Opinião

Dívidas de um povo ao seu Médico

Mais uma página de entre-vistas! Nas sociedades humanas e ao longo dos tempos, os médicos e seus braços direitos da Saúde, quer sejam gen di casa ou de fora das portas, ocupam páginas especiais nos corações dos povos a que dedicam com profissionalismo e sabedoria a arte de salvar vidas, independentemente, de cor da pele, convicções religiosas, tribalistas ou filosóficas.
«Estava eu no quarto ano de Medicina (Portugal, ano de 1962) quando entrei numa enfermaria e vi uma enfermeira em luta com uma veia para lhe subtrair uma porção de sangue necessário para análise. Parei e vi que não conseguia. Pude então recordar os meus tempos de laboratório em São Tomé, que extraía de várias pessoas esse complexo líquido rubro para a reação de Khan em “fração de segundo” (…) “Senhor doutor sabe…?”» Pág. 74
São sempre os primeiros nos patamares cimeiros das estatísticas morais e técnicas, passando quase sempre ao lado de críticas rotineiras, mesmo quando despistados pela fraqueza humana em distúrbios éticos para a divina categoria.
«- Oh! Senhor doutor conseguiu! Mesmo o senhor doutor x, médico assistente e hábil no manejo desses casos, desta vez não conseguiu”.» Pág. 74
Infelizmente, a natureza humana não reserva ao Homem o lugar circunscrito da sua profissão conquistada ou não nas cadeiras de conhecimentos académicos. Aqui surge a controvérsia pedra no calçado do jornalista, militar, juiz, engenheiro, professor, médico ou qualquer outro saber público ao serviço das sociedades.
Política é para os políticos.
«Com a chegada (Agosto de 1960) dos estudantes de Lisboa num período de efervescência política em África, a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) não podia deixar de se manter em estado de alerta. Adotamos, por isso, as devidas medidas de prudência.» Pág. 81
Houve quem escutasse aos meus alaridos, recentes, no Tela Non e ao meio da passada semana sem fechar o mês do alarme, desde São Tomé e Príncipe e das caridosas mãos femininas até ao meu Plé Mundo, chegou-me a merenda: “Memórias e Sonhos Perdidos” de Dr. Guadalupe de Ceita, médico são-tomense, prestador singular de cuidados e conhecimentos médicos ao mundo científico.
«A este título, cumpri missão de planificação, avaliação de programas e de formação de quadros de luta anti palúdica em diversos países – Angola, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Chade, Congo, Madagáscar, Mali e Zanzibar (Tanzânia).
Finalmente, fui gestor do Programa Paludismo da Região Africana da OMS, com sede em Brazaville, como pertenci também ao Quadro de Peritos da Organização Mundial da Saúde, além de ser autor de vários trabalhos de caracter científico no domínio de Paludologia, quase todos publicados no estrangeiro (Bélgica, Moçambique, Portugal…)» Pág. 347/348
E da sua mãe-Pátria que teve de correr meio mundo – África, Europa e Ásia – para ser porta-voz dos anseios e direitos do povo à autodeterminação? Os médicos da terra não curam a alma do povo.
«Estes são os prémios do homem que, denegrido na sua própria Pátria, que ele incondicionalmente ama e com a qual os compartilha, se julga merecedor da justiça, não tanto por razões políticas, mas, sobretudo, por razões de ordem ético-profissional e científica.» Pág. 433
No esfolhear de memórias para juntar o livro que veio à luz no presente ano, a folha d’amina, já há tempo, regressou em alta as terras chuvosas de São Tomé e Príncipe pelas mãos da cooperação taiwanesa para os são-tomenses saírem vencedores na árdua e antiga luta de sucessivas derrotas contra o paludismo. O que falhou na sua estratégia dos anos oitenta e que veio a ser utilizada como arma de morte de um povo ao seu Médico?
«Um mesmo acontecimento pode ser interpretado de diversas maneiras por pessoas diferentes, conforme o grau de conhecimento, a situação político-social, a intenção ou tendência de cada uma delas. O mesmo comportamento que para uns merece louvor e admiração, é visto por outros como crime à Pátria, contra a Humanidade, o mesmo pode, por conveniência de momento ou por ignorância, ser considerado como prejudicial.» Pág. 371
Política: os políticos, o povo e o poder?
