Opinião

Pau-mandado, diáspora eleitoral e triagem presidencial

A chuva de Abril, de tempo em tempo, desfere aos são-tomenses duros golpes em mais de 100 km/hora, suficiente de abalar o leve-leve, destruir casas, bens agrícolas e perigar a vida humana, não tendo sido animadoras as últimas imagens. Na boleia, os políticos e aventureiros, de cinco em cinco anos, acham-se engravatados e em vendaval absurdo de brincar a cabra-cega com os eleitores deixando cair a máscara num faz-de-contas da democracia.

Não cabe no entendimento da liberdade de escolha, a análise coerente, sem que das dinâmicas, independentes, os partidos sejam aliados, daí que o poder a abusar do leque de quadros, dispersa os votos por uma dezena de anunciantes, enquanto a oposição confronta-se com o abanão de inconformados e contestatários a forçar uma segunda volta e, óbvio, oxigenarem um eventual Chefe do Estado, a emergir-se da Nova Maioria. Ainda assim, a haste torce para a oposição, já que até a formalização de candidaturas, algumas ”vuvuzelas” acabam por ceder às estratégias ou perder o fôlego, contrárias as da corrente governativa que em finca-pé e sustento financeiro, pretenderão negociar o respetivo terreno eleitoral do cativante dia 18 de Julho.

Da vintena de pré-candidatos, ambição nada primária, Delfim Neves, Guilherme Posser e Carlos Vila Nova gozam de patrono a animar às expetativas para que Maria das Neves, Elsa Pinto, Aurélio Martins (vencidos de 2011), Vítor Monteiro, Carlos Neves e Jorge Amado engasguem os estafetas de governação e, na falta de gás, Elsa Garrido, Júlio Silva, Abel Bom Jesus (agricultor por excelência e ativista-chato ao governo), Lázaro Afonso, Eugénio Tiny, Moisés Viegas e os demais, a engrossar o mosaico da banalização presidencial, ilustrem aos são-tomenses de que na deriva, santos e pecadores, Somos Todos Presidentes. Só que, não basta querer ser (quantidade), nem o endurecimento dos itens de concorrência, mas sim, há que saber ser (qualidade) o candidato ideal ao palácio cor-de-rosa.

O país nesta altura, a auxiliar à sujeira de desigualdades sociais, impunidade, assaltos, bandalha, delinquência e desemprego – mais de três mil jovens habilitados na fila pela vaga de cem ingressos na Polícia Nacional – vê-se enfermo nos desígnios da Humanidade, por um lado, Direitos da Criança com a criminosa avalanche de violação sexual de criaturas indefesas e, por outro, Direitos do Homem com o assassinato (traumatismo craniano) pelo Estado do cidadão, Nelson Rita “Lady”, à sua guarda.

O silêncio viscoso à sociedade civil liderada que, recentemente – aplausos – esbracejou aos microfones internacionais contra o fedorento abuso sexual infantil e violência doméstica, agudiza a consternação com a demissão dos diretores da Penitenciária e Judiciária, Lázaro Afonso e Aurito Vera Cruz e, no mais recente, a impressa, Tela Non, alertar de que três policiais, Anderson Teixeira, Olinto Deus Lima e Jackson Oliveira, os suspeitos de mãos de sangue do defunto e detidos preventivamente pelo Estado, em contínua violação dos direitos elementares, mergulham “a vida no meio de água fétida, que transborda dos esgotos e das fossas cépticas do edifício da Polícia Judiciária”.

Dos pretendentes presidenciais, por mais sofisticados que sejam os currículos, a sociedade, dependente de profecias, deveria estar a ser vacinada de pronunciamentos adjudicados, já que o mais alto representante da República, não deve limpar as mãos de Pilatos perante os bárbaros crimes à Nação.

Vencido de 2011, o Delfim Neves, do PCD, antigo ministro, a ensombrar ao Carlos Neves, UDD/MDFM, antigo embaixador nas Nações Unidas, na repartida barafunda governativa do XVII Governo constitucional com o MLSTP, animado portrapalhadas de competência e negociatas da cadeira do presidente do Parlamento, o protagonizante do ridículo refrigerante “Ocê ké luta, un!?” – nada abonatórias à pretensão presidencial – mendigo atroz pelo projeto de nova sede parlamentar num país luxuoso em mente tacanha, topo de gama vis-a-vis à lixeira de Penha, mãos estendidas, saúde assassina e os dois únicos hospitais na vergonhosa ruína, deveria poupar aos são-tomenses na intenção ao palácio do Povo.

