O “Maire” (Presidente da Câmara) de Grasse, vice-presidente do Departamento dos Alpes-Marítimos, Jérôme VIAUD, furou a agenda privada do fim-de-semana para receber no Palácio Medieval Municipal, na manhã do último sábado, 15 de Maio, a brigada da Comissão Eleitoral Nacional são-tomense, em França.
O autarca francês confiou a chave da cidade à delegação, composta por Celmira Menezes (presidente CEN – França), Etna Cruz, Adilson Dias e Waldir Santiago, supervisionada por Geny Quaresma, membro da CEN – Bélgica e intermediada por António Pedro Moura em companhia de Onofre Pontes, os inquilinos regionais.
Na fluidez linguística de puxar a sardinha para a brasa portuguesa, a comunidade luso-são-tomense fixada entre os Alpes de neve e o Mediterrâneo temperado do calor pedido de empréstimo à África, nesta altura primaveril, a rondar os 25 graus tropicais, deu voltas à Grasse e batizou-lhe, cidade de “Graça”.
Município turístico de mais de 50 mil habitantes e encravado entre as montanhas e o azul de exuberantes praias do Mediterrâneo, há menos de 20 Km, com a excessiva mão-de-obra, mais procura que oferta, as mulheres vergam as molas nas limpezas dos hotéis de Cannes e Nice, enquanto os homens percorrem muito mais quilómetros pelas longínquas obras, por vezes, dias e semanas distantes dos lares, é mais um postal do confinamento pandémico que rasurou as rotas turísticas mundiais e briga com a economia paralela de sustento à retaguarda familiar nas ilhas.
Para abafar as línguas árabe e italiana, esta que adoça o sotaque francês, devido a proximidade fronteiriça – basta atravessar o principado de Mónaco, a Itália fica logo à esquina com a Lampedusa, a pista traumática para os milhares de náufragos africanos – antes da Covid-19, os chineses com a recente garra capitalista choviam o ouro asiático em França, enquanto os brasileiros em caravanas, vezes e outras, assobiavam o português pelos tímpanos de saudade lusa.
Os residentes magrebinos de Argélia, Tunísia e Marrocos ofuscam os franceses, enquanto não é sentidoo vulto de “zook”antilhano, nem “kuassakuassa” africana das ex-colónias francesas, possibilitando à morna ser, ao sul de Saara, a cantiga populacional mais marcante.
Ninguém certifica a precisão de “dêcha” e “rumba” são-tomense de registar os pés na região, com epicentro em Nice, a metropolitana de mais de 340 mil habitantes e governada por um “Maire” e que se espalha por outras aglomerações camarárias vizinhas: Cannes – a cidade internacional de Cinema, Grasse – a cidade internacional de Perfume e ainda Cannet, Roucheville, Vallouris, Antibes, Chateau neuf e Municípios sem fim. Por alto, imagina-se em pouco mais de três dezenas as famílias para que na aritmética de casais e filhos, a população eleitoral rondar uma centena.
A população na maioridade, os 18 anos, em PACA (Provence-Alpes-Côte d’Azur) elevaria para mais de 500 eleitores, se cada cabo-verdiano (o crioulo africano mais ousado) da região, que se gaba com orgulho de ter nascido ou crescido em São Tomé e Príncipe e por lá ainda arquivar a herança genética em avôs, pais, tios, filhos, irmãos, primos, padrinhos e compadres escangalhados no contrato português de “sanzalas” de cacau e café e com ciúme persistente da “chuva que chovia” torrencial e diariamente e, da natureza que dava de tudo de espantar os anos de fome e seca de Cabo Verde, possuísse a documentação sem bazofia de “sodade” que não lhe retira a devoção às passadas das cantigas de África Negra do general João Seria na ponta da língua e nas festas.
O cabo-santo, o decano são-tomense na região, Honório Tavares, que de camuflado militar, inspirado pelo respeitável, vertical e veterano de Abril, o “Sargento” Neto, empunhou com o elevado prumo e brio a arma G3 de Caçador 7, no dia 12 de Julho de 1975, no momento único de arrear a bandeira portuguesa e hastear a de um novo Estado africano no concerto das Nações, é o marco trepidante dos Repteis e Diabos dos Ritmos do seu Príncipe com que ainda brinda os dedos da guitarra.
