É o título do livro da ex-Primeira Ministra Maria das Neves. Lançado em São Tomé na passada sexta feira, 23 de Outubro, o livro incorpora a tese de doutoramento defendida por Maria das Neves em uma universidade portuguesa.
Um estudo que recoloca São Tomé e Príncipe como porta de entrada(Gateway) na região do Golfo da Guiné. O livro recheado de investigações feitas pela autora, mostra as potencialidades, e as fragilidades do país, e aponta o caminho a seguir para se alcançar o desenvolvimento sustentado, através da prestação de serviços.
«O estudo mostra que os países-ilhas, que adoptaram a prestação de serviço como estratégia de desenvolvimento económico atingiram outro patamar de desenvolvimento….. Aqueles que continuam a basear a sua estratégia de desenvolvimento apostando essencialmente na agricultura e nas pescas continuam a ter baixo nível de desenvolvimento. É o caso de São Tomé e Príncipe,…. as ilhas Comores….» referiu Maria das Neves.
Sendo São Tomé e Príncipe um país de enorme potencial agrícola, a autora do livro, chamou atenção para a mudança da estratégia. «Não significa dizer que a agricultura não é essencial. Mas, é preciso pensar-se numa agricultura de transformação…», acrescentou.
A tese de doutoramento de Maria das Neves que deu forma ao livro, desafia o país para a abertura de um novo ciclo económico. Trata-se da prestação de serviços. Um ciclo económico, que não é de todo novidade para as duas ilhas.
Maria das Neves reconhece que “São Tomé e Príncipe como Gateway Regional ou Porta de Entrada na Região do Golfo da Guiné, «implica o retorno do país a sua vocação natural». A autora recordou o período histórico do século XVIII, em que o arquipélago funcionou como placa de prestação de serviços para os navios negreiros que circulavam entre o continente africano, a Europa e a América Latina e do Norte.
Para São Tomé e Príncipe ser Gateway Regional, o estudo aconselha a tomada de várias medidas, nomeadamente o investimento nos recursos humanos do país. Só assim o desenvolvimento sustentado será realidade num cenário de prestação de serviços. Mais ainda, para que São Tomé e Príncipe seja Gateway Regional, «é preciso acreditarmos em nós próprios», pontuou Maria das Neves.
O trabalho de investigação de Maria das Neves, desvendou também algumas causas do bloqueio económico e social, que não permitiram a São Tomé e Príncipe ser porta de entrada para o Golfo da Guiné. Isto apesar do país ocupar posições, geo-política, geo-estratégica e geo-económica, muito vantajosas no coração do Golfo da Guiné.
«Das investigações feitas, constatou-se dentre outros factores, que há dois essenciais que têm bloqueado o processo de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe. Um é a constante instabilidade política-governativa, e o segundo é a incapacidade dos são-tomenses de serem inclusivos e de trabalhar em conjunto», frisou Maria das Neves.
Ímpeto individualista e polémico, complica a caminhada do santomense rumo ao Gateway Regional. Maria das Neves aconselhou cada cidadão a ler com atenção o livro. Pode ser factor de inspiração para que cada santomense adira a nova estratégia de desenvolvimento sustentado assente na prestação de serviços.
«Mais do que de leitura, é um objecto de estudo. É um pretexto para reflectirmos sobre o País…», afirmou o Primeiro-ministro Jorge Bom Jesus, que marcou presença na cerimónia de lançamento do livro.
O Presidente da Assembleia Nacional, Delfim Santiago das Neves, e o ex-Presidente Fradique de Menezes, são algumas das muitas individualidades santomenses, que marcaram presença na sala 213 da Assembleia Nacional, onde decorreu o lançamento do livro.
Abel Veiga
Zé de Neves
26 de Outubro de 2020 at 10:02
Utilizar a triangulação dos navios negreiros do sec. XVII como justificação da importância de STP como entreposto de serviços no século XXI é só ridículo.
As nossas ilhas serviam de apoio ao abastecimento de víveres à navegação exploratória por cabotagem numa primeira fase e, numa segunda fase e após a descoberta da América, era o caminho lógico de uma economia que se movia em função do vento e das correntes marítimas para chegar ao hemisfério SUL americano com “carga humana”.