O seu rival, líder da ADI, depois do terramoto de 2006, perdido ao favor do “amigo” Fradique Menezes, mediu o regresso, maturo, num mediático duelo da geração pós-Cívica, mas precavidos, os adversários de Patrice Trovoada, o antigo ministro e recordista nacional, por três vezes Primeiro-ministro, retiraram-lhe o direito de cidadão elegível por culpa viciada de servir-se de São Tomé e Príncipe e não o expetável como a Nação assistiu, impávida, o seu silêncio financeiro e desleixo na cativação de parceiros, fundos e bens essenciais ao “povo pequeno”, largado à sua sorte, nas estranguladas medidas sanitárias e anti-sociais de luta contra a Covid-19.

No show anunciante do “submisso”, a olhar à si mesmo pelo espelho da anterior liderança autoritária, divisionista, despesista e egoísta na maioria absoluta do XVI Governo, ao invés da prometida despedida, deu a entender aos são-tomenses de que dos políticos profissionais, as palavras não são de registo, se revermos a sua promessa em 2014: «Não poderei ter maior satisfação do que, ao deixar o palco político, nas vésperas dos meus 60 anos, olhar tranquilamente para o meu país entregue a uma classe política de jovens compatriotas, solidários, mais competentes e preocupados com a Nação, diversos, modernos, criativos, tolerantes, competentes, orgulhosos, livres e verdadeiramente democratas ».

Oportuno, o “chefe vitalício” à espreita da chacota do MLSTP/PSD na opção de um antigo Primeiro-ministro à corrida, seguida de alocação absolutista aos funcionários públicos, na contra-mão da democracia, em obedecerem a decisão de Jorge Bom Jesus e a desprestigiante “bagunça” de outros cinco pré-candidatos, uma vez mais depois de Fradique Menezes (escapuliu-se e fundou na presidência o MDFM) e Evaristo Carvalho (“água-subiu ô água-desceu”, marcou o próximo sufrágio sem o vírus de demissão de governo), impõe um pau-mandado ao desafio da suprema magistratura.

O Guilherme Posser, político moderado e mobilizador de consensos, dentre os da geração intelectual da Cívica que se engajaram na brilhante viragem referendada em 22 de Agosto de 1990, se a história de um povo fosse retilínea, do seu MLSTP, apenas Manuel Vaz Fernandes, algures, de impulso avesso e discurso rígido, desafiaria-lhe quando achassem o “timing” certo de concorrer ao mais alto cargo da Nação.

Porém, o usufruto contagiante do liberalismo democrático em que se empenhou por uma escola ilícita, usurpadora da democracia do direito em detrimento da democracia do povo “di barriga panzu-panzu a chuchar un cacharramba e droga” e aos desmandos com que todos naufragaram o conhecimento, a saúde e a justiça social, o “Advogado” deveria ter a noção de aritmética e amargas tentativas presidenciais anteriores de Alda Bandeira, Filinto Costa Alegre (vencido de 2011) e Carlos Tiny, de que a par da geração, falharam Todos e São Todos Parentes de cartas fora-de-baralho.

Uma disputa estratégica, se o partido virasse à ótica nacional de médio prazo e na eventualidade do líder e dos “camaradas” munirem-se do trabalho de casa, a aposta de remediar – no receio de confiarem num outro santo-de-casa ou algum ilustre da sociedade civil – recairia, na valorização de géneros, numa das duas militantes saídas “di cantxim di cama”, as antigas Primeira-ministra e ministra, respetivas ou no menos poluente, o Coronel na reserva, Victor Monteiro, antigo ministro, prestativo à Nação e a inspirar-se pelo brio militar, almejaria da cadeira presidencial o contributo na transição de paradigma dentro dos parâmetros constitucionais.

Pelo contrário, a desmedida ganância com que os profetas da praça, fingindo de santos, mascaram a democracia, extrapolando conceitos e melhoria de vida do povo, sujeita à governação a oferecer, de bandeja, a vitória presidencial ao candidato da oposição. Todos vão ao tempo de marcha-atrás, debate político, económico e social e acima de tudo o necessário projeto viável à sociedade para a melhor gestão da expetativa presidencial.