«Os meus inimigos exploram a inocência do Povo contra mim e contra o próprio Povo. Na verdade, não é do interesse do Povo que eles estão a espalhar essas mentiras, mas, sim, no interesse deles mesmos e no interesse daqueles que vão entrando ou querem entrar na vida política relevante pela porta de cavalo.» Pág. 372
Mentalidade, uso e tradição?
«Todos sabemos que era frequente dizer-se que muitas crianças morriam de repente, algumas até ao colo da mãe, porque os feiticeiros lhes chupavam o sangue.
Mas esses feiticeiros, como ficou provado com a campanha de MEP, era o Paludismo.» Pág. 372
Para elucidar aos leitores e em especial a juventude actual obcecada com a varinha mágica, nada mais que os números e os seus altifalantes à frente da MEP (Missão de Erradicação do Paludismo) na saúde pública são-tomense.
«Depois do início da campanha, em 1980, os resultados foram espetaculares nos três anos seguintes. Não houve nenhum caso de óbito por causa do Paludismo em 1981, 1982 e 1983…
Já não se falava do feiticeiro que chupava sangue às crianças, porque o feiticeiro – o Paludismo – assim como os mosquitos que os transportavam de pessoas doentes às pessoas sãs, tinham sido reduzidos ao mínimo.» Pág. 377
Regresso e em peso das mortes de inocentes. Porquê? Em São Tomé e Príncipe já nos habituamos que os projectos partem na companhia dos seus conselheiros, assessores e doadores estrangeiros?
«São Tomé e Príncipe, estava em vias de acabar com o Paludismo por meio de DDT, tal como haviam conseguido, por exemplo, Estados Unidos, Canada, Japão, Itália, Ilha Maurícia e Reunião, estes dois últimos países situados em África Oriental.» Pág. 377
Os grandes obreiros de causas da Humanidade e do seu Povo, não só dos admiradores recebem elogios.
«Pinto da Costa chegou mesmo a afirmar num comício na praça Yon Gato que a MEP era único projeto que caminhava, no País, sobre as quatro patas.» Pág. 377
Mas donde vem o contratempo?
«Tudo isso aconteceu porque diziam alguns dirigentes do País, dos mais influentes: “o Dr. Guadalupe quer acabar com o Paludismo para ter apoio do Povo. É política dele”. Quer dizer, sabotaram a boa oportunidade que teve o povo de São Tomé e Príncipe de se libertar do Paludismo.» Pág. 381
Até aonde navega a mente humana? Hoje a moda é derrube dos projectos de desenvolvimento com a queda dos sucessivos governos. Não há uma política de continuidade do Estado em São Tomé e Príncipe? Não nos desviemos da saúde dos são-tomenses.
«Além disso, houve atraso da chegada de DDT e Malatião, o que retardou início do 6º e 7ºciclos de pulverizações em 3 e 9 meses, respectivamente.» Pág. 381
E as consequências do crime e a degradante economia também provocada pelo ataque feroz do paludismo?
«As crianças nascidas depois de 1º ano do ciclo de pulverizações, isto é de 1981 a 1984, já não estavam protegidas contra esta doença, porque as suas mães, por terem perdido a sua resistência contra o Paludismo, já perderam a imunidade, já não ofereciam protecção aos seus filhos durante a gravidez e aleitamento. Resultado: com o recomeço da transmissão do Paludismo pelos mosquitos, muitas crianças não resistiram e morreram.» Pág. 381/382
Conclusão. A culpa, esta morreu solteira e tem vista grossa e aliados na IIª. República. Enquanto, o médico de cabelos brancos é apedrejado na rua pública pelo seu povo.
Pouco entendido nas lides profissionais de ordem médica, sou atirado a entrar pela caminhada de um médico apanhado ao acaso, digamos assim, na política nacionalista dos são-tomenses e das decepções resultantes.
