Em 2002, com a previsão do fim do PNAPAF, (Programa Nacional de Apoio à Pequena Agricultura Familiar), surgiu uma arrojada iniciativa dos técnicos do referido programa, mormente aqueles ligados à vulgarização agrícola, no sentido de criar uma ONG chamada ADAPPA, tendo em vista prosseguir com as acções de vulgarização agrícola e protecção do ambiente para consolidar os êxitos alcançados e perspectivar novos objectivos para a melhoria da agricultura familiar em São Tomé e Príncipe. Um dos objectivos fixados consistiu na diversificação das culturas e, por conseguinte, na diversificação da renda dos agricultores familiares.
Neste quadro, a cultura da pimenta foi identificada como uma aposta de desenvolvimento. Tendo em conta as suas características e o seu potencial, concluiu-se que poderia, de facto, contribuir para a melhoria das condições de vida dos agricultores são-tomenses de uma forma sustentável e duradoira. Escusado será sublinhar que a melhoria das condições de vida dos agricultores são-tomenses é uma forma de contribuir para o desenvolvimento do país. Assim, é suposto pensar que todos os governos assumam, como um dever, tudo fazer para melhorar as condições de vida dos agricultores envolvidos na CEPIBA/BIO/STP, (Cooperativa de Produção e Exportação de Pimenta e Baunilha Biológica), em particular, e de todos os agricultores são-tomenses, em geral.
A cooperativa nasceu no dia 19 de Dezembro de 2007. Iniciativa meritória de um grupo de agricultores lúcidos que, muito cedo, compreenderam o desafio.Foi necessário definir uma estratégia para a vulgarização da cultura da pimenta no país.O ponto de partida foi crítico, tendo em conta a fraca disponibilidade de material vegetal.Em São Tomé, em 2001, aproveitou-se um pequeno pimental semi-abandonado que se encontrava na comunidade de Rio Lima e,no Príncipe, em 2002, recorreu-se à antiga plantação de São Mateus, onde existiam somente 40 plantas de pimenteira de variedade singapura. Actualmente, existem no país três variedades de pimenta, nomeadamente, singapura, paniur e guajarina.
Tive o privilégio de acompanhar e supervisionar a trajectória da CEPIBA desde o início e posso dizer, sem nenhuma vaidade, que me revejo em todas as suas fases, desde 2000. É inequívocoque a CEPIBA não nasceu de forma súbita e, muito menos, precipitada.
Em 2003 com o arranque do PAPAFPA,(Programa de Apoio à Pequena Agricultura Familiar e Pesca Artesanal), a cultura da pimenta ganhou nova dinâmica, face àestratégia de se trabalhar com culturas de exportação organizadas em fileiras.Criou-se uma fileira de pimenta e baunilha e fui seleccionado como responsável da fileira.Muitas acções foram arduamente empreendidas pela equipa técnica,nomeadamente as de sensibilização, multiplicação e distribuição do material vegetal e de apoio na preparação do terreno, bem como na plantação da pimenta.
Os esforços da equipa técnica foram compensados pelo empenho e dedicação dos agricultores que compreenderam a oportunidade ao seu alcance. Em 2001, somentecinco agricultores se dedicavam à cultura da pimenta, com assistência.Volvidos seis anos, o número de agricultores passou para104, distribuídos por oito associações de produtores de pimenta e baunilha biológica. Em 2007,após a criação das associações acima referidas, estas reuniram-se e criaram a Cooperativa de Exportação de Pimenta e Baunilha, CEPIBA/BIO/STP.
