A questão é colocada pelos familiares, principalmente pelos filhos dos 8 cidadãos nacionais que são dados como desaparecidos desde Junho do ano 2017.
Eram tripulantes do navio Santo António, que zarpou de São Tomé no 19 de Junho de 2017 rumo a ilha do Príncipe e desapareceu.
Um questionamento, sobretudo dos filhos que ficaram órfãos do pai, que garantia sustento para a família e assegurava a educação dos mesmos, surge em consequência do naufrágio do navio Amfitrit no dia 25 de Abril último. Neste naufrágio foram retiradas do mar perto do Príncipe, 8 pessoas sem vida. Foram sepultadas no cemitério da cidade capital do Príncipe. 9 outras continuam desaparecidas.
A angústia deve ser maior, quando não se pode sequer enterrar o corpo do seu enti-querido. É a mesma angústia que desde junho do ano 2017, marca a vida dos familiares dos 8 cidadãos nacionais, que tripulavam o navio Santo António. Simplesmente desapareceram.
Ao contrário do Amfitrit que permitiu a equipa de socorro filmar e fotografar o seu casco antes de afundar, o navio Santo António, carregado com 87 toneladas de mercadorias diversas que transportava para a ilha do Príncipe, simplesmente desapareceu em 2017.
A onda de solidariedade para com os familiares das vítimas do navio Amfitrit, e sobretudo a acção e reacção das autoridades políticas e judiciais do país, no sentido de esclarecer as causas do naufrágio, e sancionar os prevaricadores, mexeu com a sensibilidade dos familiares dos 8 cidadãos nacionais que desde 2017 desapareceram junto com o navio Santo António.
Ricardo Gomes, irmão do contramestre do navio Santo António, na qualidade de porta voz do grupo de familiares desabafou a dor dos familiares. «Sabendo o que está a ser feito pelos familiares das vítimas do navio Amfitrit, também queremos reivindicar soluções para os nossos problemas», afirmou.
Ricardo Gomes sente que a liberdade de expressão, foi devolvida ao país, por isso exprime livremente a dor dos familiares. «Na altura pedimos a TVS uma entrevista para dar conta da situação dos familiares das vítimas do navio Santo António, para alertar as autoridades. E a TVS nos disse que não poderia ser, porque estaríamos a atacar o Governo», precisou o irmão do contra mestre do navio desaparecido no mar do Príncipe.
Pois, segundo Ricardo Gomes, os familiares dos 8 cidadãos desaparecidos, tiveram na altura encontros com vários ministros do anterior governo. Também com o ex-presidente da Assembleia Nacional, e nada resultou.
«Ia iniciar as aulas e apresentamos uma lista de necessidades para as crianças órfãs de pai, ao então Ministro da Educação, e não se fez nada…», pontuou.
A reunião com ex-Primeiro Ministro também não surtiu nenhum efeito. Todos esses encontros dos familiares das vítimas do desaparecimento do navio Santo António, decorriam a porta fechada, e sem a presença da imprensa.
A tragédia do navio Santo António foi politicamente abafada em São Tomé e Príncipe. Só os órgãos de comunicação social livres, falavam sobre o tal naufrágio/desaparecimento.
Por isso, os familiares das vítimas fizeram uma carta endereçada ao Presidente da República, Evaristo Carvalho, mas não tiveram resposta. A carta em causa tinha cópias «para os partidos políticos. Só o partido MLSTP, reagiu e deu algum apoio aos familiares», explicou Ricardo Gomes.
Foi o crime cometido pelos familiares das vítimas do Santo António. «O ex-Director do IMAP(Instituto Marítimo e Portuário), disse-nos que politizamos o caso, tendo em conta o apoio que o MLSTP nos deu. E que sendo assim, o caso ia ficar por aí mesmo…»referiu.
Os familiares das vítimas acabaram por entrar na lista negra do então Governo. Consequentemente, a justiça são-tomense, mais concretamente o Ministério Público também não teve qualquer reacção oficial sobre o naufrágio/desaparecimento do navio Santo António.
Segundo Ricardo Gomes, o inquérito mandado realizar pelo IMAP, ficou desconhecido até a data de hoje.
O Governo da altura só pronunciou uma vez na Assembleia Nacional sobre o assunto, tendo o então ministro da defesa Arlindo Ramos, dito aos deputados que um navio hidrográfico oriundo de Portugal iria chegar a São Tomé, para procurar vestígios do navio Santo António no fundo do mar. Operação que acabou por não acontecer, pois o tal navio oriundo de Portugal, e anunciado pelo ex-ministro, nunca chegou a São Tomé e Príncipe.
O então Governo nunca mais falou sobre o navio, e sobre os 8 cidadãos nacionais desaparecidos. Os órgãos de justiça seguiram as pisadas do executivo, silêncio total.
O proprietário da embarcação aproveitou o silencio imposto, e não pagou aos familiares das vítimas, sobretudos aos filhos, o salário que por direito os 8 tripulantes deveriam receber no fatídico mês de Junho de 2017.
Filhos que ficaram a deriva sem o chefe de família, e entregues a sua sorte numa sociedade na altura amordaçada.
Hoje livres para exprimirem a sua dor, os familiares das vítimas exigem na comunicação social do Estado, que as novas autoridades atendam ao seu sofrimento, como tem atendido ao sofrimento dos familiares das vitimas do Amfitrit.
Apelam ao fim, da justiça com dois pesos e duas medidas na República Democrática.
Abel Veiga
XXXXXXXXX
19 de Maio de 2019 at 15:46
Ouvir as críticas do ADI ao actual governo no caso do Amfitriti e ouvir os familiares dos tripulantes do navio Sto António sobre a forma como foram tratados pelo governo de Patrice Trovoada, é chocante. A sorte do ADI é que a hipocrisia não mata.
Josias dos Prazeres
19 de Maio de 2019 at 19:51
Minha Total Solidariedade!
TonyexMk
20 de Maio de 2019 at 12:33
Triste, só em Stp, que é um País que não devia ser.
Daí que nada aconteça, não têm dinheiro nem vergonha, isto é um assunto de estado, seja qual for o governo, até mesmo o PR deveria envolver se, vejam o exemplo de Portugal.
País da terra do nunca. Nunca acontece nada.