«Sentado ao meio do lado direito da carruagem (travada a primeira fuga pela PIDE), o meu pensamento pairava sobre o aeroporto e a PIDE, sobre o interrogatório a respeito de Agostinho Neto. O comboio inicia o giro, para mim incerto. Meia hora depois, começam a recolha dos passaportes para as formalidades do visto de saída. (…) Mas, o pior é que o distribuidor dos passaportes passou por mim sem me devolver o meu, continuando então a sua distribuição.» Pág. 90
Tudo não passou de detalhar aos pormenores a vida de um médico negro de viagem a Paris – já fotografado com os camaradas em todas as variáveis criminais pela PIDE para o cadastro anti Pátria portuguesa – e testar a sua reacção, numa rota de académicos balarem ao encontro da luta da África, passando inevitavelmente por aquela capital de liberdade, luz, moda, arte e perfume, hoje, em soluços para com a humilhação africana de Calais e Menton, como que um dos versículos do Testamento de Kadhafi antes do seu assassinato para a devastação bélica da Líbia e da África pelos americanos e europeus.
«A travessia com êxito da Península Ibérica foi um feliz acontecimento.» Pág. 90
Abandonado com susto e perícia Portugal fascista de Salazar, a luz de África brilhava ao fundo do túnel na utopia de um jovem médico negro protegido pelos ensinamentos da Mãe que lhe sucumbira para a eternidade ainda na adolescência.
«Agora, urgia arribar à Libreville e abraçar Miguel Trovoada e Carlos Graça e os seus familiares, bem como as ingentes responsabilidades que assumimos para com a Pátria. (…) Os camaradas de Libreville estarão também desejosos de novidades da Terra.» Pág. 91
“Havemos de voltar a nossa África”. Recomendou-nos Agostinho Neto num dos seus sentimentos a terra de cheiro do barro. Mãe África.
Vociferando contra os ventos da História, Mário Soares e Almeida Santos, dentre socialistas e outros dirigentes portugueses da altura, confiados a missão de descolonização de pós 25 de Abril, de longe ousavam ouvir falar da independência das pequenas ilhas insulares do Equador. Ao redor dessa “conspiração” contra a luta de papel e caneta dos nacionalistas em compromisso para com o sangue, suor e as lágrimas seculares do seu povo, surgira a FPL de colonos e são-tomenses acomodados nos seus títulos. Carlos Graça de quem sou admirador pela convivência democrática e tive a sorte de “caçar” numa noite de Lisboa a saída de Tivoli para conversas da Terra, período anterior a publicação do seu livro, foi apanhado no fogo cruzado do MLSTP e FPL.
«Conta-se que o Eng. José Fret Lau Chong, então Comissário Político e hóspede momentâneo de Carlos Graça, descobriu no seu domicílio a carta que o irmão Miguel Graça lhe havia escrito de Lisboa a animá-lo a aceitar o convite que a Frente Popular Livre (FPL), de tendência claramente federalista, tinha posto à sua disposição.» Pág. 244
Regressado a terra e “expulso” do MLSTP que fundou com mais camaradas em 1960 como Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe, contra as pretensões pouco esclarecedoras, sem lugar na tribuna de honra da independência, foi com lágrimas no canto dos olhos, que assistiu com a sua esposa (companheira e estrangeira) e o inocente filho, de alto do prédio do Banco, o nascimento da sua República Democrática de São Tomé e Príncipe, no minuto zero do dia 12 de Julho de 1975.
Areou-se a Bandeira de quinhentos e quatro anos.

Foi hasteada a Bandeira de um futuro luminoso perante as adversidades de um Bureau Político. Integro na dimensão de Guadalupe de Ceita, não se podia esperar meia-palavra.
«Se António Barreto Pires dos Santos (Ohnet), Gastão de Alva Torres e Pedro Umbelina não retomam as suas funções de membros do Bureau Político, eu também não. Não aceito. Vocês enquanto dirigentes políticos e eu enquanto profissional, vamos todos trabalhar, cada um no seu campo, para a Pátria excessivamente carenciada.
E lancei-me decisivamente ao trabalho com cabeça, tronco e membros.» Pág. 283
Qual o macabro crime perpetuado por Gastão Torres, advogado da causa nacionalista, fundador da Associação Cívica pró-MLSTP e membro presente na assinatura do Acordo de Argel em 1974 que engendrou a independência de São Tomé e Príncipe do qual até então não encontra solidariedade, compreensão e perdão dos seus camaradas? Terá a ver com o barco que definitivamente abandonou no alto mar como tantos outros camaradas, diferente de Guadalupe de Ceita que enfrentou de presença abnegada todas as intempéries atlânticas?
