Destaques

Nação saqueada e pontapeada

Pode haver quem necessite de lupa, mas eu não tinha perceção de que casa parlamentar, tivesse descido ao nível, tão baixo, de tornar-se na privilegiada escola de formatação e disputa, vitória e derrota, no desnorte e na perca de valores são-tomenses.

Estranha exibição assumida, sem máscara, especialmente, pelos deputados José António Miguel, líder parlamentar, Abnildo Oliveira, vice-presidente do parlamento e Afonso Varela, ex-ministro, deixou-me perplexo. O antigo ministro, não só de governação de ADI, ao contrário dos “miúdos”, com devido respeito, desde fundação nacional, por alguma razão, é batizado, Varela da Jota. Pontos nos “is”, mais adiante.

Atento e, sobretudo, preocupado com temas em debate, cara-a-cara, na perspetiva de melhoria das condições de vidas humanas, não consegui, em direto, disponibilizar-me tempo, caríssimo, ao acréscimo de valores. Valeria a pena? Nem eu tinha resposta, antes dos deputados, porque no parlamento, estariam convidados, responsáveis por políticas económicas-sociais, ou seja, membros do XVIIIº Governo constitucional.

Convidado a rifar sorte à São Tomé e Príncipe, não haveria como acertar numa quinta-feira, envergonhada, diria mesmo, desnorteada e cabisbaixa, perante desempenho dos parlamentares que povo, cego, através de cruz no cheque, em branco, confiou ser seu porta-voz para legislar e interpelar governo, sempre que necessário, na busca de soluções oportunas para orientar e prosperar duas ilhas, em busca de rumo, no meio do mundo. 

Se o dia anterior, quarta-feira, propalado “Debate da Nação”, transferido à interpelação da oposição, foi momento do governo, apresentar radiografia das contas e realizações públicas do executivo precedente, atitude que o atual detentor, 4ª vez na liderança executiva, jamais se sujeitou, fugindo do país, após legislativas, não foi estranha, conclusão festiva apresentada aos são-tomenses. Roubalheira do tesouro público e bandalha na gestão política, económica-social, fotografadas na deriva, engorda e nos sinais exteriores de riqueza dos membros e gestores públicos do anterior executivo.

Os réus fraquejados pela circunstância, para defesa da honra, na voz do 1º ministro, cessante, dentre argumentos, desculpou-se de que, apenas pouco mais de um ano, pôde concentrar na execução de ações, a mudar de direção e levar barco ao bom porto. O período inaugural, foi de inusitado confinamento e isolamento da humanidade, vitimada pelo maldito vírus de Covid 19. Maratona de dois anos consecutivos para, um país, recebido sem confronto parlamentar, a data das eleições, carimbada, seis meses antes, a guerra na Ucrânia com escassez e encarecimento do mercado internacional, em 2022, vieram complicar ação governativa.

Contas feitas e sentenciada gestão anterior, com cotoveladas, assobios, algazarra e palmas, ação comparativa aos miúdos do ensino secundário, período em que, na conquista de personalidade e identidade, próprias, a rebeldia adolescente-juvenil, enfrenta pais e professores, em espaços públicos, para tal, é exigida controlo imaginativo de adultos, os são-tomenses, despertaram na quinta-feira, expetantes nas explicações do 1º ministro, perante trapalhada e auto-aniquilamento, no Massacre de Morro.   

Desde já, louvável reconhecimento ao desempenho da presidente do parlamento, pela serenidade e imparcialidade na condução dos debates. Foi notório, esforço em controlar deslize e acusação dos colegas do partido, dançando “puíta”, sem nexo, ao campo adversário. A presidente, oportuna e sensata, solicitando enquadramento legal das intervenções, foi perspicaz, em sobrepor-se aos propósitos, obscuros, alimentados pelo vice-presidente da casa parlamentar, seu colega partidário. Senhora presidente da Assembleia Nacional, Celmira Sacramento, parabéns!

A titular, cuja eleição, contou com antecipação de aposta dos adversários políticos e da sociedade civil, beneficiando-se de cortejo e aplausos nacionais, atributos que não impediram que figura política, vale ficar claro, figura política, vem sendo objeto de críticas legítimas, dirigidas por muitos, ao longo dos cinco meses, devido insistência na subordinação à agenda governativa, caindo no ridículo de castigar, financeiramente e, muito mais, aos adversários políticos, num desprezo total pela constitucionalidade do Estado de Direito.