Os consulados de São Tomé e Príncipe creditados em Paris e Marselha, incluindo o de Bruxelas-Bélgica, não gozam de interação com a diáspora que, a maioria, mal conhece a porta consular para serventia documental, emergência, festividade nacional ou mesmo para fazer o inglês ver e São Tomé ver e crer na performance diplomática, diferente da segunda nacionalidade, a portuguesa, uma certidão de nascimento, há décadas, solicita-se ao consulado pelos correios e chega ao domicílio de requerente.
Ainda assim, recentemente e animada pela alteração da lei eleitoral de participação da diáspora, a cidadã Inês Pereira, em Paris, tomou peito-bala nacional, mas os cidadãos que preencheram e enviaram o registo com fotocópias documentais dos respetivos agregados familiares através do site criado pelo Consulado, em Marselha, reclamam meses de impaciência sem sequer um e-mail ou telefonema da instituição, a confirmar a receção dos inscritos são-tomenses na base de dados.
A experiência milenar, dar ao César a terra e Deus o Céu, o Cônsul em Marselha, já foi estrela do Chocolate no Tela Non, decorria o ano de 2012, na exposição “S.T.P. presente no tapete vermelho de Cannes em França” em que os irmãos Calema, na altura, pequeninos de tambor e viola, batucaram os sinais suspeitos aos franceses e à enchente turística do caminho persistente, lá longe, ao sucesso.
Desembrulhado o gole regional, desnorteados, desembarcaram em Nice, no final da tarde de sexta-feira, 15 de Maio, os ativistas da CEN, sem hotel nem convento de instalação da logística digital, num jogo de alto risco (França ainda gere a alta taxa de letalidade e medidas rígidas de Covid-19) de representar o Estado são-tomense em matéria do Recenseamento Eleitoral ao escrutínio presidencial do dia 18 de Julho.
Tudo desenrascado sobre os joelhos, mas a dinâmica e “sangue un gala”de vencerem em nome das ilhas, levou-lhes a percorrer de viatura, Nissan 4X4, de registo belga, os mais de 800 Km (Paris-Nice) para escrutinarem os de “cobo d’awa azurense” (diáspora da Costa Azul), precavidos na bagagem de credencial da ministra Edite Ten Jua e do Consulado de Bruxelas para exibirem às autoridades de controlo sanitário e policial que mantém, há meses, o não ajuntamento e o recolher obrigatório noturno entre 19h00/06h00 a permitir, a partir de amanhã, entre as apertadas medidas sanitárias, a reabertura de restauração, hotel e cinema para o fecho às 21h00.
Victor Monteiro (reconhecimento ao suor cabo-verdiano) Maria das Neves (oportunidade à mulher) e Delfim Neves (confiança no negociante), são os votos vacilados à corrida presidencial de Julho que disputaram o teste informal de seis horas. Após mais de um ano de cativeiro viral, em que a ansiedade se esforçou em não despir a máscara para beijocas e longos abraços, a tarde foi servida de namoros de campanha, mexericos e novas da terra. A “tia” Laurinha Carvalho, Beny ou ainda a“Soba de Graça”, a “diplomata” que aloja e encaminha os aventureiros do sonho francês e se esforça, há anos, para colocar o primeiro pilar associativo “STP” no chão de PACA, era a expressão ardente do reencontro são-tomense.
Pela informação dissimulada, a brigada inspirou o ativismo em torno da pré-candidatura oriunda de Madalena – Mé-Zóchi, o atual presidente do Parlamento, para render o presidente Evaristo Carvalho no palácio cor-de-rosa, assumindo e em nome da Comissão Eleitoral Nacional o feito dourado com que animou a viagem de bons ofícios para vasculhar, em apenas dois dias, a região sul francesa.
Nesse voluntarismo de não riscar França do mapa eleitoral, houve quem tivesse de desdobrar os dois joelhos no chão e na ótica de uma mão levantada aos céus, lava a outra, num casamento de fé e política, ir mais longe. Namorou o sacerdote português da paróquia parisiense aonde, semanalmente, pulveriza a alma em confidência com Deus, a ceder uma das salas santas da Eglise de Sacré Coeur – Av. Paul Vaillant Couturier – 94250 – Gentilly, onde foi instalado o centro do Recenseamento.
