Cultura

Obra de Conceição Lima vira canção e chega ao norte do planeta

Os artistas brasileiros Isabella Bretz e Rodrigo Lana lançam o novo trabalho, com a inclusão do poema da escritora são-tomense, Conceição Lima, o Transitório.

Em janeiro de 2017 a cantora e compositora brasileira Isabella Bretz entrou em contacto com a escritora são-tomense Conceição Lima.

O objetivo da mensagem era pedir-lhe autorização para que seu poema Transitório, musicado por ela, fosse incluído no disco“Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela Língua Portuguesa”.

A ideia era lançar um álbum com 8 poemas musicados, cada um de um país da lusofonia, todos de escritores vivos. “Fiz uma pesquisa grande para escolher os poemas e autores.

“Eu não conhecia a Conceição Lima, mas ao buscar por escritores do país aquelas palavras me convenceram imediatamente: ela seria a representante de São Tomé e Príncipe no projeto e Transitório seria o poema musicado.”, diz Isabella.

Segundo a artista, o critério para escolha dos poemas foi a emoção, os sentimentos que despertaram nela. No caso de Transitório, diz: “Ele me levou em uma viagem, mesmo. Visualizei as cenas, absorvi as sensações, as reflexões, as dores… A ideia da transitoriedade da vida sempre mexeu comigo. Tanto as coisas boas como as ruins passarão. Inclusive tomei a liberdade de adicionar a frase “tudo vai passar”, no fim da música. Conceição tratou esse tema com beleza e muita profundidade. Fiquei surpresa quando ela (que recebeu meu pedido com toda a generosidade do mundo) me disse que o poema foi escrito em sua adolescência. Como pode, tão jovem e já tão madura?”

O projeto virou realidade através do envolvimento do pianista e produtor musical Rodrigo Lana, que adorou a ideia e propôs uma parceria com sua produtora Música Mundi para a gravação. Assim, Isabella e Rodrigo produziram juntos o disco, com a participação do violinista Matheus Félix. Depois de ter sido lançado em outubro de 2017, já chegou a diferentes países.

Além do significado textual, Transitório tem também uma grande importância musical para Isabella, que coloca essa como uma das músicas nas quais mais teve prazer de trabalhar em sua carreira. O processo de criar uma melodia para o texto já escrito é desafiador. É preciso potencializar a mensagem, deixá-la fluida e agradável aos ouvintes. “Como o poema carrega uma certa magia, eu queria que a sonoridade fosse um pouco fantasiosa, que transportasse os ouvintes para este lugar no qual eu me sinto ao lê-lo. Rodrigo foi crucial para colocar minhas ideias em prática através de suas habilidades como produtor e instrumentista, também colaborando enormemente na composição. Matheus fez parte dessa construção criando duas linhas lindíssimas no bandolim e sugerindo outras adições, de forma que nós três assinamos a composição de Transitório.”, conta Isabella.

Depois de um ano trabalhando com o disco, Isabella Bretz e Rodrigo Lana lançam agora “Novas Distâncias: Reykjavík”, um EP com três das músicas do disco original, porém em piano e voz, além de um clipe de Transitório, com cenas da passagem pela Islândia.

Durante a apresentação promoveram um debate sobre o papel da língua na nossa identidade e na relação com o lugar e com o outro.

Esse encontro e as gravações ocorreram no Masterkey Studios, com auxílio do engenheiro de som Sturla Mio Pórisson e sua companheira, a artista Markéta Irglová.

A grande experiência artística de Markéta, proveniente sua carreira solo e de grandes projetos dos quais fez parte (como a banda The Swell Season e o filme Once) e a sensibilidade e alto nível técnico de Mio fizeram com que construíssem juntos um espaço acolhedor no qual a criatividade flui facilmente e é captada da melhor forma possível.

Para Rodrigo, a preocupação de Marketa e Mio com cada detalhe, o lugar carregado de significados, a energia cativante, a ansiedade saudável de gravar ao vivo no estúdio mais fantástico em que já esteve e o sentido desses poemas fizeram dessa uma das melhores experiências em toda a sua trajetória na música.

Apesar de serem países tão diferentes, há muitas pontes que nos ligam diretamente, as distâncias entre nós podem e devem ser abreviadas.

“Lá eu senti de forma intensa a ligação com o mar, tão presente em todos os países lusófonos. A ligação com a ancestralidade, a relação paradoxal com o país colonizador… Há tantas experiências para trocarmos, há tanto o que ver e viver! Desse anseio por descobrir o mundo lusófono veio o “Canções Para Abreviar Distâncias”. Do desejo de estudar e conhecer essa relação de dentro pra fora, nasceu o “Novas Distâncias: Reykjavík “. Que muitos caminhos possam se abrir, que as palavras e os sons cheguem a mais gente e que nesses encontros eu compreenda o outro e me faça uma pessoa melhor”, precisou Isabella.

Sobre a possível passagem por São Tomé e Príncipe, ela se mostra ansiosa: “Queríamos ter ido ainda em 2018, quando recebermos o convite da Embaixada do Brasil. Não foi possível por questões logísticas, mas estamos trabalhando para levar o projeto a São Tomé e Príncipe e, finalmente, podermos conhecer a Conceição Lima. Será um momento muito especial pra nós, certamente teremos muito o que conversar”.

“Novas Distâncias: Reykjavík” está disponível em diferentes plataformas digitais para audição gratuita. O vídeo encontra-se no canal do Youtube de Isabella Bretz e no de Rodrigo Lana. “Canções Para Abreviar Distâncias” se tornou um projeto além da música, com várias ações. Recebeu apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Instituto Camões, Comissão Nacional da UNESCO (Portugal), Museu Virtual da Lusofonia, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e Embaixada do Brasil em Lisboa.

Telá Nón

7 Comments

7 Comments

  1. Mandelax

    17 de Dezembro de 2018 at 11:19

    Linda cancao, lindo poema de Sao Lima e grande qualidade!!!

    • Madeço

      17 de Dezembro de 2018 at 13:49

      Lindo poema, gosto muito dos seus poemas,Conceição Lima

  2. M.F.

    18 de Dezembro de 2018 at 5:10

    Conceição Lima é a melhor poetisa de África.

  3. Zagaia

    18 de Dezembro de 2018 at 10:10

    Este país não valoriza o que tem de bom. Não existe ,patriotismo,à começar pelos nossos dirigentes,que preferem investir os dólares e os euros fora do país,em vez de ajudar no desenvolvimento econômico,enfim……

  4. Rapaz de reboque

    18 de Dezembro de 2018 at 11:10

    Vira canção? Que raio de portugues é este

  5. Isabel de Santiago

    18 de Dezembro de 2018 at 20:44

    Que a lusofonia nessa sua alma, resiliente, e irrequieta, atravesse os oceanos. E mostre ao mundo, quão belo é a nossa terra. De cores e uma só raça: a santomense.

  6. Rapaz de reboque

    19 de Dezembro de 2018 at 9:22

    Sei que não vao gostar do meu comentário , o artigo é excelente mas o titulo é que nao devia ser vira canção, o mais correcto seria a o bra da São de Deus Lima transformar-se em canção julgo eu que era o termo mais correcto quem nao gostar do meu comentário que nao goste

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