Não é solitária na humilhante opção. O Presidente da República, sem mínima estima institucional à presidente da Assembleia Nacional (por ser mulher?) e casa parlamentar, num atentado ao património, Democracia, condicionou meses para que o chefe do arquipélago, 1º ministro, disponibilizasse ao parlamento, para explicar de que relatório da CEEAC, erradamente, é secreto e, só depois, abriu boca à Nação, por mimetismo, oferecendo idêntica explicação. Que nojenta submissão!? O Relatório Político, não é dirigido às pessoas, mas sim, ao Estado são-tomense. Com substância acessória, jamais seu sigilo, se sobrepõe aos Relatórios Judiciais de investigação e acusação, divulgados e acessíveis nas redes sociais.

Na realidade, país de hoje para ódio e acerto de contas, rege-se e observa-se ao espelho de qualquer “capiton-danço”, nem aquele que, sem diferenciar mão esquerda da direita, na política, lhe basta subir tribuna e exibir atributos de orador?

O vice-presidente parlamentar de cartaz, despropositado, em desrespeito ao quintal que, com humilde educação, lhe fez homem, demonstrou vaidade, em liderar guerra direta para com a presidente, senhora de distinção de exercer, na sessão, o mais alto cargo do órgão legislativo. Não descortinei, o mínimo nas palavras, postura e cultura intelectual do jornalista de formação, em ter sido sorteado pelos porta-vozes da sociedade civil para liderar casa parlamentar. A minha consciência deve estar errada.

A confiança pessoal, acresce-se de responsabilidade pelo que me envergonhei e não consegui rever-me no desempenho dos deputados costurados na inevitável sujeira, diria mesmo, confundindo democracia e libertinagem, num papel essencial de perspetiva política. Varela da Jota, após travessia pelo deserto democrático, opcional e oportunista, mas de faca e garfo, saboreando o país, entendeu, ao meio do percurso, ajeitar-se à camisola e paixão de ADI, mas nem estilo, pior, gravata, são aconselháveis, ainda que por conveniência, ao seu fato político.

Privilégio francês, bastante criticado, ainda na 1ª República, o deputado Afonso Varela, teve descaramento de oficializar, perante auditório, aquando conveniente, sua baixeza, atingindo ao cessante, 1º ministro, Jorge Bom Jesus, porque lhe coube receber “rapaz, jovem, tímido, calmo”, qualificação sua, em Toulouse-França. É urgente evolução do deputado, mas não tenho fé, em acreditar de que o advogado, designação oficializada pelo próprio, possa, enquanto antigo ministro e funcionário público, aos longos dos anos, na tentativa de pôr pernas, em fuga da realidade, possa ir muito mais além, senão ser vitimado pela própria sombra, algo a evitar pela idade de adulto.

Moldado e embebido de outras latitudes, por consideração e memória às almas, em que familiares aguardam, chorosos, missa no Tribunal, eu ansiava do deputado Wando Castro, aquando da apresentação da temática do MLSTP, lançando debate, dúvidas e responsabilização política do Massacre de Morro, tendo em conta, grosseria e festejos do dia anterior, atrevesse a ir mais longe. Pedir ao hemiciclo, o não uso de palmas, nem manifestações, deselegantes, naquela especial sessão da Assembleia Nacional. A ingenuidade, sensibilizou-me a ouvir simulacro de sessão solene.

Contrariamente, provocação, apupo e dedo indicador ao inimigo de bancada, impuseram-me cobrir olhos, instantes que deputados com responsabilidade política e profissional, fizeram uso de palavras ou das respetivas cadeiras, mal-educados, mas com preocupação de abate intelectual de cada adversário, gesticularam e vociferaram para vénia aos oradores do partido e, em especial, ao 1º ministro.

Com que consciencialização, deputados de ADI, marcharam e celebraram por cima de quatro cadáveres humanos, assassinados e sepultados, às escondidas, pelo Estado, num país, em que sigla, sem pretensão de descobridores portugueses, na época, mais de cinco séculos, definiram como parentes? Foi preferível, mudez da bancada de MCI-PUN, assertiva no dia anterior, relembrando, insistente, ao 1º ministro, pela justiça dura e pelo cumprimento cabal da parceria para realização de promessas.

O chefe do executivo, quem na quarta-feira, respondeu aos críticos de que, afinal, gosta de ir ao parlamento, infelizmente, no Debate de Urgência, 1001 vezes, solicitado pela oposição, não conseguiu disfarçar silêncio ensurdecedor. Após minutos, 5, 7, 10, de insistência da presidente do parlamento para que governo, esclarecesse à apresentação do tema, avançado pela oposição, o 1º ministro, visivelmente inconfortável, banalizou e deixou em saia-justa, segunda figura da Nação.