Em “Graça”, valeu-lhes a especial simpatia da comunidade radicada para com o “Maire” que há duas legislaturas, desde 2014 e renovada em 2020, tem confiado na boa-graça dos eleitores santo-lusos e por intermédio de António Pedro “Júnior”, em toque mágico e numa reunião relâmpago, na manhã de sábado, o “monsieur” Jérôme, 43 anos de idade, dispensou a sala nobre de casamento (em França, as Câmaras Municipais realizam a núpcia cível) para a instalação cirúrgica da Comissão Eleitoral.
A embaixada em Bruxelas-Bélgica deve socorrer-se da mais valia da sua diáspora francesa para reinventar a janela aberta à cooperação privilegiada entre as ilhas de São Tomé e Príncipe e Grasse, reescrevendo a outra história, diferente dos beijos da Françafrique, aonde de uma varanda, recriada do imaginário com pés tal e qual na Trindade, ludibria-se o magistral perfume verde de Monte Café e ao fundo, o mar azul da capital do meio do mundo.
Neste dia, em que Paris está a ser o centro das atenções internacionais, quinze chefes de Estados africanos, incluindo os presidentes João Lourenço de Angola e Filipe Nyusi de Moçambique, em abraços ao presidente Emmanuel Macron de França, no final da cimeira económica, vão pousar para as rotineiras fotografias de família.
Ao lado de lideres de principais instituições financeiras, organizações e países de economias gigantes, espera-se nada mais do mesmo como que do outro lado do Mediterrâneo, a Líbia destruída e desprovida de exploração do seu petróleo, com o cessar-fogo e o processo de Paz de 20 de Outubro do ano passado, fosse recordada a abrir o champanhe do décimo aniversário de início do assassinato de milhares e milhares de vidas africanas e sonhos de uma outra África arquitetada pelo antigo presidente Kadhafi, antes recebido no tapete vermelho ocidental, também fuzilado em 2011. Mais uma vez, a torneira internacional tem intenção de pingar a água, agora de ouro, da reserva do FMI para oxigenar a democracia africana.
São Tomé e Príncipe, as ilhas de 200 mil habitantes, na linha da frente democrática, leve-leve, alargou os atos eleitorais à sua diáspora, mas o alarido não sensibilizou as centenas e centenas de famílias acomodadas ao redor de Paris, a correr atrás do cartão eleitoral aromático, jeitoso e válido para dez anos. Após as duas semanas de trabalho dos ativistas, nada mais que 110 eleitores parisienses.
Para não desperdiçar o direito de escolha do rumo, a brigada da Comissão Eleitoral Nacional, está de volta, hoje, ao convento do Recenseamento na capital francesa e até o próximo 25 de Maio, Dia da África, obedecendo ao seguinte horário:
Dias úteis – Das 14h00 às 18h00 e fim-de-semana – Das 11h00 às 18h00
O esforço da longa viagem foi compensado pela maior produtividade diária. Numa só tarde, de sábado, a brigada conseguiu 22 inscritos em Grasse, enquanto no domingo, as seis horas expostas às moscas de Nice, não foram mais de8 cartões, perfazendo 30 eleitores na Região do Sul, eventualmente, no reforçoao caderno eleitoral de Paris.
José Maria Cardoso
18.05.2021
Gilson
19 de Maio de 2021 at 18:59
Boa tarde.
Vi a publicação, gostei muito, o grupo de CEN em França esta de parabéns.
Só tem a retificar o Nome de um dos membros; na realidade a pessoa identificada na publicação como Adilson dias Chama-se na Gilson Dias.
Mais uma vez muito obrigado pelo artigo.
Gilson Dias
Lyon
20 de Maio de 2021 at 13:47
Boa tarde,
Quais as cidades Francesas que voces irao passar?
Gilson Dias
20 de Maio de 2021 at 19:31
Boa tarde.
Vi a publicação, gostei muito, o grupo de CEN em França esta de parabéns.
Só tem a retificar o Nome de um dos membros; na realidade a pessoa identificada na publicação como Adilson dias Chama-se na Gilson Dias.
Mais uma vez muito obrigado pelo artigo.
Gilson Dias