes, pouco aprende. Não se supera. Sobretudo não consegue ver-se a si próprio e muito menos ver o Outro e perceber um mundo em permanente e profunda transformação.

Tenho advogado em quase todos os meus livros a necessidade da leitura e a sua capacidade libertadora.

Em “Fragmentos de Uma Vida Sonhada”, publicado em 2017 escrevi:

Muito do que sou foi-me ensinado pelos livros. Meus pais desenharam-me, fabricaram o molde. Os caboucos e tudo mais foram feitos pelos livros com a ajuda do cimento da vida.

Eu fui e continuo a ser formatado pela leitura de livros, de todos os géneros. Estou umbilicalmente ligado a muitos homens e mulheres, que nunca conheci, a lugares que dificilmente posso localizar no mapa, a acontecimentos que não vivi, mas aos quais me ligam intimidades, cumplicidades e sentimentos que alimentam os meus sonhos, aspirações, desejos e necessidades básicas. A minha pátria não tem fronteiras geográficas. Ela está em permanente construção, crescendo na medida em que a leitura a elas me conduzem.”

(…)” Por isso ,dizer-te quem sou não é tarefa simples. Preciso de conhecer-me na totalidade, para te fazer conhecer-me parcialmente. Na verdade tens que juntar fragmentos sabendo que ficam zonas obscuras, buracos profundos, vazios esguios, que convidam a especulação ou a adivinhação, alternativas muito distantes da racionalidade das ciências”.

Os livros livram-nos da cegueira de mil maneiras. Eles ajudam-nos a ver a floresta da humanidade e a tratar cada árvore, como elemento umbilicalmente ligado a um todo complexo que é a condição humana. Eles permitem-nos ver muito longe e de maneira profunda como tudo (e todos) está (mos) interconectado (s) neste planeta.

Termino invocando alguém mais poderoso em termos literários.

Como o olhar, a razão

Deus me deu para ver

Para além da Visão

Olhar de Conhecer”.

Fernando Pessoa

 

16 Comments

16 Comments

  1. Carlos Costa

    9 de Junho de 2020 at 23:29

    Nem sequer li esse Pasquim! Só tenho a dizer que cada povo tem o parvo que merece. Decidiu ños abandonar e agora manda recados. Vá enganar a União Africana de que as eleições na Guiné – Bissau foram livres, justas e transparentes. Recebeu a massa e zarpou. Fez bem a si. Mas não leio Pasquim dos corruptos. A Vendeu a ENCO a Sonangol por 30 milhões de dólares para pagar a dívida de USD: 21 milhões. Os restantes USD: 9 milhões não entraram no cofre do Estado Santomense. Graças aos insistentes chinguilamentos do Dr. Fortunato Pires, na epoca, Presidente do Tribunal de Contas, os USD: 9 milhões do Estado Santomense desembarcaram no cofre do estado. E este Koboncone da actualidade era o primeiro ministro. Não conseguiu gerir uma ENCO agora vem disfarçado de intelectual e escritor. Repito, não perco o meu precioso tempo lendo artigos dos corruptos. Vá enganar a União Africana e a Guiné Bissau.

  2. Vanplega

    10 de Junho de 2020 at 6:34

    Kkkkkkkkk be bou moco, che dai.

    Pois e corrupto, estamos a ver arvores e nao forestas. Coisas que os nossos politicos nos impuseram-nos.

    Se a justica funciona-se, hoje, ha vias florestas e nao as arvores.

    Voce foi um engano nesta sociedade.

  3. olhos abertos

    10 de Junho de 2020 at 8:17

    Este senhor é mesmo teimoso. sun gué é, sun té téma. Depois de toda a corrupção que esteve envolvido ainda tem a cara de pau de vir escrever. Como se não bastasse está na comissão para mitigação dos efeitos da Covid 19 que certamente o Estado já lhe deve ter pago muito dinheiro com os 12 milhões de dolares de FMI.
    Estou cansado de hipocrisia.

  4. Crisotemos Café

    10 de Junho de 2020 at 10:15

    Man RAFA, diz ao seu camarada Posser da Costa, que o Terreno que ele vendeu a SONANGOL, nunca foi da SHELL-STP, é um parque/jardim Público. Por isso o Kney enquanto Presidente da C.D. de Agua Grande nunca concordou com isto. Mas este Mda José Maria da Fonseca, por ser seu camarada viabilizou logo,um autentico sob só.

  5. Fuba cu bixo

    10 de Junho de 2020 at 14:46

    Acho que é remorsos que subiu este Rafael Branco porque vocês enquanto políticos nunca olharam o povo Santomense como um todo como referiste e bem vocês só olharam para vosso grupo vosso partido vossa elite.
    Para vocês S.tomé e Príncipe é só vocês e vossas elites e grupos tudo que S.tomé recebeu em nome do povo ficou para vocês e vossas elite e o povo nunca contou para nada a não ser para votar e vos por no poleiro para enriquecerem e o povo ficar na miséria crítica.

    • kundublabu

      10 de Junho de 2020 at 17:03

      Subscrevo ipsis verbis. Bandidos.

  6. Macalacata

    10 de Junho de 2020 at 15:23

    Sendo as tuas escritas um conjunto de ideia vazias eu nem sequer perdì um segundo meu no teu conteùdo e quero que vais novamente dar banho as ovelhas sr corupto dos coruptos Santomense.

    • kundublabu

      10 de Junho de 2020 at 17:04

      Eu no lugar dele, se tivesse consciência e sensibilidade, jamais escreveria depois de tantas criticas que tem recebido aos seus lixoartigos.