Em 2015, iniciao PAPAC, (Programa de Apoio à Pequena Agricultura Comercial). Este novo programa de apoio ao desenvolvimento trouxe uma outra filosofia. Se durante a vigência do PAPAFPA, todas as despesas de investimento eram assumidas e geridas pela Unidade de Gestão do Projecto, com o PAPAC, a gestão passa a ser da responsabilidade da CEPIBA, a qual cria uma direcção executiva para dar resposta a este novo desafio. Por concurso público, foi escolhido o director executivo da CEPIBA que tem as seguintes atribuições:
– coordenar todas as actividades de natureza técnica, administrativa e financeira da cooperativa;
– elaborar e actualizar o plano de negócios da Cooperativa em concertação com os órgãos directivos;
– negociar os acordos de parceria e os contratos em nome da cooperativa, com anuência do Conselho de Administração da CEPIBA;
– preparar os planos de trabalho e orçamentos anuais da cooperativa, submetê-los às instâncias da cooperativa e executá-los;
– organizar e orientar os trabalhos de certificações (biológica e IGP);
– elaborar os relatórios destinados aos órgãos da cooperativa e aos seus parceiros;
– coordenar e supervisionar os diferentes responsáveis de cada departamento da cooperativa.
A direcção executiva trabalha em estreita colaboração com a equipa técnica, composta por dois técnicos em São Tomé e seis auxiliares técnicos, estando quatro em São Tomé e dois na Região Autónoma do Príncipe.
Quem são os auxiliares técnicos? São pequenos agricultores de pimenta que passaram por algumas formações de base no país e no exterior, com experiência e com boas plantações de pimenta, atributos que fizeram com que fossem chamados para ajudar os seus colegas.
Graças ao empenho, dedicação e determinação dos agricultores e à qualidade da assistência, a CEPIBA tem vindo a crescer, fazendo da pimenta uma fonte de rendimento para muitas famílias são-tomenses. O total de superfície cultivada até Setembro de 2017 é de 71 hectares, dos quais 18 estão na ilha do Príncipe, onde existem dois auxiliares técnicos que têm conduzido e preparado muito bem a pimenta. Tal como em São Tomé, a motivação dos produtores no Príncipe é visível. A ilha do Príncipepossui condições edafo-climáticas muito favoráveis para o desenvolvimento da cultura da pimenta.
Os números sobre a CEPIBA falam por si.
Em 2001, apenascinco agricultores investiam na culturade pimenta. Em 2007, o número sobe para 104, permitindo assima organizaçãode produtores em associações e, posteriormente, o lançamento da cooperativaCEPIBA.
Entre 2011 e 2014, foi posta em marcha uma estratégia de profissionalização dos membros, após uma visita de estudo ao Madagáscar, em 2012.
Em Outubro de 2017, a CEPIBA conta com333produtoresmembros distribuídos por 26 comunidades organizadas em 19 associações. A Cooperativa produz e exporta pimenta branca, preta, vermelha e selvagemdesde 2009.
Entre 2008 e o 1º semestre de2017, a CEPIBA produziu acima de 65 toneladas de pimenta. Entre 2009 e o 1º semestredo presente ano, a quantidade de pimentaexportada foi cerca de 50 toneladas, sendo a maior parte a pimenta branca, que exige muita água corrente e limpa. A falta de água em quantidade e qualidade afectava, sobremaneira, a qualidade do produto em São Tomé.
O que fazer perante esta situação? A solução encontrada pela direcção executiva foi a Água Moreira, situada num ponto mais baixo, com uma diferença de cerca de 200 metros de altura. Exemplos comparativos tinham demonstrado que era possível levar água de Água Moreira para Rio Lima, com o auxílio de uma bomba. Daí a busca de autorização para se aproveitar uma das saídas do caudal de Água Moreira que a EMAE colocou à disposição da população de Diogo Simão, no distrito de Mé-Zóchi, antes de Rio Lima.
Em São Tomé e Príncipe, a água é aproveitada por gravidade. Assim, toda a fonte de água canalizada está numa parte mais alta e os consumidores nos pontos mais baixos. Ora, a população de Diogo Simão está a um nível mais alto em relação à fonte de Água Moreira. Consequentemente, todas as localidades em situação semelhante à de Diogo Simão acabam por ser penalizadas em termos de abastecimento.
Tendo em conta a complexidadedoproblema, a CEPIBA elaborou um plano visando colocar água de qualidade em Rio Lima para tratara pimenta recolhida nas plantações dos produtores membros da cooperativa.
Em que consiste o plano? Na construção de um depósito de grande capacidade para abastecer o centro de tratamento de Rio Lima e, ao mesmo tempo, a população de Diogo Simão, incluindo a escola que ainda não foi inaugurada por falta de água. Com uma só intervenção dois problemas gravesteriam solução.