Só que, desígnios de apagar arquivo ao Massacre de Morro, o chefe do executivo, já no debate da “Nação”, havia cometido escorregadela de, preventivamente, com olhos no confronto da manhã seguinte, lançar militares contra Bom Jesus. Acusou seu antecessor de não investir, um só tostão, nas Forças Armadas, comparando certa deriva financeira do anterior governo, compatíveis ao salário e às despesas de dez anos de gasto Castrense.

O discurso de assédio às armas de fogo, apontando cabeça dos opositores, membros do anterior governo, deixará cair poeiras do ar, de que 1º ministro, voluntário, se disponibiliza a limpar mãos de sangue dos militares, arguidos no processo criminal, da hedionda madrugada do dia 25 de Novembro?

Como havia prometido na declaração matinal à Nação, naquele sanguinário e fatídico dia, os militares continuavam à caça dos mandantes do falso assalto ao quartel, o 1º ministro, em discursos dos dois dias, pretendia que militares, arguidos, para fins inexplicáveis, fossem ao parlamento, capturar membros do anterior governo? Espezinhei à mim mesmo.

Os dois áudios disponibilizados nas redes sociais, pelos familiares de Bruno Afonso, a mãe Benvinda Lima, irmã Paulina e o tio Vicente Lima que, há mais de três meses, alertaram Nação da existência de um sobrevivente, prisioneiro no corredor de morte, no estabelecimento penitenciário, óbvio, não contam na sede de julgamentos. Todavia, o testemunho de Lucas, sem intimidação militar ou policial, prestado e rubricado na semana finda, pelo advogado Carlos Semedo, em busca da verdade pela qual, militares, arguidos no Processo nº 768/2022, convidaram e assassinaram, de intensidade macabra e covarde, quatro civis, Arlécio, Armando, Isaac e Into, devem anexar e sustentar contraditório judicial.

Vidas humanas torturadas e assassinadas, com ódio de vingança, pelos militares, identificados pela acusação judicial, ao mando de fantasma, jamais devem ser confundidas com instituição das Forças Armadas, em que chefe executivo, soube descrever carência, ao baixo de 1 euro para sobrevivência diária de cada soldado.

Será que dependência económica e financeira de São Tomé e Príncipe, identificada no balanço dos quase 180 dias, no “Debate da Nação”, submete o país à agenda de qualquer distinção e assobio ao cão vadio, em corrida, desesperada e faminta, a agarrar ossos? Será que presidente Fradique, última hora, no desejo de acalmar Nação, convenceu ao Presidente Obiang, a “salvar” 1º ministro são-tomense? Já que o chefe do país, simpatiza-se com números, a semana útil comporta cinco dias. Porque não, alteração da data de agenda com parlamentares? Não encolhi ombros.

O bom-senso, a ética e moral, deveriam submeter discussões, programadas para três horas, ao início, mais cedo, para dar sinal de que na realidade, OGE 2023, em gestação, trará sinais de conexão com “Estamos Prontos” de elevar o país. Mil e uma soluções que não esbofeteariam 55 deputados, perante subordinação aos caprichos executivos. Os ministros, mudos, surdos e cegos, ao longo de cinco meses, para lá de faz-de-contas, estariam aptos às questões ao redor da “inventona” com quatro cidadãos, selecionados à tortura e ao assassinato, no quartel militar?

País necessita de parcerias de investimento e não, mãos estendidas, há décadas. O XVIIIº Governo constitucional com 30 milhões de dólares, disponíveis por Safebond Consortium, para investimento e dar emprego direto, mais de centena de são-tomenses, não é pista oportuna de convencer jovens, a ficar no país com horizonte na prosperidade?

Desesperança popular, concede ao populismo, formação de mentalidade absurda e, no concreto, para pequeno arquipélago, foi bastante desenquadrada atuação de deputados que, finalmente, se viu coroada da malcriadez do 1º ministro, vexame que não merece imitação de políticos adversários. Todavia, admiradores da figura política, ainda que pontapeados, militantes e simpatizantes, nas redes sociais, aplaudiram e reviram-se na nódoa de carvão.

Bateram palmas à humilhação ao povo são-tomense, afronta submetida pelo 1º ministro, na fuga ao contraditório parlamentar para honrar seu desejo de viagem. Enfim! Passados cinco meses, expetativas superaram, pela negativa, tudo quanto eu havia de imaginar, disponibilizando-me, a escutar prosas do país, através de olhos nos olhos de parlamentares e membros do executivo.

Bom Dia de Trabalhadores!

José Maria Cardoso

1º de Maio de 2023

FAÇA O SEU COMENTARIO

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top