«O Dr. Gastão de Alva Torres foi, inquestionavelmente, um destacado dirigente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, sendo um dos pouco que (suspeito pela PIDE de ser o presidente), fisicamente, esteve presente no solo pátrio, nos anos que antecederam à queda do colonialismo.» Pág. 464
A carta que dirigiu juntamente com Filinto Costa Alegre no dia 6 de Julho de 2007 solicitando com carácter de urgência que o Ministro da Administração Pública regularizasse a inquestionável injustiça do governo contra um filho da Terra, de mais de oitenta anos de idade ainda aguarda resposta dos dirigentes de antigamente e hoje.
«Durante o Governo de Transição (1974/1975) fomos excluídos do Partido e abandonados à nossa sorte, pelo que tivemos e temos que fazer frente a sérios problemas para sobreviver com dignidade. Alguns de nós morreram na mais extrema miséria. João Torres viveu apoiado por familiares e amigos, carecendo, no entanto, de assistência médica especializada que talvez pudesse ter evitado a sua morte prematura.» Pág. 462
Há filhos da Terra caçados pela PIDE que mastigaram por mais de dois meses o “pão do diabo” no cárcere de Caxias.
«Foi o caso de António Lombá (Engenheiro), que teve de ser internado numa clínica de psiquiatria.» Pág. 99
Aquando do meu amigo Danilo Salvaterra, que em tempos jurou ao mundo não ler livros ou crónicas sobre São Tomé e Príncipe escritos pelos antigos dirigentes (deve lá gozar das suas prerrogativas), ter abrilhantado no debate da “Voz de S. Tomé e Príncipe” no Facebook o alarido acerca do balúrdio e dos benefícios dos fundadores do MLSTP, e sendo um partido que recusa a abrir-se aos jovens e acusado do mal que desgraça os são-tomenses, irreflectidamente, juntei-me, que silenciosa, as vozes de contestação para os quatro cantos da alma.
«Desde modo, aquando da comemoração do 30º aniversário da Independência Nacional, foi rendida a merecida homenagem por Decreto Presidencial àqueles cidadãos que mais se destacaram no decurso da nossa luta para a queda e expulsão do colonialismo português da nossa Terra, atribuindo uma medalha de prata dourada e criação pela Assembleia Nacional do Estatuto do Combatente da Libertação da Pátria, glória imortal do Homem São-Tomense.» Pág. 463
As voltas que o mundo dá e os Homens no centro das brigas. Não foi pelas credenciais dos seus antigos camaradas de luta de libertação do Povo São-Tomense que viu dignificado os préstimos pela Nação de Ama Dor.

Nem do “marxismo” do presidente Pinto da Costa, pior da democracia do seu amigo presidente Miguel Trovoada, quem abandonando Paris, concluído os estudos de medicina, esperava abraçar em Libreville para pôr em prática os compromissos “Bôbô Forro – 1960” e que lhe virou as costas do caminho para São Tomé, onde à espreita, esperavam o filho-doutor as garras da PIDE.
«… Os dois primeiros Presidentes, não obstante serem Homens que lutaram pela Pátria, e talvez por isso mesmo, pela choruda pensão dos Presidentes, mantiveram-se incrivelmente indiferentes em relação a esta questão. Apenas no mandato do terceiro Presidente veio à tona. Guadalupe de Ceita e Pires dos Santos (Ohnet) dirigiram (8 de Março de 2002) então uma carta ao Presidente da República, Fradique de Menezes…» Pág. 462
Aconselhado e assegurado o bilhete de passagem (1965) por Pires dos Santos (Ohnet) e Hugo Menezes, médico que, como outros filhos da Terra, se juntou mais tarde as causas do MPLA, seguiu e experimentou diversos rumos – Gana, Togo, Nigéria, Congo-Brazzaville, Camarões (tentativa falhada) e Guiné Equatorial para chegar Gabão mais de uma década depois – em fuga aos golpes de Estado, mas carregando no exercício profissional de médico pela África, a Bandeira que haveria de ser hasteada no solo pátrio.