A enorme operação logística de matérias-primas que África fornece ao mundo e à China em particular, estão assentes em operações de grande tonelagem, optimizadas em Pennington na Nigéria, Tema no Ghana, Kribi e Ebome nos Camarões e por aí adiante. A Região já oferece estas infraestruturas em grande quantidade e qualidade no Golfo da Guiné e são bastante eficientes, baratas e imunes a greves e apetites políticos de circunstância.
Ralph
27 de Outubro de 2020 at 4:41
Consigo ver a linha de raciocinio deste comentário. Embora seja bom procurar ser um entreposto que presta serviços à região circuntente, como Singapura, imagino que não seja tão fácil realizar. Trata-se de ter a bom sorte de se ser situado num local do mundo onde haja uma vantagem geopolítica de que se pode aproveitar. E de não haver muitas opções alternativas na região para atrair os negociantes e fazer difícil a vida como tal prestador de serviços. Se é verdade que haja outros portos que já se tenham estabelecido como boas opções para a região, acho que será muito difícil São Tomé e Princípe superá-los e tornar-se a preferência dessa região.
Zé de Neves
27 de Outubro de 2020 at 12:39
Caro Ralph, obrigado pelo seu comentário construtivo.
Singapura, como refere, é um excelente exemplo. É uma plataforma de negócios para toda a região do Sudoeste Asiático – Laos, Cambodja, Vietname, Myanmar, Malásia. Existem bairros inteiros em Singapura com empresas de produto destes países à espera dos compradores internacionais que encontram em Singapura o que não encontram na região: o maior hub logístico (aéreo e marítimo) daquela área do globo, banca comercial transparente e competitiva, segurança e previsibilidade das autoridades locais que apoiam e defendem eficazmente este posicionamento geo-estratégico há décadas. Singapura tem uma proposta de valor concreta e palpável.
A título de curiosidade, mas que nos é bastante familiar, Singapura tem enormes problemas de auto-suficiência energética, quase 100% da energia eléctrica tem origem na combustão de óleo de palma em centrais térmicas produzido na Malásia.
Precisamente
27 de Outubro de 2020 at 11:05
Sr Zé das Neves os meus parabéns pela análise! Claro e conciso!! Esses politicos- governantes e ex-governantes do nosso país ainda julgam que estão a lidar com povo como há 45 anos, como se fossemos todos burros e ignorantes…felizmente já não é assim, há quem tenha dois dedos de testa e apresente as coisas como elas são em meia duzia de linhas que foi o que o meu caro acabou de fazer sme precisar de escrever um livro.De falácia e pensamentos vazios já estamos cheios. Precisamos de gente que vive no mundo real, que saiba fazer a análise correcta, isso exige investigação e algum trabalho (algo que não gostam nem estão habituados a fazer). Temos de saber onde estamos e para onde vamos!! Haja alguém…
Zé de Neves
27 de Outubro de 2020 at 12:59
Caro “Precisamente”, obrigado pelo seu comentário cortês e construtivo, tão raro quanto apreciado nestas caixas de comentários.
Algum sentido crítico é essencial num mundo inundado de informação travestida de conhecimento. Penso ser da mais essencial justiça concluírmos que ao fim de 45 anos continuamos a preferir discursos a acções, o projecto à construção, o acessório ao essencial.
Eu
26 de Outubro de 2020 at 10:44
«Das investigações feitas, constatou-se dentre outros fatores, que há dois essenciais que têm bloqueado o processo de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe. Um é a constante instabilidade política-governativa, e o segundo é a incapacidade dos são-tomenses de serem inclusivos e de trabalhar em conjunto»
Diria eu:
1º É a incapacidade dos São-tomenses de serem inclusivos e de trabalhar em conjunto.
