Cultura

“Kabeça” no Alkantara Festival 2023

As atrizes Aoaní Salvaterra e Joyce Souza estreiam no dia 19 de novembro às 17h30, a vídeo performance “Kabeça”. Resultado da residência artística realizada no programa Kilombo, com a curadoria das Aurora Negra para o Alkantara Festival 2023, o trabalho que será apresentado na sala Mário Viegas, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

Em yoruba Orí significa cabeça. Mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, o Orí é um orixá,
um deus, uma divindade pessoal e intransferível. É Orí que irá acompanhar o indivíduo antes de seu
nascimento até depois de sua morte. Orí foi uma escolha feita por cada um antes de nascer, e uma
escolha que continuamente se faz, ou não.

No ocidente ensinam-nos que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro, que
tem uma estrutura composta de ossos, músculos e terminações nervosas. Uma parte que abriga o
sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais espelham-se
no corpo – cidade. O lapso enquanto instituição, a memória estrategicamente fragmentada, o violento
soterramento é o palco desse cistema brancae – Lisboa.

É de terra que Orí é feito. Bater a cabeça na terra, no chão, é (em tradições de matriz africana,
ressignificadas na diáspora) o gesto, a ação, de máximo respeito e reverência. O ato primeiro antes
da gira, da festa, do movimento, do revide.

Nesta vídeo-performance batemos cabeça para quem veio antes, pedimos licença. Colocamos o
nosso Orí e coração sobre as histórias soterradas, como uma cerimónia aos que perderam a cabeça.
Interrompemos a lógica do que eles chamam “tempo”, conectamos. Procuramos perturbar o
esquecimento como aqueles que não baixaram a cabeça. Reverenciamos quem aqui resistiu e
resiste, no desejo de uma libertação súbita de energia que provoque movimentos nessa superfície.

A vídeo-performance consiste na ação de “bater a cabeça” em dez lugares de resistência negra na
cidade de Lisboa, como forma de evocar a memória apagada pela cidade, suprimida pelo sistema,
sufocada pelo colonialismo. Com criação e performance de Aoaní Salvaterra e Joyce Souza, o
projecto tem direção de Fotografia de Huba Artes, Indira Mateta e Pedro Henrique Sousa, apoio à
dramaturgia de Monalisa Silva, música de Xullaji, som de Sara Marita, iluminação de Ariene Godoy,
Edição de Victor dos Santos e produção da Ngleva Produções.

As criadoras entendem a vídeo-performance “Kabeça” como um prólogo do projeto “Kabeça Orí”, que
foi recentemente aprovado na 4.ª edição das Bolsas de Criação na área das Artes Performativas
Contemporâneas promovido pelo O Espaço do Tempo, com o apoio do Banco BPI e da Fundação “la
Caixa”. O espetáculo terá estreia absoluta n’O Espaço do Tempo, em novembro de 2024, no âmbito
do Festival ETFEST.

Aoaní Salvaterra
Nascida em Lobata, São Tomé e Príncipe, é licenciada em Comunicação Social (FANOR) e mestre em Artes
Performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema). Em 2012 lançou em Luanda, pela editora Chá de
Caxinde, a coletânea de crónicas intitulada “Miopia Crónica”. Foi oradora no primeiro evento TEDx de São
Tomé e Príncipe. Desde 2017 tem trabalhado como atriz e performer em teatro, cinema e audiovisuais, com trabalho exibidos nos Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Itália e China.

Joyce Souza
Natural do Guarujá – SP, Brasil, é mestre em artes performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema).
Licenciada em educação artística (FPA) e teatro (EAD-Universidade de São Paulo). Artista e pesquisadora
transdisciplinar atua entre Brasil e Portugal como atriz, performer, dramaturga e docente. Atualmente integra o elenco do espetáculo “descobri-quê?” da Estrutura e Dori Nigro em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II em digressão na Odisséia Nacional e ministra formações acerca de uma educação anti-racista e decolonial.

FONTE – Ngleva Produções

FAÇA O SEU COMENTARIO

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top