Assim, do Abril caudaloso (sem a bacia de retenção) e “kumbu” partidário, resta um vencedor na sombra, beneficente de faca e queijo de catapultar os eleitores a ser o refinado para o exercício presidencial 2021/26. Beneficia de três performances: pessoa discreta e bem sucedida na aposta privada, pescador favorito da contestação popular e dispersão dos votos da Nova Maioria. Tem ainda ao seu prazer, a serventia nos XIV e XVI Governos constitucionais, carecendo em termos de mando político, brilhar com a própria “cachimónia”, a mais exigível no mastro constitucional de ponte, consenso, magistratura de influência, diplomacia e intervenção no rumo ideal do país, mas goza de suficiente sabedoria, modelos e eventual concelhia de não vir a ser do mesmo.

A arriscada maioria, a medir a sua sepultura na selva de má gestão-comunicação, olhar ao próprio umbigo e restrições sanitárias, económicas e sociais de Covid-19, prescindirá da engenharia do futuro inquilino presidencial, Carlos Vila Nova, para arrumar com o governo e precipitar a ida eleitoral legislativa ou socorrer-se de um elenco ao prazo que, na infeliz alternância de faz-de-conta e para a penitência rotativa de erros, acertos de conta e desprestígio democrático, devolver o executivo à ADI para os cronistas, comentadores e jornalistas despojados do quarto poder e na partilha do bolo, degustarem-se no quarto do poder rasgando as ruins e retóricas memórias.

Para efetivar o direito democrático de oportunidade e não de exclusão do Mar, a maior riqueza do país, a sua diáspora, economizar em passeios dispendiosos ao erário público e evitar a fantasiada participação dos filhos no estrangeiro, milhares de cidadãos em idade votante, nas opções do país, os legisladores na legalidade e igualdade, sem medo de fantasmas, devem no proveito das novas tecnologias, sem demora, implementar e codificar de forma segura, o registo e o sufrágio eletrónico, como um dos pilares de uma promissora reforma eleitoral.

Sustenta-se de que em França, a sirene da Comissão Eleitoral Nacional, não passou disso mesmo, embora alguns curiosos e ativistas, à beira de dois meses, se disponibilizaram, mobilizaram e enviaram às instâncias consulares, pela primeira vez e sem o “feedback” exigível, as identificações pessoais e mais informações da idade eleitoral. A pandemia viral, Covid-19, baralhou ao mundo, mas semeou uma experiência preciosa, a presença física e os gabinetes de aglomeração passaram a ser algo arcaico, dando lugar à ferramenta “on line”, a empreitada que São Tomé e Príncipe, no meio do mundo, deveria servir de modelo à democracia mundial.

Por fim, a África para lá de solidariedade aos deslocados moçambicanos, quase um milhão, no traumático contexto de viver a pobreza no chão da riqueza, deveria ser intimada a refletir na teimosia dos dirigentes manterem-se vitalícios nos cargos, na proteção de interesses das potências internacionais, o que ontem, fatalmente, custou a vida ao presidente do Chade, Idriss Déby, de 68 anos, no poder há trinta e um, renovado nas eleições de 11 de Abril – apesar do boicote dos opositores – para mais seis anos, agora assegurado pelo Conselho Militar, para 18 meses (?) e chefiado pelo seu filho Mahamat Idriss Déby Itno, o jovem General de 37 anos.

José Maria Cardoso

21.04.2021

4 Comments

4 Comments

  1. SANTOMÉ CU PLIXIMPE

    23 de Abril de 2021 at 7:45

    Esse cabelo de mulher branco, falta de juízo…

  2. Sem assunto

    24 de Abril de 2021 at 8:24

    Excelente artigo, quem tem olhos leia e entenda todo os cenários abertos para estas eleições.
    Outrossim não poderia deixar de avançar com um reparo, pois, discordo inteiramente de que o Delfim Neves seja o “mendigo” no projeto de construção do novo edifício da Assembleia Nacional, mas sim um oportunista, ignóbil que vê nesta impreitada uma possibilidade de faturar avultadas sumas como tem sido do seu seu apanágio.
    Aquele sujeito é um BANDIDO, e como tal sempre procurará roubar, saquear, fraudalizar em todos os lugares aonde passa.
    Derrota estrondosa nas eleições para este desnaturado, povo, este sujeito é um malfeitor, ser nosso presidente da República NUNCA, qualquer menos aquela figura.

  3. jfernandes

    24 de Abril de 2021 at 11:39

    Casso temlado ku clocon hngadu
    e ka mode dono de bila mode anjo non nocentche

    Punta , punta eeee…
    Bila punta , hngue tamem nostempo

    Conheceis a verdade !
    E a verdade vos libertara !

    STP no coracao

  4. Pascoal Carvalho

    25 de Abril de 2021 at 21:05

    excelente

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