Opinião

“Piôtlô bôbô ten!”, o absurdo e o miúdo baleado pela polícia

O gabarito de Maria do Carmo Silveira no palco internacional deveria mobilizar o estandarte de mulheres das ilhas no exercício público evitando o apupo da velha brochura. Não menos preocupante, são os gritos a volta de um miúdo, largado a sua sorte, após ser baleado pelos agentes da Polícia Nacional sem que a TV e a emissora do Estado, na prestação pública, dessem visibilidade ao pedido de socorro dos populares baleados quando há espaços de antena para crises cíclicas.

Após os quatro anos de uma maioria rústica e anti-democrática com o poder a subir à cabeça do executivo com os aplausos da militância partidária que subalternizou uma parte de são-tomenses, institucionalizou o clima de ódio, invadiu o país com a tropa ruandesa, enclausurou a livre expressão. Não só.

Delapidou os fundos públicos e no final não deu bolas à república na necessária e legível prestação de contas, ansiava um novo nível de governar com a necessária autoridade do Estado sem desvairar no autoritarismo exacerbado, não obstante o tráfico concebido à negociata em redor da formação, em 2018, do XVII Governo Constitucional com a implicância na promoção de Delfim Neves à 2a. figura do Estado e cargos ministeriais como que os 5 assentos da coligação eleitoral PCD-MDFM-UDD gozassem de estatuto superior aos dos 23 do MLSTP.

A irracionalidade embrenhou-se na sociedade e o escrutinado “boa pessoa” que o nome não levanta suspeita, Bom Jesus, por ser humano, de ilusionismo rapidamente transferiu a crença ao abismo do “Diabo”, creio pela ausência do poder que o seu antecessor era sobejamente um abastado possibilitando-nos, em menos de dois anos, escavar os escombros e rasgar por completo toda a memória recente de múltiplas queixas até ao divino.

Em mais de um texto reclamei na tribuna deste jornal digital a solitária presença feminina nos diferentes executivos ou a ausência dela quando mais, são as mulheres, a maioria sem qualquer formatação escolar avançada mas com humanismo que se ocupa de educação e formação da sociedade são-tomense. Todavia, para a resignação pessoal e numa catadupa três Marias, as doutoras Elsa Pinto, Ivete Lima e Maria da Graça disponibilizaram-se num pé de “puíta” de que “Maria non dá!“ num atropelamento para com a democracia delineada pelos aprendizes nas décadas de oitenta/noventa e aplaudida internacionalmente.

É injusto generalizar a parceira quando São Tomé e Príncipe orgulha-se num nome feminino entre os mais respeitados no Top 100 África da lista de 2020 de Reputation Poll International, a empresa líder global em gestão de reputação com a condecoração de Maria do Carmo Silveira que, infelizmente, não granjeou manchete nas ilhas. Para compor os homenageados dos PALOP, dentre os 53 homens e 47 mulheres temos Carlos Lopes da Guiné Bissau, José Eduardo Agualusa de Angola e Mia Couto de Moçambique. Parabéns senhora doutora Maria do Carmo Silveira!

Um piscar à composição do Conselho de Estado, se não for erro de ótica, não se vê uma só representante feminina que em contexto conflitual, razoavelmente, a inteligência e paciência permitem esfriar tensões e detetar saída mais equilibrada. Será imitação às democracias avançadas que a equidade de géneros não passa de discursos e boa vontade do parceiro?

Do baú do Téla Non consegui resgatar de 2013, há sete anos, o seguinte apontamento a pedir cabeça: “Elsa Pinto, a nova Procuradora Geral da República, a quem compete entre outros, pôr a justiça nos carris da democracia e limpar os tribunais da malha de corrupção, vê a sua nomeação e investidura contestadas pela opinião pública e até pela Bastonária da Ordem dos Advogados…” suportado pelo soberbo título “Procuradora Geral da República com pernas de barro”, o que não levanta suspeitas intemporais apesar da competência que lhe deveria abonar na prestação pública.