  7. Zagaia

    10 de Junho de 2020 at 22:11

    Os políticos de STP, não têm vergonha e são grandes hipócritas. Esse povo humilde, tem muita paciência em ler e dar ouvido á esses “intelectuais de faz de conta” um bem haja.

  8. Desconfiado

    11 de Junho de 2020 at 9:42

    Caro Dr. Rafael Branco, pretendo lhe dar um conselho: Enquanto for culpado, em partes, pelo destino deste povo que ainda continua ainda miserável e morribundo, nunca venha ao público falar doutra coisa senão do remédio para curar o que o Sr. ajudou a estragar. Este conselho serve para si e para todos os outros carrascos nascidos nesta terra! Procure saber o que se passou há dias com a Sua. Excia. o Sr. Presidente da Reública Evaristo C. no mercado de Bobo Forro!!!

  9. Desconfiado

    11 de Junho de 2020 at 10:09

    Excelentíssimo Dr. Rafael, enquanto for parte do problema, nunca apareça para outros motivos que não seja a solução do mesmo problema. Ok?! O amor e o ódio do povo para com os seus dirigentes indígnos andam juntos!

  10. Dádiva

    11 de Junho de 2020 at 20:48

    Chêeee sum lafaé, kaboca sum pipipi ná bila fláfa. As pessoas estão cansadas senhor Joaquim, seria melhor um dia escrever o que senhor pretende fazer com São Tomé e Príncipe de verdade, se é intenção de vender o que restou também seja claro pela primeira vez. Vai morrer longe com seus discursos, chisa……

  11. tela

    12 de Junho de 2020 at 9:02

    Ha ha ha ha. Essa foi boa,” cada país tem o parvo que merece…”. Realmente quando os politicos desprezam o povo apropriando-se dos bens do país este é o tratamento que recebem.

  12. sem assunto

    12 de Junho de 2020 at 10:02

    Sempre com ares de intectual e muito instruido, porque será ? O tempo passou meu Caro, este pseudo intelectualismo exibido pelo Pinto, Miguel e muitos outros, a quando da fundação da famigerada nação já não “bate”! Hoije sabemos de que era tudo paleio e zoplo, na verdade era a continuidade da colonização.
    Queremos pão na mesa e soluçoes praticas para os nossos problemas, muitos deles agudizados por gentes como o senhor que outrora fora inumeras vezes governante e em nada adientou. O exemplo é que foste Minitro da Educação e passas a vida a citar obras ocidentais, nunca estimulas um olhar atento, critico e reflexivo sobre à realidade Africana no seu todo.
    São vocês, os alienados e mentalmente colonizados, chegam a ser mais europeus do que o propio europeu, todos os dias livros e mais livros,exclusivamente o do outro, e para quando a apresentação de uma obra africana? Na tua vastidão literaria não existe espaços para Chinua Achebe, Sony Labou Tanzi, Ngugi Wa Thiong’o entre muitos outros ?
    Reveja os teus preceitos!

  13. Como será

    14 de Junho de 2020 at 14:25

    Ehhhh. Cada vez que leio comentarios sobre as edicoes do pensando bem, fico sem perceber como alguem qur recebe tanta patada do seu concidadao ainda continua escrevendo como se nada lhe afetasse ,talvez seja um hipócrita ou escreve para gozar da populacao, ele fala muito da árvore e floresta, como politico antigo conhecido da nossa praça, ja exerceu varios cargos, o que fez para floresta e arvore andarem juntas? E por outra quando foi ministro da Educação que mudancas deu no nosso sistema de ensino?, pais ganhou Universidades ou institutos medios.?hoje nos temos um ensino fragilizados as nossas crianças ja nao sabem pronunciar um “R” como manda regras da lingua portuguesas; porque os profesdores tambem apresentam a mesma dificulidade linguistica,falam parecem cidadaos francofunos. Isto fica muito complicado entender qual é ideia deste camarada.

  14. emilia alves

    18 de Junho de 2020 at 16:10

    pois é , o que acontece é que -ja de nada serve o remorso do que se fez e nao se fez por egoismo , soberba ,o eu sempre em 1º lugar , porque enquanto se usou o poder para poder viver bem , sem tirar da miseria o seu povo , manter no analfabetismo centenas- milhares de crianças jovens . adultos e idosos , com roupinha rota , descalços atras de doce doce , doentes , sem agua para beber , para o banho a nao ser a agua do mar e para comer o que a terra dá.

    muitas geraçoes nao tiveram opurtunidade o que quer dizer que se procrastinou um grande numero de saotomenses que poderiam ser bons quadros tecnicos e porem o pais a funcionar pois algumas ideias diferentes e ideaìs puderiam mudar o PAIS que continuo sujo , esventrado fisica e economicamente , despota e prepotencia de quem manda .

    È pena que nada muda ,mas dos arrependidos nao creio que seja deles o reino dos ceús ,talvez se efectivamente se empenharem em repor e fazer o que efectivamente deveria e devem fazer possam ter algumas graçias

    Todos querem viver um dia de cada vez o que muda é como se vive . mas toda a gente quer vive-los bem e mesmo assim por opcçao uns viverao melhor outros menos bem , mas ha a opurtunidade de escolha ai esta muito a diferença, nao por falta de opurtunidade mas por imposiçao radical

    è uma opurtunidade SR EX MInistro de repor , bem como todos os que governam e governaram , só assim se aceitam desculpas .ou remorsos de consciencia . o mundo é global e a todos diz respeito porque se sacrificam uns em proveito de outros

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