A CEPIBA não está a procura de protagonismos. Ela quer, somente, contribuir para solução dos problemas que afectam os seusmembros.Neste caso, a proposta de solução apresentada é muito vantajosa pelo facto de ajudar a resolver outros problemas exógenos à cooperativa.
A obra foi lançada pelo governo, e estará pronta dentro de três meses, segundo as previsões. O abastecimento de Rio Lima com água em quantidade e de boa qualidade, será uma excelente notícia para os agricultores de pimenta dessa comunidade e não só. Será, de facto, uma boa notícia também para todas as comunidades produtoras de pimenta em São Tomé. O aumento da qualidade do produto vai significar aumento de rendimentos para os produtores e respectivos agregados familiares.
A CEPIBA existe desde 2007 e está empenhada em continuar a existir por muitos e longos anos, aumentando a produção e a produtividade dos seus membros e, concomitantemente, melhorando sempre e cada vez mais a qualidade dos produtos que,por um lado, comercializa internamente e, por outro,exportapara a Europa.
Há poucos anos, a viabilidade da CEPIBA era posta em causa. Hoje, este problema já não se coloca e sendo assim, todos os esforços devem ser consentidos no sentido de se consolidar os resultados já conseguidos e, por conseguinte, a melhoria socioeconómica dos produtores,em particular,e de São Tomé e Príncipe, em geral.
Grande parte da produção de pimenta é exportada para a Europa, onde a CEPIBA mantém, há quase 10 anos, uma parceria estratégica, com a empresa importadora. Temos outras parcerias, nomeadamente com a AGRISUD, uma ONG francesa, bem como com o CTHT, Centro Técnico e Hortícola de Tamatave, em Madagáscar. No domínio da irrigação, temos uma parceria com a empresa portuguesa AGRICERT.
Os problemas que mais inquietam os produtores membros da CEPIBA são os seguintes:o furto, o vandalismo,a extensão recorrente da gravana, ou seja, os efeitos da mudança climática, a falta de financiamentos para as infraestrutras de irrigação, dentre outros.
A direcção executiva tudo fará em prol do desenvolvimento da cooperativa e dos seus membros e isto requer visão, empenho, dedicação e apoio de todos os que nela acreditam. A batalha pelo aumento da produção e da produtividade, a batalha pela exportação de uma pimenta de excelente qualidade, devem comprometer todas as partes envolvidas.
No que toca à direcção executiva da CEPIBA/ BIO/ STP,há um espírito de missão, sentidode dever e de responsabilidade.
Francisco Ramos – PARDAL
Engenheiro agrónomo
DirectorExecutivo da CEPIBA/Bio/STP
Toussaint L'Ouverture
24 de Outubro de 2017 at 0:29
Artigo informativo e esclarecedor. Desejo os maiores sucessos à CEPIBA, à sua direcção executiva, às suas associações, aos seus membros e a todos os que concorrem para que seja uma cooperativa sustentável. Obrigado, Francisco Ramos.
STP
24 de Outubro de 2017 at 13:01
Artigo esclarecedor, projecto ambicioso e com resultados a vista, mas acho um pouco oportunista. Oportunista porque tudo o sucesso parece estar a volta de uma única pessoa – o Director Executivo. Numa cooperativa o sucesso deve-se aos cooperantes e às instituições que puseram à disposição da cooperativa tais condições. Em primeiro lugar, o Estado Santomense através do Ministério de Agricultura que não foi tido nem achado neste artigo. Aqui já se nota alguma prepotência. Por outro lado, os parceiros internacionais, que sempre foram o motor motivador, orientador e financeiro das cooperativas. Sem esse tridente a cooperativa não teria o sucesso que tem. Estou-me a referir aos Cooperantes (agricultores santomenses – todos e não só o diretor executivo), o Estado Santomense como o dono das terras agricultáveis e os parceiros internacionais como os financiadores, orientadores, fiscalizadores e clientes das cooperativas.
Em suma, este artigo seria mais rico e sensato e justo se os louros do sucesso da CEPIBA não se limitasse no autor do artigo.