A ministra dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação e das Comunidades, apesar de lesa-pátria de 1997 e propositado ao mais alto nível do Estado em que a prostituição diplomática, segundo voz-contra da época, vendeu o país à algibeira pessoal por uns valiosos 30 milhões de USD americanos à China Taiwan em detrimento da China Popular e tantos outros negócios obscuros mais recentes, depois de hipotecar, vergonhosamente, os votos são-tomenses nos palcos internacionais a mercê do reino de Marrocos a luz de viagens e dormidas nos hotéis estrangeiros, Elsa Pinto achou-se no direito de crispar a relação institucional introduzindo o Presidente da República, Evaristo Carvalho, na teia criminosa sem até então avançar com o pedido de desculpas.

No país de prostituição jurídica é indesmentível de que a ministra da Justiça, da Administração Pública e dos Direitos Humanos, Ivete Lima, reclame envelopes criminais e de corrupção ao Procurador-Geral da República, Kelve Carvalho e preferir ao arrepio da lei compactuar com a diretora da Polícia Judiciária, Maribel Rocha, a detentora de investigação criminal na encruzilhada do desaparecimento de droga do “cofre-forte” da Polícia Judiciária.

Aliás, o “assédio” político-jurídico entre os dois jovens de Direito, todos os cargos confundem com obediência à coloração partidária na representação do Estado, vem de lá atrás, Abril de 2019, com a detenção pela Polícia Judiciária de dois ex-ministros do XVI Governo Constitucional do pelouro das Finanças e das Obras Públicas, respetivamente, Américo Ramos e Carlos Vila Nova que o Procurador-Geral da República criticou de ilegal pelos procedimentos de investigação que enclausuraram “peixe-gordo”.

Muitos juízes, incluindo o Hilário Garrido com obra publicada, arquitetaram a mudança da PIC, Polícia de Investigação Criminal para a atual nomenclatura, a varinha mágica perfeita, descuidando-se de que o imbróglio não reside em terminologias e formatos, mas sim nos autores padecendo de miopia diplomática, usurpação de poder e para completar a censura democrática, a cegueira pelo curandeirismo. A república no leve-leve vem compadecendo com o agravante do desaparecimento de droga no Tribunal Supremo da Justiça (2018), Ministério Público (2018) e agora na Polícia Judiciária sem que se responsabilize os autores do crime no nítido abanão do Estado de Direito e a mercê de jovens embebidos na desgraça do consumo de estupefacientes.

No país leviano, a ministra do Turismo, da Cultura, do Comércio e da Indústria, Maria da Graça Lavres, por sua vez e depois de sujeitar aos filhos do Príncipe querelas absurdas e anteriores à sua nomeação governativa, reinaugurou queixinhas à Nação. Devido a máscara pandémica-viral que confunde cara até as pessoas de convivência, distraindo-se do papel de políticas governamentais exigíveis nas suas pastas, entendeu jogar nova cartada, disponibilizando-se a levantar voz na emissora nacional enquanto vítima assumida de não ter sido recebida por Filipe Nascimento, o jovem Presidente do Governo Regional, quem aproveito estender o abraço afetivo e êxitos no cargo regional para saltos mais auspiciosos em nome de São Tomé e Príncipe.

Príncipe reclama melhor figurante para a “dêcha” reabilitando com o gesto a nova etapa e de elevação, já que a relação com o anterior executivo regional de Tozé Cassandra foi publicamente mal encenada pela governante.

O governo esteve pessimamente mal no desprestigiante papel de pais protetores que confrontando com o lacrimal acusatório do filho-adolescente, aparentemente de físico recomendável, invadem a escola de armas em punho para alvejar a turma, os professores e a direção escolar, não permitindo a ministra ajuizar-se e melhorar a performance regional para o tão desejado crescimento nacional e do Príncipe, em especial.

