Cultura

 Entrevista à poetisa Olinda Beja

Entrevistador : FAYSAL ROUCHDI

Existem grandes poetas que influenciaram o mundo, por exemplo, Pablo Neruda, Edgar Allan Poe, García Lorca… Existem outros que vivem, hoje em dia, em outras partes do mundo, como em África, contribuindo para a divulgação da poesia africana, como Léopold Sédar Senghor, José Craveirinha, Daniel Filipe e Olinda Beja.

Olinda Beja poetisa de São Tomé e Príncipe, nasceu em 1946, num país de ilhas cercadas pelo mar. Ela ama o seu país, porque ele está no seu coração. Olinda estudou em Portugal Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês).

Tem muitas obras de poesia publicadas, como Leve, Leve, no ano 1993; escreve também romances, por exemplo, A Pedra de Villa Nova, no ano 1999, e escreve também contos, como Pé-de-Perfume, no ano 2004.

Ganhou o prémio literário Francisco José Tenreiro, em 2013.

Bem-vinda professora Olinda Beja.

1.Quais os temas que tratan os seus poemas?

R – O mar é uma constante na minha poesia, embora as pessoas e a natureza sejam também abordadas na maior parte dos meus poemas.

2. O tema pátria é recorrente nas sua sobras. O que significa a pátria para si ?

R – Significa algo que perdi ao ser enviada para outro país, onde tudo era diferente do meu país de origem. Aliás, eu chamo-lhe mátria, uma vez que a minha ligação umbilical a S. Tomé e Príncipe fica a dever-se à minha mãe.

3. Há muitos poetas maiores famosos em África, mas desconhecidos noresto do mundo.Porquê?

R – Talvez porque ainda não se dê o verdadeiro valor aos poetas africanos, o que é, na realidade, muito triste, pois nomes como Craveirinha, Chinua Achebe, Kofi Awoonor, Léopold Senghor, e tantos outros, merecem um grande lugar de destaque a nível mundial.

4 .Qual é o valor das poetisas em África?

R – Penso que é, e continuará a ser, a voz da denúncia de crimes, como a escravidão, o estupro, a mutilação genital, a fome, a guerra, a submissão, enfim…penso que a poetisa em África continuará a ser a “guerreira” da palavra contra as injustiças que se praticam neste continente tão martirizado.

5.Quem são, actualmente, os maiores poetas do seu país e de São Tomé e Príncipe ?

R – Eu penso que não há poetas maiores nem menores, há poetas! Por isso, poderei apenas dizer que, actualmente, temos a poesia Conceição Lima como referência a nível nacional e internacional, pois tem uma obra belíssima publicada em vários países.

6. Algum poeta influenciou em especial?Quem ?

R – Como estudei em Portugal, desde criança tive, primeiramente, influência dos clássicos da literatura portuguesa e só mais tarde conheci poetas como José Craveirinha (que mais tarde conheci

pessoalmente) e que me marcou profundamente pela beleza “africana” da sua poesia. Com ele descobri as minhas raízes mestiças e o seu valor pela duplicidade de uma riqueza inigualável.

7. Utiliza nos seus poemas palavras indígenas de São Tomé e Príncipe. Qual a razão?

R – É uma forma de divulgar a língua materna de S. Tomé e Príncipe e também um enriquecimento lexical para o texto.

8. O que simboliza o mar nos seus poemas?

R – Mar é fonte de vida, é o início de tudo, a vida começou no mar, eu nasci numa ilha, quase à beira mar, pois minha mãe tinha lá perto uma casinha… então o mar, do qual fui apartada em criança, ficou colado a mim para o resto da vida; sabe, quando você não tem aquilo que mais ama é quando você mais a deseja; é assim o mar na minha vida e, logo, nos meus poemas.

9. Ganhou muitos prémios .Qual o significado disso para si?

R – O reconhecimento do meu trabalho, mas também da minha luta interior, do meu grito de alma, da minha saudade da terra mãe.

10 .Sabemos que o canto é da sua predilecção. Como é que para si a música e poesia se relacionam?

R – Poesia e música complementam-se, entrelaçam-se, fazem parte da mesma alegria, do mesmo amor, da mesma ternura. Nunca conseguirei

dizer poesia sem ouvir (mesmo que longe) o som de uma nota musical! Só assim me realizo, com o canto e com o poema.

 

 

 

3 Comments

3 Comments

  1. Zuleide Duarte

    23 de Setembro de 2017 at 22:56

    Maravilhosa sempre. A literatura de Olinda Beja ressuma beleza, humanidade, amor às raízes.
    Adoro.

  2. Teresa Duarte Reis

    28 de Setembro de 2017 at 23:48

    A Olinda diz poesia com a alma e encanta a sua sensibilidade, poder de nemorização e naturalidade. Gosto muito da Olinda Beja.

  3. Conceição Lima

    21 de Novembro de 2017 at 18:08

    A poesia de Olinda Beja é eco da terra mãe – ÁFRICA!!Sou sua admiradora!

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