«Triunfado o Golpe (1966), Kwame N’Krumah (a quem fui apresentado pelos colegas no ano anterior) só regressa a Gana depois da sua morte e é sepultado em Temate, sua terra natal (…)
Assim, CLSTP, MPLA, FRELIMO, PAIGC, ANC e mais outras Organizações Nacionalistas, foram obrigados a abandonar o País.» Pág. 113
Com a abertura democrática do país, Guadalupe de Ceita, o nacionalista, médico exemplar, batalhador singular e Homem de moral inatingível, uma vez mais, mesmo com pernas amputadas, agora pelos seus camaradas do Grupo de Reflexão, de que é fundador em 1989/1990, avança às presidenciais de 3 de Março de 1991 contra Miguel Trovoada apoiado, diabolicamente, pelo seu PCD, ascensão do GR. Desiste da corrida evocando a falta de transparência.
«Acusado por aquele (Miguel Trovoada) de ter pulverizado o DDT no interior das casas para matar o Povo, sem prova documental, apenas em uníssono com os de ma fé e má-língua pelo País, reagiu com prontidão e azedume à repugnante acusação. Divulguei então por todos os meios a notícia do abuso dos 10 milhões de dólares… posto à disposição de São Tomé e Príncipe, através do Ministério da Economia, de que ele, Trovoada era titular.
Trovoada ameaça Guadalupe com recurso ao Tribunal para o desagravo, e este órgão não respondeu à petição sua de rescindir a candidatura de Trovoada pelo crime de peculato de que era acusado.» Pág. 397
A caminhada científica iniciada na inaugurada Escola de Enfermagem de São Tomé (1947), que, na altura, ainda não elevava os estudos além de primário, e prosseguida na Casa de Saúde de Luanda (1952) pelos contributos indispensáveis do médico português, Dr. Luís de Figueiredo, entrou em Lisboa com holofotes a acender o futuro médico pelos abraços caridosos de um filho da Terra, herdeiro da residência intelectual, cultural e de luta dos povos africanos, o histórico nº 37 da Rua Actor Vale, pertença dos “Graça”, família negra são-tomense.
«Chegamos, finalmente, à Lisboa, na madrugada de 18 de Abril de 1955, data memorável no mundo das Ciências: morria o famoso Abert Einstein, o maior sábio do século XX.
(…)
Eurico Graça, como prometido, lá estava especado à minha espera ao desembarcar. Apanhamos um táxi para “37”.» Pág. 62
Nunca é demais pescar no registo da História a mesada do seu pai, nobreza de angolanos, portugueses e são-tomenses, professores, colegas e amigos, de outras temporadas que deram impulso financeiro e moral ao seu percurso académico imbuído no desafiante frio gelado, e de limpar chão e lavar pratos para engrossar moedas de saldar as contas mensais.
«A Tia Andreza, assim era conhecida pelos estudantes de “37” Andreza da Graça do Espírito Santo, irmã de Salustino da Graça do Espírito Santo, Januário da Graça do Espírito Santo, Domingas da Graça do Espírito Santo e outros, aquela cuja figura me havia sido transmitida pelos familiares seus em Capela quando da minha meninice, ficou bastante condoída e disse que podia continuar e pagar mais tarde, num tom como quem diz: quando puderes. Contudo, fiquei em mim.» Pág. 63
Devorado sem dó nem piedade, as fronteiriças quinhentas páginas de “Memórias e Sonhos Perdidos” pela meritosa gincana de Aito Bonfim, um manual excelente de desvendar de uma outra “verdade”, não descortinei qualquer ajuste, nem ódio, nem vingança de um “mais velho” contra os seus camaradas que lhe expulsaram do intento de ser político na Terra independente.