Jamais o Secretário de Estado da Comunicação Social e porta-voz governamental, Adelino Lucas – quem admiro pela pessoa, garra e pelo profissionalismo jornalístico – em contrária direção democrática deveria em nome do XVII Governo virar baterias contra os outros poderes devidamente resguardados na Lei Constitucional. A vedeta em prestar serviço, os são-tomenses, agora, insensíveis a vida humana, viram-lhe lá atrás a banalizar os 12 mortos, na altura, vitimados de Covid 19 e ninguém censurou inclusive o pico da pandemia visionado antecipadamente pelo governante sem qualquer base científica.

Nessa política de banalidade humana e após os episódios de Micoló e Fernão Dias, regiões à beira-mar, em que a população travou o transbordo de mercadorias e estupefacientes, chegou-me um vídeo de Abel dos Anda Pligo – parabéns pela denúncia – onde em prova pessoal dois feridos pela bala e um substituto do tio hospitalizado pelos tiros perpetrados pelos agentes da Polícia Nacional deram cara a revolta e o abandono. Segundo a avó que deu coro ao testemunho do neto de 12 anos de idade com a bala ainda encravada na perna, nem o Primeiro-ministro Bom Jesus, mal o seu ministro da Defesa e Ordem Interna, Óscar Sousa, estão preocupados com o Zé Povinho baleados ou sensíveis à saúde perigada da criança.

Os gastos para cima e baixo em busca de salvação do neto já destruíram à desempregada a magra poupança de matrícula escolar do miúdo na 7a. Classe e de uma sua filha. Que democracia? São três famílias baleadas e com repercussão negativa às várias crianças, já nascidas discriminadas, sem direito a escola. Aonde param os advogados da praça pública. As instituições de defesa das crianças? Os deputados de Lobata? O partido ADI?

Deixou-me cabisbaixo como o Primeiro-ministro do meu país que se disponibilizou a uma agradável entrevista no canal digital Somos Todos Primos – Excelência, obrigado pela memorável presença – não sabia de que a sua ministra dos Negócios Estrangeiros, Elsa Pinto, o Presidente da República, Evaristo Carvalho, o Presidente do Parlamento, Delfim Neves e os seus deputados, o Procurador-Geral da República, Kelve Carvalho, o diplomata em Lisboa, António Quintas. Há mais.

Nem o Presidente da Câmara de Mé-Zóchi, Américo Ceita e o executivo distrital da terra do defunto, haviam pronunciado uma só reivindicação formal às autoridades portuguesas pelo assassinato na praça pública, Seixal-Portugal, de Wiston Rodrigues, alfaiate, modelo e de 35 anos de idade pelas famílias portuguesas de etnia cigana com as imagens hediondas na plataforma digital e nas televisões a rondar o mundo. Em que pé está o caso na justiça portuguesa? Que é feito dos órfãos menores? Quem está a garantir o rendimento do António Rodrigues?

A insignificância da república e o povo pequeno vincaram nos quase dois meses em que o corpo do jovem malogrado esteve guardado na morgue não permitindo aos são-tomenses desde o mais alto nível, estabelecer a distinção entre a mendicidade e a cooperação entre os estados. Vejam só como de nada vale a angra dos são-tomenses mestres de direito político e constitucional.

Um jovem de 21 anos, Willy Monteiro Duarte, nascido na Itália e filho de cabo-verdianos, foi assassinado na noite de sábado, 5 de Setembro, nos arredores de Roma, Colleferro. As autoridades italianas detiveram quatro suspeitos, jovens acusados de “homicídio por negligência” por terem espancado até a morte o jovem que tentava acalmar uma rixa junto a um estabelecimento de diversão noturna. Deixo aqui as sentidas condolências aos cabo-verdianos e em particular aos familiares de Willy Duarte.

Integrado e sonhador de vir a representar o futebol AS Roma, o clube publicou nas redes sociais uma homenagem ao jovem assassinado. O presidente da câmara de Paliano, Domenico Alfieri, em sinal de luto e solidariedade aos familiares, decretou um dia de luto na localidade e cancelou todos os eventos desportivos previstos para domingo, 6 de Setembro corrente.