2º A constante instabilidade politica-governativa
(os nosso governantes confundem adversário politico com inimigo politico, o país sofre e o povo sofre)
sem assunto
26 de Outubro de 2020 at 13:46
Cara Maria das Neves, pela próxima veja se seleciones melhor os convidados para o lançamento do seu livro, francamente, a primeira fila esta recheada de casmurros e oportunistas que atiraram o pais ao poço aonde se encontra de momento, um deles é o Fradique de Menezes com os seus monopolio todos na altura que era PR, e claro o maior artista de sempre no país o individuo que embriagou toda a cupula do MLSTP e ascendeu se a 2* figura do país, o desnaturado delfin neves.
É uma vergonha estes individuos estarem ali!
Como será
26 de Outubro de 2020 at 18:29
Tambem muitos so falam la ocupar o lugar; nada que o livro relata lhes interessa: ate muitos viram estes conteudos como bla;blá, nos temos temos governantes crueis, que nao querem ver este país a sair desta pobreza extrema, porque enquanto estiver assim, eles recebem mais apoios, e se refastam endinheirados.
Maria das Dores
27 de Outubro de 2020 at 12:03
O valor geoestratégico de STP é nulo, a proposta de valor é inexistente e o soft power de STP nas ruas da amargura com escândalos de prostituição diplomática. O poder político demasiado repetitivo na retórica estafada de tentar colar uma sociedade em torno de um projecto nacional inexistente. Não há estratégia de desenvolvimento sem um sector privado com liberdades e garantias para investir e criar riqueza, incluír as pessoas pelo trabalho, retribuir a iniciativa individual e incentivar a cultura do mérito.
Tem alguma ironia chamar nomes pomposos a estratégias de desenvolvimento “gateway” a STP no preciso momento em que a única indústria transformadora com capacidade exportadora está em agonia por falta de capacidade logística em expedir a produção para o mercado global.
Investir em STP é simplesmente uma loucura.
Precisamente
28 de Outubro de 2020 at 13:18
Mais outro comentário de louvar. Fico satisfeito de ver meus patricios com olhos abertos sem cair em demagogias. Parabéns minha cara disse tudo.
Toni
28 de Outubro de 2020 at 18:49
Cara Dra Maria das Neves
O seu trabalho está muito bem feito, somente peca por tardio, e actualmente fora do contexto actual, isto por diversas razoes em que STP nunca aproveitou a sua posição geoestratégica nestes ultimos 45 anos.
Um Hub, teria que deter um Porto Maritimo bem estruturado (com Porto seco) e de aguas profundas, o aeroporto deveria ter condições minimas para o recinhecimento internacional de segurança de pessoas e bens, estes pontos dariam conforto e credibilidade a investidores, os quais facilmente poderiam utilizar estas estruturas para receber e expedir as suas mercadorias e também favorecia a instalação de industrias transformadoras.
A nivel de desenvolvimento economicoa, STP ainda se rege por politicas e mentalidades comunistas, isto é, existe sempre a tentação de o Estado querer controlar os serviços, tais como Enapor (ineficiente), Enasa (ineficiente),EMAE (uma vergonha neste seculo) gestão de terras (desastre), concessão turísticas como as praias (completamente em destruição. Enquanto não mudarem esta mentalidade, dificilmente algum investidor com boa capacidade irá ver STP como um possivel projecto, alias todos os que tentam logo desistem.
Na minha opinião STP poderá ter algumas hipóteses a nivel do turismo, convidando grupos internacionais, concedendo zonas de praia, as quais eles tratarão e desenvolvem, Tal como Cabo Verde, criar boas condições a nivel do aeroporto e criar ligações aereas regulares não só com Europa mas sobretudo com a região em que STP está situado, este mercado pode ser muito importante com os Paises da Região.
Também, a nivel economico, esta sua proposta é boa mas tardia, talvez com a criação de Offshore em Stp poderá a nivel de serviços financeiros poderá ser interessante, de resto não existem quaisquer condicoes para investimento, dado que STP não tem massa critica para um investidor. Veja-se o que faz as Mauricias.
Desejo-lhe tudo de bom, mas a reflexão sobre STP tem que ser virada para outras soluções mais actuais e de encontro ao estado actual do Pais que é muito mau!