неизвестный
1 de Novembro de 2017 at 10:11
Meu caro STP, é lamentável como vens em nome do governo pedir elogios, o ministro da agricultura já fez o seu papel ridículo implorando pelo elogio ao governo num projeto de que o governo nem quer cooperar, portanto em vez de pedirem elogios por nd, trabalhem por merecer. Pq em três anos de governo ainda não fizeram esquecer o anterior ministro da agricultura. Portanto as cooperativas têm méritos por estarem onde estão e por mudarem as vidas dos pequenos produtores. É mérito da cooperativa (CEPIBA) não do seu diretor como o sr. refere no seu comentário, e nenhuma vez o post referia a isto, portanto dê cesar o que é de César e não ande por aí mendigando por elogios.
SÃOTOMENSE COM ORGULHO
24 de Outubro de 2017 at 15:12
STP, não vejo no artigo qualquer intenção do autor em ficar com os louros. Você, infelizmente, está a falar do que não sabe. PNAPAF, PAPAC, PAPAFPA são governo. Governo com financiamento externo, mas governo. Governo(s) são-tomense(s) e não o XVI ou o XX governo. Há referências a parceiros internacionais, aos sócios da cooperativa, às associações. Não seja mesquinho como aquele ministro medíocre que tentou destratar Francisco Ramos, ”xingando-o” por não ter agradecido ao XVI governo por uma proposta dele, Francisco Ramos. Cobriu-se de ridículo, como quase sempre. Aliás, raras vezes tivemos um ministro tão ridículo. E você parece-me que quer ir pelo mesmo caminho. A inveja faz muito mal à saúde. Cumprimentos.
Santos
24 de Outubro de 2017 at 16:00
O Eng.Pardal, como sempre, não deixa do seu “famoso” egocentrismo.
José
25 de Outubro de 2017 at 8:32
Neh, vocês no lugar de Francisco Ramos iam fazer palhaçada e desgraçar o mais mais ainda. Cada um exibi a qualidade que tem. Saber trabalhar inteligentemente não é para todos. Vcx talvez é que estão na cabeça de lista de ladrões de pimenta, baunilha e outros produtos agrícolas. Vcx sim são os palhaços e desgraça do país. Coloca os pés na minha roça para eu vos caçar. ‘Dêçu só cá paga sun Pardal da non.
Pimenta Preta
25 de Outubro de 2017 at 15:37
A justiça tem que funcionar em relação aos ladrões de pimenta e outros ladrões. É uma praga nacional e está a piorar, a cada dia que passa.
José
25 de Outubro de 2017 at 8:38
Põe os pés na minha roça para eu vos caçar.
Dêçu só cá paga sun Pardal da non.
Ralph
30 de Outubro de 2017 at 2:42
Sei que este artigo se refere à cultivação da pimenta e iniciativa parece ser boa. Porém, apenas quero dizer que encontrei há várias semanas atrás uma loja que vende chocolate feito por cacão proveniente de São Tomé e Princípe. A loja, uma chocolateria que se especializa na venda de chocolates de por volta do mundo, fica perto da minha casa nas Colinas de Adelaide, na Austrália, e foi uma descoberta espantada porque, até então, eu não tinha conseguido encontrar nenhum chocolate de São Tomé e Princípe em qualquer lugar australiano. Posso dizer que o produto tem um sabor muito forte e frutoso, mas muito gostoso. Não sei quão popular são os chocolates de cacão santomense por esta loja, mas faço a minha parte por comprar um pacote pequeno quase todas as semanas para tentar assegurar que a loja continue a comprar cacão que vem de São Tomé e Príncipe e produzir as embalagens de chocalate.
sol
13 de Novembro de 2017 at 9:17
lol
Rio Lima
17 de Novembro de 2017 at 8:16
Com este homem a frente dos destinos da cepiba, ele está e estará feito com os compradores, pois, o salário dele quem paga são os coitados dos agricultores. Por estar feito com o comprador o preço de pimenta jamais conhecerá um preço merecido, tendo em conta o trabalho que essa cultura tem. Muito arrogante e vingativo. Tem dado muitos prejuízos à cooperativo. Por conta disso tem recebido desafores por parte do financiador.-