Opinião

Crónica Poética – A PANDEMIA –

CRÓNICA POÉTICA

 

– A PANDEMIA –

( Lírica de Combate )

 

O combate não se faz apenas

Com armas

A luta não se trava apenas com gestos…

Nem sempre o dano é físico

Nem sempre as moléstias

São feridas cunhadas como chagas

Na pele…

E no que à pandemia se refere,

Há combates que se travam

Com o testemunho das palavras…

E a poesia tem essa voz demolidora

Pois o vírus não é imune

Às metáforas

Quando a poesia se forja

Na iminência de exterminar

O instinto do medo

Da dor

Do pânico

Da incerteza

Que paira na nossa mente

E na nossa imaginação!…

Daí que compus desta feita um poema que reflecte esta dinâmica belicosa e espero, uma vez mais, que os estimados leitores tenham a paciência de o ler, já mesmo a seguir: 

– A PANDEMIA 

(Lírica de Combate) 

Quando te escondias

Encostado à sombra da palmeira

Eu sentava-me

No tronco da amoreira

Quando me pedias

Que assomasse à janela

Eu perscrutava a lua

E a noite singela…

Tu tens o fogo virulento

Mas não corróis

A lenhosa palma fagueira;

Eu tenho a chama lenta que dói

Emprestada à noite

E à lua companheira…

Se achas que o turbilhão inflamas

Neste nosso navio humano em chamas,

Ai, vírus malfadado,

As minhas doces palavras

São setas feitas de palmas

E de espinhos horripilantes

Armados como farpas!…

E enquanto te escondes à sombra

Da palmeira

Eu cavo com as metáforas

A tua sepultura

De bicho infando…

– Oh, torpe vírus,

Monstro insano!!!

***

Finalmente, permitam-me agradecer o carinho com que foi acolhida a minha última crónica pelos leitores amigos e dedicados, especialmente os meus queridos familiares, e as palavras de incentivo e fortaleza que tornaram a minha vontade de contribuir mais eloquente e inadiável, pedindo desculpas caso tenha omitido algum leitor ou personalidade amiga.

Um bem-haja a todos! 

São Tomé, 09 de Julho de 2020.

Elaborado e escrito por:

Albertino Will Pires dos Santos

(Licenciado em Tradução, professor e bibliotecário no Liceu Nacional de São Tomé e Príncipe) 

7 Comments

7 Comments

  1. sem assunto

    11 de Julho de 2020 at 15:28

    Efeitos Covid 19.
    Senhor Professor para semana havera o conselho de notas e exames finais, veja se concentra as suas energias ali, e deixe a poesia sobre covid para outra altura!
    Não esforces para aparecer.

    • Manuel da Graça

      15 de Julho de 2020 at 14:02

      Não, não e não, meu caro(a)!

      Diz-se por aí que quem muito aparece, aborrece [verdade]. Mas de entre as poucas aparições (públicas/redes sociais) que em nada aborrece os bons apreciadores de um bom “papo” recheado de sabedoria, as do Albertino Will, são de nos deixar boquiabertos, clamando por mais!!

      Grande abraço,

      Manuel da Graça

      (Venham mais obras com mestria, mano/amigo, Albertino Will. Por favor!)

    • Albertino Will Pires dos Santos

      19 de Julho de 2020 at 11:42

      – Olá, caro mano e amigo Graça!
      Pelas tuas eruditas palavras, vejo que não me sinto uma ilha no mar planetário das metáforas. Honra-me a maneira douta e o engenho e subtileza com que atavias o enunciado discursivo, induzindo em nós, cultores da escrita, o encanto e o prodígio inerentes à transfiguração estética e artística do signo linguístico, por via da sua configuração versátil e polissémica.
      Por muito que digladiemos na arena linguística e no universo literário, há uma verdade que, a meu ver, se afigura incontornável:
      O escritor (particularmente o poeta) é como o oleiro que trabalha a estátua; o busto é a sua caneta; o barro (a matéria) – o substrato, o conteúdo; os olhos e a expressão facial da escultura – são o húmus injectado pelo estro afogueado do sujeito lírico; e, se a dada altura, o monumento fala, é porque se liberta o cinzel do poeta, da mão do sonhador e, aí, a obra já não é pertença do génio das musas que a amassou e a engendrou…
      -É isto, meu caro amigo Graça, cada espectador atento colherá, no coqueiral ou na seara das safras, o que a consciência lhe ditar. Resta-nos prosseguir por cá esta peleja grandiosa e incessante pelo triunfo das palavras no reino maravilhoso da escrita! É urgente que elas ganhem vida e sentido, e cá estamos para dar corpo, voz e alma a esta tarefa nobre, ingente e inadiável! Obrigado, amigo, pelas continuadas contribuições. Abração, Albertino Will Pires dos Santos.

    • Tentador a Ler

      15 de Julho de 2020 at 17:44

      Oh ladrologo,

      Pelo pseudónimo já se podia antever o seu comentário.

  2. Manuel da Graça

    15 de Julho de 2020 at 14:19

    Que tal – como se de magia tratasse -, retomarmos (Sãotomenses!!) aquele hábito de leitura e escrita? (Seguramente, afogaríamos essa crescente pobreza de espírito e alma!!)

    Obrigado pela “pedrinha no charco”, Albertino.

    Abração,

    Graça

  3. Albertino Will Pires dos Santos

    16 de Julho de 2020 at 22:00

    Estimado leitor e amigo:
    Venho humildemente agradecer-lhe a gentileza de ter lido e comentado o texto da crónica e suplico imenso a Deus que o abençoe grandemente, provendo-o do melhor que a vida nos pode oferecer, a saúde e a felicidade.
    Com os meus respeitosos cumprimentos.
    Albertino Will Pires dos Santos.

  4. João Manuel de Sousa Will

    6 de Setembro de 2020 at 20:26

    João Will
    Gostei do seu poema, pela sua sensibilidade o olhar crítico quando escreves sobre “lírica de combate” . Esse poema inspira todas as idades e reflete principalmente a nossa realidade são tomense e outras realidades, tocando os nossos sentimentos, não só manifestado no amor, nas nossas crenças, dor, medo, angustia, pânico, incerteza, doença, meio ambiente, injustiça, entre outros que nem na pandemia e pospandemia, poderá nos derrotar e vencer a nossa esperança, pois, tudo de mais é provisório.
    Parabéns Betinho Will continua com esse entusiasmo.
    Um forte abraço

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