Apesar da reação solidária e oportuna das autoridades italianas, não há um silenciamento dos cabo-verdianos. O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, completamente atingido pela “morte brutal” do jovem cabo-verdiano no sinal de “indignação e revolta” pediu publicamente na terça-feira seguinte, 8 de Setembro, que se faça justiça.

Numa das rubricas em que tomei peito-bala, entre Maio e Julho, ao assassinato de Wiston Rodrigues fiz questão da dificuldade de lidar com STP, enquanto liga solidária “Somos Todos Primos”. Muito mais entristecido, comove-me o profundo silêncio ao saber que a ministra da Educação e do Ensino Superior, Julieta Rodrigues e o advogado de defesa das zaragatas públicas, Adelino Izidro, são todos filhos de tios e primos diretos de sangue de António Rodrigues, o massacrado com perca de vista, pai do assassinado e tio do Joel Rodrigues, o jovem ferido.

Na sucessão de filmes à Pátria de “Ama-dor”, o Primeiro-ministro Bom Jesus animado a chefiar a banda de feirantes, entendeu em desrespeito às medidas e barreiras sanitárias, ir à festa no novo mercado em Bobo Forro, uma transferência de bater as palmas ao novo rosto da capital, para enviar um novo envelope de “carta-de-chamada” aos de “Cóbó d’Áwa”. A intenção ficou esclarecida de que era uni-pessoal, mas é como que despejar a rajada de trinta munições de AK44 numa manifestação popular com a intenção de abater um só inimigo dentre os milhares de inocentes tombados na praça pública.

Com tanta “maka” e contra a diáspora que mensalmente despeja ajudas familiares e remessa não contabilizada por Banco Central de São Tomé e Príncipe, qual a reserva enérgica resta ao “Bom” Jesus?

De Cabo Verde ainda chega-nos a notícia de que a remessa da diáspora – a mão às ilhas já saudada pelo Presidente Carlos Fonseca – aumentou em tempo de pandemia. O que publicam as estatísticas de Américo Barros, o governador do Banco Central de STP para elucidar aos governantes e seus comparsas do contributo nacional dos são-tomenses que saltaram a água ser muito mais impulsionadora à economia nacional que os insultos dos bajuladores da república?

O 1o. Ministro, sem perder a quota feminina, deve aproveitar quanto e já a maré baixa de Covid 19 para remodelar o elenco governativo e auto responsabilizar o partido de Riboque pelas consequências advindas. Jorge Bom Jesus até ser sacrificado na cruz do pecado deve bater as mãos na mesa e assumir, rapidamente, o partido e um novo governo antes da previsível queda no próximo ano eleitoral presidencial.

O presidente Evaristo de Carvalho não deve “retirar confiança” ao governo para ser-lhe transitado as consequências pela queda, a não ser para facilitar vida à coligação governamental antecipando a auto-destruição previsível para 2021 ou dar chupeta às birras de bota-abaixo.

Não introduzo as mãos no fogo de que o Presidente da República com as margens de diálogo disponível queira levar à roda o staff governativo a pensar na recandidatura presidencial quando mais no semi-presidencialismo de pendor parlamentar, o governo recebeu recentemente o balão de oxigénio ofertado pela oposição que pelos votos democráticos, viu chumbada a moção de censura.

O velho Rangel, o alfaiate de Cavalete da Igreja e antigo génio em fatos cerimonias, a mais entusiasmada criatura com quem pude retirar aprendizagens de convivência humana e que nem as masmorras do Censo de 1979, a surra criminosa de pretos nos pretos, lhe beliscou a contagiante alegria, deixou à vila o enredo “Piôtlô bôbô ten!” ou seja, a outra “diabolice” de colisão democrática ou simplesmente, o novo absurdo para a crise política.

16.09.2020

José Maria Cardoso

1 Comment

1 Comment

  1. Eugenio Costa

    18 de Setembro de 2020 at 6:52

    Uma visao ampla das coisas todas
    Parabens Jose Maria
    Um bom regresso fazias falta sinsinhor
    Espero ver-te mais vezes com bombas como esta
    Parabens

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