«Aos 85 anos de idade (2014), já no fim da vida, depois de várias peripécias pelo caminho, não sei ainda como ela vai terminar. O Sol a ocultar-me no Poente e o Clarão a esvair-se, a empalidecer e a deixar a Terra em progressiva escuridão. Mas, não falo só de mim, falo do grupo a que todos pertencemos. Nomes como Alda Graça do Espírito Santo, António Barreto Pires dos Santos, Gastão de Alva Torres, e muitos outros, vivos ou mortos, com que lidei ao longo dos tempos, continuam a brilhar para a eternidade.» Pág. 471/472
Uma travessia pela História colonial, a África e as ilhas, entreposto de escravos, açúcar diamantífera de cana, café e cacau dourados, da sua convivência infantil com os “escravos de Java” com quem comeu a fuba com bicho, aprendeu e exibiu com cadência a reconfortante puíta e comungou do sofrimento de amanhecer ao anoitecer, da dor do chicote e da humilhação sujeita a uma raça humana, até libertar a Pátria, defender questões sociais pós-independência e de integridade territorial com a ameaça da maldição do petróleo africano, é merecedor de, no mínimo, assistir em vida a inauguração de um brasão no Centro de Saúde da capital, não havendo um outro hospital, numa avenida concorrida ou no Jardim de Pensamento com o nome de Guadalupe de Ceita, o Médico do Povo.
«Pois bem, a luta árdua desencadeada por nós, os pensionistas da Função Pública, nada influiu, para eles, nas subidas vertiginosas da Reforma, que hoje, 2010, atinge esta modestíssima cifra de 559 061,10 Dbs (quinhentas e cinquenta e nove mil e sessenta e uma dobras e dez cêntimos), pensão com que um velho médico se despede deste mundo! Assim, o montante de 28 dólares mensais (desde 1991) mantem-se o mesmo e por tempo indefinido (?).» Pág. 461
Em nota de partilha, ousaria em recomendar à mimosa e cativante voz índica do Debate Africano da RDP África uma outra visão da mesma História dos “santos e pecadores” das minhas e amadas paradisíacas ilhas do Equador. Quem sabe, ficaria a dever mimos de excelência ao Doutor.
Com problemas de saúde e sem meios para se tratar no exterior, persiste no legado digno aos seus filhos que os governantes no seu poputacho insistem, dia e noite, em cortar-lhes as pernas. Ainda assim, Senhor Doutor, o caminho do seu Povo não pode ser amaldiçoado.
«A constratarem com estas sentenças, aliás humanamente compreensíveis, e baseados em vários factos do passado e do presente, daqui e de além-fronteiras, atrevo-me a afirmar, ainda, que creio apesar de tudo no futuro (risonho) deste Povo.» Pág. 438

José Maria Cardoso
02.09.2015

1 Comment

1 Comment

  1. Garcao

    3 de Setembro de 2015 at 1:57

    Eu ainda estou choque e surpresa sobre este grande milagre que aconteceu na minha família, meu marido e eu tenho sido vítima de diferentes anos illnesses.Last de novembro de i foi testada seropositiva, e meu marido foi testado negativo, era tão confuso porque ele estava doente naquele momento, por isso, visitamos o hospital eo médico confirmou que ele tinha Pulmões disease.Ever Desde então, temos vindo a gastar dinheiro em todo recebendo drogas de diferentes hospitals.One dia fiel, eu estava navegando na net para obter ajuda, quando vi comentários de peaople sobre como Dr.Odumegu ajudou curado seu vírus HIV e outras doenças. Eu não acreditei, mas decidiu dar tentar suas ervas, então eu o alcançou na (dr.odumeguprivate@gmail.com) .Nós foram dito o que fazer, embora o meu foi mais estressante do que a de minhas ervas husband.Different foram enviados para o tanto de nós com instruções sobre como as ervas será taken.To minha maior surpresa, depois que pacientemente atravessou o tratamento conforme indicado pelo Dr. Odumegu, fomos para um exame médico eo resultado foi negativo e eles confirmaram mais uma vez que o meu marido estava perfeitamente bem, mesmo o nosso médico estava confuso, ele disse que nunca viu esse tipo de milagre before.We realmente apreciar as boas obras do Dr. Odumegu e oramos para que Deus o abençoe por esta maravilhosas obras . Você também pode entrar em contato com este grande e poderoso homem, se você tiver qualquer problema através de seu e-mail: (dr.odumeguprivate@gmail.com) Sinta-se livre para chamá-lo no 27842243775 ou contactar-me via (garcao.ines@yandex.com ), se você não pode alcançá-lo.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top